*Rangel Alves
da Costa
Já não sou
poeta, não ouso cantar, as linhas da escrita estremecem ante uma tristeza
grande. Momentos há que não somos mais nada senão o peso da saudade e da
recordação. E leio na mente a antiga poesia: “Oh! que saudades que tenho da
aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos trazem mais!...”.
O que dizer, o
que cantar, o que escrever em teu nome, oh terra minha? O que é ser e viver
longe de ti? E ainda na memória, leio Florbela Espanca falando a mim como se eu
falasse a ti: “Longe de ti são ermos os caminhos, longe de ti não há luar nem
rosas, longe de ti há noites silenciosas, há dias sem calor beirais, sem
ninho!...”.
Sei que é
impossível, pois tudo muda, e o sertão está transformado demais, mas tão bom
seria se ainda tivesse validade a velha canção: “Se algum dia à minha terra eu
voltar quero encontrar as mesmas coisas que deixei. Quando o trem parar na
estação eu sentirei no coração a alegria de chegar, de rever a terra em que
nasci, e correr como em criança nos verdes campos do lugar...”.
Ou talvez,
quem dera meu Deus, quem dera, no entardecer sertanejo ainda poder ligar o
radinho de pilha para ouvir: “No Nordeste brasileiro uma onda se espalhou/ Na
voz da Rádio Xingó, com seu apresentador/ Foi uma benção divina a um povo
sofredor/ O violeiro cantando sertão, viola e amor/ O cavaquinho do samba num
canto se encostou/ O tamborim fez silêncio, pra longe se retirou/ A natureza
sorriu ouvindo seu trovador/ No rádio leu-se a mensagem: sertão, viola e amor/
Cantigas e mais cantigas de um tempo que já passou/ As trovas apaixonadas do
poeta cantador/ Histórias de vaquejadas, maravilhas, sim senhor/ Me alegra
quando ouço sertão, viola e amor/ No Nordeste, leste, oeste, o povo se admirou
ouvindo a Rádio Xingó e seus poemas de amor/ Canta, canta minha gente, pois
violeiro também sou/ O Brasil todo conhece: sertão, viola e amor”.
Meu pai tinha
razão, agora tanto sei como Seu Alcino tinha razão. Seu amor ao sertão estava
enraizado no coração. E qual raiz eu carrego em mim senão a do mandacaru, do
xiquexique, da catingueira, da aroeira, da craibeira em flor? E qual retrato eu
tenho na parede do meu coração senão o do velho amigo sertanejo, o do caboclo
de beira de estrada, o daquele cujo suor cheira à própria terra?
Meu pai Alcino
tinha razão, pois: “De que me adianta viver na cidade/ Se a felicidade não me
acompanhar/ Adeus paulistinha do meu coração/ Lá pro meu sertão eu quero
voltar/ Ver a madrugada quando a passarada/ Fazendo alvorada começa a cantar/
Com satisfação arreio o burrão/ Cortando o estradão saio a galopar/ E vou
escutando o gado berrando/ O sabiá cantando o jequitibá/ Por nossa senhora, meu
sertão querido/ Vivo arrependido por ter deixado/ Esta nova vida aqui na
cidade/ De tanta saudade eu tenho chorado/ Aqui tem alguém, diz que me quer
bem/ Mas não me convém, eu tenho pensado/ Eu digo com pena, mas esta morena/
Não sabe o sistema que eu fui criado/ Tô aqui cantando, de longe escutando/
Alguém está chorando com o rádio ligado...”.
De vez em
quando, quando a saudade aperta mais e é como se eu sentisse necessidade de
estar caminhando pelos seus caminhos, então sozinho eu falo e sozinho pergunto
em silenciosa canção: “Como vai você? Eu preciso saber de sua vida...”. E lá
fincando moradia para não mais partir, talvez alguém que gostasse de mim de
fazer cafuné, cantarolasse: “Se eu soubesse que chorando empato a sua viagem
meus olhos eram dois rios que não lhe davam passagem...”.
Poço Redondo,
Poço Redondo, o que mais dizer? Deixo que Roberto Carlos diga por mim: “Eu
tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer, como é grande o meu
amor por você. E não ha nada pra comparar, para poder lhe explicar, como é
grande o meu amor por você...”.
Como é imenso
o meu amor por você!
Escritor
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