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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

ANÁLIA, IRMÃ DE LAMPIÃO

 Por Francisco Alvarenga Rodrigues

ADENDO;

Bela arte, Alvarenga!

Senhores leitores, não confundir Anália com Amália. Esta primeira era Anália Ferreira da Silva, irmã de Virgolino Ferreira da Silva, o capitão Lampião. E a segunda, era Amália Gomes de Oliveira, irmã de Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, companheira do capitão. 

A Amália era casada com um irmão do sapateiro José Miguel da Silva, o famoso forrozeiro Zé de Neném, que era o primeiro esposo de Maria Bonita. O casamento da Amália, durou até o falecimento do esposo. Lamento não ter esta fonte no momento, mas não estou criando esta informação.  


Leia o que escreveu o historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros clicando neste link.

https://tokdehistoria.com.br/tag/amalia-gomes-de-oliveira/

José Mendes Pereira

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LÍDIA... AMOR E DESDITA DO CANGACEIRO ZÉ BAIANO.

 Por José Bezerra Lima Irmão


No segundo semestre de 1931, depois de uma viagem por Alagoas e Pernambuco para se reabastecer de munição, Lampião havia escondido a munição excedente na fazenda Maranduba, perto da Serra Negra, indo descansar nas imediações do povoado Poços, na entrada do Raso da Catarina. Ele conseguira também com seus amigos em Pernambuco algumas armas, porém a maior parte apresentava defeitos. Decidiu então levá-las para o seu amigo Venâncio Teixeira, residente em Olhos d’Água do Sousa, nas imediações de Santo Antônio da Glória – Venâncio era muito bom nesse negócio de armas velhas, deixava-as novinhas em folha.


No caminho, Zé Baiano começou a sentir dor de cabeça. Tinha febre. Tremia de frio em pleno meio-dia. Estava saindo um caroço no pescoço. Não suportava nem o chapéu na cabeça.

Lampião conhecia um velho chamado Luís Pereira, que morava no Salgadinho, ao lado da Serra do Padre. A mulher dele, Maria Rosa (dona Baló), era costureira e já havia feito muitas roupas para os cangaceiros. Lampião pediu ao velho que cuidasse do doente, enquanto o resto do bando prosseguia a viagem.

A casa de Luís Pereira tinha uma sala ampla, 3 quartos, cozinha espaçosa, e no fundo ficava o chiqueiro dos bodes, pegado a um tanque. Zé Baiano passou uns 15 dias ali. O tumor era tratado com remédios dos matos – chás e emplastros de ervas. Era bem cuidado por todos, inclusive pela filha caçula de Luís Pereira, chamada Lídia, uma linda garota de 15 anos. Quando ficou bom, o cangaceiro fugiu com a menina.

Lídia não foi propriamente raptada, mas, muito jovem, não sabia o que estava fazendo, e no mesmo dia, ao perceber a vida que teria pela frente, tendo de dormir nos matos e viver se escondendo como bicho, se arrependeu de ter saído de casa. Mas aí já era tarde.

Zé Baiano fazia de tudo para agradá-la. Cobria-a de presentes. Quando iam comer, ele reservava os melhores pedaços de carne para ela, cortava a carne em pedacinhos e punha-os na boca de sua beldade. Só tinha olhos para ela.

Nada, porém, era capaz de tirar da mente da garota a mágoa por ter sido arrancada do convívio de sua família. Não escondia de ninguém a revolta com o seu destino. No fundo, odiava Zé Baiano, o causador de sua desgraça.

Havia no bando um cangaceiro chamado Ademórcio, que Lídia conhecia desde criança, nascido e criado no Arrasta-pé. No bando, ele recebera o apelido de Bentevi. Aquele era o rapaz com quem ela gostaria de viver, e se ambos não tivessem sido arrastados para o cangaço poderiam, quem sabe, ter casado, pois seus pais eram amigos. Com o tempo, Lídia e Bentevi passaram a corresponder-se. Encontravam-se às escondidas sempre que Zé Baiano estava viajando.

Lídia Pereira de Sousa foi possivelmente a mais bonita das mulheres que participaram do cangaço. Era uma morena cor de canela, de cabelo liso, rosto bem delineado, lábios carnudos, olhos negros, com uma dentadura que parecia um colar de pérolas.

Um cangaceiro chamado Coqueiro apaixonou-se por ela. Vivia seguindo-lhe os passos. Certo dia, viu-a mantendo relações sexuais com Bentevi. Coqueiro deixou que os dois terminassem o ato. Bentevi vestiu-se, foi embora. Lídia ficou só. Então, Coqueiro apresentou-se, dizendo:

– Eu vi tudo, do cumeço até o fim. E eu quero tamém...

Lídia refugou:

– Vai-te pros inferno, cabra nojento! Nun tá veno qui eu nun me passo pra um canaia da tua marca? Nun seja besta!

– Ou resorve ou vou contá tudo a Zé Baiano... E tem qui sê agora...

– Pode ir contá até pro diabo! Eu já diche qui não, e pronto!

Isto foi na segunda semana de julho de 1934. O bando estava acoitado perto de Poço Redondo, nas Pias das Panelas, junto ao Riacho do Quatarvo, em terras da fazenda Paus Pretos do coronel Antônio Caixeiro. 

Uma imagem inédita na literatura. Foto artística de Antonio Caixeiro quando prefeito. A original não existe, pois fora consumida por um incêndio na década de 70. (Cortesia de Lauro Rocha para o Lampião Aceso) do pesquisador do cangaço Kiko Monteiro.

Lampião tinha chegado de Alagadiço, onde havia matado um filho de Cazuza Paulo. Zé Baiano havia ficado por lá para fazer umas “cobranças” junto a fazendeiros daquela região. Quando ele chegou às Pias das Panelas, Coqueiro decidiu contar o que tinha visto. À noite, os cangaceiros estavam sentados no chão, uns vinte ou trinta, inclusive as mulheres, em volta do fogo onde assavam carne de bode. O delator expôs o que viu, omitindo, porém, a parte que o comprometia. Zé Baiano franziu a testa, os olhos arregalados, como se não estivesse escutado direito, e rosnou para a companheira:

– O qui esse sujeito tá dizeno é verdade, Lida?

– É verdade, Zé – sustentou Lídia, com voz firme. – Só qui esse canaia nun diche a histora toda... Ele dexou de dizê o preço quiizigiu pelo segredo. Ele quiriaqui eu desse a ele tamém, pra nun lhe contá. Se eu tenho quimorrê, qui morra, mais um cabra safado desse nun me come!

Um silêncio de chumbo caiu sobre o acampamento. Zé Baiano ficou olhando para Lampião, aguardando ordens.

Lampião levantou-se, andou de um lado para outro, remoendo o terrível problema. Depois, sentenciou:

– O causo dela aí o cumpade Zé Baiano é qui resorve. Ela é dele, faça o quiacháqui deve fazê.

Fez uma pausa, ajeitou os óculos, e continuou:

– Agora, Coquero e Bentevi é cum a gente mermo. Gato, mate esses cabra!

Gato puxou o parabelo, aproximou-se de Coqueiro e deu-lhe um tiro na cabeça. Coqueiro, colhido de surpresa, não esboçou nenhuma reação. Não teve tempo sequer de pedir clemência.

Chegada a vez de Bentevi, percebeu-se que ele havia fugido. Os cabras queriam ir procurá-lo, mas Lampião mandou que tivessem calma:

Zé Baiano mandou que Demudado amarrasse Lídia num pé de imburana. Ele, que já supliciara tantos homens e mulheres com a sua palmatória de baraúna, de repente estava sem saber o que fazer. Lídia era tudo para ele. Passou o resto da noite acordado, sem falar com ninguém. Quando o dia amanheceu, pegou um cacete, foi até o pé de imburana, desamarrou a mulher e matou-a a pauladas, quebrando-lhe vários ossos. Lídia não emitiu uma palavra sequer, não gritou, nem ao menos gemeu. Como arremate, Zé Baiano esmagou a sua cabeça, como se faz com uma cobra. Sangue e massa cefálica esguicharam pela boca, narinas, olhos e ouvidos.

Depois, sem pedir ajuda a ninguém, o cangaceiro cavou uma cova rasa, enterrou-a e, não suportando mais, chorou.

Junto ao pé de imburana, no sangue coagulado, começou a juntar formigas.

Texto: Livro Lampião – A Raposa das caatingas de José Bezerra Lima Irmão.

Fonte: facebook - Transcrição: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador).
Grupo: O Cangaço

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SURPRESA DOIDA

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica; 3.143

Como observador da Natureza, quase caio de costas ao abrir a porta da rua, ontem pela manhã. O Sol já estava alto e pude contemplar no pé de pau-brasil da casa vizinha, três pássaros típicos da minha adolescência. São muitas dezenas de anos que não me deparava com um bicho daquele. E com desmatamento contínuo do Sertão, já apareceram na minha rua, bem-te-vis, rolinhas-brancas, rolinhas caldo-de-feijão... todos esses pássaros fugindo do desmatamento e encontrando restos de comidas nas ruas e nos lixos da cidade. Ainda não tinha visto de perto os três anus-pretos que pulavam da árvore para o chão e vice-versa. Passado o susto da grande surpresa, vi-me novamente rapaz pelas capoeiras, pela caatinga, pelos quintais longos repletos de pássaros e, entre eles, o anu-preto.

Quando em nossas caçadas de peteca (estilingue, baladeira) já sabíamos que dois passarinhos são muito difíceis de matar: o Zé Neguinho e o anu. O Zé Neguinho, pequeno e preto parece debochar do caçador a cada tiro disparado, pula para cima e para baixo na cabeça da estaca e grita como quem está lhe dizendo: “Atire mais seu bestão”. Já o anu-preto não se move tanto, mas é muito difícil acertá-lo. Daí vai que no Sertão alagoano existe um ditado que diz: “Quem tem pólvora pouca, não atira em anu”. Uma grande reflexão para a vida. E diante de tantas coisas passadas, é interessante como voltam à memória diante de uma cena como a que me deparei. Sim, que a minha casa está situada a cem metros do rio Ipanema, cujo leito seco é um jardim, porém, de todo jeito é surpreendente.

Podemos dizer que a presença dos pássaros em nossas vidas urbanas é verdadeiro colírio e não deixa de ser. Mas, por outro lado, quando se pensa no desaparecimento das matas, também aperta o coração, principalmente dos que provaram das suas delícias na juventude. O problema é que as árvores das ruas, no geral, não são frutíferas; o que faz com que a passarada vinda dos sítios rurais procurem o lixo e as migalhas das ruas ou os quintais que oferecem frutas variadas. Os ninhos e ovos dessas criaturas divinais estão ficando cada vez mais fácil de encontrá-los na arborização das avenidas e nos pátios das escolas. Os passarinhos perderam o medo dos transeuntes e do barulho das máquinas que diariamente cruzam as vias. Esqueci de dizer: no Sertão não se come anu-preto, consumidor de carrapato.

E você o que acha?

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