NASCE UM
BANDIDO
Apesar de ser o maior ícone do Cangaço, Lampião não foi o criador do
movimento. Os relatos mais antigos de cangaceiros remontam a meados do século
18, quando José Gomes, conhecido como Cabeleira, aterrorizava os povoados do
sertão. Lampião só nasceria quase 130 anos mais tarde, em 1898, no sítio
Passagem das Pedras, em Serra Talhada, no Estado de Pernambuco. Após o assassinato do pai,
em 1920, ele e mais dois irmãos resolveram entrar para o bando do cangaceiro
Sinhô Pereira.
O cangaceiro Sinhô Pereira
Duramente perseguido pela polícia, Pereira decidiu sair do Nordeste e deixou o
jovem Virgulino Ferreira, então com 24 anos, no comando do grupo. Era o início
do lendário Lampião. Os dezoito anos no cangaço forjaram um homem de personalidade forte e temido entre todos, mas também trouxeram riqueza a Lampião.
Frederico Pernambucano de Melo
No momento da sua
morte, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a
600 mil reais. "Apenas no chapéu, ele ostentava 70 peças de ouro
puro", ressalta Frederico de Mello. Foi também graças ao cangaço que
conheceu seu grande amor: Maria Bonita.
Maria Bonita
Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no Rio
Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os Estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a favor
do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um Estado de agir
além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro Estados, de
acordo com a aproximação das forças policiais.
Raso da Catarina
Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a
caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou
ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer
parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras
mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como
Os cangaceiros Corisco e Dadá
Corisco e Dadá
e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria
Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal.
Expedita Ferreira - Filha de Lampião e Maria Bonita - próxima aos 80 anos
Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos.
Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi
visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. "Eu tinha muito medo das
roupas e das armas", conta. "Mas meu pai era carinhoso e sempre me
colocava sentada no colo pra conversar comigo", lembra dona Expedita, Vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus pais
foram mortos.
CABEÇAS NA
ESCADA
Em julho de
1938, após meses perambulando pelo Raso da Catarina, fugindo da polícia,
Lampião refugiou-se na Grota do Angico, perto da cidade de Poço Redondo.
Grota do Angico, em Sergipe
Ali,
no meio da caatinga fechada, entre grandes rochas e cactos, o governador do
sertão - como gostava de ser chamado - viveu as últimas horas dos seus 40 anos
de vida. Na tentativa de intimidar outros bandos e humilhar o rei do cangaço,
Lampião, Maria Bonita e os outros nove integrantes do grupo mortos naquela
madrugada foram decapitados e tiveram as cabeças expostas na escadaria da
Prefeitura de Piranhas, em Alagoas.
Cabeças dos bandidos assassinados -inclusive Lampião e Maria Bonita
Os que conseguiram escapar se renderam mais
tarde ou se juntaram a Corisco, o Diabo Loiro, numa tentativa insana de
vingança que durou mais dois anos, até a morte deste em Brotas de Macaúbas, na
Bahia. Estava decretado o fim do cangaço.
Não são poucas as lendas que nasceram com a morte de Lampião. Uma fala de um
tesouro que ele teria deixado enterrado no meio do sertão. Outra conta que
Lampião não morreu na madrugada de 28 de Julho de 1938, fugindo para o Estado de Minas Gerais (conversa mal contada). Mas
a verdade é que, mesmo 75 anos depois da sua morte, Virgulino Ferreira da
Silva, aquele menino do sertão nordestino que se transformou no temido Lampião,
ainda não foi esquecido. E sua extraordinária história leva a crer que nunca o
será.
*Matéria
publicada na edição #135 da revista Os Caminhos da Terra.
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