*Rangel Alves
da Costa
Lamentável que
assim aconteça quase como um costume, um hábito, um normal cotidiano: achar que
não tem o que fazer e logo procurar cuidar da vida dos outros. Ou mesmo
simplesmente desfazer do que os outros fazem, e sempre de modo infame e
vergonhosamente destrutivo.
É que para
muitos a vida dos outros se torna de maior importância do que mesmo a própria
vida. Contudo, se há um lado maldoso nisso tudo, por outro lado há até uma
necessidade quando se respeita os limites da privacidade. É que ninguém pode
imaginar que tudo faça sem que os outros percebam. Desse modo, o que o outro
faz não compete somente a este, mas também ao próximo.
E há de ser
assim mesmo porque as ações humanas merecem ser vistas e obter respostas aqui
na terra mesmo. O bem ou o mal que é feito não pode simplesmente ser relegado
ao plano do esquecimento, do já passou, do apagar-se nas páginas do tempo.
Já cantaram em
eco e grito que ninguém é uma ilha. Ora, se ninguém consegue isolar-se
completamente, então alguma presença ou vigilância externa faz parte de sua
vida. O olho ao redor mira vida e tudo e acaba sabendo um balaio de coisas
sobre o outro, ainda que este faça o máximo para que deixem sua vida em paz.
Contudo,
quando falo da importância de que o outro seja visto perante suas ações, não o
faço no sentido de que alguém, a todo custo, queira se intrometer na vida
partir de quem faz o que bem quer da vida. Preocupar-se com o outro, vigiá-lo,
acompanhar os seus atos, apenas para expor sua privacidade é atitude que
contraria normas fundamentais inerentes à personalidade.
Ao falar da
necessidade e positividade de interagir com as ações do outro me volto apenas
para o que está caracterizado como visibilidade pública. Tal termo seria no
sentido de indicar aquilo que já foge ao mundo secreto e particular de cada um
e se torna conhecido de todos, ainda que parte das pessoas não se atenha
cuidadosamente para o que o outro faz.
Não se trata
aqui de fazer apologia da fofoca, do simplesmente bedelhar, se intrometer na
vida do próximo, mas sim de vê-la naquilo que há de mais bonito e de tudo tirar
possíveis lições. Do mesmo modo, não ter medo nem vergonha das atitudes
negativas do outro e fazer daquele exemplo um meio de não incorrer nos mesmos
erros.
Verdadeiramente
não há coisa mais feia e abominável para um ser humano do que levar a vida –
logicamente esquecendo a própria – em função da vida do outro, do que ele faz,
que roupa veste, com quem anda, se passo cheiroso ou suando. E mais ridículo
ainda quando faz isto para buscar motivos para a fofocagem, o invencionismo, a
deslavada mentira.
O que proveito
que se deve tirar da vida do outro é totalmente diferente. Pessoas existem que
vivem para a prática do bem, pra o compartilhamento, para a solidariedade.
Estas estão em direção aos asilos, aos hospitais, aos abrigos, às creches, a
qualquer lugar onde possa dedicar uma parcela de ajuda e de amparo aos mais
necessitados.
Pessoas também
existem que distribuem sopas aos que estão abandonados embaixo de marquises,
que vão visitar e tentar confortar desconhecidos que estão enfermos, que se
reúnem com outras para a realização de obras de caridade, que adotam de coração
crianças gravemente doentes, não se cansam de dar uma parcela do seu esforço
físico, espiritual e até financeira em função do outro.
Mas o inverso
ou reverso existe, e do mesmo modo também é visível, pois os atos são
escancaradamente praticados. Não há nem mais que se falar nas práticas
criminosas levadas a efeito por tantos e tantos, pois nem a pena nem o
sofrimento em uma prisão parece ter o poder de afastar determinados indivíduos
dessas nefastas atitudes. O pior é que muitos, mesmo sabendo das consequências
da prática de atos ilícitos, seguem por vontade própria os mesmos caminhos da
vida criminosa.
Quanto a
estes, os exemplos já estariam claros demais. Porém, cotidianamente se observa
outras atitudes em cujo espelho ninguém deverá se mirar. Viver falando mal da
vida dos outros, criando situações mentirosas para prejudicar, incentivar os
mais jovens ao mau comportamento, sempre ter o outro como inimigo, como alguém
imprestável. E ainda a arrogância, a brutalidade, a desonra, o egoísmo, a
vaidade exacerbada, a egolatria, tudo isso está exemplarmente na imagem de
muita gente e que deve servir como norte para o outro que observa tais
atitudes.
Daí que a vida
do outro, por não pertencer exclusivamente a este, passa a ser exemplo que deve
ser seguido, ou não, pelos demais. Ademais, como dificilmente algum fato surge
totalmente novo na vida, então que os exemplos dos outros sirvam tanto para
atrair como para se evitar.
Escritor
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