Por Sálvio
Siqueira
Amigos (as),
falar da morte de um fora – da – Lei, é uma coisa... Falar também de seus atos,
façanhas e etc., mesmo que ‘criadas’, é a mesma coisa. Pelo menos perante o
grande público.
No entanto,
falar das ações daqueles que tinha, antes de tudo, a farda que representa a
ordem e a honra de um Estado, é outra, e bem diferente. Mesmo tendo eles, agido
contra a “Lei” que representavam.
Em 13 de junho
de 1927, a cidade de Mossoró, RN, é ataca por uma horda de cangaceiros chefiada
pelo intrépido pernambucano do sítio Pedra, município de Vila Bela, no Leão do
Norte. O resultado da luta foi que o bando de cangaceiros, depois de mais de
uma hora de batalha, fugiu deixando um cangaceiro morto, o cabra conhecido como
“Colchete”, e outro gravemente ferido, o cangaceiro “Jararaca”, que
seria preso um dia depois, ou seja, no dia 14.
Atualmente, um
belíssimo prédio é muito visitado naquela metrópole por ser o Museu Municipal.
Anteriormente, na época do ataque, o prédio era a Cadeia Publica. Local onde o
prisioneiro, José Leite de Santana, ferido na altura do tórax e outro ferimento
na região glútea, mais precisamente na altura da articulação coxo-femural do
membro inferior direito ( o laudo médico, não especifica o lado do
membro, então, verificando um registro fotográfico, em que o prisioneiro
encontra-se sentado, notamos seu calcâneo direito um pouco erguido do solo,
deixando uma nítida impressão, que seria o mesmo estar traumatizado), é
‘alojado’ e medicado.
O cangaceiro
preso, não mostra nenhum receio perante seus captores e, muito a vontade,
depois de depor, concede uma entrevista ao jornalista Lauro da Escóssia. Nela,
não mede, nem dosa o que diz, relatando ‘acontecimentos’, ‘fatos’ e ‘nomes’ que
não poderiam ser proferidos para a população nordestina, e, por que não dizer,
brasileira.
Rapidamente
são tomadas as ‘devidas’ providências para que aquele ‘delator’, ficasse
calado, para sempre.
“(...)Morreu
porque sabia demasiado. Conhecia os meandros do banditismo profissional e as
complexas ramificações de mórbido sistema. O depoimento do canganceiro prestado
à polícia de Mossoró no dia 14 de junho – associado a entrevistas concedidas a
jornais em dias subseqüentes – revelou informações de fato comprometedoras. O
bandido pernambucano apontou coiteiros, protetores e financiadores das
extravagâncias criminosas de Lampião. Tornou notória a delinqüente conivência
de poderosos. Para policia não sobrou alternativa:
- Que seja
silenciado o falastrão!(...)”. ( “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE – A história
da grande jornada”, DANTAS, Sergio Augusto de Sousa. Pg 286, Cartgraf Gráfica
Editora. Natal, RN, 2005)
O cangaceiro,
nota, talvez tarde demais, que tinha ‘caído em areia movediça’. Vendo a foice
da morte escancarar-se diante de seus olhos, ainda tenta arranjar uma saída do
tão profundo e negro buraco que, tendo entrado espontaneamente, tinha que sair.
Pede ao carcereiro que “chame o Intendente Rodolfo Fernandes”. (FERNANDES, 197,
P. 103).
Como é lógico,
seu pedido não foi repassado para o Intendente.
Faltando uma
hora a findar-se a noite e começo da madrugada do dia 18 para o dia 19, em
frente a Cadeia Publica de Mossoró, um preso dorme profundamente quando, dois
carros com vários policiais estacionam bem em frente ao prédio.
Sem delongas o
preso é bruscamente acordado e escuta do policial que o acordou, que iriam para
a capital do Estado.
Nesse momento,
mais dois policias agarram o prisioneiro e, suspendendo-o o arrastam para fora
do prédio. Naquele alvoroço todo, o preso refere que estar com os pés descalços
e que, na cela, estão as suas alpercatas, que alguém pegue, pois não queria
chegar à Capital sem. Alguém, dentre a escolta, diz que, lá chegando, ele lhe
presentearia com um par novo.
Nesse momento,
experiente como era, José Leite de Santana, deve ter percebido que seu destino,
de maneira alguma, seria viajar para cidade de Natal, capital do Rio Grande do
Norte, mas, que faria outra “viagem”.
Segue o
automóvel pelas ruas desertas e silenciosas da cidade, dentro dele um
“condenado” sabedor de seu destino. Rodaram, evitando os maiores logradouros e
param diante daquele que seria, para sempre, o endereço do cangaceiro
“Jararaca’, o Cemitério Publico.
Sua escolta
era formada pelos “tenentes João Antunes, Laurentino de Morais e Abdon Nunes;
mais os sargentos João Laurentino Soares,Pedro Silvio de Morais e Eugênio
Rodrigues; mais os cabos Manoel e José Trajano; complentanto com os soldados
João Arcanjo e Militão Paulo” (BRITO, 1996)
“(...) Homero
Couto, o motorneiro, testemunhou ao escritor Raul Fernandes o início da
execução:
O soldado do
lado oposto, ( frise-se aqui, que ao descer um dos soldados puxar a perna
ferida do preso, arrancando do mesmo um urro de dor), desferi-lhe violenta
coronhada de fuzil na cabeça, sem dar-lhe tempo ao mais leve gesto de defesa.
Sucederam-se as pancadas. Tomavam proporções altíssimas, em meio ao silêncio da
noite. Parecia que socavam terra. (FERNADES, 1985, P 2110).
Série de
coronhadas caiu impiedosa sobre sua cabeça. Chegara a sua hora final. Encontrou
ainda breve fio de voz para desabafar aos algozes:
_ vocês querem
me matar, mas não vão me ver chorar de medo não! Nem pedir de mãos postas para
não me tirar a vida! Vocês vão ver como é que morre um cangaceiro!* (Ob. Ct.)
Quando a barra
do dia 19 vem formando-se o ‘Caso Jararaca’ está encerrado. Pelo menos para os
mandantes, como para os autores, seria “prego batido e ponta virada” aquele
assunto. No entanto, por mais que tente se esconder um crime é deixado alguma
pista.
“(...) A causa
atribuída à morte restou insofismavelmente escrita para a posteridade:
Projéteis de
arma de fogo. Um atingido a região glútea, ao nível da articulação coxo-femural
e, outro, alojado no tórax, no segundo espaço intercostal a dois dedos do
externo.
E assim foi.
Horas antes da execução e sob escuso pretexto de rotina, examinavam-se
ferimentos de um corpo, sofridos durante uma batalha.
Logo depois se
chancelava, com base em conclusões médico=legais, documento de óbito de homem
ainda vivo. ”(Ob. Ct.)
O Dr° Sérgio
Augusto de Souza Dantas, Juiz de Direito, em sua Obra Citada nessa matéria, em
sua pesquisa para formulação do trabalho científico metodológico, na página
288, em NOTAS, na de nº 11 cita, em seu segundo parágrafo: “A data da
realização do exame “cadavérico” de Jararaca é incontroversa.O documento – de indiscutível
fé pública – é iniciado na forma seguinte: “Aos dezoito dias do mês de junho de
mil novecentos e vinte e sete, nesta cidade de Mossoró, Estado do Rio Grande do
Norte, pelas quatro horas da tarde, no edifício da cadeia Pública desta
cidade”. Como resposta à pergunta número 2 do laudo – a qual versava
sobre o motivo que originou a morte do examinando – a explicação dos
peritos foi incontroversa: “Projétil de arma de fogo”. Não há, pois, como
contestar o seu conteúdo.E nem indícios de uma trama para sua execução.”
* Em nota, o
autor da Ob. Ct. frisa: “Há dissenso quanto às últimas palavras de
Jararaca, mas o sentido final é o mesmo em toda as versões
existentes”.
Fonte de
pesquisa:
O Mossoroense
“LAMPIÃO E O
RIO GRANDE DO NORTE – A história da grande jornada”, DANTAS, Sergio Augusto de
Sousa. Cartgraf Gráfica Editora. Natal, RN, 2005
Fotos:
“LAMPIÃO E O
RIO GRANDE DO NORTE – A história da grande jornada”, DANTAS, Sergio Augusto de
Sousa. Pgs 442,443 e 444. Cartgraf Gráfica Editora. Natal, RN, 2005.
PS// FAVOR
CITAR A FONTE AO USAR A MATÉRIA OU AS FOTOGRAFIAS.
http://oficiodasespingardas.blogspot.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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