Ele foi tido
como conterrâneo de Jesus e, por isso mesmo, um segundo enviado de Deus quando
chegou a Juazeiro do Norte, no Ceará, e se apresentou como o homem que nasceu
em Belém, na Terra Santa. O nome? Benjamin Abrahão. O sírio caiu nas graças do
religioso mais famoso do Nordeste, o Padre Cícero, e logo se tornou seu
secretário pessoal. Daí em diante, Abrahão se fez na vida. Pois, apesar de ter
sido considerado um santo, soube aproveitar as oportunidades para colocar em
prática as malandragens dos homens de carne e osso, chegando a ser fotógrafo
particular de Lampião para ganhar uns tostões.
Esse sírio –
chamado de turco pelos inimigos – chegou ao Brasil com 14 anos, em 1915. Veio
fugido das perseguições do Império Otomano pela qual passava a Síria, e da ação
sanguinária do general Jamal Pachá, que alistava jovens como Benjamin no
Exército. Foi morar com uns parentes distantes, os Elihimas, no Recife, que por
sua vez faziam a vida vendendo miudezas no comércio. Virou caixeiro-viajante e
começou a explorar a credulidade do povo: contava sua vida na Terra Santa e,
entre uma história e outra, vendia os produtos.
Depois de dois
anos perambulando pelo sertão, ele se deparou com um grupo de romeiros
indo a Juazeiro para receber a bênção de Padre Cícero. Decidiu se juntar a eles
e, quando chegou, o padre reconheceu Abrahão como diferente em meio a tantos
caboclos. Porque era um indivíduo branco, meio alourado e bem mais alto que a
média.
A beata
Mocinha (Joana Tertuliana de Jesus, secretária e tesoureira do padre Cícero) se
aproximou, a mando do padre, para saber de onde vinha o forasteiro. O sotaque
estrangeiro o denunciou e foi aclamado por todos quando disse que vinha da
Terra Santa. “Padre Cícero se dirige aos fiéis e diz: meus amiguinhos, Benjamin
que está aqui é conterrâneo de Jesus”, afirma o historiador Frederico
Pernambucano de Mello.
Bastaram 15
dias para Abrahão se converter e ser nomeado secretário pessoal do padre. A
beata Mocinha era chefe de uma ordem que tinha por objetivo arrecadar donativos
para mandar aos padres que cuidavam do Santo Sepulcro na Terra Santa. A
presença de Abrahão ali, então, era como uma purificação para a casa.
O sírio foi
esperto. Já no início, ele se declarou ourives e passou a cuidar das joias do
religioso. Não demorou a prosperar na vida: comprou ternos de casimira inglesa
e gravata de seda pura. Algumas testemunhas contavam que ele cuidava de joias
belíssimas que deviam ser de Padre Cícero.
Rua de
Juazeiro na década de 1920
Para Benjamim
Abraão, os anos de 1917 a 1934 – tempo em que viveu ao lado do padrinho – nunca
mais seriam os mesmos. Abrahão virou um homem da sociedade.A morte do Padre
Cícero, aos 90 anos, fez com que Benjamin caísse em desespero. O padre era o
ganha pão do sírio. Para salvar o bolso, então, ele filmou o enterro do padre
para a Aba film e, malandro, abriu as portas para depois oferecer à mesma Aba
film uma película (e fotos) de Lampião e de seu bando – já que desde 1930 o
jornal New York Times noticiava as muitas façanhas de Lampião.
Abrahão tinha,
estranhamente, uma credencial de jornalista quando chegou ao Brasil, escrita em
francês. Em certa ocasião conheceu o pioneiro do cinema no Brasil, Ademar
Albuquerque, que mais tarde criou a Aba Film. Conseguiu filmadora, tripé e uma
máquina fotográfica e foi atrás do grupo, pois já conhecia Lampião de uma
visita que o cangaceiro fez ao Padre Cícero em 1926, no Juazeiro.
Lampião não
apenas fez pose para a foto como chamou o bando de todo o Nordeste para se
reunir na filmagem. O resultado: Noventa fotos de qualidade
heterogênea e um filme de 35 mm (hoje restam 15 minutos dele na Cinemateca
Brasileira) em que Lampião é transformado em garoto propaganda da Bayer, que
patrocinou o filme. Alegremente agitado, ele diz na gravação que até Lampião
usacafiaspirina quando tem dor de cabeça...
Abraão morreu
em 1938, em Serra Talhada (PE), assassinado com quarenta e duas punhaladas, sem
que o crime jamais viesse a ser esclarecido, tanto na autoria como na
motivação, donde se especula ter sido mais uma das mortes arquitetadas pelo
Estado Novo uma vez que o sírio teve seus trabalhos apreendidos pela ditadura
de Getúlio Vargas, que nele viu um antagonista do regime. Mas também existe a
versão de que o fotógrafo sírio-libanês teria sido vítima de um ladrão, apesar
de com este nada de valor haver.
Fontes:
Benjamin
Abrahão, Entre Anjos e Cangaceiros. Frederico Pernambucano de Mello. Ed.
Escrituras. 352 páginas.
No passado, o
carro de boi, ao lado das tropas de burro e jumento, foram os principais
veículos de carga no sertão semiárido nordestino, principalmente, para o
transporte de carga pesada a longa distância.
Os tropeiros, com seus burros,
jumentos e as vezes, com cavalos, levavam em bruacas, surrões e caçuás
pendurados nos paus das cangalhas a produção das fazendas para as feiras
semanais das vilas e cidades sertanejas (arroz, feijão, milho, batata doce,
jerimum, farinha e goma de mandioca, rapadura e outros produtos).
As cargas pesadas e de maiores tamanhos, chegadas nos portos, vindas de outros Países em vapores (barcos), como moendas de moer cana-de-açúcar, máquinas de costura, tecidos, querosene, mármore, móveis, ferro, aço e outros materiais) eram transportadas em carro de boi.
O sal era levado da salina em grande
quantidade (cerca de 1.500 quilos) e a grande distância (por mais de 1.000
quilômetros ) em carro de boi, que às vezes, demorava meses para voltar à
fazenda de origem.
Dependendo do peso e das subidas e descidas existentes no
caminho, o carreiro, o guieiro e auxiliares utilizavam carro de boi fornido,
com mesa, cabeçalho e rodas grandes, com muitas juntas de bois (3, 4, e não
raro, 5 parelhas de bois mansos, ou seja, 6, 8 ou 10 bois).
Nas longas viagens,
que demoravam mais de um mês, eles levavam um eixo de miolo de aroeira já
pronto, como sobressalente, além de serrote, enxó, marreta, pua, formão e
outros apetrechos de carpintaria, para que pudessem consertar uma roda ou mesmo
fazer outra peça em plena viagem.
Os mantimentos (rapadura, queijo de
coalho, carne de charque, feijão de corda, paçoca de carne seca, farinha e
muitas cabaças d'água), panelas, binga (isqueiro rudimentar) ou fósforo, rede,
mudas de roupa, sabão, toalha e a espingarda e munições, para caçar e se
defender dos assaltantes, não podiam ser esquecidos. Este veículo simples
de duas rodas era também utilizado nas fazendas para o transporte de
madeira (estacas, mourões, lenha etc.), material de construção, produtos
alimentícios e mesmo para o transporte de passageiros da fazenda para a cidade.
O carro de boi foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses e foi
muito usado na época colonial, no império e na república, pois ainda hoje é
usado em algumas regiões do Nordeste e do Centro-Oeste. É um primitivo e tosco
meio de transporte de carga e de passageiros, confeccionado em vários tamanhos,
com diversos tipos de madeira, dependendo da região. O diâmetro das rodas e as
medidas da mesa ou lastro, determinam a dimensão das outras peças do carro de
boi.
O carapina especializado em fazer carro de boi tinha na memória as medidas
de todas as peças. O eixo tinha um formato característico, com 8 faces (
oitavado ) e era feito de madeira dura e resistente ( miolo de aroeira ou
baraúna ). A mesa, assoalho ou lastro era construído de pau-d'arco ou de
craibeira. As rodas eram de pau-d'arco, com aros de ferro e o cabeçalho ou
cambão, de pau-d'arco, aroeira ou angico. Os aros de ferro eram colocados nas
rodas, quente em brasa (incandescente) e depois resfriado com água, para se
contrair e ficar justo . Os fueiros, de pau-branco, sabiá ou pereiro.
A canga
era de madeira leve e resistente como o cedro, cumaru e as vezes de pau-d'arco.
O espaço reservado para cada boi na canga era limitado pelos canzis, em número
de quatro, sendo dois para cada pescoço. Os canzis atravessavam a canga na
vertical, de cima para baixo, de modo a formar o espaço para receber o pescoço
de cada boi, separadamente.
Nas parelhas de bois, um boi é unido ao outro pelas
pontas dos chifres, pois as pontas são furadas, para deixar passar a tira
de couro cru que vai amarrar um boi ao outro, formando a junta. A canga é
colocada nos pescoços dos bois da junta e presa ao cambão ou cabeçalho para
puxar o carro. O guieiro usa a vara do ferrão ( vara de madeira com cerca
de dois metros e meio de comprimento com o ferrão de ferro na
extremidade) para cutucar os bois.
O carro de boi emite um som característico
chamado gemido, canto ou lamento. O atrito do eixo com os mancais (chumaço e
cocão) das rodas produz este som característico que é ampliado pelas ocas das
rodas (dois orifícios circulares deixados em cada roda). O carreiro conduzia um
chifre de boi com azeite de carrapateira, para lubrificar o eixo e diminuir o
atrito e carvão vegetal em pó, para gerar o som característico do carro de boi.
Informação
do http://blogdomendesemendes.blogspot.com:
O
Museu do Sertão na "Fazenda Rancho Verde" em Mossoró não pertence a
nenhum órgão público, é de propriedade do seu
criador professor Benedito Vasconcelos Mendes.
Ao ser assassinado na Grota do Angico-SE, em 28/07/1938 pela volante policial
do então, Ten. João Bezerra, foi encontrado com o Rei do Cangaço, Patuás e
DIVERSAS ORAÇÕES, dentre elas: Oração da Pedra Cristalina; Oração de Nossa
Senhora de Monserrate; Oração Milagrosa do Santo Lenho, Oração para fechamento
de corpo, dentre outras, as quais estão no Inst. Hist. de Maceió... Vide,
abaixo, algumas delas.
Como se sabe, era rotineiro, logo de manhãzinha, LAMPIÃO e seus asseclas
rezarem com o intuito de se protegerem...
Amigos (as),
falar da morte de um fora – da – Lei, é uma coisa... Falar também de seus atos,
façanhas e etc., mesmo que ‘criadas’, é a mesma coisa. Pelo menos perante o
grande público.
No entanto,
falar das ações daqueles que tinha, antes de tudo, a farda que representa a
ordem e a honra de um Estado, é outra, e bem diferente. Mesmo tendo eles, agido
contra a “Lei” que representavam.
Em 13 de junho
de 1927, a cidade de Mossoró, RN, é ataca por uma horda de cangaceiros chefiada
pelo intrépido pernambucano do sítio Pedra, município de Vila Bela, no Leão do
Norte. O resultado da luta foi que o bando de cangaceiros, depois de mais de
uma hora de batalha, fugiu deixando um cangaceiro morto, o cabra conhecido como
“Colchete”, e outro gravemente ferido, o cangaceiro “Jararaca”, que
seria preso um dia depois, ou seja, no dia 14.
Atualmente, um
belíssimo prédio é muito visitado naquela metrópole por ser o Museu Municipal.
Anteriormente, na época do ataque, o prédio era a Cadeia Publica. Local onde o
prisioneiro, José Leite de Santana, ferido na altura do tórax e outro ferimento
na região glútea, mais precisamente na altura da articulação coxo-femural do
membro inferior direito ( o laudo médico, não especifica o lado do
membro, então, verificando um registro fotográfico, em que o prisioneiro
encontra-se sentado, notamos seu calcâneo direito um pouco erguido do solo,
deixando uma nítida impressão, que seria o mesmo estar traumatizado), é
‘alojado’ e medicado.
O cangaceiro
preso, não mostra nenhum receio perante seus captores e, muito a vontade,
depois de depor, concede uma entrevista ao jornalista Lauro da Escóssia. Nela,
não mede, nem dosa o que diz, relatando ‘acontecimentos’, ‘fatos’ e ‘nomes’ que
não poderiam ser proferidos para a população nordestina, e, por que não dizer,
brasileira.
Rapidamente
são tomadas as ‘devidas’ providências para que aquele ‘delator’, ficasse
calado, para sempre.
“(...)Morreu
porque sabia demasiado. Conhecia os meandros do banditismo profissional e as
complexas ramificações de mórbido sistema. O depoimento do canganceiro prestado
à polícia de Mossoró no dia 14 de junho – associado a entrevistas concedidas a
jornais em dias subseqüentes – revelou informações de fato comprometedoras. O
bandido pernambucano apontou coiteiros, protetores e financiadores das
extravagâncias criminosas de Lampião. Tornou notória a delinqüente conivência
de poderosos. Para policia não sobrou alternativa:
- Que seja
silenciado o falastrão!(...)”. ( “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE – A história
da grande jornada”, DANTAS, Sergio Augusto de Sousa. Pg 286, Cartgraf Gráfica
Editora. Natal, RN, 2005)
O cangaceiro,
nota, talvez tarde demais, que tinha ‘caído em areia movediça’. Vendo a foice
da morte escancarar-se diante de seus olhos, ainda tenta arranjar uma saída do
tão profundo e negro buraco que, tendo entrado espontaneamente, tinha que sair.
Pede ao carcereiro que “chame o Intendente Rodolfo Fernandes”. (FERNANDES, 197,
P. 103).
Como é lógico,
seu pedido não foi repassado para o Intendente.
Faltando uma
hora a findar-se a noite e começo da madrugada do dia 18 para o dia 19, em
frente a Cadeia Publica de Mossoró, um preso dorme profundamente quando, dois
carros com vários policiais estacionam bem em frente ao prédio.
Sem delongas o
preso é bruscamente acordado e escuta do policial que o acordou, que iriam para
a capital do Estado.
Nesse momento,
mais dois policias agarram o prisioneiro e, suspendendo-o o arrastam para fora
do prédio. Naquele alvoroço todo, o preso refere que estar com os pés descalços
e que, na cela, estão as suas alpercatas, que alguém pegue, pois não queria
chegar à Capital sem. Alguém, dentre a escolta, diz que, lá chegando, ele lhe
presentearia com um par novo.
Nesse momento,
experiente como era, José Leite de Santana, deve ter percebido que seu destino,
de maneira alguma, seria viajar para cidade de Natal, capital do Rio Grande do
Norte, mas, que faria outra “viagem”.
Segue o
automóvel pelas ruas desertas e silenciosas da cidade, dentro dele um
“condenado” sabedor de seu destino. Rodaram, evitando os maiores logradouros e
param diante daquele que seria, para sempre, o endereço do cangaceiro
“Jararaca’, o Cemitério Publico.
Sua escolta
era formada pelos “tenentes João Antunes, Laurentino de Morais e Abdon Nunes;
mais os sargentos João Laurentino Soares,Pedro Silvio de Morais e Eugênio
Rodrigues; mais os cabos Manoel e José Trajano; complentanto com os soldados
João Arcanjo e Militão Paulo” (BRITO, 1996)
“(...) Homero
Couto, o motorneiro, testemunhou ao escritor Raul Fernandes o início da
execução:
O soldado do
lado oposto, ( frise-se aqui, que ao descer um dos soldados puxar a perna
ferida do preso, arrancando do mesmo um urro de dor), desferi-lhe violenta
coronhada de fuzil na cabeça, sem dar-lhe tempo ao mais leve gesto de defesa.
Sucederam-se as pancadas. Tomavam proporções altíssimas, em meio ao silêncio da
noite. Parecia que socavam terra. (FERNADES, 1985, P 2110).
Série de
coronhadas caiu impiedosa sobre sua cabeça. Chegara a sua hora final. Encontrou
ainda breve fio de voz para desabafar aos algozes:
_ vocês querem
me matar, mas não vão me ver chorar de medo não! Nem pedir de mãos postas para
não me tirar a vida! Vocês vão ver como é que morre um cangaceiro!* (Ob. Ct.)
Quando a barra
do dia 19 vem formando-se o ‘Caso Jararaca’ está encerrado. Pelo menos para os
mandantes, como para os autores, seria “prego batido e ponta virada” aquele
assunto. No entanto, por mais que tente se esconder um crime é deixado alguma
pista.
“(...) A causa
atribuída à morte restou insofismavelmente escrita para a posteridade:
Projéteis de
arma de fogo. Um atingido a região glútea, ao nível da articulação coxo-femural
e, outro, alojado no tórax, no segundo espaço intercostal a dois dedos do
externo.
E assim foi.
Horas antes da execução e sob escuso pretexto de rotina, examinavam-se
ferimentos de um corpo, sofridos durante uma batalha.
Logo depois se
chancelava, com base em conclusões médico=legais, documento de óbito de homem
ainda vivo. ”(Ob. Ct.)
O Dr° Sérgio
Augusto de Souza Dantas, Juiz de Direito, em sua Obra Citada nessa matéria, em
sua pesquisa para formulação do trabalho científico metodológico, na página
288, em NOTAS, na de nº 11 cita, em seu segundo parágrafo: “A data da
realização do exame “cadavérico” de Jararaca é incontroversa.O documento – de indiscutível
fé pública – é iniciado na forma seguinte: “Aos dezoito dias do mês de junho de
mil novecentos e vinte e sete, nesta cidade de Mossoró, Estado do Rio Grande do
Norte, pelas quatro horas da tarde, no edifício da cadeia Pública desta
cidade”. Como resposta à pergunta número 2 do laudo – a qual versava
sobre o motivo que originou a morte do examinando – a explicação dos
peritos foi incontroversa: “Projétil de arma de fogo”. Não há, pois, como
contestar o seu conteúdo.E nem indícios de uma trama para sua execução.”
* Em nota, o
autor da Ob. Ct. frisa: “Há dissenso quanto às últimas palavras de
Jararaca, mas o sentido final é o mesmo em toda as versões
existentes”.
Fonte de
pesquisa:
O Mossoroense
“LAMPIÃO E O
RIO GRANDE DO NORTE – A história da grande jornada”, DANTAS, Sergio Augusto de
Sousa. Cartgraf Gráfica Editora. Natal, RN, 2005
Fotos:
“LAMPIÃO E O
RIO GRANDE DO NORTE – A história da grande jornada”, DANTAS, Sergio Augusto de
Sousa. Pgs 442,443 e 444. Cartgraf Gráfica Editora. Natal, RN, 2005.
PS// FAVOR
CITAR A FONTE AO USAR A MATÉRIA OU AS FOTOGRAFIAS.
Essa
fotografia foi localizada pelo pesquisador/escritor Alcino Alves Costa (in
memorian) da cidade de Poço Redondo/SE, sendo a única imagem que se tem
conhecimento da ex cangaceira Enedina em vida.
Enedina era
casada com Zé de Julião “Cajazeira” e após o ingresso deste no cangaço, passou
a acompanha-lo, permanecendo ao lado do marido até o dia de sua morte ocorrida
em 28 de julho de 1938, ocasião em que foram mortos Lampião, Maria Bonita e
outros oito companheiros.
A outra
fotografia de Enedina que temos conhecimento é a de sua cabeça decepada ao lado
das cabeças de seus demais companheiros de cangaço, mortos em Angico.
Fonte: facebook
Página: Geraldo
Antônio de Souza Júnior (Administrador)
Como aconteciam os namoros no sertão de outrora. Suas regras, limitações e como se “adiantavam os papéis” com honra, decoro e respeito.
Autor – Rostand Medeiros
No antigo sertão potiguar, tal como hoje, as pessoas mantinham em suas existências uma tradicional preocupação com o medo das secas e a sempre renovada esperança das chuvas. Mas também era uma época onde a maioria da população sobrevivia com poucas possibilidades de ascensão financeira, em meio a uma intensa cobrança em relação aos costumes sociais.
Segundo apontam aqueles que conhecem a história do sertão potiguar, nas relações humanas no passado, o namoro era antes de tudo um tórrido drama com pinceladas de comédia e extrema teatralidade.
Namoro Tradicional
A coisa toda começava com olhares rápidos e gestos extremamente controlados. E o olhar nestes casos era direto nos olhos. Quase sempre discreto e fugidio. Além do mais, se o pretendente “escorregasse” as íris para outras partes do corpo da pretensa amada, isso poderia gerar vários e sérios problemas!
Já o tocar-se, sentir a pele e o calor da pessoa que se desejava era algo infinitamente mais complicado. Tudo poderia, por exemplo, começar com um discreto e pequeno toque entre as mãos dos pretendentes, na hora de receber a hóstia, em uma missa dominical na matriz da cidade.
Vale frisar que para aqueles jovens, na maioria das vezes, bastava essa simples troca de olhares, esse leve encontro das mãos, para que em seus corações e mentes existisse a certeza que eles estavam concretamente “namorando”.
Em muitos casos, principalmente quando havia forte afinidade entre as famílias envolvidas, a relação evoluía para rápidos, esquivos, inocentes e emocionantes encontros furtivos em festas de padroeiro, casamentos de amigos e contatos rápidos nas esquinas.
Mesmo com a anuência de ambas as famílias sobre aquela relação, não significava que “os bons costumes, o decoro e o recato”, sempre exigidos para uma moça de família e um rapaz de origem tradicional, fossem quebrados com coisas como abraços apertados, mãos passando pelos corpos e languidos beijos de boca.
Muitas vezes, para aliviar paixões sempre avassaladoras, os futuros nubentes eram forçados a recorrer a cartinhas e bilhetinhos levados pelas tradicionais “comadres”. Onde não faltavam segredos temperados de ciúmes e dúvidas atrozes, que assoberbavam principalmente os amargurados dias do amoroso sujeito.
Quando a família da futura noiva aceitava a presença do possível pretendente, mesmo ele sendo filho de uma família amiga e tradicional do burgo, acontecia toda uma série de formas de condutas e gestos, onde o rapaz era milimetricamente analisado em tudo que fazia.
Mas, para muitos destes jovens, está na casa da dita “namorada”, mesmo que cercado por pares de olhos extremamente atentos era algo que lhe causava uma intensa emoção.
Se um dia fosse convidado a sentar-se na sala de visitas, quando no interior do sacrossanto recinto, após cruzar a incrível linha divisória do portão de entrada da casa da amada, este era capaz de sofrer vertigens.
Para está neste local o garboso rapaz via-se obrigado a redobrados cuidados com a indumentária, com o lustro dos sapatos, o asseio do chapéu e outras coisas que o deixavam com boa aparência.
A nova situação exigia cuidados, delicadezas e rapapés. Dizem que normalmente o futuro sogro pouco aparecia. Somente a futura sogra estava presente.
Se esta fosse uma mulher tranquila e o pretende abastardo, talvez o que não faltasse no rosto da futura sogra fossem sorrisos. Nesta situação poderia surgir uma fatia de bolo e um copo de suco.
Sempre a conversa era amena, cerimoniosa, em meio a intensos desejos contidos. A pesada solenidade do momento somente era quebrada quando, por exemplo, a futura sogra colocava a jovem para tocar algum tipo de instrumento musical e assim mostrar as prendas da filha. Se as qualidades musicais da garota fossem sofríveis, o tormento era magnificamente suportado por quem andava doido para ouvir outro tipo de música.
Podemos dizer que, com algumas variações sobre o tema, muitos relacionamentos duradouros nasceram desta forma. Mas vale frisar que neste artigo comentamos até agora sobre namoros consentidos entre jovens de famílias que se conheciam e mantinha relações.
E quando o par de querubins desejavam a união, mas a família da noiva não consentia o namoro em hipótese alguma?
“Bulir”
Bem, nestes casos o jovem e impetuoso rapaz poderia chegar um dia na casa da amada, fazer a jovem passar a perna por cima do lombo de um burro, ou de um cavalo, e levar a moça para algum lugar escondido e ermo, onde a relação seria na prática consumada. Quando acontecia essa consumação, se dizia no sertão que o rapaz “buliu” com a garota!
O problema é que este tipo de atitude quase sempre gerava toda uma sorte de problemas e poderia fazer muito mal a saúde do garboso rapaz!
Começa que se a família da jovem fosse formada de uma falange de homens “dispostos”, que não se inquietavam diante da “cor e do cheiro do sangue”, caso o enamorado não assumisse os erros cometidos certamente seria morto.
Isso quando a família da jovem tinha alguma pretensa ideia de fazer o casamento, se não o pobre rapaz era simplesmente eliminado!
Mesmo que a família da garota não possuísse no seu seio homens dessa natureza, mas tivessem condições financeiras, o que não faltavam nos sertões de antanho eram “cabras” dispostos a ir buscar o jovem enamorado (ou matá-lo) onde ele estivesse. Nem que fosse “no oco do mundo”. Além do mais estes homens que perseguiam e matavam os rapazes que raptavam (e “buliam”) com as meninas de família, estavam realizando uma tarefa plenamente aceita pela sociedade sertaneja do passado.
Mas existiu uma forma de consumação de uma relação entre dois jovens no sertão potiguar que é extremamente singular e hoje quase totalmente desconhecida – O “Roubar a noiva”.
Ao invés de explicar de forma pormenorizada, decidi trazer aos leitores do TOK DE HISTÓRIA um material que é fruto de uma entrevista que fiz com um homem do Seridó Potiguar, de família tradicional, nascido na década de 1920, muito lúcido, com quem tive a oportunidade de conversar em 2014 sobre as antigas relações do sertão de outrora.
Por razões outras esta pessoa pediu anonimato para narrar esta interessante história e que descrevesse os personagens aqui envolvidos com nomes fictícios.
“Roubar a Noiva”
Estamos nos primeiros anos da década de 1920, em uma antiga e tradicional cidade da região do Seridó Potiguar. Os jovens Zito e Mariazinha começaram a trocar sinais típicos dos enamorados daquela época, onde a praxe exigia que tudo fosse com muito recato, discrição, em razão das convenções sociais daquele tempo e o medo da reação da mãe da jovem seridoense.
Eles agora eram namorados, mas em sua pequena urbe apenas os amigos mais próximos sabiam o que ocorria. Era uma relação onde o que mais existia eram olhares, sorrisos, quando possível algum diálogo e raramente algum tipo de contato físico.
Logo Zito soube que a sua pretensa futura sogra não admitiu qualquer ideia de um namoro entre ele e Mariazinha. Para Dona Carminha aquela troca de olhares e sorrisos não poderia continuar.
Mas esta situação, ao invés de demover o rapaz da sua intenção, o fez ver que só fugindo com a sua amada eles conseguiriam a união que desejavam.
Logo surgiu a melhor ocasião para realizar a fuga; durante a festa do padroeiro da igreja mais nova do lugar. A cidade estaria com uma movimentação bem maior que era normal, com a presença de muitas pessoas de outras localidades circulando na praça principal entre as barracas e na procissão.
Como era o costume da época para esses casos, Zito então convocou os seus amigos mais próximos para lhe ajudarem na fuga de Mariazinha. Já a noiva foi informada das intenções de seu amado e aceitou o pedido para fugir. Através de amigas ela soube que deveria se encontrar em sua casa, em dia combinado, aguardando um sinal determinado, em hora especificada e só então ela poderia deixar o lar paterno.
A tradição deste ato para forçar um casamento, hoje praticamente extinto, mostrava que a ajuda dos amigos era tanto para ajudar Zito a tirar Mariazinha de casa, mas também para garantir, sob o peso de se tornarem conhecidos como mentirosos e sem honra, que o rapaz não “buliu” com a sua amada.
Em uma época onde não existia a televisão para ditar os horários caseiros e as pessoas jantavam por volta das cinco da tarde, Zito e seus amigos deixaram a comida de lado e, em uma área fora da cidade, se dedicaram a equipar seus vistosos alazões com arreios e selas. Era uma precaução para o caso da fuga de Mariazinha deixar de ser uma ação discreta e a velocidade das alimárias se tornar um fator preponderante para o sucesso da importante empreitada.
Às seis horas, na hora popularmente denominada “Boca da noite”, a comitiva entrou na pequena cidade seridoense na maior discrição. Devido à festa, não era incomum a presença de grupos de cavaleiros vindos dos sítios e localidades próximas. Para quem visse aquele grupo de rapazes montados, com Zito à frente, teria a ideia que eram apenas mais alguns jovens que vinham aproveitar os festejos do padroeiro.
Logo os cavaleiros chegaram ao sobrado do pai da moça, conhecido como Pedro Estevão, e o sinal previamente combinado foi emitido. Mariazinha, entre assustada e decidida, saiu de casa e montou na sela do cavalo de Zito. Naquele momento em que ela abraçou seu amado sobre a sela do seu cavalo, foi o instante em que até então seus corpos chegaram mais próximos um do outro!
Depois deram a volta no quarteirão e, na maior tranquilidade, Zito deixou a garota na casa do comerciante Romulo de Antônio Moreira, um amigo do seu pai. Este, junto com a sua esposa Santinha, seriam as pessoas que guardariam a jovem Mariazinha até o dia do casório.
Romulo Moreira foi então à casa de Pedro Estevão e Dona Carminha para comunicar formalmente que Zito havia “furtado” Mariazinha e que ela estava na sua casa, resguardada, protegida, que agora ela era noiva e de lá só iria sair para casar.
Para os pais da moça aquele comunicado, feito por um próspero comerciante da localidade, era a certeza que aquilo era um fato consumado. Pedro Estevão e seus familiares não iriam tirar Mariazinha à força da casa de Raimundo, sob o peso de quebrar uma tradição secular no Seridó e iniciar uma intriga duradoura.
Agora o fato estava consumado e os preparativos do casamento tiveram início.
E, como não poderia deixar de faltar neste tipo de história, os dois foram felizes para sempre!
Modernagem
Ao logo das décadas o mundo mudou, os costumes foram alterados e as relações entre os jovens no sertão seguiu o mesmo caminho. O namorar deixou de ser salada de maneirismos e salamaleques, sustos e emoções.
O namoro sofreu profunda modificação de sentido e assumiu uma importância jamais imaginada nos relacionamentos do passado. Adquiriu diversos sentidos e proporções capazes de se confundir com a união estável, que se formaliza ainda que os envolvidos não vivam sob o mesmo teto.
E não vamos esquecer o “ficar” (com exclusividade ou sem ela)!
Informação
do http://blogdomendesemendes.blogspot.com:
O
Museu do Sertão na "Fazenda Rancho Verde" em Mossoró não pertence a
nenhum órgão público, é de propriedade do seu
criador professor Benedito Vasconcelos Mendes.
Eu sou uma pessoa que sempre acreditei na democratização da informação histórica. A ideia de uma sociedade mais justa, no meu entendimento, passa por esta questão. Pode ser bobagem, mas acredito nisso!
Neste sentido, quero presentear os leitores deste nosso simples blog com algumas matérias sobre o tema cangaço, publicadas no periódico DIÁRIO DE PERNAMBUCO”, de 1937.
Quero publicar, pois acho que existe muita gente interessada no tema e muito picareta se arvorando de pesquisador e “rastejador da história”.
O problema é que o tema cangaço abre espaço para isso, pois muito do que se tem é pura tradição oral.
Mas vamos para as notícias.
As primeiras tratam da libertação do ex-cangaceiro Antônio Silvino. Já velho e fatigado, Silvino deixava a Casa de Detenção de Recife para uma vida onde iria gozar a liberdade.
O mesmo Silvino que nas suas andanças pelo sertão, um dia esteve na fazenda Ramada, onde veio pedir dinheiro para meu bisavô, Joaquim Paulino de Medeiros, o conhecido coronel Quincó. Este lhe deu alguns “cobres” para que seguisse adiante e deixasse sua propriedade em paz. Uma vez contei isso a um pesquisador do tema, mas ele não acreditou. Me pediu uma “comprovação escrita” do fato!
Mas voltando a Silvino, este veio a falecer em Campina Grande, em 1944. Minha avó, Benícia Jacob de Medeiros, o viu nesta progressista cidade paraibana. Dizia que era “alto”!
Bem, a segunda parte deste material mostra o cangaceiro maior do Brasil, Lampião. Este material é o mesmo que o libanês Benjamim Abrahão conseguiu indo no meio do mato atrás do “Rei do Cangaço”, sua Maria Bonita e toda trupe. A ideia do gringo era filmar e fotografia estes Guerreiros do Sol e ganhar uma grana junto com um empresário cearense.