Material do acervo do pesquisador do cangaço Antonio Morais
A Morte de
Lampião
Em Julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angico, situada no sertão de
Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança.
Era noite,
chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho
que nem os cães pressentiram. Por volta das 5:15 do dia 28, os cangaceiros
levantaram para rezar o ofício e se prepararem para tomar café, foi quando um
cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais. Não se sabe ao certo quem os
traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgolino, o bando foi pego totalmente desprevenido.
Quando os policiais do Tenente João
Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva abriram fogo com
metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer
tentativa viável de defesa.
O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram
escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze
morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida,
Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela
morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar.
Bastante eufóricos com a
vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam
todo o dinheiro, o ouro, e as jóias.
A força volante, de maneira bastante
desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepa a cabeça
de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando
sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois
tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luis Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda,
Alecrim e Macela.
Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um
golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu
para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da
emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro. Feito
isso, salgaram as cabeças e as colocaram em latas de querosene, contendo
aguardente e cal.
Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu
aberto para servirem de alimento aos urubus. Para evitar a disseminação de
doenças, dias depois foi colocado creolina sobre os corpos. Como alguns urubus
morreram intoxicados por creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que
eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo
coiteiro traidor.
Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra
exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava,
atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas,
onde foram arrumadas cuidadosamente na escadaria da igreja, junto com armas e
apetrechos dos cangaceiros, e fotografadas. Depois Maceió e depois, foram ao
sul do Brasil.
No IML de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas,
pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este
deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam alguns,
as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias
ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais.
Do
sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as
cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de
Odontologia da UFBA da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas,
na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos
mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três
décadas.
Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita
lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio
Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para
dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por
todas, essa macabra exibição pública.
Segundo o depoimento do economista, dez
dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em
seguida, cortaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no
Museu Nina Rodrigues.
O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu
depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve
origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do
poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o
reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de
fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma
semana depois. Assim, a era CANGAÇO se encerrou, com a Morte de Virgulino.
Fonte - Blog
do Crato
http://blogdosanharol.blogspot.com.br/2009/08/cangaco-xv-ultimo.html
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