Eronides
Ferreira de Carvalho, médico e militar, nascido em Canhoba, fez o curso de
medicina da Bahia, concluindo-o em 1918, quando regressou a Sergipe lutou
contra a gripe espanhola que grassava no Estado. Na política dividiu com
Augusto Maynard o poder revolucionário de 1930 a 1945, sendo eleito
indiretamente, Governador Constitucional em 1935 Realizou notável obra pública.
Construiu os prédios da Biblioteca Pública, na praça Fausto Cardoso (hoje
funciona o Arquivo Público), do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, na
rua Itabaianinha, do Palácio Serigy, na Pça General Valadão (atual Secretaria
de Estado da Saúde) e o Hospital de Assistência a Psicopatas, em Nossa Senhora
do Socorro, que levava seu nome e ampliou o Hospital de Cirurgia, dentre outros.
Morreu no Rio de Janeiro, onde tinha um Cartório. (Luiz Antônio Barreto -
Dicionário de Nomes de Aracaju). Nasceu no povoado Borda da Mata em Canhoba,
município de Propriá, no dia 25 de abril de 1895, sendo seus pais Antônio
Ferreira de Carvalho e Balbina Mendonça de Carvalho.
Realizou os estudos iniciais em Maceió (Alagoas), no Colégio
11 de Janeiro e no Liceu Alagoano.
Em março de
1911, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, sendo por ela diplomado
em 20 de dezembro de 1917, quando defendeu tese sobre “O Ópio na Terapêutica
Mental”.
Estudante, foi
auxiliar de laboratório da cadeira de Terapêutica Clínica, interno do Hospício
São João de Deus, diretor da Beneficência Acadêmica, auxiliar da clínica
hospitalar do Prof. Antônio Borja e membro da Sociedade Médica dos Hospitais da
Bahia.
Formado, foi
nomeado, interinamente, Diretor Geral de Higiene e Saúde Pública do Estado de
Sergipe e dirigiu diversos serviços de profilaxia durante a epidemia de gripe
espanhola (1918).
Em 2 de
janeiro de 1919, foi nomeado diretor interino do Posto de Assistência Pública
do Estado de Sergipe e em 18 de fevereiro de 1920 foi Inspetor Médico Escolar.
Em 23 de
fevereiro de 1923, após concurso, foi nomeado médico do Corpo de Saúde do
Exército e destacado para servir na cidade de Bela Vista, no Estado de Mato
Grosso.
Em 16 de
outubro de 1920 foi transferido para Aracaju e em 1935 foi eleito indiretamente
Governador Constitucional de Sergipe.
Como
Governador, construiu os prédios da Biblioteca Pública, do Instituto Histórico
e Geográfico de Sergipe, do Palácio Serigy e do Hospital de Assistência a
Psicopata e ampliou o Hospital de Cirurgia.
Faleceu no Rio
de Janeiro, onde tinha um cartório.
FONTE
BIBLIOGRÁFICA:
Barreto, Luiz
Antônio – Dicionário de Denominações de Aracaju.
Guaraná,
Armindo – Dicionário Bibliográfico Sergipano. Rio de Janeiro, 1927.
O centenário
do nascimento de Eronides Ferreira de Carvalho,(1997) cuja passagem pelo
cenário político sergipano registramos de 1935 à 1941, abre-nos a possibilidade
para uma reflexão acerca da atuação do sujeito na história, em seu espaço
social, econômico e político. Por isso, acreditamos ser essa uma oportunidade
singular para trazermos algumas análises sobre o político Eronides de Carvalho;
sobre a conjuntura de seu tempo, à qual esteve sintonizado, e, por vezes,
perfeitamente ajustado, e as implicações de sua atuação nos períodos
subsequentes.
Veja o texto
Completo
Faz-se
necessário ressaltar que a maior dificuldade de se abordar a temática que nos
foi proposta, deve-se ao fato de que o período de 1930 à 1945, se pôr um lado,
é farto de documentação e pleno de uma bibliografia no cenário nacional, por
outro, permanece um período pouco estudado no âmbito estadual, como de resto, a
história política sergipana é ainda uma seara a ser explorada, podendo render
boas colheitas, haja vista a farta documentação existente em acervos públicos
ou privados, a espera de estudos e análises pautados em uma abordagem
criteriosa, científica e, por isso mesmo, isenta de um emocionalismo estéril.
Assim,
valemo-nos de fontes secundárias como os trabalhos do prof. Ibarê Dantas e da
prof. Terezinha Oliva, entre outros, que se constituem em referências
indispensáveis a quem pretende entender esse rico momento da história
sergipana. Ressalto ainda que, concernente aos dados biográficos que pontuam
aqui e ali nossa exposição, foram coletados, sobretudo, no Dicionário
Bio-Bibliográfico de Armindo Guaraná. Quero deixar registrado os meus
agradecimentos à profª Tânia Prado, pesquisadora do APES, que tendo realizado
uma pesquisa, ainda inédita, sobre o Dr. Eronides de Carvalho, prestou-me
valiosas informações sobre parte da vida do Interventor que me eram
desconhecidas.
Eronides
Ferreira de Carvalho nasceu em Canhoba a 25 de abril de 1897, filho de próspero
fazendeiro da região, vai para Maceió, onde realiza seus estudos primário no
Colégio 11 de Janeiro. Em seguida, transfere-se para o Liceu Alagoano,
concluindo os estudos secundário em 1910. Entra na Faculdade de Medicina da
Bahia, em 1911 e lhe é conferido o grau de doutor em 20.12.1917, com a tese “Do
Ópio em Therapêuta Mental” ( 18.12.1917).
Ainda enquanto
estudante foi auxiliar do Laboratório da Cadeira de Therapêutica; Diretor da
Beneficência Acadêmica e membro da Sociedade Médica da Bahia, já formado. Foi
nomeado interinamente, em 1918, diretor geral de higiene e saúde pública do
Estado; dirigiu os serviços de profilaxia durante o período de pandemia da
gripe; foi diretor interino do Posto de Assistência Pública do Estado. Em 28 de
fevereiro de 1920 foi nomeado Inspetor Médico Escolar. No ano seguinte era
nomeado por portaria do Ministério da Agricultura, veterinário do corpo de
veterinários do serviço da indústria pastoril. Aprovado em concurso para o
corpo de saúde do Exército, foi nomeado segundo tenente por decreto de 23 de
fevereiro de 1923, indo servir no 10º Regimento de Cavalaria Independente na
Cidade de Bela Vista no Mato Grosso e em abril do mesmo ano foi transferido
para o 28º B.C., estacionado em Aracaju. Onde, então, começa suas atividades,
inicialmente como oficial-médico, em seguida, como político. A compreensão do
período em que Eronides de Carvalho esteve no poder, 1935 à 1941, passa
necessariamente, pôr uma abordagem da estrutura de sustentação econômica e
social do sistema republicano, tica pautada num conservadorismo, sob as benção
de um liberalismo periférico.
A República,
apesar de toda a propaganda deflagrada antes, durante e após a sua implantação,
era nova apenas no plano jurídico/constitucional, pois, estruturalmente
falando, o “novo” regime não significou uma transformação profunda das hostes
econômica, política e social do Brasil, conservando um modelo que vinha do
sistema anterior e que, mal ou bem, ajusta-se à nova ordem política,
especialmente se olharmos do ponto de vista das massas e, sobretudo das massas
camponesas ou rurais. Um dos arautos da nova ordem, o Presidente Campos Sales
dizia:
“ O verdadeiro
público que forma a opinião e imprime direção ao sentimento nacional é o que
está nos Estados. É de lá que se governa a República pôr cima das multidões que
tumultuam, agitadas, nas ruas da Capital da União” .
Do ponto de
vista econômico, somente com uma abordagem temporal mais ampla é que
conseguimos enxergar as mudanças que vão se operando no nível das estruturas
produtivas do país, mas só sentidas, pôr certo, a partir dos anos 30, razão
pela qual aludi anteriormente sobre a necessidade de se compreender o período
que antecede ao governo de Eronides de Carvalho. Deste modo, o setor dominante
na Primeira República, vai optar por um modelo arcaizante de Estado, mas que
dará sustentação econômica e política aos grupos que se revezarão no poder da
República: trata-se do sistema oligárquico que se apoiava no coronelismo, que,
ao contrário do que muita gente imagina, ao chamá-lo de provinciano, tinha um
pé no passado, marcado pela herança da oligarquia açucareira dos senhores de
engenho, e o outro pé colocado em cima do mercado estrangeiro. Constatar isso,
é constatar um paradoxo, digo, se era necessário à manutenção do poder,
internamente, que se conservassem as estruturas ultrapassadas de dominação, por
outro lado, para corresponder à dinâmica do mercado internacional, cobrava-se
uma modernização do Estado Nacional. Como aliás, percebeu Terezinha Oliva:
“ A análise do caso de Sergipe é bem ilustrativo desta colocação. Estado
periférico não apenas no contexto nacional, mas regional, tem Sergipe
especificidades muito próprias. Com uma economia basicamente dependente da
exportação açucareira, responsável por 2/3 da receita estadual e lutando com
dificuldades crescentes para colocar sua produção no mercado, Sergipe vai
sentir, como poucos, o ônus da sua transformação em Estado federado, no quadro
do avanço da acumulação capitalista e do processo de constituição do mercado
nacional”
Sob essa
ótica, o período que estende de 1930 à 1945, e que, em Sergipe, vai alcançar o
governo de Eronildes de Carvalho (1935-1941), terá que conviver com esse
paradoxo. De um lado, o patriarcado rural, preso as suas raízes histórica de um
passado não muito distante; de outro, a tendência nacional vigente de
modernização do aparelho do Estado para se ajustar à nova ordem internacional.
Essa situação,
aparentemente paradoxal, permite-nos apontar aquela que é uma sutil, porém
importante característica do sistema oligárquico: a sua independência em
relação ao poder central. Nesse aspecto, a “política dos governadores” é a
consagração deste princípio de independência das oligarquias frente ao poder da
União. Mas a força das oligarquias dependia não só dessa independência em
relação ao poder central ( é preciso entender essa independência nos limites
das boas relações), mas sobretudo da hegemonia que certos grupos conseguiram
manter, por estarem ligados as atividades econômicas de peso, sobre grupos
concorrentes. A centralização desse poder dependia “do controle exercido sobre
os grandes coronéis municipais, condutores da massa eleitoral incapacitada e
impotente para participar do processo político que lhes fora aberto com o
regime representativo imposto pela Constituição de 1891 ( Campelo de Souza:
1973) .
Portanto, a
estabilidade oligárquica era, em última instância, questão circunscrita ao
âmbito e natureza do coronelismo estadual. E essa natureza não é unívoca,
quando cito Campelo de Souza, não estou querendo reforçar tal concepção de que
o controle do voto explicaria o fenômeno do coronelismo. Mas acredito que essa
problemática já foi suficientemente esclarecida- ao menos para mim- pelo
professor Ibarê Dantas, quando lucidamente coloca:
“Se num
primeiro período o coronelismo se fundamenta no controle das massas e na
legitimação da sociedade política, a partir da força de sua milícia particular,
num segundo momento, quando sua força coercitiva se torna desgastada, passa a
explorar seu prestígio construído através de uma tradição de mando. Somente
numa terceira fase o voto passa a ter papel primordial dentro do coronelismo”.
Corroborando
com essa tese de Ibarê é que inserimos o caso específico do Dr. Eronides de
Carvalho, pois a ausência dessa terceira fase, a do voto, em todo o seu
mandato, não desconfigura a estrutura de dominação tradicional que servia de
sustentação, embora nem sempre evidente, ao sistema da administração estadual
do dr. Eronides. Parece evidente que não podemos classificar essa estrutura de
sustentação nos mesmos moldes da oligarquias tradicionais no Estado, como a de
Olympio Campos, mas em sua nova fase teremos o destaque dos dois pressupostos
da tese do professor Ibarê Dantas.
É fundamental,
portanto, para uma compreensão da dinâmica das oligarquias que se entenda a
correlação de forças que se manifesta nas relações de classe que determinam
toda a dinâmica do sistema. Essa correlação se dá no âmbito do fenômeno do
sistema político do coronelismo.
A estreia do
capitão Eronides Ferreira de Carvalho no cenário governamental, constituído
governador em eleição na Assembleia Legislativa em 02.04.35, inaugura uma fase
de orientação política contrária à orientação do grupo liderado por Maynard.
Aparentemente, tratava-se de uma disputa entre duas lideranças que pretendiam
se afirmar no comando político do Estado, mas só aparentemente, pois quando
vamos na profundidade da questão, percebemos que a disputa é entre setores
tradicionais da economia açucareira e algodoeira do Estado.
Legalista,
Eronides De Carvalho não toma assento ao lado dos tenentes, cujo movimento
ganhava corpo a nível nacional e, em Sergipe, já se insinuava no Quartel do 28º
Batalhão de Caçadores “ (..) mas não sensibilizava o jovem oficial médico
que permanece fiel às forças legais durante as revoltas de 1924 e 1926 e por
toda a década de vinte”, afirma Dantas.
Seu apego à
ordem e a sua sintonia com as forças detentoras do poder ( os revolucionários
de 30), fato este atestado pela sua passagem, ainda que efêmera pelo Governo
Provisório, pós Revolução, só é contrastada com a disputa que vai se iniciar
entre o capitão Eronides de Carvalho e o Interventor Maynard (1930-1935).
Durante essa Interventoria, Eronides de Carvalho se recolhe ao 28º BC, mas não
é um recolhimento “obsequioso”, ao contrário, de dentro do quartel, o cap.
aglutina em torno de si uma corrente de descontentes com o governo de Maynard,
ao tempo em que vai se impondo como solução para a crise que enxergava existir
dentro das hostes da interventoria de Maynard. Afirmava-se, assim, como uma
liderança política viável.
Mas,
obviamente, o projeto do capitão Eronides de Carvalho ia para além da reação
aquartelada - creio mesmo que ele não cogitou da possibilidade do uso da força
militar contra Maynard, apesar de seu prestígio ser grande no quartel. Seu
projeto era mais ambicioso e exigia menos truculência, sendo um projeto cabível
numa ordem legal, volta-se para a organização que a sociedade civil, em
profundas transformações pós-30, lhe permitia: a conjunção de suas ideias em
torno de uma agremiação política. Assim, participa da fundação da União
Republicana de Sergipe ( URS). Essa agremiação aglutinava, em torno, os
usineiros, representantes do setor açucareiro que, descontentes com a
orientação política vigente, tinha na figura do coronel Gonçalo Rollemberg do
Prado, seu mais destacado representante. Eronides de Carvalho, de início não
era o nome aglutinador das expectativas e dos interesses do setor dominante,
mas as suas raízes e suas manifestações o credenciaram a tanto, conforme Ibarê
Dantas, “ o terceiro nome [ da agremiação] era justamente Eronides de Carvalho
com influência na área rural, inclusive através do pai, o coronel Antônio
Ferreira de Carvalho, próspero fazendeiro” . A Eleição do Dr. Eronides de
Carvalho para o governo do Estado, pela Assembleia Legislativa (16 x 14), numa
votação apertada, deveu-se a habilidade de Godofredo Diniz ( ligado a Júlio
Leite e Secretário Geral da União Republicana de Sergipe), que através de uma
costura política bem feita, conseguiu unir a URS com o PSD, grupo que seguia a
orientação de Leandro Maciel, para que fosse apresentado um candidato único.
Embora tenha sido derrotado na eleição para a Constituinte (03.05.33), ficando
como suplente, estavam lançadas as bases para a sua eleição dois anos depois ao
governo do Estado.
Foi o governo
de Eronides de Carvalho, sem dúvidas, um governo de desestabilização do domínio
de Maynard,
“ Como se as
represálias contra os correligionários de Maynard não bastassem, o governo
Eronildes de Carvalho investiu contra seus decretos, tornando sem efeito cerca
de metade deles” .
Como era de se
supor, houve uma apropriação do aparelho do Estado por parte do novo grupo que
assumia o poder, sendo os cargos divididos entre os partidários das duas
agremiações citadas. Era o retorno do domínio ruralista. No entanto, é
complicado afirmar que o patronato rural estivesse fora do processo
político durante o período anterior a 35, vamos considerar apenas que não havia
uma interferência ostensiva nos cargos e na máquina do Estado.
Contudo, o
governo Eronides foi além, não bastava desarticular a atuação do Partido
Republicano de Sergipe, sigla onde se abrigava Maynard, era necessário investir
sobre a ação da classe trabalhadora que à época, manifestava-se com certa
desenvoltura, sob orientação do Partido Comunista e, no mínimo, com a simpatia
de Maynard - que de certo não era comunista-, mas estimulava o movimento
operário. A composição do governo Eronides ( com uma sustentação marcadamente
conservadora), provocaria uma decepção para as lideranças operárias que
assistem inconformada a nomeação do corpo auxiliar do cap. Eronides de Carvalho
de membros simpatizantes da Ação Integralista Brasileira, como é o caso do
Chefe de Polícia Abelardo Cardoso.
Foi, sem
dúvida, um governo forte, o do dr. Eronides de Carvalho. Mas a despeito dessa
sustentação, não conseguiu manter uma hegemonia política. Em parte, apontamos como
causa dessa dificuldade de hegemonia, os problemas que os senhores do açúcar
encontraram para fazer valer seu domínio; em parte, atribuímos a uma oposição
acirrada que o governo enfrentaria dos três partidos de oposição,
principalmente do PRS e do PSP( Partido Social Progressista), que embora não
tendo muita coesão entre si, mas formavam um coro com o movimento dos
trabalhadores urbanos. As críticas ao governo vinham de diversas frentes: dos
tribunais de representação, da imprensa e do movimento operário. Com esse
cenário, tinha Eronides de Carvalho um espaço diminuto de atuação, mas que era
ampliado se pensarmos nas relações do governo estadual com o governo Federal.
Assim,
torna-se imprescindível olharmos para a Intentona Comunista como um movimento
inserido do contexto do comunismo internacional, mas que se diminuirmos o foco
para as realidades estaduais, centralizando na paisagem sergipana, vamos
enxergar que esse episódio de 1935, terminará por aliviar o estado de pressão,
digo distensionar a pressão do governo de Eronides de Carvalho. No tocante a
Intentona Comunista,
“Em Sergipe, o
governo [Eronides de Carvalho] que, desde julho de 1935, havia denunciado a
Vargas a existência de agitação comunista, tendo como centro a “liga
antifascista” e “antiguerreira”, ao tempo em que recomenda ‘enérgica repressão’
“.
Percebe-se,
portanto, que o governo não perde tempo de, pôr um lado, sintonizar-se com o
endurecimento do regime no âmbito Federal e, pôr outro, livrar-se do foco de
pressão imposta ao seu governo: reprime a imprensa, demite acessores ligados ao
governo anterior e transfere civis e militares que lhes são incômodos.
Naturalmente que Eronides de Carvalho não perdeu tempo em associar essas
pessoas com a figura do Major Maynard e aproveitou a oportunidade para associar
o major às “ ideias extremistas”, fazendo um relato completo ao Presidente
Getúlio Vargas da atuação dos adversários aqui no Estado. Assim, satisfeito com
a sua obra, escreve:
“ tomadas
essas providências, que reputo indispensáveis, posso garantir a V. Excia. que
Sergipe nenhum motivo dará para preocupar o espírito do eminente Sr. Presidente
da República no que tange à defesa da ordem” .
Até 1937, a
situação do governo Eronides de Carvalho, em que pese os ventos estarem
soprando ao seu favor no plano nacional, sua situação é de um incômodo
generalizado com todas as medidas coercitivas, a oposição silenciada e a
Assembleia Legislativa fechada, tudo lhe parecia favorável, mas era preciso
construir uma imagem de um governo operoso e ordeiro. Desse modo, a manutenção
do controle da máquina do Estado e da própria situação política, exigia que o
cap. Eronides atuasse em duas frentes: continuar desmobilizando as forças
oposicionistas (condição que os poderes constitucionais do Estado Novo lhes
permitia), por um lado; por outro, intensificar a propaganda anticomunista,
elevando à categoria de suspeita todas as ações de seus opositores.
Esta direção
que toma o governo Eronides de Carvalho, como lembra o prof. Ibarê Dantas,
“provinha do Poder Central”, mas de difícil assimilação pelos Estados,
principalmente um Estado com as características rurais como Sergipe. Ademais,
Eronides vai tentando como pode eliminar todos os focos de oposição ao seu
governo, principalmente, quando ligado ao Major Augusto Maynard Gomes, cuja
única possibilidade de fazer frente ao governo seria no comando do 28º BC, mas
Eronides conseguiu impedir sua nomeação, pelo menos, conseguiu adiar quando ela
já era tida como certa. Muito embora o grupo de Maynard, quer seja através da
imprensa, quer na Assembléia Legislativa enquanto ainda funcionava, fazia
bastante barulho ao ponto de seus ecos serem ouvidos no Rio de Janeiro. O PSD,
através de sua liderança o Senador Leandro Maciel, foi a oposição que mais
conseguiu desestabilizar o governo de Eronildes. Os pronunciamentos de Leandro
Maciel conseguem acertar bem no alvo do governo, causando alguns estragos a
unidade do grupo governista, além disso Leandro fazia dobradinha com o deputado
Melchisedeck Monte, tirando o sono dos correligionários do governo. A esse
quadro, seguiu-se uma onda de prisões de líderes políticos e jornalistas e
enquadramento na Lei de Segurança Nacional era uma constante, em que pese ter
havido um acordo a nível nacional entre o PSD e o governo Federal, mas no
âmbito do Estado os dois grupos ainda se rivalizavam. O clima era de terror,
mas o Jornal O Estado de Sergipe, deixou registrado para a posteridade:
“ Sergipe
nunca viveu mais tranquilo, mais calmo do que neste momento. O governador vai
administrando com visão superior, distribuindo justiça equidosamente”.
A situação do
governo estava tão tranquila que as oposições estavam trabalhando com a
possibilidade do impeachment do governador, que foi salvo pelo Golpe de 1937.
Bem, assim e só assim, consolidou-se a dominação da facção açucareira ao
aparelho de Estado, enquanto era empurrado para adiante os problemas sociais,
sobretudo os da classe trabalhadora.
O Golpe de
1937 assinala nos Estados membros da Federação, cujas características se
assemelham ao de Sergipe, um período de instabilidade e de suspensão de
direitos e garantias do cidadão. De 1937 à 1945, Sergipe teve três
interventores: Eronides de Carvalho (37 à 41), o cap. Milton Azevedo até 1942 e
a volta de Maynard até 1945.
A
identificação de Eronides de Carvalho com o Estado Novo foi tão perfeita que,
em mais de uma vez, fez questão de deixar seu ardor para com o regime público e
notório:
“ quero
consignar minha perfeita identidade com o Estado Novo criado na carta de 10 de
novembro que V. Excia. houve por bem outorgar ao Brasil” (...) “ estou pronto a
obedecer disciplinarmente as ordens que V. Excia. determina como chefe Nacional
do partido da União que será uma instituição fundamental do Estado Forte criado
pelo insígne Presidente”
É claro que o
governador, agora Interventor, estava feliz com o golpe, afinal este havia
removido de seu caminho os empecilhos que representavam os oposicionistas e
setores organizados da sociedade. No entanto, Eronides não consegue evitar os
arranhões em suas relações com Governo Federal, sobremodo no episódio de que
ele teria avisado ao Juracy Magalhães do Golpe, posteriormente negado pelo
próprio Eronides, mas com certeza explorado pelo seu arquirival Augusto
Maynard.
Tendo seus
poderes aumentados pela constituição Outorgada, Eronides de Carvalho procede a
uma verdadeira “limpeza” nos setores administrativos, inclusive nomeando
prefeitos (25), aposentando ou reformando seus desafetos e trazendo de volta ao
cenário político o grupo do patriarcado rural que, na verdade, nunca saíram do
controle econômico. Com a sociedade civil sob controle e suas organizações
desestabilizadas, não lhe restava mais nada para fazer senão tocar o trivial do
dia a dia administrativo e se dedicar de corpo e alma a propaganda doutrinária
cujo programa vinha pronto, aos pacotes, do Governo Central. Seu engajamento
nesta campanha de doutrinação nacional foi tão eficiente que recebeu elogios
nacionais e fora recomendado como exemplo.
Diz, o prof.
Ibarê Dantas: “Sergipe nunca assistiu a tanta exploração de civismo como no
Estado Novo. No mês de abril então era um verdadeiro festival; no dia 2,
comemorava-se o aniversário da administração do interventor, em seguida era
lembrada a posse do prefeito, no dia 19 a data natalícia do Presidente da
República, quando também se comemorava o dia da juventude e, no dia 25, o
aniversário do Interventor (...) Como se esses dias fossem insuficientes,
criou-se de 27 de março a 1º de abril a chamada Semana Eronides de Carvalho
(...)” .
Ainda que
reconheçamos que o período do Estado Novo, alcançou Sergipe em acentuada queda
em alguns setores produtivos, como o declínio da produção algodoeira, e uma
acentuada crise no setor açucareiro, os cofres do Estado aumentam sua
arrecadação em função da reforma tributária levada a efeito pelo governo da
União. Com essa margem de capitalização do Estado o Interventor realiza algumas
obras, sobretudo na área da saúde: um centro de saúde ( Palácio Serigy),
Hospital Infantil, casa para psicopatas e centro para menores delinquentes. Na
área cultural, reformou a Biblioteca Pública, construiu algumas escolas e
ampliou a rede de estradas e outras obras menores sem os vultos dessas
mencionadas.
Sua entrada no
circuito nacional. pela propaganda getulista, faz com que lentamente, Eronides
de Carvalho vá se afastando da base rural de sustentação de seu governo desde
os primeiros momentos nos idos de 1935, ajustando-se a uma administração mais
voltada para o cenário de propaganda doutrinária do que das tendências
interiorana. Assim, o setor açucareiro teve que sair das usinas e ir brigar
junto ao IAA pelas suas reivindicações, reflexo da crise que vivenciavam. Mas,
nem por isso representou um racha das relações entre Eronides e seus
correligionários, ao contrário, em alguns momentos até favoreceu a aproximação
com grupos de produtores rurais que antes lhes fazia oposição.
Ao nível das
lutas sociais, o quadro da classe trabalhadora, enquanto movimento operário não
mudou muito. A desconfiança era mútua. A figura do Interventor estava associada
à repressão e o movimento dos trabalhadores aos comunistas. Mas Eronides
procura modificar esse cenário: cooptando algumas lideranças sindicais, bem ao
gosto da prática getulista, comparecendo em cerimônias dos trabalhadores ao
lado dos líderes sindicais e convidando estes a aparecerem em cerimônias
oficiais, passando uma imagem à opnião pública de uma convivência pacífica. No
terreno da imprensa, destacamos o Correio de Aracaju e o Sergipe Jornal que
sobreviveram com uma relativa autonomia em relação ao governo do Interventou,
apesar da rigorosa censura.
No entanto,
mesmo com tudo a seu favor, Eronides de Carvalho inicia seu fastígio e declínio
junto ao governo central. As denúncias chegavam diretamente ao Presidente da
República, expediente comum e que era estimulado nos Estados, que não raro
interpelava o interventor sobre a procedência destas. Maynard e seu grupo não
exitavam em lançar mão desse expediente, assim haviam denúncias de compra de
fazendas; fornecimento de gado de modo irregular aos matadouros; utilização de
terrenos públicos para permanência de gado da família do Interventor e outras
denúncias similares. O próprio Maynard fez chegar ao conhecimento do Governo
Federal irregularidades, tais como: a participação da polícia em jogo no Estado,
o desvio de dinheiro depositado no Banco do Brasil, venda clandestina de
algodão, etc.
Face a essas
acusações, o Presidente da República forma uma comissão para investigar a
veracidade dos fatos e Dr. Carlos Mário Faveret é indicado como presidente da
mesma. Em Sergipe, Carlos Faveret ouve várias personalidades, registrando em
seu relatório a veracidade de muitas acusações. Apesar de Eronides de Carvalho
ter tentado impedir os trabalhos dessa comissão, Vargas não estava mais
disposto a tolerar a improbidade de alguns de seus auxiliares e de nada valeu a
intervenção do General Góis Monteiro, padrinho e protetor de Eronides de
Carvalho, para mantê-lo no Poder.
Finalmente, em
1941, março precisamente, o cap. Eronides de Carvalho vai ao Rio de Janeiro em
busca de uma audiência com Getúlio Vargas, porém, sem sucesso, lá permanece até
os fins de maio, sem, contudo, ser recebido pelo Presidente da República. Ali
mesmo escreve uma carta ao Presidente colocando seu mandato à disposição e se
dizendo “na paz da consciência e na tranquilidade de espírito de haver servido
a V. Excia. com lealdade (...)”. Vargas, responde-lhe em cartas datada do mês
de junho do mesmo ano, dizendo-se de seu apreço pelo “patriótico desprendimento
que evidenciam da sua parte, depois de haver prestado a Sergipe e ao seu
Governo meritório e reais serviços”. Com a renúncia do Dr. Eronildes de
Carvalho, estava consumada a sua queda.
O cap. Milton
Azevedo assume, em um mandato tampão, até o retorno do major Augusto Maynard
Gomes.
Após a renúncia
em 1941, fixa residência no Rio de Janeiro. Foi nomeado para Juíz do Tribunal
de Segurança Nacional e em 1944, é nomeado Tabelião do 14º Ofício de Notas e
Notas do Rio de Janeiro. Morre em 18 de março de 1969.
http://canhoba.blogspot.com/2009/09/governador-eronildes-ferreira-de.html
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