Muitos foram
os motivos daqueles, e daquelas, sertanejos (as), nordestinos (as), que fizeram
parte do cangaço. Causas? Seria necessário um livro exclusivamente só para
tentar mostrar a causa, razão, de cada uma das personagens.
Falaremos de uma das personagens que teve um motivo sublime, especial a nosso
ver, que foi a paixão, o amor por um dos que lá, nas trilhas sangrentas, há
muito vivia.
No município,
hoje, de Paulo Afonso, BA, havia umas terras que receberam o nome de Arrasta-pé. Nessas, um casal seguia o que o Livro Sagrado determina, “crescei e
multiplicai-vos”. Trata-se do casal Pedro Gomes de Sá e de dona Santina Gomes
de Sá.
Os
pais da cangaceira Durvinha - Durvalina Gomes de Sá
O velho Pedro
Gomes escolhe um local especial para construir sua morada. Ela ficava em um
ponto de onde se podia observar todo o vale. Estrategicamente fora, acreditamos
ali erguida o seu lar, para que nas tardes em que estivesse em casa, poder,
junto à sua amada, vislumbrarem o magnífico panorama que o bioma da caatinga
contém.
Alguns
os chamam de "tanques", outros de "pias", e outros ainda de
"caldeirões".
Além de em seu derredor existirem vários ‘tanques’ naturais na pedra
bruta onde se acumulava o líquido mais precioso do Sertão na estação chuvosa,
para ser usado na época da estiagem.
Escombros
da casa dos pais de Durvinha - queimada pela volante do tenente Douradinho
Dentre seus
filhos, aos 15 dias do mês de dezembro do ano de 1915, nasce à bela Durvalina
Gomes de Sá.
Como toda criança sertaneja, sua infância foi curta. Não havia naqueles lugares
muito para fazer a não ser começar cedo no ‘batente’. Os filhos, logo seguiam o
pai para a lida dos roçados, cuidar de animais e etc... Já as meninas, desde
muito pequeninas, seguiam a mãe nas lidas domésticas. Os pais tinham obrigação
de ensinarem aos filhos o uso da foice, do machado, da enxada e de como lidar
com reses, animais e criações, além de como se portar quando estivessem prontos
para seguirem suas vidas independentes. Já as mães, obrigatoriamente, tinham a
responsabilidade de ensinar as filhas os afazeres da casa, preparando-as para
ser uma espécie de servientes aos maridos, quando a hora chegasse, e, se por
ventura, a ‘coisa’ desanda-se, a mãe era responsabilizada pelo resta da vida.
Assim, mais ou
menos, era a criação de uma família de tempos não tão longínquos idos, nas
quebradas dos sertões nordestino.
A vida naquela fazenda não era tão monótona como também, alguns, devam estar
imaginando. Pelo contrário. O pai de Durvalina sempre fazia tremendas festas em
sua casa, tanto que o nome de onde moravam lembra uma dança sempre dançada nos
forrós sertanejos “Arrasta-pé”.
Normalmente, a
adolescente ao completar 15 anos de idade, seus pais fazem uma festa
comemorativa que ficará para sempre em suas lembranças. Para Durvalina, o
‘presente’ não veio dos pais, mas de um acaso da vida. Ela, já bastante
participativa das festas que o pai promovia, conhecia todos os garotos da sua
idade naquela ribeira, até mesmo ensaia um namorico com um deles. Porém, parece
nenhum ter-lhe tocado o coração.
A fazenda
Arrasta-pé, dos pais de Durvalina, tornou-se uma passagem obrigatória do bando
de cangaceiros chefiados por Lampião, pela sua aproximação, quase limítrofe, do
Raso da Catarina. A cabroeira ia e vinha sempre parando para resolverem alguma
coisa entre Lampião e o velho Pedro Gomes, até o mesmo tornasse um coiteiro do
chefe cangaceiro.
Pois bem,
dentre os vários cangaceiros que faziam parte da caterva de Lampião, teve um
que chamou, em demasia, a atenção da jovem menina. Era um cabra vistoso, alto,
forte e sempre andava nos conformes. Passando a prestar mais atenção, nota como
ele é elegante e a trata como nunca outro a tratou, isso na prática e nos
sonhos "imagináveis" sonhados por todo adolescente. Pronto, cupido
fez mais uma das suas, e o seu primeiro amor ‘destaboca’ com uma paixão até
mesmo insana, como são as paixões, com a força e o calor de um vulcão em
erupção.
O cangaceiro Moderno - Virgínio Fortunato da Silva
O cangaceiro
Moderno Virgínio Fortunato da Silva antes de torna-se um cangaceiro, fora
casado com uma filha de José Ferreira chamada Angélica Ferreira, sendo a irmã
mais velha de Lampião. Quando da ida da família Ferreira para a terra de Padim
Ciço, Juazeiro do Norte, CE, já tendo os pais de Lampião falecido em terras
alagoanas, Angélica engravida. Historiadores pouco relatam sobre essa gravidez,
assim como, nada ou quase nada, citam sobre a sua prematura morte. Pelo pouco
que lemos, tem-se a impressão que a causa mortis fora de problemas no
puerpério, fase muito crítica no pós-parto, principalmente se ocorreram
problemas na gestação, coisa que também não fora ‘explorado’ pelos
pesquisadores.
IDENTIDADES:
1- Zé Paulo, primo; 2 -Venâncio Ferreira (tio); 3 - Sebastião Paulo, primo; 4 -
Ezequiel, irmão; 5 João Ferreira, irmão; 6 -Pedro Queiroz, cunhado (casado com
Maria Mocinha, que está à sua frente, sentada); 7- Francisco Paulo, primo; 8-
Virgínio Fortunato da Silva, cunhado (casado com Angélica) 9 - ZÉ DANDÃO,
agregado da família. SENTADOS, da esquerda para direita: 10 - Antônio,
irmão; 11-Anália, irmã; 12 - Joaninha, cunhada (casada com João
Ferreira); 13 -Maria Mocinha, ou Maria Queiroz, irmã; 14-Angélica,
irmã e 15 - Lampião. Dos
nove irmãos da família Ferreira, dois estão ausentes nesta foto: LEVINO, que
morrera no ano anterior, 1925, no sítio Tenório, Flores do Pajeú/PE, em combate
contra as volantes paraibanas dos sargentos Zé Guedes e Cícero Oliveira. E
VIRTUOSA, que, sinceramente, não sei dizer se simplesmente não quis aparecer na
foto, ou já era falecida.
Virgínio contam os historiadores, nascera em 1903, em terras do Estado do Rio Grande do
Norte. Muitos deles, escritores, não citam o lugar exato em que nascera, por
isso, não citaremos também. Fortunato fica viúvo em 1926. Quando do mandato de
prisão, através de Carta Precatória das autoridades pernambucanas, para todos
da família Ferreira que em Juazeiro estava, o sargento que fez a escolta dos
membros da mesma, revela aos mesmos que havia um plano, e, portanto, uma
‘ordem’ para que todos fossem assassinados. Tendo aberto o jogo, em vez de
procurar matá-los, o sargento prontifica-se em dar-lhes proteção até os limites
em que poderia atuar. Não gostando desse rumo dos acontecimentos, Virgínio,
junto com o irmão mais novo de Virgolino, Ezequiel Ferreira, resolvem não irem
presos para Vila Bela, PE, e caem nos matos catingueiros até chegarem onde se
encontrava o “Rei dos Cangaceiros”, e entram para o cangaço, ficando
conhecidos, a partir desse momento, Virgínio como “Moderno” e Ezequiel como
“Ponto Fino”.
Em 1930, já
com quatro longos anos como cangaceiro, Moderno já havia ganho a confiança do
ex-cunhado e termina por ter seu pequeno bando. Disponibilizado,
principalmente, quando se fazia necessário ir buscar alguma coisa de valor como
dinheiro extorquido ou mesmo munição e armas compradas a pessoas que nem todos
deveriam saber que eram. O coração do cangaceiro depois que perde a esposa,
está mais duro que antes. No entanto, ao começarem as passagens por uma casa
nos limites do Raso da Catarina, quatro anos depois de enviuvar, uma pequenina
jovem, faz com que ele bata mais forte. Ele contando, na época com 27 anos de
idade.
O casal cangaceiro Moderno e Durvinha - Virgínio Fortunato da Silva e Durvalina Gomes de Sá
A coisa
tornasse até um tanto infantil, como é infantil e imprevisto o amor, quando
puro, torna-se fazer parte do respirar, comer, viver... e o gostoso é amar.
Entre os dois, o cangaceiro e a menina da fazenda Arrasta-pé, o amor mostra-se
completo, insensato, indomável, até mesmo irracional. Sempre havia uma desculpa
qualquer para se chegarem e prosearem um pouco. A cada encontro a coisa fica
mais amarrada. O cangaceiro, com as ‘teias de aranha’ do seu velho coração
limpas e a jovem a imaginar aventuras infinitas nos braços dele, fosse onde fosse.
Não restando outra saída, os dois marcam o dia e a hora de fugirem. Data e hora
são chegada, os dois se metem nas matas da caatinga. As folhas das árvores
serviram de colchão, as árvores como parede e a claridade do luar, ou mesmo o
brilho das estrelas, foram testemunhas de várias noites de amor pleno entre os
dois apaixonados...
Assim, muitos
daqueles que sobreviveram ao fim do Fenômeno, sempre tem uma história para
contar sobre sua adesão as fileiras sangrentas do mesmo, seja ela por vingança,
perseguições, maus-tratos, etc... Já para a jovem Durvalina Gomes de Sá,
conhecida nas hastes da história do Fenômeno Social Cangaço como a cangaceira
Durvinha, entrar para o cangaço foi tão somente por opção, por querer. Por
estar sentindo amor, um amor que levou consigo por toda sua existência por um
cabra de Lampião chamado Moderno... Nas quebradas do Sertão baiano.
Fonte “Moreno
e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço” – LIMA, João de Sousa (João De Sousa Lima). 1ª
Edição. 2007.
Foto Neli
Conceição (filha de Durvalina e Moreno)
Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
PS//
FOTOGRAFIAS COLORIZADAS, DIGITALMENTE, POR NOSSO AMIGO, PROFESSOR Rubens Antonio
https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?fref=ts
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