O livro "O Patriarca: Crispim Pereira de Araújo, Ioiô Maroto" de Venício Feitosa Neves será lançado em no próximo dia 4 de setembro as 20h durante o Encontro da Família Pereira em Serra Talhada.
A obra traz um conteúdo bem fundamentado de Genealogia da família Pereira do Pajeú e parte da família Feitosa dos Inhamuns.
Mas vem também, recheado de informações de Cangaço, Coronelismo, História local dos municípios de Serra Talhada, São José do Belmonte, São Francisco, Bom Nome, entre outros) e a tão badalada rixa entre Pereira e Carvalho, no vale do Pajeú.
O livro tem 710 páginas.
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Quando eu
morava em Pombal não perdia uma Festa de São Pedro, na Rua dos Pereiros. A
época o pároco era Padre Levi. A Festa continua sendo realizada, mas , não sei
se ainda tem para o povo da cidade a mesma importância , tal as décadas de 1960
e 1970, quando todas as casas do bairro se "arrumavam" com novas
pinturas, bandeirolas e toalhas coloridas de xita florida expostas nas soleiras
das janelas. As árvores e os canteiros da praça recebiam um tratamento
especial, tudo para agradar aos visitantes e ao Santo homenageado.
Na parte religiosa tínhamos as missas na Igreja de São Pedro, isso todas as
tardes. Para as crianças os parques de diversões, ao tempo que os adultos se
divertiam com as jogatinas, e as comidas típicas. Dava até pra arrumar uma
namorada por noite.
Uma rouca difusora oferecia músicas aos casais enamorados, ao tempo que as
barracas do "Cordão Azul e do Cordão Encarnado", competiam nos
leilões de assados, sempre bem vigiado pelo polêmico Padre Levi, que tinha duas
paixões: dinheiro e mulher alheia.
O leiloeiro de lá gritava a prenda a ser leiloado, instigando a competição
entre os políticos ou comerciantes presentes, de forma a promover o melhor
arremate. Logo que o martelo batia, escutavam-se os gritos, e o nome da pessoa
que havia comprado o assado era a anunciado pelo leiloeiro, seguido de aplausos
e agradecimento em nome do santo.
Certa vez no meio da festa faltou energia e em meio, a escuridão alguns
aproveitadores tentaram sair do pavilhão sem pagar a conta. Padre Levi correu
para uma saída, sacou de uma pistola, efetuou um tiro de advertência, e
gritou:
- Ninguém sai sem pagar a conta.
Era assim no meu tempo de adolescente.
DIA 29/06 –
QUINTA – FEIRA
06h – Alvorada Festiva, soar do sino – Ofício de São Pedro – Café comunitário –
bênção da nova imagem de São Pedro.
18h - Procissão e Missa Solene de Encerramento.
Presidente da celebração: Pe. Erivânio Assis.
Homenageados: Viúvas.
De hoje até o dia um de julho teremos a Festa no Bairro de São Pedro, deixando
em mim uma saudade contida e a vontade de arrematar um bom assado.
FESTA SOCIAL
29/06 – Quermesse e leilão.
Atração: Joãozinho de São Bentinho.
30/06 – Quermesse e leilão.
Atração: Ruan Estilizado.
01/07 – Quermesse e bingo (Três rodadas: um carneiro, um carneiro e um
garrote).
Atração: Dinho e Forró de Cá.
É sempre um erro imaginar que os retalhos da estrada não servem para mais tarde se ter a grande colcha protetora das noites daqueles simbólicos frios que acometem inesperadamente. Igualmente erro imaginar que as lições passadas não formarão um grande livro onde a experiência e os ensinamentos estarão assentados como lições para os percursos restantes.
Não há outro livro que ensine mais que a vida. Não há aprendizagem maior que a capacidade de reconhecer-se nos erros e acertos e procurar mudar ou melhorar. E aprender significa não só compreender como praticar a humildade, a simplicidade, a generosidade, o amor ao próximo.
E na vida, o tempo, o percurso, a aprendizagem também em cada passo. Quanto mais se alonga a caminhada mais o ser humano vai aprendendo a conhecer aquilo que por muito tempo tratou com menosprezo ou futilidade. E igualmente a valorizar pequenas coisas que jamais imaginou tão significativas na existência.
Confesso que quando jovem eu quis ser além de minhas possibilidades. Mas tudo era possível. Parafraseando Fernando Pessoa, porque eu era do tamanho do que desejava avistar e não do tamanho da minha altura... E assim porque sempre fui sonhador e achava que poderia transformar todos os planos em realidade.
Sorte minha que não sonhei demais. Minha vida no sertão me fez pisar no seu chão e sentir no calor de sua terra a importância de primeiro ser o lugar e somente depois o mundo. E foi a vivência do lugar, em meio ao meu povo, que muito modificou meu olhar sobre o mundo.
Relembrando Drummond, fui menino rico. Tive ouro, tive prata, tive diamante. Ter o que eu tive num sertão empobrecido é possuir uma riqueza descomunal. Nunca me faltou brinquedo, comida, roupa, sapato, brilhantina, perfume, tudo tive ao meu alcance. E poucos dos meus amigos tinham sequer a metade do que eu possuía.
Mas caminhei sem querer levar comigo todo o ouro e toda a prata. Segui na estrada sem estar acompanhado da roupa nova, do brinquedo, do presente. Eu sabia que dali em diante tudo teria que ser conseguido pelo esforço, por conta própria. Ou o suor e a sabedoria me dariam a sobrevivência ou nenhuma valia teria o que aprendi no passado.
Tais lições se impuseram em mim como norte e destino. O mundo passa a ser visto de outra forma quando se conhece os seus horizontes e se tem a certeza de que além das montanhas e montes muito desconhecido ainda existirá. Mas nada como ter consciência que a sabedoria serve apenas como passo e não como certeza de chegada.
Pessoas existem que vivem somente o momento. Outros existem que vão moldando seus destinos segundo as oportunidades surgidas. Talvez isso provoque algum bom resultado, mas nada como a noção de se conhecer aonde se quer chegar. É válido arriscar, ter encorajamento para transformar realidades, mas nada como saber que pisa em solo firme e a caminhada é por uma estrada não totalmente desconhecida.
Daí que trago das raízes primeiras a força e as lições da caminhada. Aprendi o comedimento como impulso de ação. Sei que não preciso nem posso ir além do que posso nem ultrapassar fronteiras totalmente desconhecidas. Se adiante há um horizonte e uma vastidão, sempre preciso muito cuidado em avançar pelo hostil e desconhecido.
Talvez tudo isso servisse como livro aberto perante os olhos de todos. Porém, sempre difícil de assim acontecer. Ainda negam as boas lições, deixam de dar ouvidos às sabedorias, fogem dos caminhos seguros ensinados, sempre procuram arriscar na escuridão. Por isso mesmo que de repente o penhasco se mostra em abismo e o passo já não sabe nem pode retornar.
Palavras vãs, diriam. Ora, o vento é professor, a ventania ensina muito, até a brisa sopra sabedoria. Será preciso deixar que os silêncios falem, que tenham voz, que sejam ouvidos. É no silêncio da consciência que está o grande mistério da vida: sou o que quero ser ou sou apenas o que o mundo me deixa ser?
Rostand Medeiros – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN
Já faz algum tempo que uma manchete publicada no extinto jornal “A República”, na sua edição de 8 de outubro de 1933, um domingo, me chamou a atenção pelo destacado título “A História de um Cangaceiro”.
O artigo foi assinado pelo respeitado advogado Otto de Brito Guerra, sobrinho do coronel Antônio Gurgel do Amaral, o mesmo que foi capturado por membros do bando de Lampião quando este seguia comandando, em junho de 1927, um numeroso grupo de cangaceiros para o famoso ataque a Mossoró.
Diante desta privilegiada aproximação através do parentesco, o autor relata em seu artigo as diversas agruras que seu tio passou. Ali é descrito como o seu parente foi capturado, do valor exigido pela sua libertação, do ataque fracassado do bando a Mossoró, do carteado que utilizava munição de fuzil como fichas e outros pontos.
Muito do que Otto Guerra comenta neste artigo, foi fartamente pesquisado e divulgado ao longo dos anos, por diversos pesquisadores que se debruçaram na tentativa de conhecer mais em relação ao famoso combate na terra de Santa Luzia e a controversa presença da figura de Virgulino Ferreira da Silva em terras potiguares.
Conforme seguia lendo, não encontrava nenhuma informação nova sobre a permanência do coronel Gurgel em meio aos cangaceiros. Mas aí o autor passou a comentar sobre um “cabra” chamado Luís.
Um Cangaceiro Diferente
Era um jovem cangaceiro paraibano, um tipo alto, magro e moreno, que se apresentou como afilhado do famoso e famigerado Sabino, o violento braço direito de Lampião e por esta razão era conhecido como “Luiz Sabino”. Dizia este guerreiro encourado que havia entrado no cangaço no dia que seu padrinho realizou um “trabalho” para um potentado do sertão da Paraíba e daí não parou mais.
Em um dia quente, ainda prisioneiro no Ceará, em meio às muitas cogitações sobre o seu destino, o coronel Gurgel percebeu o jovem Luís Sabino andando um pouco mais afastado do resto dos companheiros, de cabeça baixa e pensativo. Entretanto, ao procurar dialogar sobre o seu passado, o coronel Gurgel percebeu que não parecia haver uma boa receptividade por parte do jovem cangaceiro e logo ele buscou desviar o assunto. Em meio à conversa Luís perguntou.
– O coronel tem família?
– Tenho sim, pai, mãe, filhos… E até uma netinha…
– Já têm netos?
– Tenho.
Otto Guerra escreve que Luís Sabino fitou o prisioneiro uns instantes, daí abriu uma bolsa, “dessas arredondadas, cheias de compartimentos, o couro artisticamente bordado, que o sertanejo nordestino conduz a tiracolo”. Dela tirou um papel amarelado e entregou ao espantado coronel Gurgel uma reluzente moeda de ouro, da época do império brasileiro.
– Tome coronel, quando se livrar daqui dê a sua netinha.
– Ora Luís, isso vale muito. Guarde.
– É… Já me falaram em sessenta mil réis. Porém eu sei que coisa de bandido não vale nada não… Tome.
Daí o jovem cangaceiro saiu cabisbaixo.
O coronel Gurgel relatou ao autor do artigo que o jovem cangaceiro, apesar de viver entre homens que tinham como característica comum à violência, a brutalidade e, além de tudo, ser afilhado logo de Sabino, era um membro do bando que estava sempre próximo aos prisioneiros levados, era extremamente atencioso e muitas vezes buscou de alguma forma amenizar as agruras dos cativos.
Na famosa foto que registra o bando de cangaceiros de Lampião e os prisioneiros em Limoeiro do Norte, Ceará, obtida no dia 16 de junho, entre os membros listados pelo famigerado Jararaca, o cangaceiro que aparece com o número “31” grifado acima do chapéu de aba quebrada, foi apontado como sendo “L. Sabino”. Na época que listou os companheiros na famosa foto, Jararaca era então prisioneiro na cadeia de Mossoró e pouco tempo depois foi morto de maneira cruel e covarde pela polícia local.
Esta pequena história, simples, sem sangue nem disparos de fuzis, mostra um outro lado de um dos bandoleiros que vagavam pelos sertões, em meio a um grupo que vivia do saque e do roubo. Mas que em certo momento teve o total desprendimento pelo vil metal e mostrou um aspecto diferente do que normalmente é apresentado em relação e estes homens, que Frederico Pernambucano de Mello chamou de “Guerreiros do Sol”. E todo este fato contado através de uma reportagem escrita a oitenta e quatro anos atrás por um dos mais respeitados juristas potiguares.
Entretanto…..
Mais Moedas de Ouro!!!
Sabemos pela descrição feita pelo próprio Antônio Gurgel do Amaral, em seu famoso diário, onde ele narra os vários dias de sofrimento junto a Lampião e seus homens, que o mesmo criou certos laços de amizade com um outro cangaceiro conhecido como “Pinga Fogo”. Gurgel descreve-o como um “rapaz de 24 anos, alvo, muito simpático, maneiroso”.
Terminantemente não se encontra nenhuma linha sobre Luís Sabino.
Sabemos igualmente que no livro do conceituado médico Raul Fernandes, “A marcha de Lampião – Assalto a Mossoró”, na página 264, da 3ª edição, através de um relato da senhora Yolanda Guedes, a dita neta do coronel Gurgel, que informou ter o seu avô recebido do próprio Lampião não uma, mas duas moedas de ouro de libra esterlina e lhes deu as moedas de presente.
Foi uma suprema deferência, feita não por um cangaceiro qualquer, mas pelo próprio chefe caolho, que gentilmente regalou a netinha do seu sofrido sequestrado com estas duas reluzentes lembranças. Ademais as duas brilhantes peças metálicas nem eram da extinta realeza tupiniquim, mas da suntuosa Casa Real Britânica.
Raul Fernandes afirma que Yolanda Guedes lhe concedeu estas informações em uma entrevista ocorrida no Rio de Janeiro, em 1971.
Mas daí vem outra questão… E agora, em quem acreditar?
Dificuldades em Pesquisar
Raul Fernandes e Otto de Brito Guerra, já falecidos, eram naturais de Mossoró, oriundos de famílias tradicionais, foram consagrados professores nas suas respectivas áreas na UFRN, pesquisadores, escritores e durante suas vidas desenvolveram muitas outras atividades interessantes.
Se para estes dois iluminares das letras potiguares, homens consagrados no meio intelectual da terra de Felipe Camarão, contemporâneos ao ataque de Lampião a Mossoró, existe uma pequena divergência ao contarem sobre a história da “visita” do “Rei do Cangaço” ao nosso estado, imaginemos então os que buscam conhecer mais deste assunto noventa anos depois dos fatos.
Na verdade, tudo que envolve este tema, que sempre foi tão calcado em referências orais, onde em determinados momentos vítimas e perseguidores, apaixonadamente se engalfinharam para fazer prevalecer suas versões dos acontecimentos, escrever sobre o cangaço é sempre um terreno escorregadio e perigoso para quem o adentra.
E ainda temos a figura dos ditos “intelectuais” tão desejosos dos holofotes, das adulações baratas, das bajulações desmedidas, que escrevem livros que foram produzidos praticamente sem nenhuma pesquisa de campo.
Ou ainda dos autores que se digladiam em querelas bobas e estéreis, sobre temas tão pequenos e inúteis, como o que acabei de aqui relatar, em um afã de superioridade desnecessária.
Eu tenho a minha hipótese para o caso das moedas; o coronel Gurgel era uma pessoa tão especial, tão interessante, que não recebeu nem uma e nem duas moedas de ouro dos cangaceiros, mas três. Uma de Luís Sabino e duas de Lampião, uma brasileira e duas inglesas.
Daí, se esta hipótese for correta, talvez o coronel Gurgel seja o primeiro caso de um sequestrado neste mundo que, apesar de passar vários dias com seus algozes, voltou para casa ganhando presentes dos seus algozes na forma de três moedas de ouro tilintando no bolso.
Mas aí, de repente, cada um pode criar a sua versão…..
CABRAL FALHOU
Quando Cabral aportou
A sua esquadra naval
Num grito ele ordenou
Que comece o bacanal
Estrupou também robou
Fez aquele carnaval .
Deram tiros de fuzil
Deixaram índios acuados
Arregaçaram o Brasil
Pobre e esculhambado
E a pobre mãe gentil
Com o ventre estrangulado.
O tempo foi se passando
Veio uma nova geração
E o que estamos assistindo
Causa dor no coração
Curruptos roubam mentindo
A nossa população .
A ética já não existe mais
A saúde está anda mal
Sobe o transporte e o gàs
Se fabrica o marginal
Só Jesus mandando paz
Pra esse caos infernal .
Uma Sodoma e Gomorra
É o que estamos vivendo
Cabral achou esta zorra
Agora estamos gemendo
Que a esperança não morra
Para quem isto está lendo .
Terra a vista uma ova
Botou argueiro no olho
Tem pobre cavando a cova
Outros ficando zarolho
Emprego pra quem é nova
E as velhas ficam de molho.
E este Temer cruel
Lascou a aposentadoria
Ao trabalhador deu o fel
Que ele bebe todo dia
Se aposou do poder
Fez do cargo uma tirania .
Vou terminar estes versos
Pois estou me sentindo mal
Com a hipocrisia de progresso
Estampada em um jornal
Eu só vejo retrocessos
No fazer do social .
Se eu encontrasse com Cabral
Uma surra eu lhe daria
De chicote de couro crur
No meio dessa putaria
Fazia ele dançar nu
Nunca mais ele viria .
Zé Ronaldo
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso