Material do acervo do historiógrafo Rostand Medeiros
O governador
Ricardo Coutinho e Elizabeth Teixeira, durante a entrega da Medalha do Mérito
Universitário, feita pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em 2011 –
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Por Renata
Ferreira – Jornalista
Ela abriu mão
do conforto para viver o amor ao lado de um trabalhador pobre e analfabeto. Com
ele, formou família e ajudou a construir a história do movimento sindical
agrário no Brasil. A paraibana Elizabeth Teixeira é a face feminina das lutas
camponesas da metade do século passado. Junto ao marido, João Pedro Teixeira,
fundou, no município de Sapé (PB), o maior sindicato de trabalhadores agrários
do país até então. E assumiu a liderança do movimento depois do assassinato
dele, em 1962.
O líder
camponês João Pedro Teixeira, sua mulher Elizabeth e seus filhos.
A trajetória
de Elizabeth será lembrada na próxima sexta-feira (13/2), quando ela completa
90 anos de vida. A celebração vai ocorrer no Memorial das Ligas Camponesas,
fundado no antigo sítio onde a camponesa viveu com João Pedro e os 11 filhos,
no distrito de Barra das Antas, em Sapé (município a 65 quilômetros da capital
do Estado, João Pessoa).
Elizabeth
Teixeira em 1962
O imóvel de
sete hectares foi tombado em 2012 pelo Governo do Estado da Paraíba e
transformado em um espaço de resgate da memória e homenagem aos trabalhadores
que dedicaram a vida a lutar por dignidade no campo e reforma agrária.
Universidades,
sindicatos e movimentos sociais estão engajados no evento, do qual devem
participar filhos e netos de Elizabeth e João Pedro. Pela manhã, as atividades
serão fechadas aos parentes e organizadores. “Será uma reunião de família”,
explica o professor da UFPB Antônio Alberto Pereira, um dos coordenadores do
Memorial das Ligas Camponesas.
Às 14h, terá
início o evento aberto a toda a comunidade. O coral da Universidade Federal da
Paraíba vai se apresentar cantando o Hino do Camponês, acompanhado pela
Orquestra Santa Cecília, de Sapé, e sob a regência do próprio compositor da
obra, o maestro Geraldo Menucci, antigo militante do Movimento Cultural
Popular. A letra da música é de Francisco Julião, advogado, político e escritor
que atuou com as ligas camponesas de Pernambuco.
A parte
cultural do evento terá também apresentações de coco de roda e músicas
populares. A organização espera reunir, além de autoridades da região e
representantes dos movimentos populares e sindicais, crianças e jovens das
escolas públicas de Mari, Sapé, Sobrado e Cruz do Espírito Santo.
No sábado (14/2), haverá o lançamento do documentário “A família de Elizabeth
Teixeira”, do cineasta Eduardo Coutinho, morto em 2014 e diretor de “Cabra
Marcado para Morrer”, obra que conta a história de João Pedro, Elizabeth e das
ligas camponesas do Nordeste. O lançamento do documentário será no Centro de
Formação João Pedro Teixeira, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, no
município de Lagoa Seca (PB).
Prisão e fuga
Depois da
morte de João Pedro, em 2 de abril de 1962, Elizabeth assume a liderança do
movimento, ao lado de nomes como Pedro Fazendeiro e Nego Fuba. Foi presa por
várias vezes e, numa delas, retorna à casa para se deparar com a tragédia do
suicídio da filha mais velha, Marluce, que não suportou conviver com a
possibilidade de a mãe ter o mesmo destino do pai.
Em 1964, com a
instalação do regime militar, Elizabeth é presa pelo Exército e passa oito
meses na cadeia. Na volta, precisa fugir para não ser morta. Esconde-se na
cidade de São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte, com apenas um dos 11
filhos – Carlos, que é rejeitado pelo avô por se parecer muito com o pai. Passa
17 anos afastada da família, vivendo com a identidade de Marta Maria da Costa.
Isso até 1981,
quando o cineasta Eduardo Coutinho resolve retomar as gravações de “Cabra
Marcado para Morrer”, interrompidas pela truculência da ditadura. Por
intermédio de um dos filhos de Elizabeth, Coutinho reencontra a líder camponesa
e conclui o trabalho. A viúva de João Pedro vem, então, morar em João Pessoa,
no bairro de Cruz das Armas, em uma casa que lhe é presenteada pelo próprio
Eduardo Coutinho.
Heranças da
luta
As ligas
camponesas e a história de João Pedro e Elizabeth são lembradas não apenas como
registro histórico. A luta chegou aos dias atuais, trouxe heranças e desafios
futuros. Embora a sonhada reforma agrária ainda não tenha se concretizado, o
homem do campo está consciente dos próprios direitos e busca cada vez mais
organizar-se em cooperativas e associações para potencializar ações e
iniciativas. Para o presidente do Memorial das Ligas Camponesas, o
agricultor Luiz Damázio de Lima (o Luizinho), os líderes João Pedro e Elizabeth
Teixeira deram o primeiro passo, mas a luta camponesa continua se atualizando.
E várias são as heranças desse movimento. Uma delas, segundo Luizinho, é o
crescimento da organização dos pequenos produtores.
Ele cita a
experiência da Ecovárzea (Associação dos Agricultores e Agricultoras da Várzea
Paraibana), uma entidade que reúne cerca de 300 assentados. “Esse tipo de
iniciativa nasceu com as ligas”, afirma. Juntos, os pequenos produtores são
mais fortes do que se estivessem trabalhando de forma independentes.
No caso da
Ecovárzea, eles optaram por um modelo de cultivo limpo e saudável: a
agroecologia. Longe dos agrotóxicos e aditivos químicos, os trabalhadores
ganham em qualidade de vida e levam verduras, hortaliças e frutas de melhor
qualidade ao consumidor. A comercialização é feita sempre às sextas-feiras, na
UFPB, e a estimativa de venda é de R$ 7 mil a R$ 8 mil por semana.
Segundo
Luizinho, a Paraíba já conta com 45 feiras de pequenos produtores com a da
Ecovárzea. “Não são todas agroecológicas, mas isso já demonstra o processo
organizativo dos agricultores”. Nessas feiras, são comercializadas entre 90 e
100 toneladas de produtos semanalmente. “Isso dá uma rentabilidade imensa”,
afirma.
Outra herança
das ligas, segundo o agricultor, está no maior acesso à educação. “Hoje temos
filho de agricultor fazendo Pedagogia, Enfermagem, Ciências Agrárias, Agroecologia,
Agronomia, por exemplo. Nossos filhos estão lutando para conquistar um espaço
na universidade”, garante. “Há uma quantidade muito grande de jovens do campo
que estão conseguindo sua formação e estão atuando em cooperativas e
associações”, reafirma a professora da UFPB, Fátima Rodrigues, que é
colaboradora do Memorial das Ligas Camponesas.
Ela e Luizinho
citam ainda como ganhos decorrentes das ligas camponesas o maior acesso à saúde
e o crescimento da participação e do protagonismo das mulheres nas ações das
comunidades rurais.
“Ainda precisamos melhorar bastantes, por exemplo, ampliando a assistência
médica, as políticas públicas para os jovens, a infraestrutura, as escolas”,
afirma Luizinho. E para se alcançar essas melhorias, segundo ele, é necessário
que o homem do campo continue ciente da importância do processo organizativo.
Sobre qual
conquista seria a mais difícil de alcança, Luizinho se mostra convicto:
“difícil é conquistar a consciência da sociedade em apoio a essa luta”,
declara. Para ele, o aniversário de Elizabeth Teixeira é a consagração de 90
anos de luta. “Ela não começou a lutar depois de casada com João Pedro, mas
quando nasceu. Ela enfrentou o próprio pai, que era latifundiário. Essa
celebração é uma honra para nós. Se João Pedro é o cabra marcado para morrer,
Elizabeth é a mulher marcada para viver”, declara.
Outra herança
das ligas, segundo o agricultor, está no maior acesso à educação. “Hoje temos
filho de agricultor fazendo Pedagogia, Enfermagem, Ciências Agrárias,
Agroecologia, Agronomia, por exemplo. Nossos filhos estão lutando para
conquistar um espaço na universidade”, garante. “Há uma quantidade muito grande
de jovens do campo que estão conseguindo sua formação e estão atuando em
cooperativas e associações”, reafirma a professora da UFPB, Fátima Rodrigues,
que é colaboradora do Memorial das Ligas Camponesas.
Ela e Luizinho
citam ainda como ganhos decorrentes das ligas camponesas o maior acesso à saúde
e o crescimento da participação e do protagonismo das mulheres nas ações das
comunidades rurais.
“Ainda precisamos melhorar bastantes, por exemplo, ampliando a assistência
médica, as políticas públicas para os jovens, a infraestrutura, as escolas”,
afirma Luizinho. E para se alcançar essas melhorias, segundo ele, é necessário
que o homem do campo continue ciente da importância do processo organizativo.
Sobre qual
conquista seria a mais difícil de alcança, Luizinho se mostra convicto:
“difícil é conquistar a consciência da sociedade em apoio a essa luta”,
declara. Para ele, o aniversário de Elizabeth Teixeira é a consagração de 90
anos de luta. “Ela não começou a lutar depois de casada com João Pedro, mas
quando nasceu. Ela enfrentou o próprio pai, que era latifundiário. Essa
celebração é uma honra para nós. Se João Pedro é o cabra marcado para morrer,
Elizabeth é a mulher marcada para viver”, declara.
FONTE – http://carosamigos.com.br/index.php/component/content/article/189-artigos-e-debates/4819-elizabeth-teixeira-90-anos-de-luta
http://tokdehistoria.com.br/2015/02/12/elizabeth-teixeira-90-anos-de-luta/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com