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sábado, 31 de março de 2018

DIOCESE DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de março de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.868

Espaço para Álvaro Queiroz, Gazeta de Alagoas, edição de 4.2.2012. Diocese de Palmeira dos Índios: 50 anos de história.
“Faz precisamente 50 anos, em 2012, que foi fundada a Sé palmeirense. A 10 de fevereiro de 1962, pela bula Quam supremam, o Papa João XXIII criou a Diocese de Palmeira dos Índios. Sufragânea da Arquidiocese de Maceió, a diocese xucuru abrange boa parte de Agreste e do Sertão das Alagoas. Para a composição territorial da nova diocese, foram desmembradas áreas anteriormente pertencentes à Arquidiocese e à Diocese do Penedo.
DIOCESE DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS. FOTO: (DIOCESE).

Pelo decreto do Sr. Núncio Apostólico da época, D. Armando Lombardi, desmembraram-se da Arquidiocese de Maceió os Municípios de Paulo Jacinto e Quebrangulo. Já da diocese penedense foram separados – além de Palmeira dos Índios – os Seguintes municípios: Água Branca, Batalha, Belo Monte, Cacimbinhas, Delmiro Gouveia, Dois Riachos, Igaci, Jacaré dos Homens, Major Izidoro, Mata Grande, Monteirópolis, Olho d’Água das Flores, Olivença, Pão de Açúcar, Piranhas, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema e São José da Tapera.
A instituição oficial da Sé palmeirense ocorreu a 19 de agosto de 1962 com a posse do primeiro bispo, D. Otávio Barbosa Aguiar. A missa solene na Catedral de N. Sra. Do Amparo, foi presidida pelo Exmo. Sr. Núncio Apostólico do Brasil, D. Armando Lombardi, Arcebispo titular de Cesaréia de Felipe. No Arquivo da Cúria de Palmeira dos Índios, encontram-se a Ata da instalação canônica da diocese e o Termo de posse do 1Bispo. Desde a sua criação, até hoje, quatro bispos tomaram assento na cátedra episcopal xucuru”.
Dizem que houve dois pedidos do último Papa (já falecido) ao bispo de Palmeira dos Índios (também falecido) que gostaria que fosse criada a diocese do sertão com sede em Santana do Ipanema. O pedido teria entrado por um ouvido e saído por outro. Não seria o momento do povo católico do sertão, reivindicar vigorosamente sua Diocese?
Tudo tem a sua hora. Queremos o nosso bispo.


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AQUELE FEMININO CANGAÇO

*Rangel Alves da Costa

Outro dia, enfim a Tv Senado deixou um pouco de lado aqueles enfadonhos discursos senatoriais e aquelas pouco digestas entrevistas parlamentares, para mostrar um documentário deveras interessante: Feminino Cangaço. A película foi produzida pelo Centro de Estudos Euclydes da Cunha, com direção de Lucas Viana e Manoel Neto.
Baseado em imagens, filmes e entrevistas, o documentário procurou mostrar a presença feminina no cangaço e, por consequência, dialogar sobre o papel da mulher em meio àquela aridez de cansaço e luta, de correria e refrega, onde ao próprio homem extasiava em demasia.
A literatura cangaceira já se debruçou em profundidade acerca de tais aspectos, analisando perfis específicos de mulheres cangaceiras, bem como seus cotidianos naquela trágica guerra debaixo do sol. Livros que cuidaram das valentias, dos destemores, das traições, mas principalmente das motivações para que os pés macios da feminilidade enveredassem pelos caminhos de espinhos.
Contudo, há no documentário uma leva de depoimentos de pesquisadores e escritores (Antônio Amaury, Frederico Pernambucano, Luiz Ruben, Vera Ferreira, Germana, dentre outros) e testemunhos femininos daquela saga (Dadá e Sila, principalmente), que permitem a pormenorização de alguns aspectos bastante interessantes, ainda que já devidamente esmiuçados nos livros.
Segundo os depoimentos, foi o encantamento de Lampião por Maria Bonita que acabou permitindo a entrada de mulheres ao cangaço, antes um meio reservado apenas aos homens. Quando o líder cangaceiro deu a mão à bela Maria, então os demais cangaceiros passaram a se arvorar do direito de também ter suas companheiras.
Contrariamente ao que muito se difundiu, as mocinhas sertanejas nem sempre eram obrigadas a seguir a vida das caatingas quando escolhidas pelos cangaceiros. Algumas delas até sonhavam viver ao lado daqueles cabeludos e paramentados homens, numa atração geralmente motivada pelas roupas, pelos ouros, pelos anéis, pelas feições de artistas do meio do mundo.
Os cangaceiros atraíam de tal modo as jovens e mocinhas sertanejas que não raro seus pais tinham que fugir ante o anúncio da aproximação do bando. Era perigoso demais permanecer com sua bela flor mulher às vistas daqueles sedentos de tudo. Mais perigoso ainda se algum resolvesse levar a sertaneja consigo. Em casos tais, os familiares pouco podiam fazer.


No seu testemunho, a cangaceira Adília não mede palavras para ojerizar seu companheiro de cagaço. Demonstrando verdadeiro ódio a Canário, ela diz que nunca deu um sorriso ao seu companheiro, nunca beijou-lhe sequer a face, nunca se sentiu bem ao seu lado. Tudo motivado pela sua desmedida violência e os constantes maus-tratos cometidos. E diz mais que não derramou uma só lágrima quando ele foi assassinado.
Interessante quando os entrevistados passaram a relatar sobre a vida sexual no cangaço. Segundo afirmaram, os relacionamentos se davam nos tufos do mato, próximo aos demais, sem qualquer privacidade para uma entrega maior. Daí os encontros sexuais se darem quase vestidos, baixando apenas as roupas, na pressa exigida perante as situações.
Não podiam se afastar muito e também não podiam manter relações à vista de todos. Uma situação realmente difícil de ser resolvida em meio à caatinga e à aproximação das volantes. Além da pressa, o silêncio nas ações. Ainda assim a história cangaceira registra traições. E também morte pela traição.
Segundo afirmado nos depoimentos e testemunhos, a mulher cangaceira não participativa diretamente dos confrontos com as volantes. Carregavam pequenas armas e punhais, porém muito mais para proteção pessoal do que para atacar. Tais armas também eram utilizadas para informar onde estavam depois que o grupo ficava desapartado. Conhecendo o disparo, logo a cangaceirada seguia naquela direção.
Em situação de confronto, geralmente dois cangaceiros ficavam protegendo as mulheres enquanto os demais homens seguiam para o ataque. Logo se imagina as mulheres aflitas esperando o retorno de seus companheiros. Não o caso de Adília, que tanto fazia que Canário voltasse vivo ou não.
Não se evitava a gravidez, mas uma vez parida a mulher tinha que entregar seu filho para uma família fora do cangaço criar. Assim aconteceu com Maria Bonita, Sila e outras, que tiveram de deixar seus rebentos em mãos de pessoas conhecidas e que fossem compromissadas em criá-los com todo zelo. Mas nunca se arvorando do direito de filho. Os pais eram os cangaceiros.
Eis, assim, em apertada síntese, relances do amplamente mostrado no documentário Feminino Cangaço. Não uma visão feminina no cangaço, mas a compreensão de como se deu a participação feminina naquele mundo de vinditas debaixo do sol e da lua.

Escritor
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LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.
Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.
O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
E-mail:   
franpelima@bol.com.br
Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.
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O ESCRITOR LUIZ SERRA COMUNICA!



queridos amigos, estimadas amigas, precisei fazer uma cirurgia para reparar o refluxo esofágico já estou de repouso em casa, administrando as restrições alimentares e poucas dores. 



Dra. Xia Yuan e equipe, atenciosos e hábeis, Hospital Alvorada Amil Brasília. 

Agradecido pelos votos de carinho e recuperação!

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JOÃO, A CASA E JULIANA

José Ribamar Alves

Querida, minha querida e necessária casa! 
Venho-me a Ti, possuído pelos sentimentos atordoantes,
De uma possível solidão consensual, estampada no olhar
de Juliana, que a mim jurara, preferir morrer a perder um só momento dos seus momentos ao meu lado.

Ó minha querida casa; valha-se da mudez congênita dos teus cômodos, do silêncio adormecido do teu teto e da surdez peculiar de suas portas e janelas, para que se mantenham sem respostas evidentes, minhas evidentes indagações.

Assim, talvez, eu possa sentir o zéfiro suave da paz, encontrada, unicamente, nas flores selvagens do ermo nunca visto e tocado pelos homens.

Será que seria possível pelas fendas triangulares,
Do portão de ferro, proteção alienadora dos portadores da síndrome do medo, as contagiantes energias negativas, adentrarem sobre Ti?

Que motivo teria Juliana, para querer abrir mão do nosso casamento, a não ser suspeitas de uma simples escapadinha,
ou da confirmação pretensiosa de uma suposta interessada,
na posse dos meus desejos sexuais?

Ah, minha casa; palácio dos meus desmerecidos vitalícios;
alcova dos meus delírios afrodisíacos, necrópoles dos meus queridos sonhos mortos, madrinha das minhas insônias desgastantes e refúgio consolidado do meu desventurado ser.

Como eu gostaria de saber, o que, afinal, significa o casamento?
Será uma benção dada por Deus, que nunca se casara?
Ou um acúmulo de dívidas atribuídas aos homens e mulheres,
por, Jesus que também nunca se submetera a tal sentença?

Ah, minha humilde casa!
É, que aquecida pelas malditas chamas do ciúme, Juliana, minha companheira de maus bons e momentos, vez por outra, insinua-me querer desistir do convívio a dois.

Não discordarei se assim o fizer; porque, a meu ver,
o casamento é uma verdadeira servidão, imposta pelos
homens que se vestem como damas, sem a menor ideia sobre o seu significado.

Será que machuquei seus idolatrados sentimentos ou será que
infrigi  as regras pregadas e repregadas pelos bons e falsos profetas,os  quais, na verdade, morreriam pela mantença de suas iguarias refinadas, de suas despesas sem despesas ou de suas vidas tranquilas como o condor que esvoaça os céus pela manhã?
  
Querida, minha querida casa, que seja feliz àquela que me escolhera dentre tantos outros, talvez, simplesmente, pela óbvia vontade de ostentar seu nome de consorte, ou, quem sabe, empurrada por Cupido, de encontro a mim, pelo desejo carnal que aflora em toda jovem que sente a necessidade de amar e ser amada, assim como até os animais, de certo, sentem também?

Que tipo de alma sentiria-se bem, acorrentada pelas leis, como um salteador? Que coração adoraria sentir-se submisso ao amor,
como uma flor às gotículas do orvalho?
Há, como há mistérios entre as coisas de Deus e as coisas dos homens!

Diria eu, assim como dizem os que são proibidos do amor carnal:
não se aproximem do que emporcalha seus espíritos,
fujam da maldição, sejam como são, os cordeiros inocentes;
Mas, desde que minha vida “mansa” continuasse garantida pelos leigos.

Ó meu querido rancho, meu guarda-sol, meu guarda-chuvas;
O que me dirias se por ventura eu te abandonasse
Assim, como as mães desnaturadas rejeitam suas crias?

Quem cuidaria das deteriorações causadas a Ti, senão eu?
Quem me serviria de testemunha para minhas angustiantes em noites mal dormidas, se não fostes tu?

Quem ficaria ao meu lado por tantas horas, pescando palavras desusadas e, escavacando no paiol da solidão, respostas para tudo, se não fosses tu?
Quem ouviria comigo, a voz do silêncio exibida pela garganta dos  esquecidos e o retumbante desabafo das infelizes vítimas dos  impiedosos?

Assim seria eu; sem Juliana a mulher que em pleno
desabrochar dos sentimentos, virara as suas costas para o refúgio da sua mocidade, para seguir sem certeza de como seria seu futuro
à sombra incontrolável do meu querer obcecado.

Ah, minha velha confidente casa!
Nossa história tornou-se mais forte do que o amor que une a mãe ao filho e mais resistente que a fé que vence o impossível aos olhos dos incrédulos.

Mas, se acontecer de Juliana me varar as costa;
não tem nada não!
Não tem nada não; porque saberei ser forte como um vulcão que nunca se deixa adormecer; porque serei frio como a nevasca do Alasca; porque, assim como nasci sozinho, sozinho voltarei ao pó.

Serei forte por ter certeza que nessa vida tudo passa;
inclusive a mocidade, o desejo, o apego, a simpatia e, até mesmo, o amor quando se cansa.

Mas, eu não morreria de tristeza, antes que a esperança,
de me reerguer, viesse a óbito.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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LIVRO CORISCO A SOMBRA DE LAMPIÃO

Por Francisco Pereira Lima

A recomendação bibliográfica de hoje: 
CORISCO: A Sombra de Lampião, de Sérgio Augusto S. Dantas. 
Um excelente livro sobre essa figura emblemática do Cangaço. 
CORISCO. Livro Novo. Preço 50,00 Com frete incluso. Pedidos: 

franpelima@bol.com.br e whatsapp 83 9 9911 8286.

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VITOR DO ESPÍRITO SANTO E O CANGAÇO


Por Antonio Corrêa Sobrinho

Este, sem dúvida, foi um dos primeiros repórteres, senão o primeiro, a acompanhar “in loco”, ou seja, no palco e no calor dos acontecimentos, o combate de forças policiais ao cangaceiro Lampião.

Repórter do jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro, foi em 1931 enviado ao sertão da Bahia, para, como representante dos “Diários Associados”, cumprir a missão de acompanhar as forças militares, da Polícia com auxílio do Exército, na Campanha promovida pelo governo baiano, contra o terrível o cangaceiro Lampião e seus subordinados, a exemplo do famanaz Corisco, que ali sistematicamente aterrorizavam as populações. Para, ao mesmo tempo, transmitir aos leitores as suas impressões colhidas, estas que resultaram nas reportagens publicadas pelo sobredito jornal carioca, reproduzidas pelo “Diário de Pernambuco”, em cujas páginas extraí os octogenários porém valiosos artigos, os quais trago aos amigos, em partes, para conhecimento e deleite. 

Vitor do Espírito Santo, jornalista que, por sinal, um ano antes, em 1930, publicou na imprensa uma sensacional reportagem sobre a sublevação de José Pereira, no chamado Território livre de Princesa, na Paraíba.

Não poderia deixar de, aqui, por fim, por lamentável, registrar que pesquisadores seguintes, autores de famosas obras sobre a história do cangaço, a exemplo de Ranulfo Prata e Frederico Maciel, obtiveram deste Vitor do Espírito Santo informações, impressões e pareceres, como, por exemplo, o relato do ataque de Lampião à cidade de Aquidabã, em Sergipe, injustamente deixaram de mencionar, como fonte, o nome deste “formulador de história”, o jornalista Vitor do Espírito Santo, que, justamente, chegou a ser redator-chefe do “Diário da Noite”, época de Rubem Braga e Ari Barroso como seus colunistas.
Imagem, extraída do sítio na internet Cariri Cangaço, da coluna do tenente Ladislau de Souza, retornando a Jeremoabo/BA, depois de 15 dias caçando Lampião.



"Diário de Pernambuco" - 03/12/31

EM PLENA ZONA DE OPERAÇÕES CONTRA O CANGAÇO

Um atentado que não chegou a consumar-se na via-férrea – Na terra de Silvio Romero – Paripiranga, terra de que Lampião foge atemorizado – A ação nociva dos “coiteiros” – A estreita camaradagem entre forças do Exército e da Polícia

PARIPIRANGA, 23 (Via aérea) – Estamos desde domingo nesta aprazível localidade dos sertões baianos, Paripiranga, que já teve os nomes de Malhada Vermelha e Patrocínio do Coité, é hoje um município de grande desenvolvimento, possuindo, a subprefeitura de Cícero Dantas, há pouco a ela anexada, cerca de 40.000 habitantes. É presentemente seu prefeito o sr. João Carregosa, que, assumindo a direção do município logo após a vitória da revolução, vem procurando dar ao mesmo os recursos de que necessita.

Paripiranga não teve nunca a visita de Lampião. Os seus habitantes, instruídos pelas autoridades estaduais, mantêm-se sempre prontos para uma resistência eficaz, de forma que os bandidos, temendo insucessos, passam ao largo, sem daqui se aproximar.

Em fins de outubro do ano próximo findo, Zé Pereira, na sua fuga de Princesa, passou por aqui acompanhado do promotor de Princesa. Fazia-se passar por negociante e, sob esse disfarce, logrou permanecer aqui alguns dias, adquirindo roupas e demais objetos de que necessitava, e conseguindo um guia que o levou para Antas, procurando caminhos onde não pudesse ser surpreendido com encontros desagradáveis. Só após a sua partida é que se veio a apurar a sua identidade. Era, porém, demasiado tarde e o povo de Paripiranga lamentou sinceramente não o ter entregue às autoridades para que recebesse o corretivo de que se tornou merecedor.

Neste período de regime revolucionário, não fora a recua que tanto mal tem feito a toda esta parte do Brasil, não fora o banditismo que tanto pavor lança entre os sertanejos, e o município de Paripiranga teria progredido bastante, graças à atividade do seu prefeito.

A sede do município compõe-se de algumas ruas calçadas com pedras; edificações feitas como todas as do sertão nordestino; uma igreja-matriz e uma capela de pequenas proporções; uma escola pública de frequência média de 62 alunos; dois mercados, um dos quais (...) do tempo; uma agência telegráfica e outra postal; casas comerciais, predominando as que negociam com objetos de couro. Um município enfim onde se pode viver sem sentir-se muito as consequências das secas, do abandono dos poderes públicos e do banditismo.

SALGADO, LAGARTO, ANÁPOLIS

Para atingir esta parte, do estado da Bahia necessário se tornar cortar uma grande faixa do território sergipano. Já na via-férrea, o comboio entra em Sergipe, passando pelo seu litoral, para alcançar Salgado, município que se tornou bastante conhecido em virtude dos banhos sulfurosos ali muito procurados.

O Sr. Arlindo Luz deixou da sua administração na estrada que serve a esta parte do país traços indeléveis. É devido à sua administração e conforto que ainda gozam os passageiros do este baiano. Não fora a poeira, abundantíssima durante o percurso, e a viagem poderia ser classificada de boa, sendo as quinze horas que viajamos entre Bahia e Salgado transcorridos da melhor maneira, quer nos vagões simples, quer nos dormitórios de relativo conforto.

De Salgado a Paripiranga são duas horas de automóvel em boa estrada de rodagem. Atravessam-se, nesse percurso, duas cidades sergipanas: a de Lagarto, terra natal de Silvio Romero e a de Anápolis, antiga Simão Dias.

Têm essas duas cidades todas as características das cidades do sertão nordestino: As suas matrizes, os seus casarios brancos, os seus mercados, as suas praças, os seus habitantes prestativos e hospitaleiros, as suas modestas pensões.

Em Lagarto, o orgulho do seu povo é o de ser conterrâneo de Silvio Romero, cuja casa de nascimento me foi mostrada como um objeto de culto. O governo do senhor Graccho Cardoso dotou o município com ótimos melhoramentos, como seja um confortável grupo escolar, que se ergue em um dos melhores pontos da cidade.

Em Anápolis, onde um grupo de cinco homens de Lampião tem ameaçado as propriedades de um dos seus mais abastados fazendeiros, o coronel Pedro Leite, vi o povo disposto à reação, e possuído da convicção de que combater-se o banditismo é obra de patriotismo. Tanto nessa localidade como nas demais sergipanas por onde passei, é patente o entusiasmo pelo governo do major Augusto Maynard.

UM ATENTADO EVITADO

A viagem do coronel João Felix de Souza, comandante da Força Pública da Bahia, à zona em que se desenvolvem as operações contra o banditismo fora anunciada, há cerca de um mês. Poucos acreditavam na sua efetivação. Viagem cheia de percalços, podendo a cada instante os que a ela se aventurassem cair em emboscadas, tendo seus realizadores de suportar vicissitudes diversas, longos trajetos a pé sob o sol causticante do Nordeste, má alimentação, água escassa e má, a ver os seus dirigentes procurarem sempre o conforto e mesmo o luxo dos palácios, não podiam conceber que o comandante da Força Pública viesse a empreendê-la.

Até mesmo no seio da força houve oficiais que só acreditaram nessa viagem no momento de partida, ao apresentarem as despedidas aos seus camaradas.

A mim, o coronel João Felix não escondeu um só dos perigos que me iam ameaçar. Não queria ver-me colhido de surpresa e, por isso, tratou de mostrar-me tudo o que poderia vir a suceder durante a excursão e o desejo que naturalmente terá Lampião de emboscar nas caatingas o comandante de forças em operações e os oficiais que o comandante de forças em operações e os oficiais que o acompanham.

Esses perigos começaram a manifestar-se já durante a nossa viagem por via-férrea. Não deixáramos ainda o território baiano, quando a perícia do maquinista do comboio em que viajávamos e os bons freios do trem impediram a consumação de um atentado, no qual poderia perder a vida muitas pessoas inteiramente alheias à campanha.

Foi na altura de Esplanada, madrugada alta, que o maquinista lobrigou no leito da estrada figuras que se movimentavam para colocar grandes objetos sobre os trilhos. A parada foi tão rápida que todos os passageiros foram despertados pelo solavanco. Eram três os malfeitores que se empenhavam nessa obra perversa de descarrilar o trem em que viajava as forças e o seu comandante.

Dois deles lograram fugir. Um, no entanto, foi preso e transportado para Salgado para dali via Paripiranga, onde seria interrogado devidamente. Antes mesmo desse interrogatório, o coronel João Felix quis ouvi-lo ligeiramente. O acusado, um menino de cerca de dezesseis anos, negou-se terminantemente a declarar o motivo que o levara àquela prática, bem como se tivera ou não mandante. Nada quis adiantar nesse breve interrogatório.

E nada mais se pôde conseguir, dada a sua fuga verificada nas imediações de Lagarto. Só se conseguiu saber que reside em Anápolis.

OS “COITEIROS”

Coiteiro é o nome que se dá aqueles que prestam auxílio aos bandidos. Há os que se entregam a essa prática movidos pelo terror que lhes inspira Lampião, mas há também os que o fazem por interesse, visando lucros fáceis e polpudos. Jeremoabo, pela sua extensão territorial e pela falta de comunicações com os demais municípios do Estado, é o principal foco de coiteiros. Daí ser a zona mais fecunda de bandidos.

O coiteiro é o principal auxiliar dos cangaceiros e o maior empecilho da ação repressora. Enquanto Lampião consegue usar dos coiteiros para os seus misteres infames, a polícia, olhada com antipatia e não podendo usar dos mesmos processos territoristas ou pródigos, vê nos mesmos um adversário que não raro surjam contra a polícia, quando os seus representantes procuram reprimir tais colaboradores do cangaço.

Os coiteiros não se limitam a dar agasalho e fornecer mantimentos, munições e roupas aos bandidos. Servem-lhe também de espiões e são mandados a longas distâncias para observar a ação policial. São espiões que agem sob o pavor ou antevendo polpudos lucros, ou ainda levados pelos dois motivos. É tal a nocividade dos coiteiros que qualquer movimentação de tropas chega ao conhecimento dos “cabras” logo ao seu iniciado.

Para combater os bandidos, as tropas têm como ação preliminar de precaver-se contra os coiteiros.

UNIÃO DE VISTAS ENTRE FORÇAS DO EXÉRCITO E DE POLÍCIA

Um dos elementos que mais inspiram confiança presentemente na campanha contra o cangaço é a colaboração das forças do Exército. A existência da força federal entre os que combatem os bandidos parece dar aos sertanejos a certeza de que não serão praticados abusos e também de que o Exército não permitirá que a campanha se finde sem se atingir o alvo.

A força do Exército em Jeremoabo, em Anápolis, em Lagarto e Mauá, aqui e em outras localidades sertanejas. Vemo-los em inteira operosidade em perfeita camaradagem com seus colegas da Força Pública. Uma estreita união de vistas entre as forças. 

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A HISTÓRIA DO RIO DA PRATA DO CABUÇU (RJ) - ADINALZIR LAMEGO


Adinalzir Pereira Lamego

A história dessa bela localidade vem dos tempos do grande Engenho do Cabuçu, que chegava até os limites de Guaratiba. O engenho era de propriedade de Úrsula Martins, no final do século XVIII, mãe de Anna Maria da Conceição e do Sargento-Mor (patente na época de oficial superior, acima de capitão e abaixo de tenente-coronel) Joaquim Cardoso dos Santos, que passou a administrá-la a partir de 1811. Fazia limite com as terras de João Fernandes Barata, com a propriedade de José Pereira Monteiro Torres, dono das terras do Cabuçu de Baixo, com a posse de José Justino de Silveira Machado, em Cachamorra, e com a Fazenda do Juary, do Major Agostinho José Coelho da Silva.

A partir de 1820, começaram os litígios familiares na hora da partilha dessas terras. Com o tempo, a situação foi se normalizando e, na década de 1870, a Fazenda Cabuçu já era uma importante produtora de café e aguardente. Já a Fazenda do Rio da Prata do Cabuçu (existia também a do Rio da Prata do Mendanha) teve a sua dose de litígios judiciais em meados do século XIX).


No final do século, Maria Teixeira Alves, viúva do Capitão Francisco Teixeira de Sousa Alves, recebeu e aceitou uma proposta de cessão de grande parte das terras, incluindo as águas das cachoeiras do Rio da Prata (que até hoje é uma opção de lazer na região) para o uso dos trabalhos da Fábrica Bangu.

No século XIX, o Rio da Prata viveu de forma intermitente o ciclo da laranja, que tomou conta de Campo Grande e de outros bairros da então zona rural da cidade, além da Baixada Fluminense, durante os anos 1930 e 1940, principalmente. Além disso, o Rio da Prata ganhou uma linha de bondes, que ia até o centro de Campo Grande, e recebeu obras de drenagem e retificação dos seus rios na década de 1940, pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento do Governo Federal (DNOS). Com isso, acabaram os problemas das águas represadas, que destruíam plantações e provocavam malária devido ao acúmulo de mosquitos transmissores da doença.

Além das laranjas, que, no auge da produção, ocupavam, não só a parte plana, como também as colinas do Rio da Prata, houve grande produção de mamão na década de 1920, produzido principalmente por portugueses que haviam chegado recentemente à região. Parte da produção era vendida para São Paulo. Tomate, chuchu e hortaliças em geral, além de abacate, manga, banana e caqui também tiveram grande importância na economia do Rio da Prata.

Na área do Lameirão Pequeno também houve grande produção de cana de açúcar, vendida principalmente para pastelarias e lanchonetes, que começavam a proliferar no centro de Campo Grande, e onde os clientes saboreavam uma das combinações gastronômicas mais comuns da cidade até hoje, o pastel "de vento" com caldo de cana.

Após a decadência da produção da laranja, no final dos anos 1950, produção que era também exportada, os fazendeiros que resistiram passaram a vender a fruta só para o mercado interno. Hoje o forte da produção do Rio da Prata é de plantas ornamentais, embora alguns pequenos sítios ainda produzam caqui e banana, além de existir uma horta no Lameirão Pequeno e mangueiras por todo o lado.

Outra faceta demonstrada pela agricultura local, em sintonia com a preocupação cada vez maior com a qualidade dos alimentos, é a Agroprata, grupo de agricultores que trabalha apenas com agricultura orgânica e que conta com uma produção bastante diversificada.

O Largo do Rio da Prata lembra uma pequena cidade do interior, com sua praça, igrejinha, coreto e bica (dois monumentos tombados pela prefeitura do Rio em 1996), além de várias características da vida rural, que hoje convivem com um lado mais urbano também.

A área em torno da praça abriga vários restaurantes, que se espalham por um bom trecho da Estrada do Cabuçu, lotados nos fins de semana. Mas uma olhada mais atenta às fachadas de alguns desses restaurantes permite identificar traços arquitetônicos e datas de construção que remetem a tempos em que essas casas eram vendas e depósitos que atendiam aos agricultores, muitos dos quais só desciam do morro uma vez por mês para negociar as colheitas e fazer compras. Claro que também para tomar uma cachaça de rolha, encontrar amigos e participar das festas da Igreja de Nossa Senhora das Dores e dos leilões organizados pelos fazendeiros.

A partir das décadas de 1940 e 1950, a Estrada do Cabuçu começou a receber também as lotadas, veículos de transporte coletivo anteriores aos ônibus, quase um parente distante das vans. Isso, aliado ao crescimento do número de automóveis e dos loteamentos que começaram a ser feitos, como o da Villa Jardim de Campo Grande, com 950 mil metros quadrados e demarcado em 1928, e também o loteamento próximo ao Largo do Rio da Prata, construído alguns anos depois, com casas boas e confortáveis, e que até hoje é conhecido apenas como “loteamento” (abriga a Escola Municipal Cesário Alvim e o Posto de Saúde Municipal, que antes ficava em torno da praça), o que fez com que aumentasse a população local, hoje bem maior devido à abertura de muitas ruas ao longo da Estrada do Cabuçu e à construção de vários condomínios.

Adinalzir Lamego é professor de História e Historiador - Escreve às quintas-feiras na Santa Paciência.
Bibliografia:
Livro: O Velho Oeste Carioca Volume III. Mansur, André Luís. Ibis Libris, 2016.

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