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quarta-feira, 15 de agosto de 2012
[Cangaço na Bahia] Morro do Chapéu...
Por: Rubens Antonio
21 de outubro de 1929, no “Diario de Noticias”:
Lampeão e Corisco continuam a fazer inquietas e sobresaltadas as populações sertanejas da zona centro do Estado.
A POLICIA ADOPTA NOVO PLANO
Consoante o texto do telegramma transmittido ao sr. Chefe de Policia pelo delegado de Morro do Chapéo, Corisco e o grupo sob o seu commando foram batidos no municipio de Morro do Chapéo, tendo a luta se travado ás 11 horas da noite de ante–hontem, sabbado.
CORISCO BATIDO EM MORRO DO CHAPEO
Convencida, agora, de que os bandidos se acham effectivamente divididos em dois grupos, do que lhe deu certeza terem occorrido, nas mesmas horas, o tiroteio de Morro do Chapéo e a façanha de Quebrado, a Chefia da policia, ao que sabemos, vae mudar de plano, já tendo, nesse sentido, telegraphado aos commandantes das forças volantes, dando as necessarias instrucções, a serem observadas dagora por deante.
Aguardemos, portanto, os resultados da nova estrategia, dentro de oito dias em plena execução.
Correspondência de Lampeão para o coronel Benta, de Morro do Chapéu:
"Ilm. Sr. Cel. Antonio de Benta.
Estimo suas Saudações.
Cel., paçando eu nestas midiações Não fiz prano de paçar por ahi divido a lhi respeitar pois seio que o Sr. É um homem muito de Bem e seio que não mi É contaro apois não pretendo faer mal alguns, a estas ondas por este mutivo espero e confio no S.,. apois tenho muitas Boas informações de si, para commigo portanto não tome por prevenção esta paçage minha por aqui sinto mui não lhi mandar uma lembrança apois V.S. conhece minhas condições. Quero receber uma lembrança de ci espero e confio muito no Sr. dispaxe este logo que vou viajando. Disponha deste menor amigo.
Virgulino Ferreira Lampeão.
mande mi alguma noticia si já tem do sertão, mesmo Lampião."
Mapa da região de Morro do Chapéu, com a localização da Fazenda Cercado, onde os cangaceiros pernoitaram, antes de desistir da incursão à Chapada Diamantina e se retirarem. Foi o ponto mais a sul, na Bahia, em que chegaram.
Coronel Antonio de Souza Benta, pintado pelo artista Prisciliano Silva, por encomenda pelo farmacêutico José Aurelino Brito. Nascido em 1868, preparou Morro do Chapéu para resistir a Lampeão. Esta pintura mostra sua aparência à época do evento. - Imagem gentilmente cedida por Antônio José Dourado Rocha.
Acima, o coronel Antonio de Souza Benta, à época em que bloqueou a passagem de Lampeão. Ao seu lado, o coronel Francisco G. Matos, o Chico Matos, comerciante, comprador e revendedor de diamantes, primo do coronel Horácio de Matos. - Imagem gentilmente cedida por Antônio José Dourado Rocha.
Depoimento de senhor que prefere ainda não identificar, de Morro do Chapéu:
"De Lampião tem um caso interessante... quando ele esteve em Morro do Chapéu, e não conseguiu passar... O major Arnóbio Soares Bagano foi personagem de um interessante encontro com o Lampião, na sua fazenda Garapa, bem às margens do rio Jacaré. Em 9 de julho de 1929, quando o bando de Lampião, pernoitou na Fazenda Cercado, que dista vinte e um quilômetros da cidade de Morro do Chapéu... Em seguida, achando que tinha uma armadilha para ele, em Morro do Chapéu, preparada pelo coronel Benta, que tinha mesmo se armado e se preparado para combatê–lo, fugiu, em direção a Sento Sé... Passando pelo Garapa, nas margens do rio Jacaré, pregou um grande susto ao major Arnóbio Soares Bagano, que fazia a sesta dormindo em uma rede de caroá, amarrada em uma árvore... Ele foi despertado com alguém balançando a rede assim, pela corda... O major virou e ficou sentado na rede, olhando... Depois de algum tempo disse:
– Com quem estou falando?
– Tá falando com o capitão Virgulino Ferreira, o Lampião!
O major, fingindo surpresa, perguntou:
– É esse que mata mais que Deus? Me dá então um abraço apertado pra ver se eu morro logo!
Aí, com essa brincadeira, o major Bagano descontraiu o ambiente... Ainda mais que foi logo avisando:
– Não tenha receio! Estão chegando uns rapazes, mas são empregados da fazenda e não há perigo...
O major Bagano ofereceu coco, laranja e comida a Lampião e aos cangaceiros... e ficaram de prosa... Os cangaceiros gostaram de um rifle... pegaram e levaram, mas pagaram.
Em seguida, quando iam embora, pegaram dois animais da fazenda e Lampião disse:
– Esses vão voltar... mas os que os macacos tomarem não voltarão...
E partiram."
"De Lampião tem um caso interessante... quando ele esteve em Morro do Chapéu, e não conseguiu passar... O major Arnóbio Soares Bagano foi personagem de um interessante encontro com o Lampião, na sua fazenda Garapa, bem às margens do rio Jacaré. Em 9 de julho de 1929, quando o bando de Lampião, pernoitou na Fazenda Cercado, que dista vinte e um quilômetros da cidade de Morro do Chapéu... Em seguida, achando que tinha uma armadilha para ele, em Morro do Chapéu, preparada pelo coronel Benta, que tinha mesmo se armado e se preparado para combatê–lo, fugiu, em direção a Sento Sé... Passando pelo Garapa, nas margens do rio Jacaré, pregou um grande susto ao major Arnóbio Soares Bagano, que fazia a sesta dormindo em uma rede de caroá, amarrada em uma árvore... Ele foi despertado com alguém balançando a rede assim, pela corda... O major virou e ficou sentado na rede, olhando... Depois de algum tempo disse:
– Com quem estou falando?
– Tá falando com o capitão Virgulino Ferreira, o Lampião!
O major, fingindo surpresa, perguntou:
– É esse que mata mais que Deus? Me dá então um abraço apertado pra ver se eu morro logo!
Aí, com essa brincadeira, o major Bagano descontraiu o ambiente... Ainda mais que foi logo avisando:
– Não tenha receio! Estão chegando uns rapazes, mas são empregados da fazenda e não há perigo...
O major Bagano ofereceu coco, laranja e comida a Lampião e aos cangaceiros... e ficaram de prosa... Os cangaceiros gostaram de um rifle... pegaram e levaram, mas pagaram.
Em seguida, quando iam embora, pegaram dois animais da fazenda e Lampião disse:
– Esses vão voltar... mas os que os macacos tomarem não voltarão...
E partiram."
Velório de Coronel Antônio de Souza Benta. em 1946. Nascido em 1868, chefiou a preparação, em Morro do Chapéu, para combater Lampeão, que chegou a 21 km da cidade, em 1929. No centro da foto, ao fundo e ao lado direito do caixão, com veste quadriculada, sua esposa Honestina Virgilia Benta.
Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio
Lampião e seus cangaceiros ... No sertão de Araci/BA
Por: Fernando Tito
Doma Germínia
Germinia Pinho da Silva Góes, nascida em 23 de Junho de 1928. Mora em Araci-Bahia. Foi visitada na infância pelo bando de Lampião. Relato feito em Dezembro de 2007 à Fernando Tito.
Sabendo dos rumores que Lampião estava nas redondezas, meu pai José Tibúrcio da Silva, ao viajar para Queimadas mandou que minha mãe, Marcionília Pinho da Silva, fosse dormir na casa do cunhado (Martinho Pereira da Silva) que ficava perto, eu Germinia Pinho da Silva tinha apenas seis meses de idade. José Tibúrcio da Silva como proprietário da Fazenda Paraíba, transportava daqui peles de ovinos, bovinos e caprinos que levava para Queimadas pois lá havia um curtume que era do Coronel Vicente Ferreira da Silva, que era primo de José Tibúrcio da Silva.
Ao chegar lá ele deixava as peles para serem curtidas e as que já estavam curtidas ele pegava para trazer, completando a carga com sacas de café que vinham de Jacobina para Queimadas.
José Tibúrcio, Marcionília Pinho, Germinia Pinho e José Brígido (Zeles).
Ao chegar lá ele deixava as peles para serem curtidas e as que já estavam curtidas ele pegava para trazer, completando a carga com sacas de café que vinham de Jacobina para Queimadas.
Meu pai era dono de uma tropa de oito burros, sendo seu tropeiro o Senhor Higino morador da Fazenda Roda, ao chegar aqui na Vila do Raso, como era conhecido na época, meu pai tinha que ir prestar contas ao Coronel Vicente Ferreira da Silva, pois era ele que dava os fretes para meu pai conduzir. Foi no período desta viagem que Lampião chegou em João Vieira arraial de Araci, no mês de Dezembro de 1928, procurou saber quem era fazendeiro e quem tinha tropas de burros, alguém que se dizia ser amigo de meu pai informou a Lampião sobre meu pai e Lampião mandou o cangaceiro Corisco ir até a Fazenda Paraíba guiado por esta pessoa, pois não sabiam onde era a Fazenda, ao chegar não encontrando ninguém colocaram fogo na casa.
Quando foram cinco horas da manhã, pois eu acordava muito cedo para comer, minha mãe chamou as meninas para ir tirar leite das cabras, pois eu só tomava leite de cabra, ela me levava nos braços, ao chegar na malhada ela avistou o fogo em cima da casa e logo viram os cangaceiros com os fuzis, os burros amarrados e etc.
Recordação
Ela respeitando os cangaceiros não seguiu, pediu que uma das meninas que ela criava que voltasse na casa do meu tio Martinho para chama-lo para poder encorajá-la, pois ele ia enfrentar eles, ao chegar trazendo consigo nos braços o garoto José Brígido da Silva (Zeles) que tinha apenas dois anos e dois meses de idade, ele se reuniu com minha mãe que estava comigo nos braços, ao se aproximar da fazenda ela avista a fumaça em cima do telhado, pois eles já tinham arrombado a porta e entrado, pegado dinheiro, peças de tecido de seda, saquearam a casa e depois pegaram querosene, que na época meu pai comprava querosene em lata, destelharam a cumeeira da casa ensoparam com o querosene e puseram fogo.
Então minha mãe disse:
- Bom dia meus senhores! Com que autoridade vocês fizeram isso?
Eles responderam:
- A ordem que nós temos é quando chegarmos a uma fazenda e encontrar fechada, colocar fogo na casa.
Ela respondendo disse:
- Fez muito errado.
Eles perguntaram:
- Cadê seu marido? Por que ele correu?
Ela disse:
- Ele não correu, está viajando, está em Queimadas.
Eles disseram:
- Nós soubemos em João Vieira que ele tem uma tropa de burros.
Ela respondeu:
- Ele está viajando com essa tropa de burros, pois ele é cargueiro.
Eles retrucaram dizendo:
- Por que a senhora correu?
Respondeu ela:
- Eu não corri apenas fui dormir na casa do meu cunhado, se eu estivesse corrido não estava aqui com um curral apartado com as cabras e o outro com o gado. Estou vindo agora porque a minha filha que carrego nos braços chorou para comer, então vir tirar leite das cabras para fazer mingau para dar a ela.
O cangaceiro disse:
- Pois, então rodei e apague o fogo, que lá nos potes tem água.
Ela falou:
- Tem mesmo, porque quem botou não foram vocês, fomos nós que botamos água nos potes.
Minha mãe entrou e apagaram o fogo.
Corisco disse:
-Viemos porque o meu chefe mandou e se encontrasse seu marido era para arrancar o caco da cabeça dele e levarmos como prova que ele estivesse morto.
Ela disse:
- Pois não vai arrancar porque ele não correu e nem está aqui, está viajando.
Então eles se despediram e voltaram para o arraial João Vieira.
Açude: Site da cidade de
Araci/ BA
http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2010_06_01_archive.html
Maria Bonita
Por: José Nêumanne Pinto
Rainha do cangaço, a companheira de Lampião ganhou um estudo da neta, Vera Ferreira
Neta de Lampião e Maria Bonita - Vera Ferreira
Trecho:
“Tentamos ressaltar um olhar sobre Maria que nos conduz ao significado de uma mulher em um determinado contexto e período na história do Brasil”
Nascida e criada na Malhada da Caiçara, no sertão baiano, Maria de Déa foi destinada ao casamento, celebrado em plena adolescência, e a uma vida pacata. Aos 16 anos, casaram-na com o sapateiro
Primeiro esposo de Maria Bonita, o Zé de Nenê
Zé de Nenê, mas o lar do casal, que foi morar no povoado de Santa Brígida, ali perto, logo desmoronou, segundo as más línguas porque o varão era pacato demais para a inquietação fabril da mulher. Além do mais, o marido era estéril e a diferença de temperamento gerou conflitos que levavam o par a se separar e se reconciliar até o dia em que, no final de 1929, cruzou a soleira dos pais dela, Zé Filipe e Dona Déa, o temível Rei do Cangaço no sertão, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, aos 32 anos.
O chefe de bando era vingativo, cruel e destemido, mas também tinha lá seus laivos de herói romântico. Dos saques das fazendas dos ricaços do sertão furtava perfumes franceses de boa cepa e o melhor uísque escocês. Ao relento nos acampamentos no zigue-zague das fugas para escapar da perseguição policial, puxava um fole de oito baixos e a ele foi atribuída a autoria de um dos maiores sucessos do cancioneiro sertanejo e nacional, Muié rendeira, de cuja autoria se apropriaria, no Rio, o malandro Zé do Norte.
Não era de estranhar que fizesse corte à morena e começou por lhe encomendar que bordasse suas iniciais CL (Capitão Lampião) em 15 lenços de seda, o que permitiu a abordagem e, depois, serviu de pretexto a novo encontro, que terminou com a retirada da morena separada do marido da casa dos pais. Foi, então, que a beleza da escolhida do Rei lhe deu a alcunha com que morreu na Grota do Angico, Sergipe, ao lado do amante, e que se fixou na memória do povo: Maria Bonita.
Expedita - filha de Lampião e Maria Bonita - Reside em Aracaju-SE
Expedita, filha do casal real da caatinga, criada no Estado em que os pais morreram, Sergipe, sobreviveu à carnificina e gerou, entre outros filhos, Vera Ferreira, que, professora universitária em Aracaju, tem mantido viva a memória dos avós e empreendeu obra de vulto para comemorar o centenário da avó. Bonita Maria do Capitão, livro trazido a lume pela Editora da Universidade do Estado da Bahia, lançado em São Paulo na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915), por R$ 100, é obra de fôlego O volume de 328 páginas, organizado pela neta, jornalista e escritora, com a cumplicidade da desenhista paraibana Germana Gonçalves de Araújo, reproduz o legado da personagem lembrada pelos caprichos e vontades, mas também pelo bom humor e descontração quase infantil, com esmero e bom gosto.
A aventura da menina que saiu de casa aos 19 anos para percorrer o sertão nordestino a pé num bando de cangaceiros até tombar, aos 27, humilhada a ponto de ter a cabeça, decepada quando ainda vivia, exposta à curiosidade popular, tem sido narrada em prosa, verso, imagem e som.
O casal, evidentemente, foi tema de muitos romances de cordel. Num deles, Sabóia, chamado de Marechal de Cordel do Cangaço, registrou: “Cupido fez passatempo / com Maria e Lampião/ ela Rainha ele Rei / governou nosso sertão / cangaço e amor viveu / não foi uma ilustração”. Rouxinol do Rinaré e Antônio Klévisson Viana versejaram: “Maria Gomes de Oliveira / amou muito a Lampião / decidiu ser a primeira / cangaceira do sertão / ignorando o destino / acompanhou Virgolino / pela força da paixão”. O livro reproduziu a capa de um cordel de Sávio Pinheiro sob título O arranca-rabo de Yoko Ono com Maria Bonita ou A desaventura de John Lennon e Lampião, editado em 2008.
Seu apelido famoso também foi muito cantado. “Acorda, Maria Bonita, / levanta pra fazer café, / que o dia já vem raiando / e a polícia já está de pé” - esta é uma estrofe de Muié Rendeira, que ou foi acrescentada depois ou se tornou, como mofou Bráulio Tavares em seu texto registrado no livro, o caso de premonição mais espetacular da história da música popular, de vez que o casal foi morto, de fato, ao amanhecer.
Seu nome também foi muitas vezes lembrado em funções de repentistas pelo sertão afora. Certa vez, Otacílio Batista glosou: “Virgolino Ferreira, o Lampião, / bandoleiro das selvas nordestinas / sem temer a perigo nem ruínas / foi o rei do cangaço no sertão, / mas um dia sentiu no coração / o feitiço atrativo do amor / a mulata da terra do condor / dominava uma fera perigosa. / Mulher nova, bonita e carinhosa / faz o homem gemer sem sentir dor”. Zé Ramalho pôs música nos versos e a canção virou tema da minissérie Lampião e Maria Bonita, na Rede Globo.
A beleza de Maria, mostrada em foto e cinema por Benjamin Abrahão, fascinou artistas plásticos como Mino e virou tema obrigatório de xilogravadores como J. Borges, Mestre Noza, J. Miguel e Marcelo Soares. Suas peças de vestuário e as joias que usava foram reproduzidas no livro, que também se refere à peça de Rachel de Queiroz sobre ela e a filmes do gênero dito nordestern que a adotaram como personagem. Como resumiu Maria Lúcia Dal Farra em poema: “Maria de Déa, Maria Bonita, minha Santinha! / Mulher de tantos nomes / tão poucos para contê-la”.
Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde
Postado por Blocos Online
http://blocoson.blogspot.com.br/2012/04/maria-bonita.html
A Reinvenção do Nordeste
Pesquisadores discutem a vida e obra de Luiz Gonzaga, na última semana para visitar a exposição "Imaginário do Rei", no Memorial da Cultura Cearense.
Centro Cultural Dragão do Mar
Fortaleza, CE.
As trincheiras de Rodolfo - em 1927: "I" - O Palácio da Resistência
O Palácio da Resistência
A leitura da obra do médico-escritor Raul Fernandes, A Marcha de Lampião, Assalto a Mossoró, induziu-me a criar esta pequena série que a intitulei de As trincheiras de Rodolfo, para descrever, utilizando sempre que possível uma imagem identificadora, sobre os locais na cidade, definidos pelo Prefeito Rodolfo Fernandes, (1872-1927), quando da elaboração do plano estratégico voltado para defesa da mesma, em 1927, do ataque do bandoleiro Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, (1900-1938). Esta pequena Série não tem o objetivo de debater ou contar a história sobre os temas cangaço ou Lampião, pois, estes temas têm vasta literatura disponível sobre os mesmos, com estudiosos de plantão para elaborá-la.
Recomendo a leitura da obra em destaque, por tratar-se de trabalho bem feito, escrito numa linguagem elegante e correta; a obra é fruto, não somente de alguém que foi testemunha dos fatos descritos, mas, também, de uma pesquisa bem elaborada, de acordo com os princípios metodológicos aplicados à ciência histórica, e além de tudo isto, é um registro único deste fato histórico. Por meio dela, pude construir uma idéia mais clara a respeito deste fato, e realmente, tem um aspecto que nos entristece que é reconhecer que o banditismo social que tanto retrocesso acarretou a região nordeste, nada mais foi do que a conseguência do banditismo político existente, naquela época, na região.
Após concluir a leitura desta obra, muitas perguntas surgiram e, claro, ficaram sem respostas, pois somente uma profunda pesquisa, talvez, respondesse estes questionamentos. Alguns deles deixo aqui, esperando, quem sabe, alguma indicação: A quem interessava a destruição da cidade e a derrota do Prefeito Rodolfo Fernandes com o ataque do Lampião? Por que os Rosados não participaram da resistência ao ataque? Por que saíram todos da cidade antes da convocação para a resistência? Pois, na obra está bem claro que quase metade da população local não acreditava na possibilidade do ataque; não acreditava na ousadia do bandido. Contudo, os Rosados acreditaram e partiram para Porto Franco, em Areia Branca-RN.
Já que todo cidadão mossoroense que, naquele momento, estivesse com saúde e pudesse pegar em armas, participou da defesa da cidade. Este sentimento cívico deu forças para empreender a vitória sobre o bando de cangaceiros. Quem sabe, no futuro, estas respostas possam aparecer.
A mansão da imagem 01 era a residência de Rodolfo Fernandes, situada na Av. Alberto Maranhão, número 1751, no bairro Cidade Nova. Esta imagem já foi objeto desta postagem que apresenta outras informações sobre a edificação. Exatamente neste local, o prefeito estabeleceu a trincheira principal de resistência ao ataque de Lampião, à cidade, na tarde de 13 de junho de 1927. As armas e munição necessárias à defesa foram adquiridas às expensas das empresas particulares Tertuliano, Fernandes & Cia., Alfredo Fernandes & Cia., M.F. do Monte & Cia., (leia-se Miguel Faustino do Monte), F. Marcelino Hollanda e Luiz Colombo Ltda.
Estas defesas eram formadas por donos das firmas, funcionários e trabalhadores, clérigos - não portaram armas, profissionais liberais e até estudantes, enfim, todos civis, sem experiências no campo bélico. Em síntese, o governo estadual, na época, representado pela figura política de José Augusto de Medeiros, absolutamente não fêz nada, ou seja, entregou o destino da cidade ao Deus Dará.
A residência do prefeito transformou-se num grande quartel general. Participaram da defesa planejada desta trincheira principal, além do Prefeito Rodolfo Fernandes, as pessoas abaixo:
1) no telhado da frente - Manoel Duarte, tido como exímio atirador, e, Honório Ferreira;
2) no telhado detrás - Francisco Pinto e o irmão Antônio e Bodoca;
3) no alpendre da entrada principal - Francisco Fernandes de Queiroz e dois senhores;
4) Julio Maia e José Pereira comandavam 8 homens na barricada central, em frente à casa;
5) no muro divisor do quintal - Enedino Inácio da Silva e João Domingos;
6) - no corpo do casarão, vigiavam através dos vãos das janelas: José Rodolfo Fernandes, (filho de Rodolfo Fernandes), Amaro Silva, (funcionário federal), Abel Freire Coelho, (promotor público adjunto), Adrião Duarte, Francisco Vidal, os irmãos Francisco e Raimundo Calixto, Herculano Barbosa, Geraldo Dunga, Joaquim Benedito, Rochinha Freire, Antonio Coló, José Grosso, Francisco Elpídio, José Romão, José Conrado, Antonio Rolim e Antonio Caldas.
Várias pessoas desarmadas ou não procuraram a residência do prefeito, por segurança. Estas pessoas ficaram no sótão da casa e na sala de jantar, e ajudavam limpando as armas e selecionando a munição. Foram elas:
7) José de Oliveira Costa, (Costinha Fernandes - sócio da firma Tertuliano, Fernandes & Cia.), José Martins Fernandes, José Ribeiro Dantas, José Miguel de Oliveira Martins, Mirabeau de Carvalho Costa e Jofily Paiva de Carvalho, (estudantes do Ginásio Diocesano Santa Luzia), Joaquim Mafaldo de Oliveira, (estudante), Raimundo Nonato da Silva, José de Paula, (motorista do prefeito), e Epifânio Dias Fernandes, (estudante).
A estratégia desta trincheira principal foi de extrema importância para a derrota que imposta ao grupo de Lampião. Ao final da tarde, do dia 13 de junho, os bandoleiros bateram em retirada da cidade, deixando para trás muitos dos seus elementos feridos ou mortos naquele combate. O Prefeito Rodolfo Fernandes mostrou às demais cidades do estado como não ficar refém de bandido.
7) José de Oliveira Costa, (Costinha Fernandes - sócio da firma Tertuliano, Fernandes & Cia.), José Martins Fernandes, José Ribeiro Dantas, José Miguel de Oliveira Martins, Mirabeau de Carvalho Costa e Jofily Paiva de Carvalho, (estudantes do Ginásio Diocesano Santa Luzia), Joaquim Mafaldo de Oliveira, (estudante), Raimundo Nonato da Silva, José de Paula, (motorista do prefeito), e Epifânio Dias Fernandes, (estudante).
A estratégia desta trincheira principal foi de extrema importância para a derrota que imposta ao grupo de Lampião. Ao final da tarde, do dia 13 de junho, os bandoleiros bateram em retirada da cidade, deixando para trás muitos dos seus elementos feridos ou mortos naquele combate. O Prefeito Rodolfo Fernandes mostrou às demais cidades do estado como não ficar refém de bandido.
Escrito por Copyright@Télescope
Próxima a ser postada: - II
http://amantesdeclio.blogspot.com.br/2012/01/as-trincheiras-de-rodolfo-fernandes.html
Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos. Télescope. Fontes: FERNANDES, Raul. ( 1908-1998). A Marcha de Lampião, Assalto a Mossoró. 7a. edição, Coleção Mossoroense, Volume 1550, Fundação Vingt-un Rosado, outubro de 2009; Fonte do arquivo fotográfico P&B - Azougue. Provável autor da fotografia: Manuelito Pereira, (1910-1980); Índice das Matérias Publicadas em Memória Fotográfica.
SERPENTES COMEM SERPENTES
Por: Clerisvaldo B. Chagas - Crônica Nº 842
Em nosso livro, “Floro Novais, herói ou bandido?”, publicado em 1985, diz à página 67, sobre os apelidos que o famoso vingador alagoano dava às suas armas. “
“Floro Gomes Novais não se apartava de um revólver calibre 38 de marca “Smith & Wesson” que fazia peso na cintura e cujo apelido dera a essa arma de “Salamanta”. A tiracolo, em um dos bornais, levava o seu famoso “Colt 45” a quem chamava de “Cobra Preta”, justificando o apelido por dizer que “cobra preta não mordia, mas engolia as outras”. As demais armas de Floro também possuíam apelidos, como o eficiente mosquetão modelo 1922, chamado por ele de “Alecrim”. Olhando pelo perigoso ângulo ofídio da Pseudoboa cloelia, ofiófaga, isto é, comedora de outras serpentes, bem que Floro Novais conhecia as espécies sertanejas em cuja caatinga nascera e com elas convivia. A Cobra Preta também é conhecida como Muçurana, por ser parecida com o muçum, mas também recebe outras denominações. De fato, a Cobra Preta é imune ao veneno das outras cobras (menos o da Coral) e faz a limpeza da área devorando cascavéis, jararacas e outras terríveis e temidas dos sertões.
À medida que o país vai se transformando, a área política não poderia ficar imune. Com os apertos da Imprensa, Igreja, ONGs, escritores e povo, a pressão aumenta nas faltas cometidas pelos políticos em geral, principalmente em cima da corrupção e da mordomia com o dinheiro das diversas classes sociais. Nesses aspectos ainda estamos distantes de países mais sérios e mais sólidos. Agora salta a surpresa de que alguns senadores querem cortar os salários dos vereadores em municípios de até cinquenta mil habitantes. O apoio está sendo grande e a proposta poderá se tornar realidade, embora creiamos que haverá uma boa briga entre eles. Não tenham dúvidas de que o povo apoiará a iniciativa dos senadores, mas isso revela o ditado popular que diz: “Vão-se os anéis e ficam os dedos”. Os senhores lá de cima querem entregar os vereadores como “bois de piranhas”, para salvarem a pele do Senado sob pressão social do Brasil que não aguenta mais tanta safadeza dos parlamentares das três esferas.
Nós, o povo, temos obrigação de apertar o cerco contra todos eles, até que o cargo de um senador, deputado ou vereador esteja completamente limpo, sem nenhum anzol contra o dinheiro suado dos trabalhadores. Queremos entrar na lista dos países sérios também na área dos seus representantes. Mas, logo chegará à vez de todos. Por enquanto, acompanhemos de perto a manobra dos senadores imitando a arma “Colt 45” do vingador Floro Novais: Serpente sem veneno, mas engole as outras. Depois será a vez da serpente maior (povo) engolir a cobra preta. SERPENTES COMEM SERPENTES.
ATRÁS DA VIDRAÇA EMBAÇADA (Crônica)
Por: Rangel Alves da Costa(*)
Há uma imagem indefinida, um semblante sem nitidez, uma aparente feição por trás da vidraça embaçada. É tudo opaco, apenas sombreado como se fosse uma réstia.
Ainda assim percebe-se que há gente ali porque a imagem nebulosa ora se aproxima ou se afasta, cola o rosto na vidraça, deixa os lábios estampados no vidro.
A vidraça está embaçada, porém se percebe marcas vermelhas de batom, também se avista um dedo correndo no vidro, pelo lado de dentro, escrevendo alguma coisa.
Numa aproximação maior, observando mais de perto, até que se poderia ler o que estava escrito. Certamente alguma coisa sobre saudade, solidão, amor, tristeza...
Desde ontem que uma chuva fininha insistiu em cair. A luz do quarto estava apagada, mas a cortina continuava espalhada porque aquela imagem aparecia e desaparecia por detrás da janela.
Dizem que em momentos assim, de chuviscos e jardins molhados, de noites mais escuras e entristecidas, os poetas se trancam para encontrar liberdade.
Se ela era poeta, moça de coração versejante, o momento instigava a jogar no papel tantos sentimentos construídos. Talvez em cada passo até a janela estivesse buscando um motivo lá fora.
E quanta poesia poderia nascer dos motivos existentes lá dentro do quarto, naquele ambiente sombrio e triste, e lá fora, onde parecia que a noite chorava toda a dor do mundo.
Quando a noite vai caindo parece que o baú de saudades, de tantas recordações escondidas, se abre sozinho para instigar a mente e fazer a pessoa viajar forçadamente.
E se é noite chuvosa então, eis que os pingos ou chuviscos caindo formam um ambiente solenemente entristecido e revelador de muitas angústias e aflições.
E se é noite, e é noite chuvosa, e a pessoa está sozinha dentro do seu quarto com seus sentimentos aflorados, então só restará a janela envidraçada para encontrar o mundo lá fora.
Mas que mundo lá fora poderia encontrar, se é noite, e noite chuvosa, e o silêncio só é entrecortado pelos ciscados dos insetos no jardim, as folhas se debruçando e o murmurar dos canteiros?
Lá fora não há lua iluminando os caminhos além jardim, não há o sopro da ventania trazendo notícias boas, não há o menino correndo nem o barulho das pessoas adiante.
Por trás da vidraça, com a visão que chega embaçada à vidraça e se estende molhada, não consegue nem enxergar direito a fonte, o banco de madeira, a luminária do jardim.
Passa a mão na vidraça para afastar o anuviamento que ali mais parece uma leve neblina, e ao passar enxerga um mundo lá fora igualzinho ao seu mundo de dentro: solidão.
E porque tem que encerrar o poema que começou a rabiscar, é um passo em direção à escrivaninha e outro de volta à vidraça. O pior é que a saudade está ficando mais forte ainda.
Onde ele estará agora, será que era exatamente nessa noite que passaria diante da minha janela? Será que está ali fora, todo molhando, esperando que eu abra a janela?
Não. Não, ele não está e não virá mais. Mas por que não virá mais se o mundo não acabou para nós, se apenas brigamos, se somente não estamos, mas nos amamos?
Como gostaria de beijá-lo agora, abraçá-lo, sentir-se protegida e aquecida naqueles instantes de chuva; como gostaria de tê-lo ali do lado de fora, chamando o seu nome, gritando com uma flor à mão...
E nesses momentos limpa mais a vidraça, quer abrir a janela, mas a chuva está mais forte lá fora, tudo é lavado lá fora. Então ela começa a chover por dentro...
Adormece soluçando, jogada na cama, vestida na mesma roupa da tarde e anoitecer. Levanta assustada, corre pra janela e encontra um tempo ainda indefinido.
Lembra que havia escrito um poema. Corre para a escrivaninha e lê coisas assim: “... porque o lábio não se contenta em beijar a vidraça, porque a mão não se contenta em escrever o teu nome...”.
E abre a janela porque o sol voltou a brilhar.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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