Seguidores

terça-feira, 7 de agosto de 2012

No tempo do cangaço - Arte de Ernane Cunha


A composição foi feito em pirogravura sobre uma placa de MDF (É bastante trabalhoso, pois qualquer descuido... já era, não tem volta).


Primeiro veio a reprodução do poster que tem as dimensões do cartaz original.

 

Detalhe da gravura do Rei do Cangaço

Porem, achei que somente reproduzi-lo ficaria algo muito mecânico então resolvi compor um quadro que além de ter alguma utilidade para os "escravos do sistema", apresentasse alguns elementos do cangaço, sobretudo da estética tais como:


A flor com 8 pétalas ampliei para "12"
(Apontam para cada um dos algarismos).


A flor de lis (moldura do relógio e ponteiros),
A cruz também compõe a moldura.


E o punhal (algarismos).

O círculo entre as pétalas e os algarismos foi inspirado nos bordados que decoravam os embornais e os forros dos cantis dos cangaceiros, cada triângulo representando um minuto.Eis aqui o resultado:



 

O tamanho total da obra é de 66,7cm x 32,8cm.

Posso lhes afirmar que essa é uma criação definitivamente única, que necessitou de muito trabalho e tempo, por isso não cogito fazer uma cópia ou segunda versão do mesmo.

Não tenho intenções mercadológicas, só quis de compartilhar com os amigos "rastejadores" de bom gosto o meu apreço por esta parte da história de nosso pais que é tão fascinante e intrigante.

Grato por dispor de seu precioso tempo lendo essas linhas.

Atenciosamente,
Ernane R. C. Cunha
Cachoeira de Minas, sul de Minas Gerais

Obs. O título da obra não é oficial, foi mera sugestão do blog!

http://lampiaoaceso.blogspot.com 




Os óculos de Lampião

Por Rainer Sousa

Os óculos de Lampião: o humor e a vaidade de um temido cangaceiro nordestino.

Nos fins do século XIX, o desmando dos grandes proprietários de terra e dos governantes locais incitou a formação de um interessante fenômeno histórico: o cangaço. Armados e não reconhecendo nenhuma espécie de autoridade, os cangaceiros percorreram o sertão nordestino realizando assaltos, saques e pilhagens em várias cidades e fazendas da região.

Na década de 1922, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, se tornou um dos mais famosos líderes de cangaço. Além de exercer liderança em seu grupo, Lampião causou terror às autoridades em confrontos que desafiavam a estabilidade da ordem republicana e o interesse dos grandes fazendeiros. Mesmo não defendendo algum senso de justiça ou ideal, Lampião pode ser visto como claro reflexo dos desmandos de uma estrutura política abusada por poderosos.

Em agosto de 1925, o bando de Lampião foi surpreendido por um destacamento de oficiais que o perseguia no sertão pernambucano. Depois de ver seu irmão Livino sendo atingido por um tiro fatal, o líder dos cangaceiros deu início a um terrível tiroteio. Entre as balas que vinham de todos os lados, um cacto também foi atingido e um de seus espinhos cravejou um dos olhos de Lampião.

Mesmo depois receber um tratamento, o líder dos cangaceiros acabou perdendo a visão do olho atingido. Controverso entre a violência e o humor, o lendário cangaceiro dizia que não havia problema algum na perda, já que tinha mesmo que fechar um dos olhos para poder atirar em seus inimigos. Contudo, também por vaidade, Lampião passou a empregar um par de óculos que escondia a sua deficiência e, de quebra, protegia a visão contra o escaldante sol nordestino.

Segundo consta em algumas de suas biografias, Lampião utilizou cerca de três exemplares ao longo de sua vida. Encontrados hoje na Casa de Cultura da Serra Talhada, dois óculos tinham aros redondos e nenhum outro tipo de sofisticação. Em contrapartida, alguns relatos sugerem que ele também possuía uma armação especial toda revestida em ouro.

Ao que tudo indica, o valioso exemplar acabou sendo roubado quando o destemido cangaceiro foi morto na brutal emboscada da gruta do Angico, Sergipe, no ano de 1938. Após matarem Lampião, sua companheira Maria Bonita, e mais nove integrantes do bando, os policiais tomaram todos os valiosos pertences que estavam sob domínio do grupo. Provavelmente, os valiosos óculos foram espertamente retirados antes que os cangaceiros tivessem suas cabeças expostas em praça pública.

A morte de Lampião representou o processo de desarticulação do cangaço. Nessa época, o crescente processo de industrialização e urbanização conseguiu atrair grandes números da mão de obra nordestina para a região Sudeste do país. Com isso, o banditismo acabou perdendo a sua força em decorrência das oportunidades de emprego que estavam surgindo nas fábricas. Dessa forma, Lampião e os seus óculos de ouro ficaram depositados no conjunto de histórias que marcou o Brasil das oligarquias.


ACERCA DE UMA COLEÇÃO DE QUEM REALMENTE PESQUISAVA O CANGAÇO

Por: Rostand Medeiros
Rostand Medeiros

Em 9 de janeiro de 1980, o jornalista pernambucano Nilson Deocleciano Pereira Lima falecia no Hospital Geral de Urgência de Recife . O jornalismo nordestino perdeu então um profissional de espírito irrequieto, considerado um ótimo repórter e que se foi com apenas 38 anos.

Nilson Pereira Lima atuou em veículos de comunicação como os jornais “O Globo” (Rio de Janeiro), “Diário de Pernambuco” e “Jornal do Comércio” (Recife), além de ter atuado nas revistas “O Cruzeiro”, “Veja” e “Manchete”. Esteve também em redações de emissoras de televisão. Seu trabalho foi laureado com o Prêmio Esso de Jornalismo.

Segundo a reportagem sobre a sua morte, publicada no “Jornal do Comércio”, edição de 10 de janeiro de 1980, entre as décadas de 1960 e 1970 Nilson viajou muito pelo interior do Nordeste . Deste período o jornal destaca uma reportagem feita no Rio Grande do Norte, onde ele apresentou o “Sindicato da Morte”. Este era um grupo de pessoas que se especializou em contratar “mão de obra qualificada”, que atuavam no Seridó e Oeste potiguar, matando quem quer que fosse e preços a serem combinados.

A reportagem do “Jornal do Comércio” informa que em suas viagens, Nilson Pereira Lima não deixava passar a oportunidade de entrevistar pessoas que estiveram envolvidos com cangaceiros, ou foram vítimas destes. Para este fim utilizava os velhos e pesados gravadores de fitas K7, daqueles que a energia provinha de quatro pilhas das grandes e era transportado a tiracolo. Batalhador, ele não deixava de buscar uma boa informação sobre o cangaço, Lampião, coronéis e outros personagens nordestinos, indo buscar as fontes nos rincões mais isolados.

Consta que ele foi a última pessoa a entrevistar Francisco Heráclio do Rêgo, o famoso coronel Chico Heráclio, do município de Bom Jardim, Pernambuco, considerado o derradeiro coronel nordestino.

Anda sobre o cangaço, Nilson Pereira Lima possuía um vasto acervo de gravações e fotografias, conquistado em uma luta de muitos quilômetros de estrada. A reportagem informa que ele desejava escrever uma biografia de Lampião, onde buscaria dar um enfoque diferenciado a vida deste bandoleiro.

Tempos depois após seu falecimento, mais precisamente no dia 12 de maio de 1980, na coluna do jornalista Paulo Fernando Craveiro, na página A-6 do Diário de Pernambuco, publicou uma pequena nota informando que o acervo de Nilson Pereira Lima sobre o cangaço seria doado a Fundação Joaquim Nabuco.

Efetivamente, em 28 de outubro de 1981, segundo o site desta instituição (http://www.fundaj.gov.br/docs/indoc/icono/npl.html) a viúva do jornalista, a Senhora Cristina Maria Fills Pereira Lima, entregou a esta respeitada entidade o material de seu esposo.

Segundo o site, constam no inventário da Fundação Joaquim Nabuco 165 fotografias, com uma abrangência que abarcar os anos entre 1930 a 1974, com autores como os fotógrafos Pedro Luiz e Alcedo Lacerda e outros não identificados. O site ainda informa que algumas destas imagens mostram áreas do Rio Grande do Norte, como a região de Mossoró, Angicos e as nossas salinas.

Relativo ao cangaço nesta coleção, o site informa que existem “fotos de cangaceiros com familiares e captores”.

Sobre as gravações, não existe nenhuma referência.

Busquei contato com esta entidade através de telefone, onde fui muito bem atendido, mas não obtive nenhuma resposta se, no momento da entrega do acervo do jornalista Nilson Pereira Lima, o material gravado foi igualmente entregue.

Realmente esta coleção, na mão de um esforçado pesquisador, poderia render ótimos frutos e ótimos trabalhos. Para este pretenso pesquisador, ele nem precisaria viajar ao interior para procurar as fontes e isto lhe facilitaria muito a sua vida.

Um adendo.

Segundo site da Fundação Joaquim Nabuco, que no seu estatuto informa ser uma “entidade vinculada ao Ministério da Educação e Cultura, sem fins lucrativos”, que apregoa em seu site ter como missão “Produzir, acumular e difundir conhecimentos, resgatar e preservar a memória e promover atividades científicas e culturais, visando à compreensão e ao desenvolvimento da sociedade brasileira, prioritariamente a do Norte e do Nordeste do país”, chega a cobrar até R$ 92,00 pelo serviço de reprodução digital (em resolução 300 DPI) de cada uma das fotos da coleção do jornalista Nilson Pereira Lima, ou de qualquer outra imagem de suas variadas e raras coleções de fotografias.

No site da Fundação encontramos a informação que “Diversificar e ampliar as ações de comercialização de bens e serviços para elevar a arrecadação de recursos próprios é uma das prioridades estratégicas da Fundação Joaquim Nabuco”.

Realmente “prioridade” não é a mesma coisa que “missão”.

Extraído do blog do professor Honório de Medeiros

21 de março de 1927, no “A Tarde”

Por: Rubens Antonio


O padre Cicero continua a mandar e desmandar lá nos seus adustos domínios de Joazeiro, no sertão cearense.

Alçado á categoria de super–homem pela ingenuidade do caboclo nordestino, o velho sacerdote tem, ali, um desses prestígios formidáveis que dominam populações, moldando–as ao sabor de sua vontade.

Para o sertanejo, maior do que o padim pade circo – só Deus.

E elle, por isso, faz o que entende apoiado por milhares de homens fanatizados.

O clichê que estampamos acima é bem uma prova desse absolutismo do chefe cearense: – representa uma nota de 10.$000, corrente em Joazeiro, impunemente, apezar de provir de emissões clandestinas, feitas ali.

E quem quizer saber quanto vale este dinheiro que tem a effigie do padrinho, ridicularize–o á vista de um caibra de chapéu pancada e Pajahu de Flô á cintura...


Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio

Os filhos dos cangaceiros Corisco e Dadá

Por Juarez Conrado

O primeiro filho dos cangaceiros Corisco e Dadá, foi o Josafá. Nasceu a 1.º de Maio de 1933, época dura para os cangaceiros, cercados por todos os lados, perseguidos, andanças sem descanso de um canto para outro.

Corisco e Dadá

- Fiquei com esse menino três meses. Por todo canto era tiro. O pobrezinho estava assadinho, chorava, eu não sabia o que fazer. Deixei com umas pessoas conhecidas, mas ele morreu.
Dadá compreendeu que não era possível criar os filhos:
- Foi horrível ter meus filhos e não poder carregar. Sabe, levar os meninos seria morte certa, aquilo não era vida para anjo. Tive sete. Três estão vivos. Celeste, casada, com dez filhos. Maria do Carmo, com três filhos; e 

Pegue esta carona da Laser Vídeo, do  cineasta Aderbal Nogueira, para você conhecer o filho de Dadá e Corisco, o Sílvio Bulhões.

Sílvio Bulhões, que é economista e tem seis filhos. Todos eles foram criados por amigos. Mas nasciam na caatinga, onde eu estivesse. Celeste nasceu durante uma perseguição.
Extraído do livro:  
"Lampião Assaltos e Morte em Sergipe".
Autor: Juarez Conrado
Página: 247
Aracaju - Sergipe
Ano de publicação: 2010
blogdomendesemendes.blkogspot.com

Hoje na História de Mossoró - 07 de Agosto de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

07 de agosto de 1955 – Comício de propaganda do Sr. Ademar de Barros, chefe e candidato do Partido Social Progressista à Presidência da República.
               
O referido político procedia de Fortaleza, viajando de avião com pequena comitiva. Foi saudado em palanque armado na Praça Rodolfo Fernandes pelo Dr. Waldemar Cavalcanti, falando em seguida o candidato e outro componente da comitiva.
               
O Dr. Ademar de Barros foi hóspede do Dr. Lavoisier Maia, seu colega de turma na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Todos os direitos reservados

É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fontes:

LAMPIÃO DIVERTE, CORISCO FILOSOFA

Por: Clerisvaldo B. Chagas - Crônica Nº 836

Clerisvaldo B. Chagas

Ao se entrar no mundo do finado cangaço, a princípio parece estrada simples a ser percorrida. À medida que o pesquisador aprofunda-se no seu mister e deseja de fato dedicar sua vida a isso, vai descobrindo que existe uma teia que lhe barra a saída. Geralmente quem se aprofunda na literatura lampionesca de corpo e alma, não consegue mais escrever sobre outros assuntos, pois fica impregnado de cangaceiros dias, meses, anos seguidos. Nas rodas de amigos não fala sobre outros assuntos, dentro do vício que pegou e não consegue largar, como se os mortos não o deixassem sair das suas causas. Escrever sobre cangaço não é e nem nunca foi tarefa das mais leves. É preciso, além de outros atributos, muita paciência, como outro assunto qualquer interessante, pois os enganos se sucedem a cada passo. Um dos maiores perigos de quem escreve sobre o tema, armadilha aberta, é acreditar na primeira informação, assim como de primeira informação era Corisco, o mais famoso cangaceiro do grupo de Virgolino. O engano (lapso) ou a proposital mentira estão em todos os lugares das pesquisas.

CORISCO. (Fonte: popular).

Examinando documentos da época cangaceira, entre 1938 e 1940, descobrimos inúmeros desses lapsos, como se a Imprensa da época tivesse azoada com tantas desencontradas informações. Quer dizer, o pesquisador nem pode dizer que escreveu “aquele engano” extraído de documento, pois o documento estava informando errado. Nomes trocados de cangaceiros; anúncio de mortes de cabras que continuavam vivos; números de membros do cangaço e volantes abatidos; quantidade exagerada de cabras em ataques; Feitos bárbaros atribuídos a cangaceiros que não cometeram os feitos... Enfim, o pesquisador sério tem trabalho noite e dia em suas buscas comparativas para poder publicar o que chega mais perto da verdade. Recentemente tive em um lugar onde um homem passou a ter suas ações contra os bandidos, decantadas em livros. Um pesquisador do lugar afirmou que tudo que ele falava era mentira, mas a família influente queria que a vantagem do cidadão continuasse nos livros de antigos e novos pesquisadores. Pelo visto, a história do cangaço, como qualquer outra história, é vista por ângulos, como olho de mosca. Não existe limpeza cem por cento nem nos escritos mais severos sobre o tema.

Nessa última investida que fiz sobre o passado irrequieto do Sertão, balancei a cabeça ao ver ali, também documentado, um testemunho curto do cangaceiro Pancada, muito falado em Alagoas, assim como Moita Brava. Dizia ele, na prisão, que ao saber da morte de Virgolino, em Sergipe, Corisco ─ que estava no lado alagoano na hora da chacina ─ teria dito: “Acabou-se o divertimento do mundo”. Você sabia leitor, que “Virgolino divertia o mundo?” Eita passado misterioso compadre! Enquanto LAMPIÃO DIVERTE, CORISCO FILOSOFA.




BIOGRAFIA DE ALGUÉM (Crônica)


                                               Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

BIOGRAFIA DE ALGUÉM

Nasceu numa manhã ensolarada dos anos 50 e faleceu numa noite mais ensolarada ainda do dia seguinte. Noite ensolarada? Pois é, não só ensolarada como tomada de uma tempestade terrível.

Depois de dada como morta pelo médico da família foi crescendo saudável, porém com um gravíssimo problema de saúde: era completamente anormal. Logo se contatou que a menina era completa louca, tomada de absoluta insanidade.

E o pior: tão anormal que não sabia mentir, não gostava de falsidades, odiava mimos demais, dizia na cara do outro o que sentia. Porém o mais grave, fato que à época serviu até de estudo laboratorial, não aceitava a realidade mentirosa de jeito nenhum e chorava diante das tantas injustiças vistas por todo lugar.

Nesse passo já se pode dizer que nunca mais deixou de chorar. Aos olhos dos outros, chorava pelo probleminha de doidice que infelizmente era acometida, mas um olhar mais atento logo perceberia que pranteava mesmo por tudo ruim que acontecia na realidade da vida.


Um dia, aproveitando um amigo da família que estava de visita, mandou que levantasse pois iria fazer umas perguntas e não admitia que respondesse estando sentado. Ora, queria receber respostas inteiras e não dobradas, curvadas. O visitante se assustou, mas levantou altivo e ouviu:

“Por favor, me responda por que o povo conhecendo o bem e o mal, mente diante do bem e só vive praticando o mal; por que o gato é gato e não é cachorro e por que tem gato que late e não há um só cachorro que mie; por que todo mundo fala em amor e ninguém sabe amar completamente; por que todo mundo sabe encontrar o que deseja na escuridão e não sabe procurar debaixo do sol; por que o vidro é feito de areia, mas se alguém se puser a se espelhar na areia todo mundo vai dizer que enlouqueceu; por que ainda não foi criado um mundo para habitar nele somente os personagens dos livros e suas histórias;  por que o gato é gato e não é cachorro e por que tem gato que late e não há um só cachorro que mie. Perguntei de novo foi? Então me responda essa: por que você se acha gente quando todo mundo sabe que é um rato? Responda. Mas antes diga se você sabia que na verdade o gato não é um gato nem o cachorro é um cachorro. Mas todo mundo sabe que você é um rato, e de esgoto...”.

O visitante desabou botando os bofes pela boca, enquanto ela era levada para o hospício, onde permaneceu por mais de cem anos. E nessa casa de doidos fez uma verdadeira revolução. Fazendo perguntas cada vez mais intrigantes aos psiquiatras, acabou enlouquecendo todos eles. Numa bela tarde em que o galo cantava, o último médico entrou numa solitária puxado por uma coleira e levando um velho osso na boca.

Quando deixou o hospício ainda se sentia na flor da idade. Já estava com mais de cento e cinquenta anos, mas continuava chupando bico, usando fralda e carregando sempre uma bonequinha de pano no braço. Chegava aos botequins pedia uma feijoada bem caprichada e depois mandava passar tudo no liquidificador. E exigia ainda que lhe fosse servida numa mamadeira.

Sendo muito bonita desde criança, antes de morrer no dia seguinte ao nascimento, já havia namorado mais de vinte. Nunca havia chegado perto de nenhum namorado não, apenas namoro de compromisso futuro, pois dizia que o mundo seria uma maravilha se todo mundo namorasse pensando em se apaixonar amanhã, pois o amor se desgastava a cada momento que os dois estivessem juntos. Se tudo ficasse para mais tarde, o amor seria completo na expectativa de ser amado.


Verdade é que nunca beijou nem deu as mãos a homem nenhum. Quando encontrou um rapaz que realmente achou bonito, jogou fora a boneca de pano e saiu correndo mundo afora. Correu cinco dias seguidos até encontrar um grande mosteiro abandonado. Ali se manteve até o fim da vida como monja, casta e devota.

Mas a solidão lhe atormentava tanto que depois de morrer ainda tentou o suicídio por cinco vezes. Foi obrigada a retornar ao mundo terreno porque ninguém suportava tanta loucura lá em cima. E retornou como uma mulher tão feia que passava os dias, nos mais de quinhentos anos ainda vividos, limpando e lustrando um velho espelho para ver se refletia alguma simpatia.

Jamais conseguiu. E por isso mesmo amaldiçoou todos os espelhos velhos, amarelados, carcomidos pelo tempo. E quem neles se mira a estará refletindo.
   
(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com