Tomislav R. Femenick – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN.
A Coluna
Prestes era formada por militares rebeldes, principalmente pelos de São Paulo e
do Rio Grande do Sul. Seus principais líderes foram Luís Carlos Prestes, Juarez
Tavola e Miguel Costa. Em 1924 alguns deles já tinham tentado fazer uma
revolução, tomando o Forte de Copacabana, mas fracassaram. Formados em
pelotões, a Coluna percorreu cerca de vinte e cinco mil quilômetros pelo
interior do país, fazendo uma “guerra de movimentos” e enfrentando as forças do
governo. No final de 1926, com a metade dos homens dizimados pela cólera e sem
condições de continuar a luta, se refugiou na Bolívia.
Porém no
início daquele ano, no dia 3 de fevereiro, tropas rebeldes da Coluna Prestes
realizaram o seu primeiro ataque no Rio Grande do Norte, contra a cidade de São
Miguel. A luta foi travada por 70 revoltosos, militares treinados, contra
quatro soldados da polícia do Estado e 28 atiradores (pistoleiros?), “num
tiroteio que durou das quatro horas da tarde até ao crepúsculo, com um rebelde
morto e dois legalistas feridos. Um destes [...] caiu nas mãos dos rebeldes e
foi degolado”. A população mais abastada de São Miguel fez uma verdadeira
debandada da cidade, quando se noticiou que outros mil rebeldes estavam se
dirigindo para lá. No dia seguinte a cidade foi saqueada pelos integrantes da
Coluna Prestes, que invadiam residências e lojas “arrebentando móveis e
destruindo objetos que não podiam usar ou transportar. [...] Partiram no mesmo
dia em que chegaram, depois de queimar o [Cartório de] Registro de Título e
Documento” (SILVA, 1966; MACAULAY, 1977). De São Miguel foram para Luiz Gomes,
onde repetiram o saque, invadiram e destruíram lojas e residências, levando
tudo o que podiam, e novamente incendiaram o Cartório local.
Antes desses
ataques, várias cidades do Estado se viram ameaçadas de invasão pelos tenentes
rebeldes. No dia 31 de janeiro, quando o jovem Padre Luiz Ferreira da Mota (o
célebre Padre Mota que depois viria a ser vigário geral, prefeito e deputado
estadual) tomava posse como o novo vigário de Mossoró, correu a notícia de que
os revoltosos da Coluna Prestes estavam na iminência de atacar a cidade. Em ata
paroquial, o Padre Mota registrou o impacto que a notícia de um provável ataque
da Coluna Preste a Mossoró teve entre a população da cidade. Dizia ele:
“Neste mesmo
dia, espalhou-se pela cidade o terror da notícia de que os revoltosos se
encaminhavam para nossas fronteiras, noticia que foi divulgada pela manhã, e
logo começou o êxodo da população. Quando me dirigia para a Matriz, às 8 e
meia, para a posse, fui, com surpresa, avisado do que se passava e sobretudo de
que certas pessoas de autoridade e responsabilidade já haviam abandonado,
precipitadamente, a cidade. Diante desta situação, resolvi fazer um apelo de
tranquilidade ao público, para melhor se resolver a situação e convocar uma
sessão de todas as autoridades e pessoas de responsabili¬dade, o que fiz de
púlpito, com palavras repassadas de fé no patrocínio de nossa Virgem Padroeira,
Santa Luzia, e também de confiança no patriotismo do nos¬so povo. A sessão
realizou-se no mesmo dia, a 1 ho¬ra da tarde, no edifício do Colégio Diocesano,
com grande comparecimento de povo e nela tomaram-se medidas que são do domínio
público. Daí por diante, nos dias de aflição e apreensão para o nosso povo,
sempre tomei a dianteira de todas as manifestações civico-patrióticas pela
defesa da nossa cidade, procurando, sobretudo despertar o ânimo do povo,
aconselhando a calma, prudência e permanência na cidade, para guarda dos
acontecimentos. Aprouve a Deus que tudo se passasse sem desgraças e atropelos
para nosso povo; os rebeldes tomaram outro rumo e nossa população voltou à paz
do costu-me, que a caracteriza. Todos [nós] reconhecemos, nesta salvação de
tamanho fla¬gelo, [que foi] o dedo de Deus que nos protegeu, por intercessão da
nossa querida Padroeira Santa Luzia. Em reconhecimento de tão grande graça,
cantou-se um ‘Te Deum’ solene, em ação de graças, no domingo, 21, pelas 5 horas
da tarde” – Texto transcrito do livro do tombo da igreja de Santa Luzia, em
Mossoró-RN.
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