Por Jerdivan
Nóbrega de Araújo
Margarida
nasceu no sitio Olho D´Água no dia 18 de julho de 1950. Era filha do casal de
agricultores Francisco Pereira e Antônia Pereira da Silva. Margarida trabalhou
no Colégio Josué Bezerra ou “Colégio das Freiras” como era mais conhecido. O
trabalho em um colégio foi a forma que Margarida encontrou para custear os seus
estudos, tornando-se professora de Inglês no Colégio Estadual Manuel de Arruda
Câmara, em Pombal. (Inclusive foi minha professora por três anos seguidos, a
quem eu chamava de dona Margarida).
Era uma pessoa muito alegre: as suas aulas eram uma festa. Gostava de chamar alguns os alunos pelo nome de personagens dos livros de inglês nos quais ela dava as aulas.
A vocação de Margarida era de servir, buscando abrir portas e dar a oportunidade que ela teve para os outros, como se quisesse dizer: “se eu consegui você também vai”. Isso a levou as suas atividades sociais, quando ainda com 17 anos de idade organizou um grupo de crianças carentes para lhes proporcionar recreação e lazer aos domingos. Também, na mesma época, montou uma turma de estudo da língua inglesa para as crianças da periferia de Pombal.
Em 1977, com um grupo de brasileiros e alemães, que veio passar um período de
dois anos em Pombal, fundou a Creche “Pequeno Príncipe” inicialmente com 35
crianças, passando a atender posteriormente, 144 na faixa etária de 0 a 07 anos
de idade. Depois buscou uma forma continuar atendendo as crianças que deixavam
a creche por atingir a idade máxima de permanência na instituição (07 anos) e,
para que elas não passassem a perambular pelas ruas da cidade, catando lixo e
restos de alimentos, sem escola, ou sem famílias e ainda por cima, sem lazer, o
que era o destino reservados para elas.
Foi para atender a essa demanda de crianças desassistidas que ela fundou, em 1986, Clube do Menor Trabalhador-CTB (hoje Centro de Educação Integral “Margarida Pereira da Silva” - CEMAR), como forma de ampliar em decorrência da ampliação das ações de desenvolvimento na Creche Pequeno Príncipe.
O trabalho e a determinação e Margarida, com o apoio de outras pessoas da cidade envolvidas com as questões relacionadas a crianças e adolescentes em situações de risco social, e desprovidas de assistência política e social básicas, extrapolou as fronteiras da cidade o que lhes rendeu reconhecimentos e prêmios no Brasil e no exterior, a exemplo da homenagem feita pelo Banco Bamerindus, na série “Gente que Faz”, exibida em horário nobre pela Rede Globo Televisão, que veio a Pombal e fez uma bela homenagem no quadro revelando Margarida para o mundo quando o seu reconhecimento em Pombal ainda era menor do que ela.
Margarida ou Negra Margaria teve uma vida curta para um trabalho gigantesco que pretendia fazer em nossa cidade em favor, principalmente das crianças carentes.
Negra Margaria foi a guerreira da terra do sol que lutou por vidas. Uma
“Margarida” soltaria nascida em terras áridas, que estava destinada a não ser
nada na vida, mas, não apenas construiu o seu próprio destino como pegou em
seus braços as crianças que como ela precisava de uma sombra, uma mão que as
guiasse em caminhos e destinos incertos.
Margarida não teve em Pombal o reconhecimento à altura da sua importância para cidade. Digo isso por que ouvi dela as dificuldades que encontrava para “tocar seus projetos e sonhos”.
Certa vez, acho que em 1983, eu caminhava pela a Lagoa do Parque Solom de Lucena, em João Pessoa, quando ouvi alguém gritar pelo meu nome. Voltei e vi que era Margarida e Francisquinha, as duas foram minhas professoras do Colégio Estadual de Pombal. Margarida fez uma festa: havia três anos não nos víamos. Ela perguntou como chegar à Rodoviária. Eu as coloquei dentro do carro e as conduzi até o local desejado. No curto percurso ela falou dos seus projetos e pediu que quando eu fosse a Pombal a visitasse na "Creche Pequeno Príncipe”.
Recebi com pesar a notícia da sua morte, o que ocorreu tragicamente no dia 05 de outubro de 2000, em acidente automobilístico, deixando por construir, por nossas crianças, um universo de sonhos.
Margarida não viveu um único minuto por ela: tudo que fez, cada minuto que viveu foi pelos menos favorecidos das ruas de Pombal. Deixou para os que a admirava uma semente a ser regada na terra fértil que foi a sua vida.
Os seus sonhos continuam sendo sonhados por outros que tocam para frente o Cemar -Centro de Educação Integral Margarida Pereira Da Silva.( fonte: texto de Paulo Sergio)
Jerdivan
Nóbrega de Araújo. Advogado. Escritor. Poeta. Membro do Grupo Benigno Ignácio
Cardoso D' Arão. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Paraibano de Pombal.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com