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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Os cangaceiros que sobraram do cangaço

Manoel Dantas Loyola - O cangaceiro Candeeiro

Eles são os últimos de um passado triste, tanto para quem foi torturado por eles, como para eles mesmo. e que nossos filhos e netos apenas conhecerão pelas aulas e pelos livros. 

O cangaceiro Candeeiro integrou a última geração de contemporâneos a Lampião e Maria Bonita. Na cabeça, hoje fraca e com algumas lacunas, memórias e reticências de um passado por vezes dificil de lembrar desses patrimônios vivos da história do Nordeste.

José Alves de Matos e João de Sousa Lima

Dos que restam, apenas Candeeiro e o cangaceiro Vinte e Cinco conviveram diretamente com Maria Bonita. O primeiro, de 90 anos, era criança quando o pai, um estabilizado fazendeiro na época, recebia o bando de Lampião com festas e banquetes. Com sorriso no rosto e boa vontade, ele conta sobre a época em que a rainha do cangaço conversava com a mãe e outras mulheres da família enquanto os homens cantavam, bebiam e dançavam. As visitas às terras da família de Arlindo Grande, na zona rural de Paulo Afonso (BA), eram frequentes.

O cangaceiro Candeeiro hoje é mais conhecido como Seu Né. Com a saúde debilitada e dificuldades de fala, ele, que tem 96 anos, lembra de quando entrou para o bando de Lampião ainda adolescente e que o apelido de "Candeeiro" lhe foi dado pelo rei do cangaço devido à energia e disposição apresentados pelo jovem cangaceiro. Ele esteve em Angicos (AL) e sobreviveu por um golpe do destino: na noite do ataque, Lampião o mandou pegar uma encomenda de armas e munições. Poucas horas depois, acontecia o cerco das volantes. Dona Aristéia não conheceu o casal mais famoso do cangaço. Fazia parte de outro bando, liderado pelo cangaceiro Moreno. Mas ela, assim como centenas de mulheres naquela época, é mais uma Maria. Aristéia Soares é uma das duas últimas cangaceiras vivas. As respostas rudes e rápidas, que num primeiro momento são vistas com antipatia, podem ser interpretadas como a resistência de lembrar as inquietações do passado.

Essas inquietações também podem ser traduzidas nas frequentes reticências nas respostas e nas falas: o cotidiano dificil, a morte da irmã mais velha (também cangaceira) e do companheiro Catingueira num confronto com volantes, a amizade com a cangaceira Durvinha, esposa do líder do grupo.

Pesquisado neste site:

2º capítulo _ Conhecedores da nossa história

Por: Aderbal Nogueira

Amigo,

Segue 2º capítulo da série Conhecedores da nossa História, com depoimento do amigo Bosco André.

Vamos comparando o que cada um dos entrevistados está dizendo.

Ainda vem muita bomba pela frente. Aguardem os próximos: Renato Casimiro; Luitgarde Barros.


Att,
Aderbal Nogueira


Enviado pelo cineasta e pesquisador do cangaço: Aderbal Nogueira

Livro traz amor platônico entre Pe. Vieira e Cristina

Reprodução
Pesquisa é baseada nos diários e cartas do padre e da ex-monarca
Pesquisa é baseada nos diários e cartas do padre e da ex-monarca
Condenado pela Inquisição de Coimbra por fazer duras críticas à exploração dos escravos, o padre português Antônio Vieira foi privado, em 1667, do direito de pregar em público, além de ser obrigado a passar cinco anos como degredado, em Roma. Um doloroso castigo, pois os sermões transformaram Vieira, nas sábias palavras de Fernando Pessoa, no "imperador da língua portuguesa". A punição foi amenizada, no entanto, pela amizade epistolar que o religioso manteve com Cristina Vasa, ex-rainha da Suécia que, depois de abdicar do trono, se mudara para a Itália, em 1656. A silenciosa mas intensa relação entre eles inspirou a pesquisadora austríaca Gloria Kaiser, que escreveu "O Poder Erótico" (Reler Editora), livro que será lançado nesta quinta-feira no Rio.
Baseada nos diários e nas cartas do padre e da ex-monarca, Gloria reconstituiu, de forma delicada mas precisa, uma sofrida e apaixonada relação. "Foi platônica, como bem afirma o historiador Ronaldo Vainfas na introdução de meu livro", comenta a pesquisadora. "Mas também foi muito erótico." Obrigado a se manter em silêncio, Vieira (1608-1697) tornou-se o capelão particular de Cristina, que conseguiu tal liberação diretamente com o papa Clemente IX. Ela já era admiradora de seus sermões, daí a insistência em manter um contato direto.

Na verdade, são dois personagens fascinantes. Antônio Vieira passou 62 anos de sua vida dedicado às atividades religiosa e literária, que dariam ao idioma português o mais esmerado dos tratamentos e o mais aprimorado domínio da técnica. Já Cristina Vasa surpreendeu o mundo ao abdicar do trono sueco em 1654 por motivos incertos - aparentemente foram problemas para governar, como dificuldade na fixação de impostos e más relações diplomáticas com a Polônia. Mas ela era uma mulher muito avançada, pois gostava de vestir trajes masculinos,
nunca se casou e teve casos com homens e mulheres.

"Vieira viveu a sublimação do erotismo", comenta Gloria, que conversou por e-mail com a reportagem ainda na Áustria, antes de embarcar para o Rio. "O erotismo sublimado, elevado, reservado às atividades espirituais. Um erotismo nutrido pela saudade a ponto de ficar irrealizável. O erotismo como saudade de saudade. O erotismo como força poderosa na vida de cada pessoa (consciente ou inconsciente)."

O relacionamento entre o padre e a ex-rainha se baseou em encontros mais ou menos regulares no Palácio Riario, onde Cristina residiu. Vieira também participou em silêncio dos encontros da Accademia Reale, fundada por ela e centro de discussões intelectuais. Ele escreveu textos lidos pelos cardeais e por Cristina sobre temas diversos, como a ameaça dos turcos sobre a Europa ou críticas à sujeira e ao abandono em que se encontrava Roma.

"Em diálogo com Cristina, ele abriu pouco a pouco a alma", comenta Gloria, observando que o padre se lembrou de admirações passadas para sublimar o desejo. "Quando se referiu à rainha Dona Luisa, Vieira disse: 'No momento em que me deparei com Dona Luisa, fui tomado por enormes forças e desejos - e uma labareda de fogo surgida de algum lugar proibido invadiu a minha vida. Encontrei um mundo que eu ainda não havia pisado.'"

A amizade uniu o religioso e a rainha até 1675, quando o papa Clemente X absolve Vieira das acusações da Inquisição. Não voltaram mais a se falar, apesar da insistência de Cristina. Quando morreu, em 1689, ela foi sepultada na Basílica de São Pedro, entre papas, a pedido de Padre Vieira.

O PODER ERÓTICO
Livraria Argumento. Rua Dias Ferreira, 417, Leblon, tel. (21) 2239-5294. Quinta, às 20 h (lançamento com debate).
FONTE: TRIBUNA DO NORTE
Atenciosamente,
Neto - Natal

Projeto Memória inicia suas atividades em 2012 !

Por: João Paulo
João Paulo, Manoel Severo e Prof Manoel, do Projeto Memórias

Na próxima sexta-feira (o4 de maio) o Projeto Memórias visita a Escola Municipal Hozana Azevedo, que abrange as comunidades Cruzeiro das Moças, Floresta, Campo Velho e adjacências. A referida escola foi a escolhida para receber o DIA DA CULTURA NA COMUNIDADE, evento que abrirá a programação do Projeto em 2012, que contará ainda com a realização de várias oficinas, a produção do filme "O Fogo do Cajueiro", dentre outras atividades. Já no sábado (dia 05 de maio), ocorrerá a aula inaugural das oficinas de Artes Plásticas, Educação Patrimonial e Literatura de Cordel, a realizar-se no Bazar da Arte, situado à Pç. da Caixa d´água, nº 199. 

O DIA DA CULTURA NA COMUNIDADE será levado, também, durante os meses de maio e junho, a outras comunidades, como Itapicuru, Borda da Mata e Ascenso, onde o Projeto Memórias, através do Ponto de Cultura "Memória, Cultura & Cidadania" desenvolverá atividades culturais ligadas à literatura de cordel, às artes plásticas, ao patrimônio histórico do município, dentre outras. Nestes Dias, se procederá, ainda, a visita à obra literária do dorense JOSÉ BARBOSA, cordelista nascido no povoado Itapicuru e grande homenageado do Projeto neste ano de 2012. As ações do Ponto de Cultura "Memória, Cultura & Cidadania" contam o patrocínio do Governo Federal/Ministério da Cultura e do Governo do Estado/Secretaria de Estado da Cultura e apoio da Sintec e do Bazar da Arte. O Dia da Cultura conta, ainda, com a parceria da Secretaria Municipal de Educação.

Cordialmente,
Projeto Memórias 


SOBRE GRÃOS E MONTANHAS (Crônica)

    Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

SOBRE GRÃOS E MONTANHAS   
Coisas existem em mim que não podem ser mudadas, transformadas com o tempo ou porque acompanhando o dito progresso da sociedade.
Coisas existem que estão arraigadas, enraizadas de tal modo no espírito que jamais se dobrarão às permissividades dos novos tempos. Ainda que desfaçam a ordem das coisas continuarei pensando e agindo assim.
Talvez seja uma questão de honra, de moral, de ética, de respeito próprio, de um bom e útil conservadorismo que não se rende aos modismos. Toda futilidade sempre será fragilidade diante de minha força, do meu querer, das minhas opções pessoais.
A ventania entrará pela janela sem desfazer o solidamente construído; a tempestade assustará mais o tempo do que ao meu preparo para o seu enfrentamento; a enxurrada leva somente o que inutilmente se espalha pelos canteiros. Meu jardim é sólido em flor e espinho.
Tua palavra maldosa nasce de uma boca muda, sem ouvinte, sem eco; a falsidade que semeia é prato que almoça e janta na própria mesa, jamais onde se estende o meu recanto de madeira de lei; e sobre as fragilidades das mentiras direi do envergonhamento que se enraíza por dentro de quem as cultiva.
Que lua imensa a minha que alcanço em todo lugar, que sol radiante que sempre brilha onde estou, que gestos de boas vindas, de afeição e acolhimento aonde passo ou chego; que doce olhar na minha direção, a mão estendida, a consideração; um gole de café, um copo de água, um dedo de prosa e uma amizade profunda. E que eu saiba a tua sombra foge do teu encontro.
Esqueço o livro aberto sem me preocupar com nada. O que li não espantará a avidez dos que procuram o bom conhecimento. Também não temo em deixar minhas cartas, bilhetes, lembranças e fotografias em cima de qualquer banco de praça. Pode abrir, olhar e ler o quanto sublime são as doces palavras, os gestos de amor e amizade.
Queria ser mais reservado, ter um mundo mais fechado, um caminho menos encruzilhadas em todas as direções, um olhar que não estivesse muito além do que posso ver. Queria me esconder de vez em quando, de vez em quando ser só eu, e também ser só você. Não consigo ser o reduzido mínimo nem o pouco quase nada se os meus braços estendidos abraçam o mundo.
Queria tanto te ensinar como se vive imensamente sem depender do outro para desejar o pior e assim alimentar a fome contínua da alma desprezível e desprezada. Juro que queria te ensinar como olhar o sol sem reclamar, olhar a lua sem criticar, caminhar sem reclamar das distâncias, viver sem achar que a existência é um fardo. Conheço alguém que nem sai mais da cama para caminhar e olhar o sol que sonha ainda em encontrar a lua.
Já que faz tanto isso, olhe mais ainda e mais cuidadosamente na direção da minha morada e aprenda algumas lições. É de tronco, é de taipa, é de barro, é de folha, é de madeira, é de papelão. Mas também é de ouro, é de diamante, é de ferro, é de rubi, é de esmeralda. Qual a importância da grandeza ou da estrutura de uma casa se da porta adiante não morar a felicidade, e se os pés que saem de dentro dela não seguem pelo mundo a espalhar tanta felicidade?
Oh, bem disse o livro da sabedoria: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Um dia passa e outro vem e nada muda debaixo do sol. E jamais mudará mesmo se o contentamento se contenta em viver da colheita das ervas daninhas que semeou em meio aos lírios dos campos. Os lírios brotam, florescem, dançam ao sabor do vento, festejam a vida. E ainda assim acha que vai macular a terra com as ervas daninhas.
Que bom que soubesse que da humildade se enche e se povoa o mais nobre espírito. Tenho ao meu lado apenas um pequeno riacho que passa pela minha aldeia. Mas é o mais belo rio apenas porque é o riacho que passa pela minha aldeia. Como no poema de Fernando Pessoa, também sei amar a grandiosidade daquilo que - ainda que pequenino - tenho ou posso ter.
Não é difícil não. Abra a porta do coração, caminhai para a vida, olhai os lírios dos campos. E sinta que no vento que passa vai um pequeno grão. Adiante formará uma montanha, num acúmulo de todo bem ou todo mal que pretenda depositar ali.

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Alphaville Jantar Dia Das Mães

Por: Luzia Paiva Fernandes

Foto de Luzia Paiva Fernandes

O Alphaville Mossoró promove um grande evento em comemoração ao dia das mães, você é nosso convidado especial.
Segue Convite.

Entrar em contato para adquirir as senhas.

Enviado por Luza Paiva Fernandes

Ser seu céu (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Ser seu céu


Ser seu céu
amor, meu amor
não é ter o paraíso
de fortuna imaginária
nem campos floridos
de manhãs sem noites
ou sentir os anjos
cantando nossa presença
mas ser simplesmente
esse terreno vivente
que alcança a glória
nos teu braços divinos
e a sublime salvação
na pureza do amor
desse querer tão nosso
dessa união tão nossa
que podemos chamar
essa partilha de vida
de templo e catedral
de escada e pedestal
da razão melhor juízo
de céu e de paraíso.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

O homem que tapeou Antônio Silvino


Era uma vez... Dois primos, Inácio e Severino, brejeiros dos bons, que viajavam semanas a fio, de vinte a trinta quilômetros por dias com os burros carregados, só parando para alimentação frugal e à noite para o cochilo mal acomodado, sempre debaixo de árvores que dessem uma boa sombra, e os protegessem do sereno da noite, como os Juazeiros, Mulungus, Trapiazeiros, Umbuzeiros e Craibeiras pelo Agreste Nordestino: Brejo, Curimataú, Seridó, Cariri e Sertão com uma tropa de burros: dois de sela e doze animais de carga, com seus arreios aonde dependurados iam à malotagem, bruacas ou os sacos com as mercadorias, sempre cobertas com lonas, fora a burra madrinha, velha e sabida que encabeçava e escolhia os caminhos melhores, sempre enfeitada com fitas e um sininho característico ou mesmo um chocalho com um som bem peculiar, onde os outros animais a seguiam quer de dia ou à noite; desses burros, dois eram animais com a troçada do dia a dia: comida, redes, água, capote feito de algodão grosso, onde matava o frio e os protegias da chuvas (poncho),  panelas, fumo de corda, cachaça, trempe de ferro para cozinhar, lona, sabão e o diabo a sete. A comida se resumia, quase que carne de charque, ou carne seca (chamada de sol) farinha de mandioca, queijo de coalho, toucinho, sal, café, açúcar, arroz, temperos, feijão dos dois tipos: o mulatinho e o de corda, xerém de milho e um tipo mais fino para fazer cuscuz.

Saiam sempre de Riacho Fundo, fazenda localizada entre Esperança e Areial na Paraíba, Próxima da fazenda Arara do meu avô Manoel Henriques (Virgolino) da silva.

Viviam nas propriedades de seus familiares, onde há muito se produzia feijão de arranca (mulatinho), fumo, que era transformado em “fumo de rolo”, pronto para ser usado, erva doce, batatinha inglesa, agave, café e mais uma finidade de alimentos para sua sobrevivência e para a comercialização.

Muitos tropeiros também partiam do Brejo Paraibano, levando estas mercadorias como também o açúcar mascavo, a cachaça e a rapadura, produzida nos engenhos do Brejo.

No entanto, esses dois meus parentes, há muito tempo só negociavam com feijão, café e fumo, lá pras bandas de Parelhas, Ouro Branco, Macaíba e adjacências no Rio Grande do Norte. Numa dessas viagens, levaram apenas feijão e fumo de corda, não conseguiram vender o feijão, pois naquele ano o inverno fora bom e quase todo mundo tinha de sobra para comer e vender. Venderam o fumo ligeiro e Severino se decidiu tentar vender os sacos de feijão mulatinho na cidade de Natal-RN.

Disse para o Inácio – Vá levar os burros descarregados pra casa, avise a família meu destino e venha se encontrar comigo por lá.

Assim o fez. Um seguiu com seis burros carregados e o outro desceu em direção a Esperança para fazer o que haviam combinado.

Inácio logo que pode, empreendeu viagem, num burro bom, meeiro que o cabra chegava a cochilar em cima da sela. Num dia e meio espirrou na capital Rio-grandense, foi direto para o local marcado. Ficou meio contrariado por não encontrá-lo, danou-se a procurar pelos arrabaldes: locais onde sempre se reuniam os tropeiros, depois de desocupados, como ainda se ver hoje nos dias de feiras nas cidades do interior, (sempre um campo de futebol, em terreno abandonado). Bares, bodegas, lupanares, casas de jogos, pensões baratas, currais onde sempre os animais esperavam, pacientemente, pelos donos, a um preço módico, com direito apenas a água e a garantia de que de lá ninguém os roubariam.

Passou-se um dia e nada do primo. Tirou onda de detetive. Começou a fazer perguntas e nada de notícias, já aperreado, passado quase uma semana, mandou avisar pra família do acontecido e que iria continuar nas buscas. Era um mistério medonho. O homem desaparecera sem deixar rastros. Como o primo tinha vontade de conhecer o norte, ele logo pensou que esse seria o rumo que tomara, para vender o danado do feijão, achando que por ali não havia encontrado negócio, seguiu viagem, e na primeira cidade, teve finalmente notícias de um tropeiro com seus burros. Era só esta notícia que tivera, podia ser mentira mais também verdade, resolveu tirar suas dúvidas, pois já faziam mais de duas semanas da separação dos dois. Seguiu em frente e nada de alcançá-lo.

Notícia aqui e notícia acolá, depois de três meses chegou à cidade de Sena Madureira no Acre, local onde estava havendo migração de nordestinos para trabalhar com a extração da borracha, ficou por lá, sempre procurando o primo e trabalhando juntamente com aquela multidão de desgarrados da sorte. Lutou durante uns três a quatro anos até que resolveu voltar sem o parente, - o mato havia aberto e fechado e engolido o homem – e, como já havia amealhado um bom dinheiro. Fez finca pé de lá e em pouco tempo chegava ao seu velho Brejo, com o coração partido com o sumiço do amigo. Não sabia como se apresentar e narrar aos familiares do desaparecido. Havia de fato enviado cartas, mas falar de cara a cara era outra coisa, olhar nos olhos dos pais matutos e dizer que seu filho não existia era outra coisa mais dura de enfrentar.

Trazia consigo bastante dinheiro e muitas armas, frutos do seu trabalho como seringueiro.

A fama de “rico” logo chegou aos ouvidos de muita gente, inclusive de grupos de cangaceiros, que naquela época perambulavam entre o Brejo e o Cariri Paraibano como: Antonio Silvino, João de Banda, Nêgo Zé Luiz de Queimadas, João Pichaco e tantos outros desocupados.

Um dia lhe contaram que Antônio Silvino e João de Banda vinham tomar o dinheiro e as armas que possuía. Mudou-se da propriedade onde vivia e foi pra bandas de Pocinhos numa fazenda chamada Amaro. Enterrou as referidas armas e escondeu o dinheiro suado que havia conseguindo na luta do ouro branco e contra a malária (impaludismo), no Norte do País, na cidade de Sena Madureira no Acre. Dormia de dia e vigiava de noite, uma bela noite chegou Silvino com sua tropa, cutucaram tudo, reviraram todos os caixotes da casa fizeram ameaças a uns moradores velhos, mataram de tiros várias galinhas e nada de dinheiro e armas.

O danado do bicho também era sabido e jurou que Antônio Silvino não tomaria seus anos de trabalho.

Mudou-se para outra propriedade de nome Algodão perto de Soledade PB; a velha raposa logo descobriu o seu paradeiro e foi bater lá, mas o cabra dizia que “seguro morreu de velho e prevenido ainda estava vivo”, procurou ainda mais se esconder e despistar os cabras que viviam envenenados por dinheiro e armas.

Cada vez mais os cangaceiros ficavam com raiva, por não achar o que não era dele e desta vez, Antonio Silvino, fez o que não era seu costume. Inácio havia ido a fazenda Arara providenciar um enxoval de um sobrinho que havia nascido deixando um menino tomando conta da casa.        

Antonio Silvino emboscou-se com sua tropa atrás de umas pedras, esperando uma oportunidade; nisso viu o menino botar a cabeça fora de casa e aí pegou o molecote, vendo mais uma vez que havia dado o bote perdido, com raiva, deu uns riscos de punhal nos couros do pequeno vigia para que servissem de recado, matando dessa vez umas vacas que estavam no curral atrás da casa.

Inácio fugiu novamente, desta vez foi se embrenhar no lugar chamado Lajedo Vermelho, onde moravam outros parentes, perto da cidade de Soledade. Dizendo sempre que o que era dele ninguém botava a mão. Dessa vez quase que os cabras o pegavam, escapou por um triz. Aprendeu a lição e parou de se gabar e contar lorotas sobre quem era e o que tinha.

Nesse ínterim havia conhecido uma moça de nome Mônica do Município de Santa Luzia, formosa e rica, namorou, noivaram e casaram. Nunca mais Antônio Silvino teve notícias dele. Comprou duas fazendas: Canoa e Poço Salgado, juntamente com seu cunhado (Anísio) e com o dinheiro que tinha guardado montaram uma desencaroçadeira (bolandeira) e prensa de algodão, comprava e vendia gado, negociava com peles de animais num pequeno curtume que tinha na fazenda, possuía caminhões e um automóvel tornando-se um dos mais importantes chefes político e poderoso do lugar. (Ribinha). Antônio Silvino levou a breca, mas não pegou o seu dinheiro nem suas armas.

Muito tempo depois, voltava da feira, montado numa burra branca e pequena, mas que voavam pelas estradas pedregosas da região, enquanto seus filhos e meu tio vinham no caminhão com as mercadorias negociadas na feira, quando - já velho – subiu os degraus da casa e sua esposa abriu a porta contente e satisfeita, se surpreendeu com um cabra, que já o vinha seguindo, o atacando pelas costas, dando-lhe uma gravata com um punhal na mão, era um monstro de forte, dominando-o totalmente, a esposa tentou socorrê-lo, mas o satanás plantou-lhe um pontapé que a deixou desmaiada, nisso entra meu tio com seus dois primos e vendo aquela cena horrível, pegou uma trave de miolo de Aroeira que estava atrás da porta, danou na nuca do assaltante derrubando-o, o bicho ainda ficou ciscando no chão e imediatamente os outros tiraram suas facas e fizeram o resto do serviço. Mas, como era dia claro, engancharam o negrão pela gola da camisa no armador e esperaram que anoitecesse, para no silêncio e no escuro da madrugada, sem que ninguém visse, pudessem carregá-lo numa rede e jogá-lo num serrote que havia distante dali uma meia légua, num lugar quase inacessível.

Conto essa história dos meus parentes, hoje, porque já se passaram mais de cem anos e os personagens já não existem mais e nunca souberam quem era o bandido que tentou roubar o velho e cansado Brejeiro Inácio.

Fonte:

Manoel Batista de Morais (Antonio Silvino) - Antecessor de Lampião


Manoel Batista de Morais nasceu no dia 2 de novembro de 1875, em Afogados da Ingazeira, uma pequena cidade situada às margens do rio Pajeú das Flores, sertão do Estado de Pernambuco. Era filho de Francisco Batista de Morais e de Balbina Pereira de Morais. Na juventude, ficou conhecido como Batistinha (ou Nezinho). Seus dois irmãos eram Zeferino e Francisco.

Batistinha possuía um tio chamado Silvino Aires Cavalcanti de Albuquerque que, após ter brigado com os partidários do General Dantas Barreto (governador de Pernambuco), decidira organizar um bando e, desde então, vivia espalhando o terror pelos sertões adentro.

Desse grupo, faziam parte: Luís Mansidão e o seu irmão, Isidoro, Chico Lima, João Duda, Antônio Piúta e, posteriormente, os seus sobrinhos Zeferino e Manoel Batista de Morais (Batistinha).

Silvino Aires vivia fugindo do cerco da polícia, mas foi preso enquanto dormia, pelo Capitão Abílio Novais, perto de Samambaia, distrito de Custódia, em Pernambuco. Com a prisão do tio e bandoleiro, Batistinha assumiu o comando do cangaço, mudou o seu primeiro nome para Antônio (não se sabe, até hoje, o motivo) e, o segundo, para Silvino, em homenagem ao familiar e ex-chefe que tanto admirava.
partir daí, passou a ser conhecido com o nome de guerra de Antônio Silvino e apelido de "Rifle de Ouro". Um pouco antes de Lampião, ele representou o mais famoso chefe de cangaço, substituindo cangaceiros célebres tais como Jenuíno Brilhante, Adolfo Meia-Noite, Preto, Moita Brava, o tio - Silvino Aires - e o próprio pai - Francisco Batista de Morais (conhecido como Batistão).

Batistinha havia entrado no cangaço com o seu irmão, Zeferino, para vingar a morte do pai, Batistão do Pajeú, que havia tombado morto em um dos combates com a polícia. Batistão era um homem provocador, um bandoleiro, bastante marcado pela polícia e autor de vários homicídios. Certa vez, ousou entrar em Afogados da Ingazeira, em um dia movimentado de feira. Daí, o chefe político local, coronel Luís Antônio Chaves Campos, contratou um matador profissional (Desidério Ramos, que, como o coronel, também era desafeto de Batistão), e este liquida o cangaceiro com um tiro de bacamarte. O corpo de Batistão permaneceu inerte, em uma rua próxima à feira. Era o ano de 1896.
Desidério, gozando da cobertura do coronel e chefe político da região, permaneceu impune e bem protegido no sertão. Jamais demonstrou possuir o menor temor de Antônio Silvino, a despeito de o cangaceiro amedrontar a todos. Sendo assim, depois de muito chorar a perda do genitor, os filhos de Batistão juraram vingar a sua morte, roubando, assaltando e matando todos aqueles que colaboraram para tal.
Algumas pessoas acreditavam, inclusive, que Antônio Silvino não possuía "maus instintos", que não cometia violências à toa, do tipo assaltar pessoas, estabelecimentos, povoados e cidades sem haver um motivo justo. Os integrantes do seu bando só se vingavam daqueles que lhes armavam emboscadas, dos que os denunciavam à polícia, das volantes que os perseguiam. Quando muito, se não agiam exatamente dentro da lei, isto era justificado, segundo eles, pela necessidade de angariar elementos básicos para a sobrevivência do bando: comida, dinheiro, roupa, armamentos.
Outras pessoas afirmavam, contudo, que Antônio Silvino vivia espalhando o terror nos municípios das Zonas da Mata e Agreste de Pernambuco, e nos sertões deste Estado e da Paraíba. Sobre os feitos e a valentia daquele cangaceiro, o cantador popular Leandro Gomes de Barros escreveu:
Onde eu estou não se rouba
Nem se fala em vida alheia,
Porque na minha justiça
Não vai ninguém pra cadeia:
Paga logo o que tem feito
Com o sangue da própria veia.
Quando Silvino Aires morreu, vários indivíduos perigosos entraram em seu bando e começaram a espalhar o terror por toda a parte. Foram eles: Cavalo do Cão, Relâmpago, Nevoeiro, Bacurau, Cobra Verde, Azulão, Cocada, Gato Brabo, Rio Preto, Pilão Deitado, Barra Nova, Cossaco, entre outros. Antônio Silvino, como chefe, passou a usar a farda de coronel, apresentando-se com cartucheiras, punhal na cintura, bornais e um rifle na mão e, por questão de poder e vaidade, exigia que todos o chamassem de "capitão".

A esse respeito, Mauro Mota registrou um episódio vivenciado por Antônio Silvino. Ao invadir uma cidade na Paraíba, o famoso cangaceiro se dirigiu à casa de um delator e disse, em público, que ia matá-lo. A esposa da vítima, desesperada, pediu-lhe, então: "Capitão, não mate o meu marido. Tenha pena de uma pobre mulher e de crianças que vão ficar órfãs."

Ao que o cangaceiro lhe respondeu: "[...] Antônio Silvino não sabe negar nada a uma mulher aflita." [...] "Perdôo-lhe a vida, mas, para não ficar sem castigo, vou mandar dar-lhe uma pisa."

Ao que a mulher voltou a lhe solicitar: "Capitão, se é para humilhar meu marido, o senhor me desculpe: em um homem não se dá! Mande logo matá-lo, que é melhor!

Naquele momento, vendo esvair-se a oportunidade de escapar da morte, o marido delator interrompeu o diálogo dos dois e exclamou: "Não se meta, mulher, que o capitão sabe o que faz!"
Um outro episódio ocorrido foi narrado pelo escritor e sertanejo Ulisses Lins. Certa vez, Antônio Silvino passou pela Fazenda Pantaleão, uma propriedade de Albuquerque Né, o avô de Etelvino Lins. Como o cangaceiro não o conhecia, apenas cumprimentou-lhe à distância, tirando o seu chapéu.

Quando foi informado de quem se tratava, no entanto, Antônio Silvino voltou para pedir-lhe desculpas, humildemente, por ter passado em suas terras armado, justificando isto pela vida de riscos que levava, fugindo sempre dos inimigos e da polícia. Dessa forma, mesmo considerando o crime como uma banalidade, o cangaceiro sabia respeitar a autoridade e a lei dos coronéis-fazendeiros, em verdade, os mais poderosos de todos.
Ele chegou a ser chamado de "bandido cavalheiro". Mesmo não perdoando aos inimigos, ele adquiriu fama por proteger as pessoas simples e humildes: as mulheres, as crianças, os doentes e os idosos. Um poeta popular sertanejo, na época, sobre ele escreveu:
Antônio Silvino é
Cangaceiro do sertão,
Mas não ataca a pobreza,
Antes lhe dá proteção;
Mas tem orgulho em matar
Oficial de galão.
Um outro poeta popular deixou o seguinte cordel, como se fosse o próprio Antônio Silvino falando:
Já ensinei aos meus cabras
A comer de mês em mês,
Beber água por semestre,
Dormir no ano uma vez,
Atirar em um soldado
E derrubar dezesseis.

O governador de Pernambuco, general Dantas Barreto, frente aos imensos prejuízos causados pelos cangaceiros no interior do Estado, decidiu decretar a mobilização da polícia. Foram despachadas para o sertão, então, inúmeras forças volantes, com o intuito de combater o bando de Antônio Silvino.

O delegado do município de Taquaritinga, alferes Teófanes Torres, comandante de uma das forças volantes, desconfiou que o famoso cangaceiro estivesse escondido na fazenda de Joaquim Pedro. E quando empreendeu uma busca dentro da casa, percebeu que um grande carneiro tinha sido abatido e estava sendo preparado na cozinha do fazendeiro.
A partir daí, o alferes ameaçou fuzilar o dono da propriedade, caso ele não revelasse, de imediato, aonde se encontrava Antônio Silvino. Uma das filhas de Joaquim Pedro, apavorada com a situação, implorou: "diga a verdade, papai!" O fazendeiro terminou falando, então, que o bando se encontrava bem perto dali, à beira de um riacho; e o delegado ordenou que a tropa seguisse até o local e pegasse o cangaceiro vivo ou morto.

O caminho indicado, no meio da caatinga, em Lagoa da Lage, Santa Maria, Pernambuco, era um entranhado de espinhos, mororós, xique-xiques, facheiros e galhos secos de jurema, ferindo todos os que tentavam abrir a picada. Mas, a despeito das dificuldades, no dia 28 de novembro de 1914 ocorreu o último encontro de Antônio Silvino com a polícia. No tiroteio, muitos morreram e poucos conseguiram fugir. Já baleado e para não ir preso, Joaquim Moura, o lugar-tenente do cangaceiro, se suicidou com um tiro de rifle. O confronto durou cerca de um hora, o tempo que o bando esgotou a munição das cartucheiras.

Percebeu-se, de repente, que Antônio Silvino estava correndo cambaleante, como se estivesse ferido. Em verdade, uma bala de fuzil havia atravessado o seu pulmão direito, indo sair na região sub-axilar. Sangrando, ele conseguiu chegar à residência de um amigo, pediu que chamassem a polícia e, na presença desta assim falou: estou entregue! Tinha 39 anos de idade.

Ele foi preso na mesma hora e levado para a Cadeia de Taquaritinga. Porém, como estava muito ferido, teve de viajar a cavalo, dentro de uma rede, por cerca de 40 quilômetros, até a estação ferroviária de Caruaru. O destino final era a capital do Estado.

Como recompensa ao heroísmo pela captura do "Mussolini sertanejo", o general Dantas Barreto promoveu o alferes Teófanes a tenente; a alferes, o segundo-sargento José Alvim; e, a cabo, todos os demais praças que participaram do confronto com o bando.

Do município de Caruaru, Antônio Silvino foi transferido para a Casa de Detenção do Recife. Veio em um trem especial da Great Western, onde uma multidão o aguardava: todos queriam ver, de perto, o tão falado cangaceiro.

No entanto, Antônio Silvino se encontrava abatido, em decorrência da hemorragia que tivera, estava inquieto, com dificuldade respiratória, e ardia em febre. Os médicos diagnosticaram pneumonia traumática e aplicaram seis ventosas secas sobre o seu hemitorax direito. Posteriormente, deram-lhe injeções de óleo canforado e estriquinina. O doente ficou mais calmo, respirando melhor.

Antônio Silvino se tornou o prisioneiro número 1122, da cela 35, do Raio Leste. Por vários processos, pelos vinte anos de opção pela vida no cangaço, foi condenado a 239 anos e 8 meses de prisão.

Na cadeia, teve um comportamento exemplar e decidiu aprender a ler e escrever, aproveitando as horas do dia para fazer algo útil. Nos intervalos das aulas, fabricava abotoaduras, brincos e pequenos artefatos de crina de cavalo, ganhando algum dinheiro com a venda desses produtos.

Passou a ser objeto de estudos e pesquisas, principalmente de alunos da Faculdade de Direito do Recife. Entretanto, não gostava de recordar o seu passado.

Em certa ocasião, recebeu a visita de José Lins do Rego, um jovem advogado cujo desejo era o de se tornar um romancista. Outras vezes, foi procurado por Luís da Câmara Cascudo, Nilo Pereira, José Américo de Almeida, entre várias personalidades importantes. Quanto aos jornalistas, o ex-cangaceiro se recusou, sistematicamente, a recebê-los.

Antônio Silvino passou vinte e três anos, 2 meses e 18 dias recluso. Mas, após esse período, recebeu um indulto do Presidente Getúlio Vargas. Na época, ele declarou:

Minha vida todo mundo conhece. Vinte e três anos de reclusão alteraram o meu destino. Mas, diga lá fora, que eu nunca roubei, nem desonrei ninguém, e, se matei alguma pessoa, foi em defesa própria, evitando cair nas mãos de inimigos. Saiu feliz da vida da prisão, como um passarinho que escapou da gaiola. Tinha 62 anos de idade.

Liberto, ele decidiu andar pela rua Nova, olhar as vitrines, ir até à Sorveteria Pilar, conhecer a praia de Boa Viagem, admirar Recife e Olinda. Chegou, inclusive, a conhecer o Rio de Janeiro e o Presidente Vargas.

Desejando se estabelecer no interior do Estado, Antônio Silvino resolveu mandar uma carta para José Américo de Almeida, um político de renome na Paraíba, solicitando-lhe um emprego, por conta dos "seus serviços prestados ao Nordeste". Mas, o escritor e político jamais lhe respondeu a carta.

O ex-detento viaja para o sertão da Paraíba. Ficou vagando de cidade em cidade, se hospedando nas casas de alguns amigos antigos, porém jamais obteve recursos financeiros para comprar a tão sonhada pequena propriedade e dedicar-se de corpo e alma à agricultura.

Terminou indo viver com uma prima, Teodulina Alves Cavalcanti, que morava com o seu esposo em uma casa modesta na rua Arrojado Lisboa, em Campina Grande, na Paraíba.

Considerando-se que Antônio Silvino permaneceu vinte anos arriscando a vida e enfrentando o perigo no cotidiano, é possível afirmar que o ex-cangaceiro teve uma vida longa. Lampião, por exemplo, foi morto em Sergipe no ano de 1938, aos 41 anos de idade. Na ocasião de sua morte, Antônio Silvino estava cumprindo a sua pena e, quando indagado acerca do ocorrido, ele declarou:

Não me causou admiração porque a vida é incerta, mas a morte é certa. Não me interessam mais esses assuntos de cangaço, pois sou um homem regenerado. Só quero, agora, descanso na minha velhice.

Do perigoso cangaceiro que fora no passado, ele era hoje um homem idoso, mas que possuía uma mente esclarecida e respondia bem à todas as perguntas que lhe faziam. Dele, foi esse depoimento:

Nunca tive medo de morrer em pé, quando campeava pelo Nordeste, mas, agora, deitado, não quero morrer, se bem que não tenha medo do inferno, pois se para lá for, disputarei um lugar de chefe, um posto de comando qualquer. Pro céu é que eu não quero ir, pois, ao que me consta, lá não há campo pra luta, nem lugar para Capitão de mato como sempre fui. Quero viver mais um pouco, mesmo com esta agonia que estou sentindo, com esta falta de ar, com esta falta de conforto.

E acrescentou: A justiça dos homens me condenou. A justiça da Revolução de 30 me absolveu, dando-me liberdade. A doença agora me prende e eu tenho que aguardar o pronunciamento da justiça de Deus. É ela maior de que todas as justiças da terra.

Antônio Silvino teve oito filhos: José, Manoel, José Batista, José Morais, Severino, Severina, Isaura e Damiana. Ele morreu na casa de sua prima Teodulina, no dia 30 de julho de 1944. Ao lado de uma multidão de curiosos, procurando vê-lo pela última vez, o ex-cangaceiro foi enterrado no Cemitério de Campina Grande. Uma senhora idosa depositou uma coroa de flores sobre a sua sepultura e, uma jovem, um cacho de angélicas e cravos.

Passados dois anos e meio do seu falecimento, nenhum familiar apareceu para a retirada dos ossos de Antônio Silvino. Sem alternativa, os coveiros enterram os restos mortais em um outro lugar do cemitério. Hoje, não se sabe mais aonde.

O que sobrou do Capitão Antônio Silvino, do célebre Rifle de Ouro, se perdeu, em meio a tantas outras ossadas que nunca foram reclamadas. A sua fama, no entanto, registrada pelos poetas populares em literatura de cordel e, por muitos intelectuais, em vários livros e periódicos, permanece viva e intacta em todo o Brasil.
Postado por: Jonaldo Daniel

Rubens Antonio - "No rastro de Lampeão"


Ponto atravessado por Lampeão e seu bando, em 22 de dezembro de 1929.

Os Lantyer, de Queimadas 

A entrada de Lampeão e seu bando, em Queimadas, BA. em 22 de dezembro de 1929, se fez após a travessia, por canoa, do Rio Itapicuru.
Desembarcou o grupo a cerca de 150 metros do chamado Chalé Lantyer. Caminharam em sua direção e encontraram dois homens diante de um automóvel. Foi assim que João Lantyer de Araújo Cajahyba tornou-se o primeiro a ser abordado por Lampeão e demais cangaceiros, após aqueles terem atravessado o Rio Itapicuru, diante da sua residência.
O Chalé Lantyer, em seu aspecto original (Acervo família Lantyer)
 
João Lantyer, segundo à direita, com seu "Ford Bigode". Na extrema direita, o mecânico Patápio. Foto de 1928. Possuiu-o por pouco tempo. Vendeu-o para atender ao pedido da esposa, que temia que, em suas viagens, fosse novamente abordado por Lampião.Informação de Antonio Lantyer, seu filho, in Chalé Lantyer
Ali, João se encontrava com o mecânico Pedro Patápio realizando consertos no seu "Ford Bigode”. Após breve conversa com Lampeão, que solicitou o automóvel para adentrar a cidade no mesmo, informando-o que este se encontrava, como se podia perceber, com defeito, foi deixado para trás. Isto, enquanto o cangaceiro despachava alguns cangaceiros para neutralizar o telégrafo e avançou adentrando a cidade.

Zulmira Lantyer de Araújo Cajahyba, irmã de João, que se encontrava na residência da sua irmã, Djanira Lantyer de Araújo Cajahyba, quando foi chamada a ver a passagem do que seria uma tropa volante pernambucana. Reconheceu Lampeão e os cangaceiros que, passando-se por força volante, adentravam Queimadas.
Zulmira Lantyer
Tentou avisar a cidade, em uma ação poderia ter evitado o saque da cidade e o massacre dos soldados.
Entretanto, não deram 
crédito ao seu alerta. Tendo tomado a cadeia e quartel e prendido o sargento Evaristo e alguns praças, Lampeão fez tocar o apito que chamava os demais para o quartel. João Lantyer avistou e avisou um dos soldados que a pretensa volante era, na verdade, um "troço de cangaceiros” liderado por Lampião. Entretanto, o soldado não acreditou nele e seguiu para a morte.
Nascido em 24 de setembro de 1895, João Lantyer faleceu em 17 de dezembro de 1987, em Queimadas. Zulmira Lantyer faleceu em Queimadas em 25 de junho de 1989.

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