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sábado, 26 de outubro de 2019

“LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA” É A MAIS NOVA E IMPECÁVEL CONTRIBUIÇÃO DE SÉRGIO DANTAS


Para adquirir esta obra entre em contato com o professor Francisco Pereira Lima através deste e-mail: 

franpelima@bol.com.br

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VALDEMAR DE SOUZA FERRAZ FALA SOBRE AS PERVERSIDADES DE VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, O LAMPIÃO.


Por Verluz Ferraz

Virgulino tinha comportamento psicopata, matava por satisfação e gostava de ver verter sangue humano. Narcisista, ladrão, saqueava casas, fazendas e tinha mania de pirotecnia - ateava fogo em casas e animais; depois e dançar e cantar - seu gozo maior era ver verter sangue humano. Por não ter ideologia alguma, depois que foi morto, seus bandos acabaram no Sertão Nordestino...


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O BELMONTENSE QUE MATOU CORISCO, O DIABO LOIRO


Por Valdir José Nogueira - pesquisador / escritor
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Pernambuco, meca dos volantes, paraíso das grandes vinditas, é o Estado natal daquele que pode ser considerado o maior dos comandantes de volante, o célebre José Osório de Farias, o lendário Zé Rufino. Nascido a 20 de fevereiro de 1906, na cidade de São José do Belmonte, seus pais se chamavam Osório Gomes de Farias e Maria Rufino da Conceição. Família egressa da fazenda “Vai Querendo” próxima do Jati terras bravias do Ceará, vitimada por velhas e perigosas pendengas com os Bezerras, gente forte que os obrigara a abandonar seu solo e procurar vida nova nas regiões sertanejas do grande Estado nordestino.

José Osório de Farias, o Tenente PM “Zé Rufino”, ou melhor “Zé de Rufina” grafia correta para o seu nome, notabilizou-se como o Comandante de volante que mais liquidou cangaceiros em toda a história do cangaço. Tendo adentrado a Força Pública do Estado da Bahia e assentando praça em 2 de janeiro de 1934, em seguida passou a compor as Forças em Operação no Nordeste. Notadamente em todo o ciclo do cangaço, foi um dos maiores e terríveis inimigos de Lampião. Entre aqueles cangaceiros que eliminou, Zé Rufino destacou em entrevista, Azulão, Barra Nova, Canjica, Catingueira, Maria Dórea, Mariano, Meia-Moite, Pai Velho, Pavão, Sabonete, Zabelê, Zepellin e Corisco (o “Diabo Loiro”, braço direito do bandoleiro Lampião). A história relata sobre este último, que no dia 25 de maio de 1940, estando escondido numa casa na cidade de Barra do Mendes (BA) foi descoberto pelo tenente José Rufino, que lhe deu chance de se entregar. Preferindo, contudo, a resistência, Corisco foi atingido na barriga por uma rajada de metralhadora, vindo então a falecer. Naquele mesmo conflito, Dadá sua companheira, foi atingida na perna, porém, teve a vida poupada e foi capturada viva, vindo mais tarde a ter a perna amputada em conseqüência do tiro. Corisco, o “Diabo Loiro” foi enterrado em Jeremoabo, na Bahia. Com a sua morte o cangaço se extinguiu no Nordeste. A bravura e a crueldade de Corisco foram celebradas pelos cineastas: Glauber Rocha no filme “Deus e o diabo na terra do sol” e Rosemberg Cariry no filme “Corisco e Dadá”.

O Tenente José Rufino, pernambucano de São José do Belmonte, junto a outros guerreiros combatentes destemidos da Polícia Militar, adentraram as selvas nordestinas a caça de facínoras que aterrorizavam o povo do nosso sofrido sertão nordestino. Já como Coronel da PM, o bravo José Rufino, vitimado por um infarto no miocárdio faleceu no dia 20 de fevereiro de 1969 em Jeremoabo (BA), cidade em que residia. Sobre ele falou um escritor: “Zé Rufino é um daqueles que fazem parte da gloriosa dinastia dos bravos guerreiros da história sangrenta, daqueles que de um lado ou de outro se enfrentaram na guerra sertaneja. É um dos lendários titãs cujos bacamartes faziam todo o sertão apequenar debaixo de suas duras ameaças.”


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AMOR CONFESSO

*Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

Talvez em algum poema a revelação: e depois do encontro o olhar, depois do olhar o desejo, depois do desejo o abraço, depois do abraço a chama, depois da chama a cama...
Ou ainda: entre dois, o que parece muro se transforma em véu, o que parece pedra se transforma em flor, o que parece escudo se transforma em pele. E após a pele os segredos revelados...
Tudo parte da intimidade, do ser e do fazer entre dois, entre paredes e chaves, entre escuros e silêncios, mas que de repente grita do outro lado, entre os dois, com voz somente pelos dois ouvida.
Tudo no mais íntimo da intimidade. E esta, a intimidade entre dois, só cabe aos dois, isso é verdade. A ninguém é dado o direito de conhecer o que se passa na íntima privacidade de dois.
Contudo, vou revelar. E vou revelar por que não acho nada demais que os outros saibam o que se passa ou o que fazemos enquanto estamos juntinhos.
Vou revelar por que não é nada além da normalidade daquilo que os casais ou enamorados fazem quando estão juntinhos em dois, e somente em dois.
E vou revelar ainda por que não há mesmo nada a esconder. Certamente de que não são instantes tão esdrúxulos e absurdos que não possam ser conhecidos pelos demais.
Pois bem. Não se assuste nem se espante. Não avermelhe nem se tome de calores antes de ler o que vai escrito. Mas, como dito, são apenas revelações de uma intimidade.
A gente faz o que todo mundo faz: silenciar. Mas é um silêncio tão voz e tão palavra, tão verbo e tão pronúncia, que surge até grito. Mas é neste silêncio que tudo começa a acontecer.
A gente, silenciosamente, olha no olho um do outro. A gente namora pelo olhar, a gente se encanta avistando um ao outro, a gente se apaixona assim. Tudo silenciosamente e belo.
Mas de repente o silêncio irrompe e chama a palavra. Ora, não poderia ser diferente. De tanto se mirar e se encantar, de tanto se avistar e se querer, a gente passa a ter vontade de traduzir tudo isso em palavras.


Então a gente faz o que todo casal faz (ou deveria fazer): conversar. Mas nada sobre o aumento da gasolina ou do botijão de gás, nada de falar sobre o preço do remédio, da conta de luz ou do absurdo que está a feira. Não.
E não por que não é momento - entre dois, num quarto fechado, juntinhos na cama - de se falar sobre problemas, indignações ou absurdos. O momento chama, pede e até exige outro tipo de diálogo.
Então imaginem. Qual a palavra que chega após avistar aquele olhar, após se encantar com a beleza, após ter dentro de si toda a imensa felicidade por poder partilhar da presença e do amor do outro?
E não seria uma palavra qualquer. Mas antes de qualquer dizer, a leve aproximação, o toque, o carinho, o afeto, o afago. E como é bom sentir o pelo, a pele, a flor do corpo, a maciez da presença, o cheiro, o calor, o queimor.
O que dizer, então, após sentir o outro como se dentro do próprio corpo, do próprio coração. “Meu amor, como eu te amo!”. “Meu amor, amor como eu te amo!”. “Meu amor, como eu te amo”. “E amo e amo...”.
E numa boca ou noutra, numa voz que é apenas sussurro, continuar falando: “Eu te tenho e tens a mim. Somos dois em apenas um. E amo-te cada vez mais como um desejo de adolescente apaixonado. E que assim continuemos como dois que procuram o primeiro beijo. Então me beije!...”.
E então a gente faz o que todo apaixonado faz: beijar. Mas não qualquer beijo. Ora, beijar é uma arte, é um ofício da alma, é quase um dom espiritual. Beijar não é sugar. Beijar é sentir, é fruir, é trazer do outro lábio a asa que falta para o imenso voo.
As bocas se aproximam, mas os lábios ainda não. Na hora do beijo, os lábios nunca precisam ter pressa. Apenas chegar tão lentamente que a respiração ofegante vai chamando o outro lábio. Então se aproxima um pouco mais, levemente se toca, suavemente se roça, docemente diz: estou aqui, sou teu.
E depois do beijo talvez não haja mais consciência para qualquer revelação. Tudo fome, tudo desejo, tudo vontade. Uma avidez desmedida pelo querer. Mas ainda assim apenas amor na sua perfeição de amar.
E depois de tudo ainda mais amar. Mesmo que ame sozinho, amor imenso será.

Escritor
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POSSA SER QUE ALGUÉM INTERESSA

Por Cícero Aguiar Ferreira
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Agradecer ao grande pesquisador e historiador Valdir José Nogueira por me enviar esses documentos de meus parentes, os alistamentos eleitorais de meu bisavô SIMPLÍCIO PEREIRA DE AGUIAR, de JOAQUIM PEREIRA LACERDA (Quinca Lacerda) que era casado com Antonia Pereira de Aguiar, irmã de meus bisavôs Simplpicio e Salustiano, também o de CRISPIM PEREIRA DE ARAÚJO (Ioiô Maroto).

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 o alistamento eleitoral dos três parentes ocorreu em fevereiro de 1920, meu bisavô Simplicio e Ioiô Maroto tinham 35 anos e Joaquim Lacerda tinha 38 anos.


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PAULO BRITO

Por Aderbal Nogueira


O filho do Tenente João Bezerra, Dr. Paulo Brito, narra um pouco da vida de seu pai e da campanha contra o cangaço.
Categoria

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COLABORE COM O TELETON

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O Teleton te agradece.

DEMARCANDO MAIS UM SITIO HISTÓRICO O COMBATE DAS CARAÍBAS, 1926

Por Cristiano Ferraz

No último domingo, dia 09 de junho cumpri um compromisso assumido com o amigo Louro Teles em maio de 2017 quando visitamos o local do combate de Serra Grande em serra Talhada. O combinado era visitarmos juntos o local onde aconteceu o combate das Caraíbas em fevereiro de 1926 entre Floresta-PE e Betânia-PE.

Nos encontramos na manhã de domingo em Floresta, eu, Louro Teles que veio de Calumbi-PE com Sálvio Siqueira (vindo de São José do Egito-PE) e Richard Torres Pereira de Serra Talhada-PE.

Seguindo para o destino pouco depois onde chegamos por volta de dez horas da manhã na residência de seu Antônio Odilon dos Santos, 84 anos de idade e que há quatro anos atrás havia me mostrado o local quando o visitei com meu primo Manoel serafim durante os preparativos para o Cariri Cangaço em Floresta em 2016.

Aquela visita foi um dos fatos que motivaram a escrita do nosso livro As Cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta-PE, lançado durante na abertura do primeiro evento Cariri Cangaço em nossa cidade no dia 26/05/2016.
 


Após conversarmos um pouco com seu Antônio, sua esposa e alguns familiares (uma filha e uma neta), nos dirigimos ao local onde foram sepultados os volantes mortos no combate que fica a cerca de um e meio a dois quilômetros da casa. Não sem antes tomarmos um cafezinho com queijo de coalho, como é “de praxe” na casa de todo bom sertanejo.

Chegando ao local percebi a diferença de quatro anos atrás. O local havia sido desmatado e a cruz de madeira que não mais existia em 2016 havia sido refeita de forma improvisada e colocada no local. Rapidamente cavamos o solo e colocamos uma cruz de metal feita pelo amigo Louro Teles. Aproveitamos o momento para fazer alguns vídeos e fotografias registrando o fato.




Em seguida fomos ao serrote onde aconteceu o combate, que fica a dois quilômetros da sepultur junto ao leito do riacho da Maravilha. Hoje o local também está bastante modificado em relação à época do combate, pois antes não havia o açude que hoje forma uma represa no leito do riacho.

Seu Antônio, apesar da idade avançada nos acompanhou, tendo ficado numa sombra aguardando nosso retorno. O acesso ao local do combate no serrote, estava muito tomado pelo mato e ele preferiu ficar descansando. Com poucos minutos no local fizemos alguns vídeos e passamos a procurar vestígios do combate com o detector de metais manuseado por Louro Teles.

Rapidamente localizamos um projétil de rifle calibre .44 enterrado no solo por trás do serrote. Pouco tempo depois, foi encontrado um projétil de calibre .22 próximo ao local do primeiro. Com o rápido passar do tempo decidimos retornar para deixar seu Antônio em casa pois a hora do seu almoço já havia passado. Eram duas horas da tarde e acabamos demorando nos deslocamentos a pé indo e voltando para onde deixamos o carro.

Com os vestígios encontrados ficou a certeza de que aquele é mesmo o “palco” dos acontecimentos. Mesmo não tendo tempo para aprofundarmos as pesquisas no serrote e do lado oposto do riacho onde se encontravam as volantes, deduzimos que ainda ainda existem resquícios do acontecido e retornamos satisfeitos com o resultado. Firmamos assim o compromisso de retornarmos em breve para descobrir mais detalhes da dinâmica do combate.

O combate das Caraíbas, em Floresta foi travado entre Lampião e as forças volantes na quinta-feira dia 04 de fevereiro de 1926 às margens do riacho da maravilha, afluente do riacho do navio - nas divisas entre os municípios de Floresta e Betânia .

Participaram as volantes comandadas pelo Tenente Higino José Belarmino e Optato Gueiros contra o grupo de Lampião. Junto com Lampião encontrava-se entre outros o conhecido Manoel Pequeno (da fazenda Saco – na ribeira do riacho do navio) e seu grupo. Os cangaceiros se entrincheiraram no leito do riacho, em um serrote à margem deste e próximo a estrada por onde vieram os soldados, emboscando a força em campo aberto.

O confronto teve a participação da força de Nazaré composta por, Afonso de Sá Nogueira , Altino Gomes de Sá, Antônio Joaquim dos Santos (o famoso rastejador Batoque), Aureliano de Souza Nogueira (Lero), Aureliano Francisco de Souza (Lero Chico), Constantino Marcolino de Souza, David Gomes Jurubeba , Euclides de Souza Ferraz (Euclides Flor) , João Cavalcanti, João Domingos Ferraz, João Gomes Jurubeba, João Jurubeba de Sá Nogueira (João Gato), Joaquim Ferraz de Souza (Quinca Néo), Joaquim Francisco de Souza (Quinca Chico), Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor), Manoel Neto (Anspeçada), Pedro Gomes de Lira (irmão de João Gomes de Lira), Pedro Marcolino e Pedro Tomaz de Souza Nogueira.

O tiroteio durou até o final da tarde quando Lampião se retirou do local levando seus mortos (acredita-se que em número de cinco) sepultando-os na caatinga entre o local do combate e o poço do ferro (ou na fazenda São Brás, que fica a oeste do local) e deixando entre os volantes um saldo de pelo menos três baixas fatais, os soldados Aristides Panta da Silva (Este de Floresta), Benedito Bezerra de Vasconcelos e Antônio Benedito Mendes.

Os soldados mortos foram sepultados na margem esquerda do riacho da maravilha próximo ao local onde o riacho do Jacaré se une a este . O riacho da maravilha é a divisa entre os municípios de Floresta e Betânia.

No combate saíram feridos o Tenente Higino no braço, Manoel Neto no braço direito, Antônio Joaquim dos Santos (Batoque) na perna, João Cavalcanti, Altino Gomes de Sá (na “maçã” do rosto), João Pereira de Souza e João Pinheiro Costa.
 
 Tenente Higino Belarmino de Souza
Acervo Lampião Aceso

Na visita ao local tomamos conhecimento que durante o combate o fazendeiro/boiadeiro florestano Joaquim de Alencar Jardim (Quinca Jardim) retornava a Floresta após a venda de uma boiada. Antônio Ferreira, que brigava no serrote no momento, sabendo da passagem deste pelo local o esperou com mais dois cangaceiros na sombra de um umbuzeiro (conhecido como umbuzeiro do Marçá – ou Marçal) abordando-o para lhe pedir dinheiro.

Quinca Jardim naquele momento se acompanhava de Joaquim Serafim (conhecido como Joaquim Grande do Rancho dos Homens) e mais duas ou três pessoas. Joaquim Grande então disse a Antônio Ferreira que Quinca Jardim não tinha a quantia pedida pois vendera a boiada mas não recebera o pagamento. Antônio Ferreira se contentou com a resposta sem saber que o dinheiro do pagamento da boiada estava no bornal que Joaquim Grande carregava a tiracolo.

Dois dos outros acompanhantes de Quinca Jardim disseram a Antônio Ferreira que um dos cangaceiros que o acompanhava tomara o pouco dinheiro que estes carregavam. Antônio Ferreira então perguntou quem pegara o dinheiro e o mandou devolver. O cangaceiro o fez embora queixando-se do trabalho ingrato onde era obrigado a devolver o dinheiro ganho.

Menos de um ano após, no final do ano de 1926 Lampião mataria 129 reses de Quinca Jardim na Barra do Juá por não ter recebido dinheiro após um pedido (acredita-se que um bilhete). Isso, provavelmente aconteceu ao descobrir que fora enganado cerca de dez meses antes. Comenta-se que apenas uma rês escapou porque este fato se deu no dia da morte de Antônio Ferreira no Poço do Ferro. Na ocasião lampião se encontrava na região (Poço do Ferro – Pipocas – Rancho dos Homens) preparando-se para dar uma brigada com Ildefonso Ferraz do Curral Novo. Com a morte de Antônio Ferreira Lampião teve que ir às pressas ao Poço do Ferro para sepultar o irmão, morto pelo companheiro Luiz Pedro (do retiro) em um disparo acidental.

Há controvérsias quanto à quantidade exata de bois mortos por Lampião e seu grupo naquele dia. O certo é que no total a boiada era de 100 a 130 animais. Desses apenas uma rês escapou, sendo tratada por Pedro Ferreira, da fazenda Rancho dos Homens, tio de Antônio Odilon dos Santos, que nos mostrou o local do combate, a sepultura dos soldados e nos contou vários detalhes do que aconteceu ali naquela época.

Seu Antonio Odilon é neto de Antônio Pedro dos Santos, que foi inspetor de quarteirão na região onde poucos anos mais tarde viria a surgir a vila de Nazaré. Conta-se que por volta de 1910 em perseguição a Zé de Souza houve um tiroteio onde morreu uma criança. Os familiares da criança diziam que a morte deste só seria vingada com a morte de Pedro Ferreira, o filho primogênito de Antônio Pedro. Com isso Antônio Ferraz de Souza, padrinho de Pedro Ferreira o trouxe para Floresta na garupa de seu cavalo e procurou amenizar a questão tirando a família de Antônio Pedro para a região da Barra do Juá.

Estes então vieram para a Fazenda Rancho os Homens onde se estabeleceram e vivem até hoje, muitos dos seus descendentes morando na região entre Floresta, Betânia e Ibimirim. Entre os filhos de Antônio Pedro um deles se tornou muito conhecido por sua grande habilidade como vaqueiro. Chamava-se Joaquim Pedro dos Santos, o Quinca Pedro, da fazenda Urubu, vizinha ao Rancho dos Homens.

Maiores detalhes dessa história podem ser lidos em vários livros sobre o cangaço Lampiônico, entre os quais podemos indicar:

1) As Cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta-PE, de Cristiano Luiz Feitosa Ferraz e Marcos Antônio de Sá;

2) O Canto do Acauã, de Marilourdes Ferraz;

3) Lampião – Memórias de um soldado de volante, de João Gomes de Lira;

4) David Jurubeba Um herói nazareno, de José Malta de Sá Neto;


5) Lampião Seu Tempo e Seu Reinado, do padre Frederico Bezerra Maciel.


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ANÚNCIO DA MORTE DO CORONEL JOÃO BEZERRA DA SILVA, OCORRIDA EM 4 DE DEZEMBRO DE 1970 - MORREU O MATADOR DE LAMPIÃO


“Diário de Notícias” (RS) – 18/12/1970
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MACEIÓ (Meridional) – O homem que matou o cangaceiro Lampião faleceu em Garanhuns, Pernambuco. Trata-se do coronel João Bezerra da Silva da Polícia Militar de Alagoas, que ficou mais conhecido como o “homem que matou Virgulino Ferreira, o “Lampião”. Pouco antes de morrer, ele solicitou à sua família que fosse sepultado aqui em Maceió, embora fosse pernambucano, alegando que aqui havia vivido grande parte de sua existência, e começado sua carreira militar.

Quando o coronel João Bezerra da Silva ainda era tenente recebeu a incumbência de organizar e comandar as volantes que caçavam Lampião pelas caatingas do Nordeste. Depois da batalha de Angico, em que foi posto fim a existência de Lampião, Maria Bonita e grande parte de seu bando, João Bezerra foi promovido a coronel, ficou famoso e chegou a publicar um livro.

Seu corpo foi trazido de Garanhuns em uma viatura da Polícia Militar de Alagoas, com escolta de honra formada por soldados e oficiais. Aqui ficou em visitação pública na capela da Corporação de onde saiu para os funerais, com grande acompanhamento para o cemitério Nossa Senhora da Piedade, onde foi sepultado.

“Diário de Notícias” (RS) – 18/12/1970.


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MARIA BONITA A Primeira-dama do cangaço

Por José Bezerra Lima Irmão (*)

Lampião, em sua existência atribulada, não tivera ainda tempo ou disposição para dedicar suas energias a uma mulher de forma exclusiva. Tudo mudou quando o veterano cangaceiro do Pajeú, ao passar pela Malhada da Caiçara em dezembro de 1930, na volta dessa razia por Pernambuco, bateu os olhos numa caboclinha de maneiras firmes, meã de altura, toda roliça, de cabelos pretos, lisos e finos, à altura dos ombros, rosto arredondado, boca carnuda e olhos brilhantes. Apesar de morena, tinha os olhos azuis. Sua avó era holandesa de nascimento e casara com um português, tendo o casal emigrado para o Brasil em 1850, indo morar na região de Santa Brígida.

A caboclinha tinha uns 20 anos. Nascera e se criara ali mesmo, na fazenda Malhada da Caiçara, município de Santo Antônio da Glória, em terras hoje pertencentes ao município de Paulo Afonso, a duas léguas da atual cidade baiana de Santa Brígida, quase na divisa da Bahia com Sergipe.

O nome dela era Maria Gomes de Oliveira. Nasceu a 8 de março de 1911. Era filha de José Gomes de Oliveira, vulgo Zé Felipe, e Maria Joaquina da Conceição Oliveira, conhecida como dona Déia. Zé Felipe e dona Déia tiveram treze filhos – cinco homens e oito mulheres: José, Isaías, Oséias, Arlindo, Ananias (Pretão), Maria, Benedita, Olindina (Dorzina), Joana (Nanã, Nanzinha), Francisca (Chiquinha), Antônia, Amália (Dondom) e Deusinha. Sua família era modesta. Vivia da lavoura e da criação de bodes, cabras e umas vacas.

Por ser sua mãe conhecida como dona Déia, Maria quando solteira era tratada de Maria de Déia. Outros a chamavam Maria de Zé Felipe. Quando casou, em 1926, aos 15 anos de idade, foi morar em Santa Brígida. O marido era um sapateiro chamado José Miguel da Silva, seu primo em segundo grau, conhecido como Zé de Neném, passando ela por isso a ser chamada Maria de Zé de Neném, ou Maria Neném.

Zé de Neném e Maria casaram apenas “no padre”. Um irmão de Zé de Neném chamado Cícero, também sapateiro, casou-se com Dondom, irmã de Maria.

Maria e Zé de Neném não viviam bem. Não se amavam. Ela culpava o pai por ter “arrumado” o casamento. Não tinham filhos. Maria reconhecia que o marido era um homem honrado e trabalhador, tinha casa própria, um pequeno roçado e uma profissão definida, coisa rara naquela região, o que representava segurança quanto ao futuro. Porém ela não estava preocupada com essas coisas.

José Miguel da Silva
'Zé de Neném'

A sensação que tinha era de que estava desperdiçando a vida. Zé de Neném, apesar de ser apenas uns 6 ou 7 anos mais velho do que ela, era um homem conservador, calado, meio paradão e desconsolado, se bem que quando bebia uma cachacinha ficava mudado, caía na farra, chegava em casa no outro dia. Maria sentia-se sozinha no mundo. Antes de casar, ia a todas as festas, novenas e leilões daquelas redondezas, esmerando-se para ser sempre a mais bonita em todos os eventos. Agora, só vivia em casa, bordando, lavando, cozinhando. Para completar, contaram a Maria que Zé de Neném estava namorando com uma jovem senhora “largada” do marido. O diabo se soltou no dia em que Maria encontrou no bolso do marido um pente com o nome de uma moça de Santa Brígida.


Mulher geniosa, respondona, atrevida, Maria vivia às turras com o sapateiro. Estava sempre amuada, irrequieta, insatisfeita. Aquela vidinha monótona e insossa de todos os dias não se conciliava com o seu espírito aventureiro.

Porém, apesar das constantes rusgas do casal, Maria e Zé de Neném nunca tinham se separado pra valer. Estabanada como era, às vezes ela ia para a casa dos pais, na Malhada da Caiçara, mas uma semana ou duas depois Zé de Neném ia buscá-la, e tudo voltava à “normalidade”. Conhecendo os rompantes da filha, Zé Felipe e Dona Déia sempre ficavam a favor do genro.


 Zé Felipe e Dona Déia

A melhor amiga de Maria Déia era sua prima Maria Rodrigues, filha de Ursulina, do Sítio do Tará – Ursulina era tia e madrinha de Zé Felipe. Por ser quatro anos mais velha, desde criança Maria Rodrigues de Sá era quem organizava as brincadeiras e orientava a confecção das roupas das bonecas de pano e espigas de milho. Na adolescência e no começo da vida adulta de Maria Déia, a prima Maria Rodrigues era a sua confidente e conselheira. Se Maria não tinha ainda rompido de vez com o marido era em virtude dos conselhos da prima.

Em dezembro de 1930, depois de mais uma discussão com Zé de Neném, Maria decidiu passar uns dias na casa dos pais. Para não viajar sozinha, convidou uma amiga chamada Soledade e foram a pé para a fazenda.

* * *

Lampião já conhecia os pais de Maria desde o início de 1929, pois a fazenda deles ficava na rota de seus deslocamentos entre a Bahia e Sergipe. Às vezes, Lampião parava na Malhada da Caiçara apenas para pedir água. No oitão da casa havia ramalhudos umbuzeiros, onde a cabroeira descansava enquanto o chefe conversava com Zé Felipe. Certa vez, Lampião pernoitou na casa de Zé Felipe.

Dormiu em cima de uma mesa, enquanto Ezequiel dormiu num banco de madeira, pois não havia camas. Um sobrinho de Zé Felipe, que estava gripado, dormiu debaixo da mesa. À noite, o rapazinho teve um acesso de tosse, mas prendia a boca para não tossir, com medo de incomodar os hóspedes. Lampião percebeu o problema e tranquilizou o garoto:

– Tussa, cabrinha, pode tussi qui nun me incomoda não...

Embora os pais de Maria tivessem medo do cangaceiro, como a maioria dos sertanejos, sentiam por ele um misto de admiração e respeito. Nas conversas que mantinham, dona Déia já havia falado a Lampião a respeito de sua filha, dizendo que a moça sentia uma grande admiração por ele.

Coincidentemente, no dia em que Maria chegou à casa dos pais Lampião estava lá, em companhia do coiteiro Odilon Café (Odilon Martins de Sá), do Sítio do Tará, um dos maiores fazendeiros da região.

Maria e a amiga, vendo aqueles homens estranhos no alpendre da casa, passaram pelo oitão e entraram pela porta dos fundos. Lampião perguntou a Zé Felipe quem eram as duas moças. Zé Felipe respondeu:

– A de vistido azu é mĩa fia. É casada. Mora im Santa Brijda. A outa eu nun cunheço. Deve sê amiga dela.



Dona Déia e as filhas estavam atarefadas preparando o almoço para os cangaceiros. Maria e a amiga juntaram-se a elas. Os cangaceiros também ajudavam, uns apanhando lenha no mato, outros pegando, matando e depenando as galinhas. Durante o almoço, Lampião perguntou se Maria sabia bordar. Ela disse que sim. Lampião deixou quinze lenços de seda para que ela bordasse, dizendo que depois passaria ali para pegá-los.

* * *

Muita bobagem já foi escrita sobre Maria Bonita e sua família. Parte dessas bobagens é perpetrada por aqueles que escrevem “por ouvir dizer”, ou simplesmente dão asas à imaginação.
Sobre a forma como Lampião e Maria se conheceram, a versão de Frederico Bezerra Maciel é pródiga de romantismo e poesia, em que a crueza da vida cede espaço a uma visão idílica, irreal:

Lampião, montado num cavalo bem lavado e arreado, e Maria, vindo do banho, cheirosa, o cabelo comprido, solto, vestido mudado e estampado com flores miúdas e alegres, com babados... O cangaceiro, pasmo e extasiado, mal conseguiu pronunciar o nome da bonita sertaneja, e num instante já estavam sentados juntinhos, no banco de madeira sob o alpendre, onde ficaram a conversar longamente... 
Os olhos de Maria de Déia
colorizados por Rubens Antonio


Aduz o autor que, após esse encontro, para os dois, já de amor aceso, a noite que se seguiu foi de doces sonhos... E no dia seguinte, à mesma hora, retornou Lampião, vestido de branco, pontas de fino lenço perfumado no bolso superior do paletó, chapéu de feltro cinza-claro, de abas largas, jabiraca colorida no pescoço, presa por anel precioso, meias de seda e alpargatas enfeitadas com séries de ilhós brancos, sem descuidar dos apetrechos de guerreiro, portando mosquetão e, sob o paletó, cartucheira, pistola e punhal...



Maria recebeu-o com seu vestido novo, de festa, de chita estampada com saia larga pregueada e blusa fofa, o cabelo repartido à direita, formando uma linda trança enfeitiçante, com um cravo branco preso na ponta... Saíram a passear de mãos dadas, como dois namorados... Entreolhavam-se demoradamente... Abraçaram-se, a respiração em ofegos intermitentes de emoção, e Maria, encabulada, fechou os olhos meigos, para receber um beijo na face...

Ao contrário dessa descrição idílica, houve quem escrevesse sobre Maria Bonita procurado retratá-la como uma mulher vulgar, dando a impressão de que bastou Lampião estalar o dedo para ir atrás dele.

A versão mais chula da forma como Lampião conheceu Maria Bonita é contada por Optato Gueiros, com base num suposto relato de um ex-cangaceiro chamado Cambaio. Conta Optato que Lampião soube que a filha de Zé Felipe era a mulher mais bonita que havia naquele sertão, e teria dito: “Pois bem, a semana que entra irei olhá prá cara dessa pavoa”.

Deixou o grupo em certo ponto e foi à casa do sapateiro, acompanhado de cinco cangaceiros. Maria convidou-os a entrar, e foi logo dizendo “Este é o homem que eu amo”, acrescentando em seguida, “Como é, quer me levar ou quer que eu o acompanhe?”, ao que Lampião teria respondido “Como você quiser, Maria, eu também quero. Se estiver disposta definitivamente a acompanhar-me, vambora”; e então Maria pegou algumas coisas dentro de casa e, voltando-se para o marido, petrificado, no canto da sala, disse: “Adeus, Zé!”, e desapareceu com o seu sonhado novo amor.

Há outra versão segundo a qual Lampião teria humilhado Zé de Neném e por pouco não o matou. Não é verdade. Zé de Neném nunca viu Lampião e jamais foi molestado por ele ou por qualquer dos cangaceiros. E nunca precisou esconder-se, exercendo tranquilamente o seu ofício de sapateiro em Santa Brígida até o fim do cangaço, quando se mudou para Alagoas.

 Aspecto da Malhada antes da revitalização
* * *

Segundo Oséias, irmão de Maria Bonita, os fatos aconteceram assim:

Oséias, em foto de Manoel Severo
Tendo brigado com o marido, Maria, acompanhada de uma amiga chamada Soledade, foi passar uns dias na Malhada da Caiçara. Ao chegar, encontrou uns homens conversando com seu pai no alpendre da casa. Ela e a amiga rodearam a casa e entraram pela porta dos fundos. A mãe lhe disse que era gente de Lampião. Durante o almoço, Lampião pediu que ela bordasse uns lenços, mas só isso, praticamente não conversaram. À tardinha os cangaceiros foram embora.

Dias depois, dona Déia soube que sua mãe, dona Ana Maria, residente em Lagoa Grande, ao lado de Rio do Sal, estava doente. Dona Déia e Maria foram então visitar a anciã.

Dona Ana Maria realmente estava doente, mas não tanto a ponto de alterar a rotina da vida das netas. As primas de Maria lhe falaram de uma festa que ia haver numa fazenda vizinha. Maria acompanhou-as. Ao chegar lá, surpresa: quem patrocinava a festa era Lampião! Assim que as moças chegaram, Lampião bateu os olhos em Maria. Quando ele veio cumprimentá-la, Maria, nervosa, supondo que o cangaceiro iria cobrar os lenços que lhe dera para bordar, foi logo explicando:

– Ói, os seus lenço eu ainda...

Lampião interrompeu-a:

– Qui lenços, minina?! Aquilo foi só pra cunvessá cum você... Vamo dançá?

Dançaram várias vezes naquela noite. E também nas noites seguintes – ora numa fazenda, ora noutra. Uma semana depois, dona Déia disse:

– Maria, mãe já tá boa e nóis vamo vortá pra casa amanhã.

Maria sentiu um aperto no coração. Veio-lhe súbito à mente uma ideia providencial:

– Mãe, eu quiria ficá mais uns dia cum vó... Ela parece bem mió, mais tá tão fraquĩa... Dexe eu ficá tumano conta dela...

Dona Déia concordou. Voltou sozinha para a Malhada da Caiçara. Na mesma semana, seu irmão Ju chegou à Malhada da Caiçara com uma notícia alarmante:

– Déia, Maria fugiu cum um cangacero!
 

– Qui histora é essa, Ju? Maria fugiu cum um cangacero? Qui cangacero?
 

– Nun sei. Só se sabe qui é um cangacero.
                                                                                                                                                                
* * *

Oséias não sabe a data em que isso aconteceu, mas afirma que foi alguns dias antes do Natal de 1930.

Zé Felipe soube do fato pela boca da polícia: uma volante riscou em sua porta para ele dar conta do paradeiro da filha e de Lampião. Ao explicar que não sabia do que estavam falando, baixaram o pau nele.

Passado um mês, dona Ana Maria, já recuperada, estava lavando roupa num tanque, atrás da casa, quando alguém jogou uma pedrinha na água. Olhou para os matos e viu, escondida entre as ramagens, aquele rosto querido. Largou os panos e foi até lá. Maria estava sozinha. Um pouco afastado estava um homem de óculos, sério, de jabiraca, com um chapelão de couro na cabeça. Dona Ana Maria abraçou a neta:

– Mĩa fia, o que tá haveno cum você?

Abraçada à avó, Maria explicou:

– Vó, eu tou viveno cum Lampião. Nun vou largá mais ele.

– Mĩa fia, nun faça isso, pelo amô de Deus!...

– Tou dicidida, vó. Seja cumo Deus quisé. Console mĩa mãe e meu pai. Diga a eles qui me perdoi.

As duas continuaram abraçadas, chorando. Afinal, Maria desprendeu-se dos braços da avó e correu em direção ao cangaceiro.

Foi a última vez que dona Ana Maria viu sua neta.

* * *

Zé Felipe, a fim de demover a filha daquela ideia tresloucada, mandou dizer que queria vê-la. O encontro seria no outro lado do São Francisco, na fazenda Malhada, de Inácio Moreira, padrinho de Maria.

Lampião foi contra:

– Santĩa, quano você quisé vê seus pai é só dizê – Santinha era como ele a chamava –. Desde quano macaco me impata deu ir adonde eu quero? Você tá pricisano é dũa cumpanhera. Arranje ũa.

Maria pensou primeiro na prima Maria Rodrigues. Depois se lembrou de Mariquinha, sua prima e cunhada, que não vivia bem com o marido. Mariquinha (Maria Miguel da Silva), irmã de Zé de Neném, largou o marido, Eliseu, dono da fazenda Ingazeira, e juntou-se ao cangaceiro Ângelo Roque.

* * *

Foi assim que Virgulino, aos 32 anos de idade, conheceu o amor de sua vida.

A polícia passou a mover intensa perseguição à família de Maria, cometendo todo tipo de violência e ofensas morais. O tenente Liberato de Carvalho recebeu ordem de matar Zé Felipe. O pobre homem, avisado a tempo pelo soldado Antônio Calunga (Antônio Barbosa da Silva), fugiu para Alagoas – passou uns tempos na fazenda Salgado, em Água Branca (atualmente, município de Delmiro Gouveia, na beira do rio) e depois no povoado Salomé (hoje cidade de São Sebastião).

José de Déia, irmão de Maria, depois de ver várias vezes sua casa ser vasculhada por soldados, passando por vexames e humilhações, procurou a irmã e transmitiu sua decisão: queria ser cangaceiro. Maria não concordou. Mesmo assim, José acompanhou o bando durante uma semana, embora desarmado. Enfim, Maria chamou o irmão e disse:


 
Liberato de Carvalho


– Zé, vorte pra casa e vá tumá conta das coisa de pai. Disgraçada pur disgraçada, basta eu.

Até mesmo Zé de Neném foi preso e levado para Jeremoabo, acusado de ser coiteiro de Lampião!
As perseguições à família de Maria só cessaram depois do combate de Maranduba, quando Lampião mandou um bilhete para o capitão João Miguel, de Jeremoabo. O portador foi Tonico, primo e cunhado de Maria. Não se sabe o teor do bilhete. Sabe-se apenas que, depois de ler o bilhete, o capitão João Miguel disse a Tonico:

– Se você está numa missão dessa é porque Lampião confia em você. Diga a ele que pode mandar o sogro voltar para casa porque a partir de hoje não passa mais soldado em sua porta.

* * *

É duvidosa a origem do apelido “Maria Bonita”. Atribui-se a primazia a Ezequias da Rocha, um médico, professor (catedrático de História Natural da Faculdade de Medicina de Maceió), político (chegou a ser senador por Alagoas), jornalista e poeta (membro da Academia Alagoana de Letras e do Instituto Histórico de Alagoas), que fazia versos à moda dos trovadores de cordel com o pseudônimo de Alexandre Zabelê, ou simplesmente Zabelê. O certo é que de uma hora para outra o apelido passou a ser adotado pelos jornalistas, poetas populares, violeiros e repentistas.


 Ezechias da Rochaà esquerda, 
e o poeta sergipano Hermes Fontes
In História de Alagoas.combr

No bando, ninguém a chamava assim. As outras cangaceiras chamavam-na simplesmente Maria, Maria do Capitão ou Maria de Lampião, já que havia mais de uma Maria no bando. Os cangaceiros, quando se dirigiam diretamente a ela, tratavam-na de Dona Maria, e quando se referiam a ela tratavam-na como a mulher do Capitão. Dentre os cangaceiros, poucos a chamavam de Maria, só os de “alta patente”, como Luís Pedro, Ezequiel e Virgínio. Na intimidade, Lampião chamava-a de Santinha, e ela chamava-o de Meu Véio ou, mais carinhosamente, “Nego Véio do meu coração”.

A notícia da cangaceira de Santa Brígida alastrou-se pelas caatingas. No sertão não se falava em outra coisa. O imaginário popular ganhava novos motes com esse sucesso nunca visto. Nas feiras, os violeiros e repentistas deslumbravam a gente sertaneja louvando o encantamento daquela mulher impossível. Os jornais estampavam a delirante façanha de Virgulino Ferreira, cujo reino agora estava completo – ascendera ao trono a ardente cangaceira, a bonita e aventurosa Rainha do Cangaço.

Lampião e Maria

(*) Texto extraído do capítulo 129 do livro “Lampião – a Raposa das Caatingas”, de José Bezerra Lima Irmão.



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