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terça-feira, 2 de abril de 2019

CAMPANHA EM PROL DO ACERVO DE RAIMUNDO SOARES DE BRITO

Por Antônio Marcos de Oliveira

O escritor Raimundo Soares de Brito deixou um legado jamais imaginado pela população mossoroense. Um aparato informativo que engloba uma vida inteira de estudos, de pesquisa e de arquivamento.

Atualmente este material está guardado, mas precisando ser disponibilizado para a população em geral. Desta forma, Marcos Oliveira, sobrinho de Raibrito (como era carinhosamente chamado Raimundo Soares de Brito) e atual guardião de todo acervo está adotando uma campanha para acomodar todo material. Assim o mesmo se expressou sobre o arquivo de Rabrito:

“Amigo(a)s, tomo a liberdade de lhes comunicar que estou elaborando providências para a organização do Acervo Raibrito, em Mossoró, e fazendo uma campanha pela doação de estantes de aço destinadas a arrumação de parte deste material. Em média, cada uma custará  R$ 175,00, em Mossoró. Poderia contar com a sua colaboração, mesmo que seja repassando a campanha? Às vezes não podemos participar, mas chega em alguém que soma com a gente. Obrigado pela atenção, independentemente de qualquer coisa. Quando o espaço estiver organizado, farei imagens”.

Marcos reforçou, ainda, que está recebendo valores através das contas do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, conforme os dados abaixo para depósito ou transferência em nome de Antônio Marcos de Oliveira. Os valores serão utilizados em benefício e cuidados ao acervo de Raibrito. Se a pessoa preferir, pode doar estantes de livros diretamente, ao invés do dinheiro. Fonte: colecaomossoroense.org.br

Dados para depósito/transferência 
Antônio Marcos de Oliveira
Banco do Brasil
CC 32886-3
Agência 2874-6
Caixa
Agência 0560
Op. 013
CP 140626-1

blogdomendesemendes - "Raibrito é autor de vários livros sobre cangaço". 
Quem quiser adquiri-los é só entrar em contato com o professor Pereira através deste e-mail: franpelima@bol.com.br. 

Quem sabe, talvez o professor Pereira ainda tenha livros do Raibrito em sua livraria.

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AUMENTE SEUS CONHECIMENTOS

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de março de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.083
(IMAGEM: GEOGRAFIA GERAL).

Aproveitando a estação, não fique enferrujado (a) e vamos ampliar os conhecimentos geográficos do dia a dia. Você convive com esses fenômenos, mas não consegue defini-los: neblina, orvalho, geada, neve e granizo? Veja como é fácil.
Neblina. Também é chamada de nevoeiro. Aliás, Nevoeiro era apelido de um dos cabras de Lampião. Corresponde a uma formação de nuvens não pouco espessas, próximas da superfície, provocadas pelo resfriamento e condensação do ar úmido, também próximo da superfície. O fenômeno ocorre geralmente em noites claras de céu límpido, sobretudo no inverno ou no outono. O solo, perdendo rapidamente calor, provoca o resfriamento do ar das camadas contíguas à superfície, e a umidade condessada aparece sob forma de nevoeiro que tende a acumular-se nos vales e nas planícies, porque, o ar frio, sendo mais pesado, geralmente se concentra nas partes mais baixas do relevo.
Orvalho e Geada. Aparece o orvalho quando o ar durante a noite resfria-se abaixo do ponto de saturação. Esta forma de condensação ocorre muito próxima da superfície e pode ser observada nas plantas e na lataria de automóvel, ao amanhecer. Quando, porém, a condensação ocorre com temperaturas inferiores a 0C, surge a geada, representada pela formação de uma camada fina de gelo sob a vegetação e outros objetos. Geralmente chamamos a umidade da noite de sereno e a da manhã de orvalho. Por coincidência, Zé Sereno também era um dos cangaceiros de Lampião.
 Neve. A queda de neve corresponde à precipitação do vapor d’água sob a forma de cristais de gelo que se aglomeram produzindo flocos de neve. Nos níveis em que a nuvem tem origem, a temperatura situa-se obrigatoriamente abaixo do ponto de congelamento (0C).
Granizo. Provém da precipitação do vapor d’água contido nas nuvens que, caindo em forma de pequenas gotas, em contato com uma camada de ar mais fria, acabam por se congelar.
Esse tipo de precipitação é mais comum no verão, por ocasião de chuvas mais fortes (temporais e trovoadas). Também se conhece o granizo como pedras de gelo.
 OBS. Para medir a quantidade de chuva caída em uma região, usamos o pluviômetro, que qualquer pessoa pode fazer um em casa. GOSTOU?
(Baseado em Geografia Geral de Elian Alabi Lucci).


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OS CÃES SEMPRE FORAM NOSSOS AMIGOS MAIS FIÉIS.

Por Francisco Carlos Jorge de Oliveira


Os cães eram de suma importância no cangaço, pois o facínora Lampião tinha dois, o Guarani e o Ligeiro. Os cães de Virgulino eram cães de caça, eles caçavam tatu, paca, cotia, veado catingueiro, quatis, lagarto teiú, mocós e tantos outros animais que serviam de comida para alimentar os cabras de seu bando em certas situações em meio ás inóspitas caatingas, e ainda; além de ferozes defensores de seus donos, ajudavam por demais as sentinelas da noite a cuidar da cabroeira que dormia nos barracos do acampamento. O cabra Corisco também tinha cães, e o de mais destaque era uma cadela malhada da raça perdigueira que atendia por “Jardineira”, nome não apropriado para aquela vida dentro daquele bioma ressequido nos sertões nordestino. 



Eu também tenho cães que eu mesmo adestrei para a caça de Javali e Java porcos, uma espécie de suíno nativo da Europa e que foi trazido para o Brasil, chegando aqui no Sul do país para ser criado preso e manejado para reproduzir de maneira controlada, mas alguns fugindo de seus cativeiros foram diretos procurar abrigo habitando as nossas matas, capoeiras, florestas, pampas e coxilhas. E assim com a alimentação farta das lavouras, esses animais procriaram de maneira rápida e desordenada, e fora do manejo e controle, eles se alastraram por todo o sul do país, São Paulo e Sul do Mato Grosso do Sul, e em grupos de grandes varas; eles destroem plantações inteiras de milho, soja, aveia, sorgo, mandioca e outros tipos de lavouras causando grandes perdas ao agricultor. Esse animal não pertence á fauna brasileira, portanto não configura crime ambiental sua caça e abate, mas a maior causa deste empecilho “caça”, é de políticos sem experiência alguma do que é abate a animais nocivos á agricultura, e ainda movidos pela emoção da “ sociedade protetora dos animais” e demais leigos que aderiam a essa medíocre causa, ainda tramita na câmara dos deputados a lei que aprova a caça e abate destes animais. 


Em uma caçada no final do mês passado, um amigo ainda inexperiente deixou frouxa a presilha do colete protetor de um de nossos cães de “GARRE”, e assim que os cães americanos de levante acuaram o javali; soltamos os dois Dogos Argentinos “GARRE” e logo que eles atacaram a caça, o bicho desferiu uma contrataque rápido que pegou entre as juntas do colete de proteção, e o atingiu bem no peito causando um corte de 12 centímetros e bem profundo. Logo que notei meu cão ferido, já de imediato sangrei o porco com a lança, depois pequei meu cão, tirei o colete e constatando que o ferimento não havia rompido nem uma artéria, mesmo assim o joguei nas costas e rapidamente atravessei um faixa de 2 km num terreno de terra tombada ate chegar à caminhoneta, e já de imediato o levei para a cidade onde recebeu toda assistência do medico veterinário.


Os cães são nossos amigos fiéis, mas voltando a falar do famigerado Lampião Rei do Cangaço, durante um confronto com as forças Policias volantes em Serra Grande no dia 26 de fevereiro de 1926, próximo á cidade de Culumbi Pernambuco, um de seus cães foi atingido por um tiro de fuzil, e vendo seu leal companheiro latindo e se debatendo desesperado esvaindo em sangue, o Capitão Cangaceiro sem pedir cobertura ao bando, rapidamente saiu se expondo ao fogo cruzado e num gesto ágil, pegou seu cão voltando no átimo ao abrigo, e fugindo após, o entregou aos cuidados de um coiteiro que o tratou e curou, e assim depois de algum tempo; Lampião veio buscar seu velho amigo cão, o levando feliz consigo vivendo em sua companhia até serem mortos pela Força Volante Alagoana comandada pelo intrépido Tenente João Bezerra na Grota de Angicos a 28 de julho de 1928 em Sergipe próximo ás margens do Rio São Francisco.


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DONA DULCE E A BISNETA


Foto do acervo do pesquisador do cangaço Devanier Lopes.


A última cangaceira do bando de Lampião.

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O AÇUDE DA PRATA ESTÁ SANGRANDO - CRUZ/CE


Por Antonio dos Santos Lima


Rios correndo e as cachoeiras estão zoando.
Terra molhada mato verde que riqueza.
E a asa branca a tarde canta que beleza.
Ai, ai o povo alegre, mais alegre a natureza.

Luiz Gonzaga.


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LUTO


Por João de Sousa Lima

FALECEU ONTEM O JOVEM FELIPE OLIVEIRA, COM 15 ANOS DE IDADE. .... ELE ERA UM DOS RESPONSÁVEIS PELO ATENDIMENTO NO MUSEU CASA DE MARIA BONITA.


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VINTE VEZES CINCO



Exemplo: Idêntico ao 13 por 12.
OBS: Não é faixa de CD, é para ser cantado de improviso.

Toda conta bem somada
Não mostra erro no fim,
Conta somada por mim
Duvido sair errada...
Quem dez vezes cinco tem
Com mais dez vezes tem cem
Quem tem cem já se agrada;
Gastando setenta e dois
Com vinte e oito depois
Quem tinha cem não tem nada;
Eu faço você comer
Sebo cru sem derreter
Se fizer a conta errada.


Você pra ser trovador
Tem que ser inteligente,
Pra cantar na minha frente
Tem que ser mais cantador...
Quem dez vezes cinco tem
Com mais dez vezes tem cem
Quem tem cem já se agrada;
Gastando setenta e dois
Com vinte e oito depois
Quem tinha cem não tem nada;
Se cantar mal dessa vez
Come o pão que o diabo fez
Se fizer a conta errada.

Autor: José Di Rosa Maria 

Estilo lançado dia 31 de março de 2019, na Rádio Difusora de Mossoró-RN, Programa: Difusora no Campo-Do apresentador Genildo da Barrinha. Programa levado ao ar, da 7 da manhã, aos domingos!


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FEIRA DE CABEÇAS..(..Grandes artigos do Grupo LCN..)

Por: Aurélio Buarque de Holanda 
(ESCRITOR E GRAMATICISTA)

De latas de querosene mãos negras de um soldado retiram cabeças humanas. O espetáculo é de arrepiar. Mas a multidão, inquieta, sôfrega, num delírio paredes-meias com a inconsciência, procura apenas alimento à curiosidade. O indivíduo se anula. Um desejo único, um único pensamento, impulsa o bando autômato. Não há lugar para a reflexão. Naquele meio deve de haver almas sensíveis, espíritos profundamente religiosos, que a ânsia de contemplar a cena macabra leva, entretanto, a esquecer que essas cabeças de gente repousam, deformadas e fétidas, nos degraus da calçada de uma igreja.

Cinco e meia da tarde. Baixa um crepúsculo temporão sobre Santana do Ipanema, e a lua crescente, acompanhada da primeira estrela, surge, como espectador das torrinhas, para testemunhar o episódio: a ruidosa agitação de massas que se comprimem, se espremem, quase se trituram, ofegando, suando, praguejando, para obter localidade cômica, próximo do palco.

Desenrola-se o drama. O trágico de confunde com o grotesco. Quase nos espanta que não haja palmas. Em todo caso, a satisfação da assistência traduz-se por alguns risos mal abafados e comentários algo picantes, em face do grotesco. O trágico, porém não arranca lágrimas. Os lenços são levados ao nariz: nenhum aos olhos. A multidão agita-se, freme, sofre, goza, delira. E as cabeças vão saindo, fétidas, deformadas, das latas de querosene - as urnas funerárias -, onde o álcool e o sal as conservam, e conservam mal. Saem suspensas pelos cabelos, que, de enormes, nem sempre permitem, ao primeiro relance, distinguir bem os sexos. Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luiz Pedro, Quinta-Feira, Cajarana, Diferente, Caixa-de-Fósforo, Elétrico Mergulhão...

- As cabeças!

- Quero ver as cabeças!

Há uma desnorteante espontaneidade nessas manifestações.

- As cabeças. Não falam de outra coisa. Nada mais interessa. As cabeças.

- Quem é Lampião?

Virgulino ocupa um degrau, ao lado de Maria Bonita. Sempre juntos, os dois.

- Aquela é que é Maria Bonita? Não vejo beleza...

O soldado exibe as cabeças, todas, apresenta-as ao público insaciável, por vezes uma em cada mão. Incrível expressão de indiferença nessa fisionomia parada. Os heróis de tantas sinistras façanhas agora desempenham, sem protesto, o papel de S. João Batista...

Sujeitos mais afastados reclamam:

- Suspende mais! Não estou vendo, não!

- Tire esse chapéu, meu senhor! - grita irritada uma mulher.

O homem atende.

- Agora, sim.

A pálpebra direita de Lampião é levantada, e o olho cego aparece, como elemento de prova.

Velhos conhecidos do cangaceiro fitam-lhe na cabeça olhos arregalados, num esforço de comprovação de quem quer ver para crer.

- É ele mesmo. Só acredito porque estou vendo.

Houve-se de vez em quando:

- Mataram Lampião... Parece mentira!

Virgulino Ferreira, o rei do cangaço, o "interventor do sertão", o chefe supremo dos fora-da-lei, o cabra invencível, de corpo fechado, conhecedor de orações fortes, vitorioso em tantos recontros, - Virgulino Ferreira, o Capitão Lampião, não pode morrer.

E irrompe de várias bocas:

- Parece Mentira!

No entanto é Lampião que se acha ali, ao lado de Maria Bonita, junto de companheiros seus, unidos todos, numa solidariedade que ultrapassou as fronteiras da vida. É Lampião, microcéfalo, barba rala, e semblante quase doce, que parece haver se transformado para uma reconciliação póstuma com as populações que vivo flagelara.

Fragmentos de ramos, caídos pelas estradas, durante a viagem, a caminhão, entre Piranhas e Santana do Ipanema, enfeitam melancolicamente os cabelos de alguns desses atores mudos. Modestas coroas mortuárias oferecidas pela natureza àqueles cuja existência decorreu quase toda em contato com os vegetais - escondendo-se nas moitas, varando caatingas, repousando à sombra dos juazeiros, matando a sede nos frutos rubros dos mandacarus.

Fotógrafos - profissionais e amadores - batem chapas, apressados, do povo, e dos pedaços humanos expostos na feira horrenda. Feira que , por sinal, começou ao terminar a outra, onde havia a carne-de-sol, o requeijão de três mil-reis o quilo, com o leite revendo, a boa manteiga de quatro mil reis, as pinhas doces, abrindo-se de maduras, a dois mil-reis o cento, e as alpercatas sertanejas, de vários tipos e vários preços.

Ao olho frio das codaques interessa menos a multidão viva do que os restos mortais em exposição. E, entre estes, os do casal Lampião e Maria Bonita são os mais insistentemente forçados. Sobretudo o primeiro.

O espetáculo é inédito: cumpre eternizá-lo, em flagrantes expressivos. Um dos repórteres posa espetacularmente para o retratista, segurando pelas l=melenas desgrenhadas os restos de Lampião. Original. Um furo para "A Noite Ilustrada".

Lembro-me então do comentário que ouço desde as primeiras horas deste sábado festivo: -"Agora todo o mundo quer ver Lampião, quer tirar retrato dele, quer pegar na cabeça...Agora..."

Há, com efeito, indivíduos que desejam tocar, que quase cheiram a cabeça, como ansiosos de confirmação, por outros sentidos, da realidade oferecida pela vista.

Desce a noite, imperceptível. A afluência é cada vez maior. Pessoas do interior do município e de vários municípios próximos, de Alagoas e Pernambuco, esperavam desde sexta-feira esses momentos de vibração. Os dois hotéis da cidade, literalmente entupidos Cheias as residências particulares - do juiz de direito, do prefeito, do promotor, de amigos dessas autoridades. Para muitos, o meio da rua.

Entre a massa rumorosa e densa não consigo descobrir uma só fisionomia que se contraia de horror, boca donde saía uma expressão, ainda que vaga, de espanto. Nada. Mocinhas franzinas, romanescas, acostumadas talvez a ensopar lenços com as desgraças dos romances cor-de-rosas, assistem à cena com uma calma de cirurgião calejado no ofício. Crianças erguidas nos braços maternos espicham o pescoço buscando romper a onda de cabeças vivas e deliciar os olhos castos na contemplação das cabeças mortas.

E as mães apontam:

- É ali, meu filho. Está vendo?

Alguns trocam impressões;

- Eu pensava que ficasse nervoso. Mas é tolice. Não tem que ver uma porção de máscaras.

- É isso mesmo.

Os últimos foguetes estrugem nos ares. Há discursos. Falam militares, inclusive o chefe da tropa vitoriosa em Angico. Evoca-se a dura vida das caatingas, em rápidas e rudes pinceladas. O deserto. As noites ermas, escuras, que os soldados às vezes iluminam e povoam com as histórias de amor por eles sonhadas - apenas sonhadas... Os passos cautelosos, mal seguros sobre os garranchos, para evitar denunciadores estalidos, quando há perigo iminente. Marchas batidas sob o sol de estio, em meio da caatinga enfezada e resseca, e da outra vegetação, mais escassa, que não raro brota da pedra e forma ilhotas verdes no pardo reinante: o mandacaru, a coroa-de-frade, a macambira, a palma, o rabo-de-bugio, facheiro, com o seu estranho feitio de candelabro. A contínua expectativa de ataque tirando o sono, aguçando os sentidos.

O sino toca a ave-maria. Dilui-se-lhe a voz no sussurro espesso da multidão curiosa, nos acentos fortes do orador, que, terminando, refere a vitória contra Lampião, irrecusavelmente comprovada pelas cabeças ali expostas.

Os braços da cruz da igrejinha recortam-se, negros, na claridade tíbia do luar; e na aragem que difunde as últimas vibrações morrediças do sino vem um cheiro mais ativo da decomposição dos restos humanos.

Todos vivem agora, como desde o começo do dia, para o prazer do espetáculo. As cabeças!

A noite fecha-se. Em horas assim, seriam menos ferozes os pensamentos de Lampião. O seu olhar se voltaria enternecido para Maria Bonita.

Que será feito dos corpos dissociados dessas cabeças? O rosto de Maria Bonita, esbranquiçado a trechos por lhe haver caído a epiderme, está sinistro.

Onde andará o corpo da amada de Lampião? A cara arrepiadora, que mal entrevejo à luz pobre do crescente, não me responde nada.

E Lampião? Sereno, grave, trágico. O olho cego, velado pela pálpebra, fita-me. (1938).

(*) Autor do mais importante dicionário da língua portuguesa publicado no Brasil neste século. Texto do livro esgotado "O chapéu de meu pai, editora Brasília, 1974.

Fonte: Diário Oficial -Estado de Pernambuco-Ano IX - Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço: Kydelmir Dantas

(** ) Fotos pescadas no Google

Do acervo do pesquisador do cangaço Voltaseca: 


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OPINIÃO LAMPIÃO ANALFABETO?!

O pesquisador e confrade Luiz Ruben compartilhou um recorte em que o jornalista e meu conterrâneo Ancelmo Gois, em sua coluna do Jornal do Commércio de Recife, edição de 16 de Dezembro de 2012, publicou a seguinte "nota":

Um conceito demasiado. Faltou especificar, completar o adjetivo com o termo "Funcional". Virgolino, mesmo limitado, sabia ler, "escrever" e contar. E não são as imagens que nos fazem duvidar ou acreditar em tal habilidade. São testemunhos de ex companheiros e até mesmo dos seus oponentes, disponíveis na literatura. 

Vejamos o que localizei no livro de memórias do tenente João Gomes de Lira, conterrâneo e inimigo de Lampião que tem um capitulo sobre o aludido assunto:
Apesar de sertanejo inculto, vivendo em meio atrasado, José Ferreira procurou dar aos filhos a educação básica. O menino Virgolino Ferreira, assim como os seus irmãos Antonio e Livino receberam os primeiros conhecimentos no ano de 1907.  
Residindo no Riacho São Domingos distrito do município de Vila Bella (Serra Talhada), enviou os três filhos mais velhos à casa do senhor Raimundo Gago, em Pitombeira, próxima a cidade de Vila Bella, afim de que os meninos frequentassem a escola pública do professor Auxêncio da Silva Viana... 1.
Os pesquisadores Antonio Amaury e Vera Ferreira em sua obra "De Virgolino a Lampião" ainda indicaram um outro professor chamado Justino de Nenéu 2

 Um outro autor bastante consultado, o pernambucano Frederico Bezerra Maciel, também dedicou um capitulo sobre este período. 

Os métodos pedagógicos que fizeram época foram de inegáveis resultados positivos: O sertanejo que se interessou, aprendeu a ler soletrando e cantando as 26 lições da famosa "Carta do ABC" de Landelino Rocha, que continha apenas 16 páginas. E da tabuada cantada ritmicamente em comum pela classe, com palmatória.
O professor Justino de Nenéu viera ensinar Virgolino e seus irmãos na casa da Fazenda Serra Vermelha, de Manuuel Ferreira de Lima bem perto da fazenda deles, a Ingazeira.3
 
 Reprodução 
Disponivel no www.minharuatemmemoria.ning.com

Voltando as memórias de Gomes de Lira:
Naquela ocasião, tinha Antonio Ferreira, doze anos, Livino, 11 anos e Virgolino, 9 anos de idade. Em 1910, estudaram na "Escola" particular do Professor Domingos Soriano, na Serra Vermelha. 
Entenda-se a escola aqui não como um espaço físico. As aulas eram dadas ao ar livre embaixo de Juazeiros e Quixabeiras. 
...Os alunos traziam de casa os banquinhos em que se sentavam para assistir às aulas à sombra das árvores. “O esforçado mestre não se furtava aos pedidos de pais residentes em outras fazendas das ribeiras adjacentes, os quais receberiam a rara oportunidade de poder proporcionar instrução aos filhos.
Hoje a escola Municipal de ensino fundamental e médio Domingos Soriano é um dos primeiros prédios públicos avistados pelos visitantes ao chegarem à Vila de Nazaré do Pico, distrito de Floresta em Pernambuco. 

Outra referencial: Lampião – Cangaço e Nordeste de Aglae Lima de Oliveira nos traz mais informações. 
Que o tempo de assistência com Domingos Soriano foi de apenas "90 dias". (Período em acordo com todos os depoentes).Que a mensalidade deste curso era de "dez tostões". Que o 'cabrinha' nunca havia levado os temidos bôlos ao ser testado em conhecimento de Tabuada e de algarismos romanos. E ainda sugere que o primeiro livro do qual Virgolino tenha explorado por completo foi o "Primeiro livro de leitura" de Felisberto de Carvalho4
 
 Reprodução
In: www.ler-e-escrever.blogspot.com.br

O objeto da foto comentada por Ancelmo não era mero enfeite, nem instrumento de abano. Pelo método de soletração de Landelino ou de Felisberto é fato que Virgolino aprendeu a ler. Mais tarde aplicaria seu conhecimento ao se deleitar com os jornais e revistas que chegaram até ele. 

Especialmente os que traziam manchetes sobre seus feitos. E, ainda que sem devida concordância, mas com uma caligrafia regular escreveu cartas. Hoje, documentos históricos preservados em museus e coleções particulares. Reproduções de alguns de seus escritos estão disponíveis em diversos livros e sites. 

Como esta carta abaixo, endereçada a um fazendeiro de nome Cantidiano Valgueiro dos Santos Barros, dono da propriedade Tabuleiro Comprido no município de Floresta, PE. Na carta, escrita na peculiar maneira de Lampião se expressar, ele pede a Cantidiano dois contos de réis, de forma extorsiva, a fim de serem evitados “prejuízos”.

Segundo o pesquisador Artur Carvalho, que utilizou os conhecimentos profissionais de um especialista em paleografia , a “tradução” é a seguinte;
“Ilmo. Sr Cantidiano Valgueiro,

Eu (ou “le”) faço esta para “vc” mandar-me dois “conto dereis”, isto sem falta, não tem menos, para “vc” saber se assinar em telegrama contra mim como “vc” se assinou em um com “Gome” Jurubeba. Eu ví e ainda hoje tenho ele. Sem mais, resposte logo para “envitar” muito prejuízo. Sem mais assunto.
Cap. Virgulino ferreira Lampião. [sic]” 5.
O pesquisador e colaborador Ivanildo Silveira teceu comentário em uma discussão anterior sobre este mesmo assunto:  
"O Rei Vesgo dominava, a grosso modo, o idioma pátrio, comunicando-se, de forma clara, precisa, apesar dos erros gramaticais que cometia. Inclusive, ás vezes, empregava pronomes de tratamentos de forma correta. A grafia de seus famosos bilhetes, era perfeitamente entendível".
E como vovó já dizia...  

"Estude meu fio, estude pra não ser que nem sua avó, que não sabe nem pegar numa caneta, que dirá assinar o nome, não faço um "O" com um copo"-----------------------------------------------------------------------------------------------
Fontes: 
[1] Lira. João Gomes deLampião, Memórias de um Soldado de Volantes 2006 (vol. 2) Companhia Editora de Pernambuco – CEPE. Recife/PE, 2007. PÁG20
[2] Vera Ferreira /Antonio AmauryDe Virgolino a Lampião, 1ª edição, Ideia Visual, São Paulo, 1999. PÁG. 52
[3] Maciel, Frederico Bezerra. - Lampião, seu tempo e seu reinado, | I : As origens : Por que Virgulino se tornou Lampião?  3ª Edição. Petrópolis, RJ : Vozes, 1992. PÁG. 90
[4] Oliveira, Aglae Lima de. Lampião – Cangaço e Nordeste. 3ª edição, O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 1970. PÁG 22.
[5]  Rostand Medeiros  - Uma carta de Lampião e a história do soldado volante que se tornou ambientalista. Disponível em: http://tokdehistoria.wordpress.com/2011/10/12/a-carta-de-lampiao-e-a-historia-do-soldado-volante-que-se-tornou-ambientalista/
 Att Kiko Monteiro

SE ENTREGA CORISCO


Publicado em 2 de dez de 2009
Trecho final do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol
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