O município de
Santa Brígida recebeu este nome em 16 de julho de 1817. Até então, ele era
conhecido como "Itapicuru de Cima". A história da cidade começou
quando um fidalgo português, Antônio Manoel de Souza, se casou com uma
brasileira chamada Brígida. Após a morte da mulher, o fidalgo, que era
proprietário de terras, decidiu doá-las e, no ato da escritura, mudou o nome
para o de Santa Brígida.
Em 1940 Santa
Brígida já era um pequeno povoado do município de Jeremoabo, com raras casas de
barro cobertas de palha. Tinha apenas um criatório de bodes e cabras. A cidade
tornou-se conhecida pela passagem de Lampião ao local, por ser a terra de Maria
Bonita.
Em 1942,
outro fato chamou atenção para o município, quando um penitente chegou à cidade
pregando e curando as pessoas. O penitente se chamava Pedro Batista da Silva, e
ficou conhecido por sua sabedoria em dar conselhos, efetuar curas e livrar
pessoas dos maus-espíritos. O fato atraiu diversos romeiros ao município, o que
o credenciou a ser incluído no Roteiro Turístico e Cultural Religioso Nacional.
A Casa do
Beato Pedro Batista, fica localizada onde se encontra o memorial do beato e que
é considerado um referencial da cidade. Encontra-se no anexo um abrigo de
romeiros e uma loja de artesanato que divulga o trabalho dos moradores.
O beato
Pedro Batista e sua comunidade no sertão baiano
Professor Gil
Francisco
“Aqui, todos
têm que passar nessa mão. É rico, é bom, é pobre, é padre, tudo tem que ter
aqui”. - Pedro Batista
Convidado pelo
Ouvidor Geral do Estado de Sergipe, jornalista Luiz Eduardo Costa, para passar
a Semana Santa em sua Reserva Ecológica “Santo Antônio”, localizada em Canindé
do São Francisco, a 213 km de Aracaju, não resisti ao honroso convite por
vários motivos: primeiro por ter recusado anteriormente a acolhida companhia do
amigo por motivo de saúde, segundo por quer rever aquela comunidade após seis
anos numa rápida estada, terceiro tinha esperança em conhecer o município
baiano de Santa Brígida, onde nasceu no povoado de Malhada Caiçara, Maria
Bonita, companheira do bandoleiro Virgulino Lampião, terra onde viveu o beato
Pedro Batista. No domingo, 24 de abril, pela manhã, após o café que mais parece
um almoço, mesa farta, leite tirado às 4 horas da manhã pelo vaqueiro Zé,
coalhada, vários tipos de bolos, cuscuz, doces caseiros, preparado pelo trio
esperança; Maria Isaildes, Rosália dos Santos e Dione França, secretárias
responsáveis pela organização e manutenção da fazenda, seguimos com
destino a Santa Brígida, localizada na Mesorregião nordeste baiano, eu, Luiz,
Silvinha (neta) e seu companheiro Alison, o fotógrafo da família.
Antes da
viagem, estivemos na sede do município de Canindé do São Francisco, para
uma entrevista na Rádio FM Xingó – 98.7, com René Alves, apresentador do
programa líder de audiência, em Alagoas e Pernambuco, “Hora da Notícia”.
Percorremos da sede ao município baiano, cerca de trinta km de estrada de
piçarra. Cruzamos durante o percurso com apenas quatro veículos, três carros de
passeio e um pequeno caminhão, que retornava de alguma feira num povoado
próximo, além de duas motos de baixa cilindradas. Durante todo o caminho não
vimos uma só casa de nativos, somente fazendas, algumas com gado outros
desertas, mas todas bem cercadas. Como eu estava curioso, perguntei
a Luiz Eduardo, quem eram os proprietários daquelas terras e ele foi nomeando:
Fazenda do General, - hoje pertencente ao MST, Fazenda Brejo, famosa por possuir
uma fonte mineral, Fazenda do Procurador Moacir, e as fazendas de Maria
Marinha, Dr. Roberto e Gabriel. A paisagem é desértica, é um deserto
requestado de agressividades sem par, naquelas terras onde tudo é árido e
adusto. Este vislumbre me fez lembrar a descrição fantástica de Ranulfo Prata,
sobre o Raso da Cataria, em seu livro Lampião (01): “A sua flora é toda uma
espessa trama de dilacerantes espinhos e folhagem urticante. Tecem-lhe
impenetrável barreira, como a resguardá-la do invasor, o ouriçado xique-xique,
as palmatórias aciculares, a macambira, lanceolada e ríspida, o lacerante
mandacaru, o mordente rabo de raposa, o híspido calumbi e o famoso cunanan,
cipó enleante, cujo entrançado a foice e o facão custam a desfazer”.
Aparição do
beato
Tomei
conhecimento da existência do beato Pedro Batista, através da socióloga Maria
Isaura Pereira de Queiroz, O Messianismo no Brasil e no Mundo, ganhou, logo
após o seu lançamento, repercussão internacional, tendo sido traduzido para o
francês (02). Anos depois assistir O Povo do Velho Pedro, dirigido por Sérgio
Muniz, documentário (1 hora e 10 mn.) que aborda aspectos da religiosidade do
sertão nordestino, especificamente dos municípios de Juazeiro do Norte – CE e
de Santa Brígida –BA (03).Fiquei surpreso e intrigado sem entender o porquê de
Rui Facó, autor de um dos melhores trabalhos sobre Cangaceiros e Fanáticos, não
ter feito nenhuma referência ao beato Pedro Batista (04). Recentemente o
jornalista e escritor baiano Elieser César, publicou um longo artigo no Correio
da Bahia, na edição de 18 de novembro de 2001 (05).
Pelo ano de
1940, peregrinava pelo interior de Alagoas, Sergipe e Pernambuco um
penitente de barba e cabelos grisalhos pregando e curando:
chamava-se Pedro Batista da Silva. Por onde andou, sua fama foi se espalhando e
seguidores pedindo-lhe indicação de remédios, ou então que rezasse sobre os
doentes. Afirmava-se na época que era natural de Alagoas e por problemas
políticos a família mudou-se para Pernambuco, onde se criou e aos dezessete anos,
sentou praça servindo não só em Pernambuco, mas também em outros pontos do país
com Foz do Iguaçu, participando da repressão contra os jagunços da Guerra do
Contestado (1914-1918). O ex-prefeito Antônio França, durante suas pesquisas no
Arquivo do Exército, no Rio de Janeiro, confirmou que o Velho Pedro Batista
serviu mesmo como soldado no 3º Regimento de Infantaria, sob o comando de
Aleluia Pires. E chegou a conclusão que Pedro Batista não tinha o biótipo do
nordestino e sim de europeu, e diz ter ele nascido em Guaraqueçeba, litoral do
Paraná.
O poeta
popular sergipano, João Firmino Cabral (1940), em recente entrevista ao autor,
relata seu primeiro e único encontro com o beato Pedro Batista: “Conhecido por
beato Pedro Batista ou meu padrinho Pedro Batista, como chamavam os sertanejos
que andavam com um rosário no pescoço, dado por ele. Pedro foi um evangelizador
do sertão baiano, apesar de ser tido como fanático, assim como Antônio
Conselheiro, mas ele foi um homem que pregou a palavra de Deus naquela região.
Ele aconselhava muito o povo a não praticar maldade, a não roubar, não matar.
Fazia muitos benefícios sociais. Nesta época eu morava em Paulo Afonso, tinha
uns treze anos e as segundas-feiras, dia de feira em Santa Brígida eu ia vender
picolé. Saía de Paulo Afonso num caminhão mixto (mercadoria e gente). Em certo
dia tive a oportunidade de conhecê-lo e ele estava sentado numa cadeira de
tiras de couro, protegido por seus seguidores religiosos. Dei a benção como
todos faziam e ele respondeu: seja feliz, você vai ser um menino do futuro. Eu
fiquei todo eufórico, como diz o pernambucano, todo ancho. Desse dia prá cá não
vi mais Pedro Batista, mas sempre ouvi as suas histórias, inclusive nos anos
sessenta, após sua morte, retornou vários pistoleiros a Santa Brígida e o povo
dizia: se meu padrinho Pedro Batista fosse vivo esses pistoleiros não se
criavam em Santa Brígida, porque ele era inimigo dos pistoleiros. Mas Pedro
Batista foi sem sombra de dúvida e sem fanatismo, um evangelizador do povo do
sertão, abandonado pelos políticos. Na época já se dizia que ele não era
baiano, vivia em Santa Brígida desde os anos quarenta e o povo o considerava um
santo, como considerou Padre Cícero, Antônio Conselheiro. Amigo e conselheiro
do povo, qualquer problema que o povo necessitasse ia a ele para apreciação.
Quando haviam secas prolongadas o povo se deslocava até Santa Brígida em busca
de socorro, sempre recorrendo aos benefícios do beato que o ajudavam como
podia. Assim viveu Pedro Batista até quando foi chamado à eternidade”.
Santa Brígida
Rota de
passagem do bando de Lampião, o município de Santa Brígida, com 595 km²,
distante de Salvador 430 km, sobre sua origem, conta-se que uma senhora
brasileira de nome Brígida casada com Antônio Manoel de Souza um grande
proprietário de terras da região do Itapicuru, faleceu durante uma viagem a
Portugal. Desolado, o esposo resolveu doá-las e no ato da escritura mudou o
nome para o de Santa Brígida, em 16 de julho de 1917. Em 1940, Santa
Brígida já era um pequeno povoado do município de Jeremoabo, com algumas casas
de taipas, cobertas de palhas. Depois outro fato chamou atenção para o povoado
quando ocorreu a chegada em 14 de junho de 1945, do beato peregrino Pedro
Batista, tinha como objetivo formar a romaria e desenvolver a agricultura como
meio de subsistência para as famílias que ali residiam.
Ao chegar a
Santa Brígida com todas as características do “beato” tradicional (barba e
cabelos longos, bordão de peregrino), a sua presença foi denunciada às
autoridades municipais e regionais, temendo ser um novo Antônio Conselheiro.
Com a fixação em solo baiano, Pedro Batista da Silva, provocou o crescimento do
povoado, atraindo inúmeras famílias, inclusive de outros Estados. A migração
para Santa Brígida ocorreu também em função das oportunidades de negócios
decorrentes da aglomeração de pessoas em torno de Pedro Batista, que
proporcionou o desenvolvimento agropecuário na região. O município
foi criado com o território do distrito de Santa Brígida, desmembrado de
Jeremoabo, por força da Lei Estadual de 27 de julho de 1962. A sede, criada
distrito em 1953, foi elevada à categoria de cidade quando da Lei que criava o
município.
O andarilho
revelou dotes de economista e administrador, encarregando-se de prover o
sustento de sua gente, fomentando o trabalho coletivo, os mutirões, conhecidos
por “batalhões”. Estimulou o plantio de algodão, palma e melancia. Esses
batalhões também serviram como mãos de obra para a roçagem das terras do
coronel João Sá e dos principais fazendeiros da região. Para facilitar à venda
dos produtos agrícolas excedentes nas feiras de Jeremoabo e Paulo Afonso, Pedro
Batista comprou dois caminhões (06) Estimulou a criação de gado e comprou um
gerador de energia elétrica, instalou um hotel para abrigar romeiros e
visitantes, além de criar duas escolas primárias na sede do município.
Algumas das
regras básicas para a convivência na comunidade eram: Não se permite que fumem;
nem que bebam; nem que se percam em farras; nem que andem armados. O chefe
Pedro Batista não admite que se desobedeça as suas orientações, mas permitia
entre os penitentes a Dança de São Gonçalo, considerado santo casamenteiro das
Velhas e sua festa se realizava em Amarante (Portugal) a 10 de janeiro. O
Padrinho fornecia dinheiro para que pudessem ser comprados os aviamentos do
grupo de dançadeiras de São Gonçalo, para as apresentações durante as novenas.
Aqui se destacam principalmente as promessas de chuva, as promessas de doenças:
Nas
horas de Deus, amém
Padre,
Filho, Espírito Santo,
É a
primeira cantiga
Que a
São Gonçalo eu canto.
Na
época, Pedro Batista foi considerado o maior agricultor de Santa Brígida,
possuidor das fazendas da Oliveira, da Gameleira e do Batoque, além de vários
lotes menores comprados. Segundo artigo publicado em Salvador, no jornal O
Estado da Bahia, de 12 de julho de 1954, diz que “antes da chegada de Pedro
Batista contava aquele arraial cerca de oitenta casas; hoje graças ao velho
Pedro Batista e aos seus romeiros, santa Brígida conta com mais de trezentas
casas. A área cultivada em toda a zona de Santa Brígida, que não excedia a duas
mil tarefas, hoje conta nunca menos de doze mil. Para se ter uma idéia do Progresso
agrícola de Santa Brígida, depois da chegada do velho Pedro Batista, basta que
se diga que a produção de farinha de mandioca, feijão e milho é superior ao
consumo de todo o município de Jeremoabo”.
Segundo a
socióloga Maria Isaura, entrevistando em 1956, Jacó Marques da Silva na época
com oitenta e um anos, diz: “que era ele o dono de Santa Brígida, que foi dada
como sesmaria a um seu ascendente. Foi ele quem organizou a feira em 1912, e a
manteve até pouco tempo; mesmo perdendo dinheiro, levava mantimento para vender
na feira, porque queria que seu lugar tivesse importância” (07). Contando com
menos de vinte mil habitantes, Santa Brígida hoje é um dos municípios mais
pobres do Estado da Bahia, sobrevive basicamente do repasse do Fundo de
Participação dos Municípios.
Terra de
bandoleiros
Antiga terra
de ninguém, por onde andaram ladrões, assassinos, pistoleiros e cangaceiros e
deixaram no povoado a marca da brutalidade. Maria Isaura, assim descreve:
“Lugar mal-afamado, briguentos e vingativos eram seus habitantes; qualquer
pequena discussão dava lugar a assassinatos. E como todos eram mais ou menos
parentes tios matavam sobrinhos, irmãos e primos matavam-se entre si” (08). Nos
anos cinqüenta, a cidade vivia entre os rosários da fé e do crime, época em que
atuou em Santa Brígida, um dos maiores facínora da região, o bandido Pedro
Grande (1951 a 1957), que juntamente com seus filhos espalharam o terror nos
sertões baianos, cometendo 52 crimes, sendo 32 homicídios, 12 latrocínios e
oito assaltos. Dizem que Pedro Grande era um homem comum, ordeiro e
trabalhador, até sofrer uma emboscada de pistoleiros, num dia de feira.
Recuperado, se armou para se vingar. O poeta popular João Firmino Cabral
(1940-2012) juntamente com o pernambucano Sebastião Leão, conhecido
por Tantão, registraram as atrocidades de Pedro no folheto publicado em 1966,
Prisão de Pedro Grande, de seus filhos e Heron:
Ajudai-me
Santa Musa
Com teu suave
som
Que vou
escrever um livro
Com meu
inspirado dom
A prisão
de Pedro Grande
Seus filhos e
Heron.
Pedro
Grande com seus filhos
Um por
nome de Eurides,
Corriam
assustados juntos
Eugênio
e Eronides
No encalço da
tropa
Vinha o
tenente Melquiades.
Firmino nos
conta que quando morava no município de Paulo Afonso, recém casado, um fato
interessante se deu com ele em junho de 1965: “Peguei um carro (pau-de-arara)
na boca da noite no povoado Mulungu, vizinho a Paulo Afonso, com destino a
Jeremoabo, onde eu morava. Numa parada adiante, subiram três pessoas: o mais
velho estava vestido de mescla azul e dois rapazes. Enquanto eles conversavam
eu cuidava da minha mala de folhetos. De repente o cidadão mais velho
perguntou - o senhor é daqui? – Não, sou de Jeremoabo, mas conheço a
região muito bem. – Você já ouviu falar de um pistoleiro de Santa Brígida, um
tal de Pedro Grande? Tem três filhos que são três ferras, mata o povo e enterra
as pessoas vivas. – Já ouvi falar. – O senhor o que acha deles? –
Nunca me fizeram mal, não tenho nada com nenhum dos três. – Também ele tem um
amigo Heron, mora em Jeremoabo onde você mora, ele é um sanguinário. – Também
não conheço, ouvi falar desse homem, nunca me fez mal. Entro e saio de Jeremoabo,
trabalho na feira, domingo vou para Malhada Nova, segunda para Carira vender
meus folhetos. Se fez mal a alguém. A mim não fez nenhum. Como também esse
Pedro Grande que o senhor está falando, nunca me fez mal, não tenho nada contra
nenhum deles. Se fizeram alguns mal deve ter suas razões, não posso
denunciá-los porque não fizeram nenhum mal a mim ou aos familiares. Quando se
aproximava a parada do km 40, local onde eles iriam descer, o mais velho bateu
no meu ombro e disse: gostei de ver, você está falando com Pedro Grande, esses são
meus filhos, falta um que é recém casado. Gostei da sua posição é assim que
homem faz. Você sabe o que poderia lhe acontecer se falasse mal deles? Eu ia
mandar você descer do carro e matar aqui mesmo, mas você é um menino homem. O
que disse foi uma beleza, porque ele nunca lhes ofenderam. Está convidado a
descer conosco para jantar nesse hotel da gente. – Agradeci e disse-lhe que
minha esposa estava me esperando, inclusive estou levando uma carne que comprei
em Paulo Afonso. Mas um dia venho visitar os senhores. – Respondeu ele, você
será bem vindo, chegando procure o hotel de Pedro Grande. Pegou na minha mão e
me abraçou e perguntou precisa de alguma coisa do seu amigo? – Não só desejo
que o senhor seja feliz, muito obrigado. Como disse anteriormente, eles,
desceram no km 40 e eu segui minha viajem.”
Pedro Grande
A história
criminosa de Pedro Grande teve início no povoado do Minuino, pertencendo a
Jeremoabo, onde ele morava localizado a 20 km de Santa Brígida. A acusação de
destruir um cercado feito numa cacimba tinha conotação política, pois Pedro
Grande estava sendo hostilizado por grupos que não contavam com o seu apoio nas
eleições. Levado para a delegacia de Santa Brígida foi agredido e proibido de
portar arma enquanto viesse à sede. Em agosto de 1951, durante um dia de feira
em Santa Brígida, Pedro Grande cercado por vários homens foi baleado dezoito
vezes.
Segundo
depoimento de Lindoaldo Alves de Oliveira, prefeito de Santa Brígida de 1966 a
1972, “eles foram atirando, atirando até que Pedro caiu. Eu sei que Pedro ficou
com 18 ferimentos de tiro. 18 tiros no corpo, mas nenhum pegou em parte que
tinha para matar. O braço quebrou, o braço esbagaçou. Acabaram achando que
morria. Mandaram chamar aqui os parentes; os parentes foram aí não deu tempo
para matar Pedro. Mandaram um carro aqui, o carro não coube ele, aí voltaram e
trouxeram outro maior. Eu sei que quando ele recebeu os primeiros socorros, os
tiros foram no domingo, ele veio receber na terça os primeiros socorros”.
Pedro Grande
ficou internado em Paulo Afonso durante uma semana, quando foi informado que
seus algozes iriam invadir o hospital para concluir o serviço. Temendo por sua
vida foi ajudado por um parente e fugiu do hospital para um esconderijo. Após
recuperação, deu início à vingança contra os seus agressores, matando a todos
os que não conseguiram fugir para Sergipe. É desta forma, que Pedro Grande
passa de vingador a realizar crimes como pistoleiro e transforma-se num mito da
região. O General Castelo Branco quando assumiu a presidência da república,
ordenou a prisão de Pedro Grande e seus filhos de qualquer maneira, caso não
acontecesse, seriam destituídos muitos oficiais do Exército Brasileiro,
envolvidos na sua captura. Contando com a ajuda de vários jipps William, que
entravam facilmente na caatinga, local de esconderijo do bando de pistoleiros,
foi possível prendê-lo juntamente com seus filhos, Eurides, Eronides e Eugênio,
em fins de 1965. A prisão foi realizada pelo Exército Regional de Paulo Afonso,
sob o comando do tenente Melquiades, após várias tentativas para prendê-los, os
bandoleiros escapavam sempre pelos esconderijos da região.
Devido ao
grande noticiário da imprensa estadual, sobre a prisão dos bandoleiros, é que
Pedro Firmino teve a ideia de escrever um folheto sobre a grande história do
momento na região, assim surgiu o folheto, “A Prisão de Pedro Grande e seus
filhos e Heron” que foi impresso em junho numa gráfica em Paulo Afonso, com uma
tiragem de cinco mil exemplares, vendida toda edição em plena feira (sexta e
sábado), pois todos queriam saber sobre Pedro Grande. Na segunda
feira seguinte, como de costume, Firmino foi vender o restante dos folhetos em
Santa Brígida. Abriu a mala e espalhou os folhetos no chão: “De repente
apareceu um cabo de polícia me proibindo que continuasse a vender os folhetos,
disse-lhe que eu vivia daquilo, era meu único sustento. Ele engrossou e quis me
prende, justificando que Pedro Grande não era pistoleiro. O que fez foi uma
vingança. Continua – Minha sorte foi que nesse dia estava presente o pessoal do
Exército de Paulo Afonso, camuflado, no encalço de mais pistoleiros.” Realmente
o poeta teve muita sorte por encontrar um soldado que logo relatou o fato
ocorrido, e este foi até o cabo e perguntou o que ele tinha a favor de Pedro
Grande e seus filhos para proibi a venda dos folhetos. Resolvida a questão o
poeta popular retomou ao ponto e continuou vendendo seus cordéis, inclusive se
recordar de ter vendido dois exemplares a própria esposa de Pedro Grande, que
estava acompanhada do filho de uns dez anos.
Após cumprirem
pena de Pedro Grande e seus filhos, um jornal de Salvador, estampou a seguinte
manchete: “Possível volta de Pedro Grande aterroriza o sertão”. O bandoleiro
Pedro Grande residia no Estado do Pará até ano passado (2010) quando faleceu,
mas freqüentemente visitava Canindé do São Francisco (SE), onde tinha vários
parentes, inclusive um dos seus filhos reside até hoje.
Exercício
Político
As melhorias
conseguidas por Pedro Batista eram para elevar o nível de seu povo; conseguiu a
nomeação de uma professora estadual e de um professor municipal, além de doar
ao Governo Federal uma de suas fazendas, a “Gameleira”, para ali ser instalado
um núcleo de colonização que proporcione aos romeiros ensinamentos agrícolas.
Pedro conseguiu ainda, um juizado de paz e um cartório de Registro civil.
Seu papel é o
de prefeito da localidade, de administrador local, bem como constitui a
autoridade policial e judicial. Nada no município se passa sem que Pedro
Batista tenha sido primeiramente consultado e ouvido. Pedro também funcionava
como uma espécie de Banco de seus romeiros e de todos os que recorrem a ele.
Contam os mais velhos do município, que os beneficiados pagavam de acordo com o
ganho, sem juro algum.
Devido à
repercussão de suas atividades benéficas entre os romeiros, o Chefe Pedro
Batista, passou a ser tratado por seus seguidores de Padrinho, (muitos
acreditavam ser ele, a reencarnação de Padre Cícero) tratamento de
superioridade, atribuído por gratidão e respeitos dos fiéis. A socióloga Maria
Isaura inclui o beato Pedro Batista nos “Movimentos Messiânicos Rústicos”, por
está vinculado à vida rural do país. No Maranhão, por volta de 1940, o místico
José Bruno de Moraes se instalou em Nazaré do Bruno e exerceu chefia econômica
semelhante à de Pedro Batista.
Madrinha Dodô
Com a morte de
Pedro Batista em 11 de novembro de 1967, vítima de câncer, Madrinha Dodô deu
continuidade em seus ensinamentos e obras de caridade. Nascida em 08 de
setembro de 1902, recebeu o nome de Maria das Dores, era natural do povoado
Moreira, município de Água Branca, no Estado de Alagoas. Filha de família
camponesa, desde cedo já demonstrava interesses pelas doutrinas religiosas. Aos
doze anos, acompanhou o Padre Cícero em suas missões. Com a morte do beato
cearense (1844-1934) em Juazeiro, a igreja católica passou a
reprimir o fanatismo religioso no nordeste. É nesta época que
aparece o peregrino Pedro arrastando multidões pelos sertões adentro. Entre os
seguidores estava Maria das Dores, que passou a chamar-se de Madrinha Dodô,
acompanhando o líder religioso, ora ensinando rosários, benditos, cantigas de
louvor e penitência. Madrinha Dodô faleceu em 28 de agosto de 1998, aos noventa
e seis anos, em Juazeiro do Norte - CE.
O jornal
Tribuna de Juazeiro – Juazeiro do Norte (CE), de 23 de outubro de 1966,
noticiou à ajuda de mantimentos enviados pelos romeiros de Santa Brígida, sob a
liderança de Madrinha Dodô: “Fato excepcional e digno de nossos
elogios aconteceu a semana passada aqui. Um caminhão cheio de alimentos (sacos
de arroz, feijão, açúcar, sal, leite e mais de 100 quilos de carne de gado)
chegou ao abrigo dos Velhos mantidos pelo SAM. O carro veio da Bahia, mais
precisamente de Santa Brígida; foi mandado pela generosa senhora Maria das
Dores dos Santos, romeira de Padre Cícero. É que a referida senhora, quando
aqui esteve por ocasião da festa da Padroeira, visitando o abrigo do SAM,
condoeu-se dos seus hóspedes e prometeu mandar o mais breve possível um
carregamento de alimentos num caminhão. Isto ela disse aos jornalista Walter
Barbosa, presidente da Sociedade de Amparo aos Mendigos (SAM). Dona das Dores é
senhora idosa, sexagenária, humilde,católica e de coração generosíssimo. Sendo
bastante conhecida e admirada no sertão de santa Brígida, não teve dificuldades
em conseguir junto aos romeiros do “Padim Ciço”, ali residentes toda espécie de
mantimentos indispensáveis ao sustento diário daqueles pobres velhos que moram
no abrigo de Juazeiro”.
Memorial
O Centro
Cultural Pedro Batista, composto de museu, biblioteca e fototeca, mantido pela
Prefeitura de Santa Brígida, cuidam do memorial e zela pela memória de Pedro
Batista. Localizado na Principal Praça do município, que leva o mesmo nome do
beato. Na Praça há um busto do beato Pedro Batista e uma estátua de Madrinha
Dodô. No Memorial estão todos os objetos do beato. O retrato dele em sua
própria cama, o quarto intacto, de Madrinha Dodô e peças mais simples, como
rosários e roupas. É possível encontrar também no museu alguns documentos como:
Proposta de empréstimo agrícola junto ao Banco do Nordeste do Brasil S/A,
datado de 15 de dezembro de 1955; Documentos fiscais da firma de Pedro Batista,
autorizados pela Coletoria Estadual de Jeremoabo; Documentos fiscais referentes
ao pagamento de Imposto Territorial Rural à prepostos da Coletoria Estadual de
Jeremoabo; Contrato de empréstimos bancários junto ao BNB para financiamento de
suas atividades agrícolas; Livro com registro de custos das obras coordenadas
por Pedro Batista; Cartas escritas pelo Coronel João Sá destinadas a Pedro Batista.
Desde 1963 que
o beato já sentia sinais da doença e no último ano de sua morte não conseguia
ficar de pé, nem correr sozinho. A má aplicação de uma injeção para combater a
infecção urinária acabou por prejudicar mais a sua locomoção. O
beato faleceu em 11 de novembro de 1967, vitima de uma infecção urinária
provavelmente decorrente de problemas na próstata. . Seu corpo encontra-se
sepultado no cemitério São Paulo, em Santa Brígida.
A Paz
Foram dias
memoráveis na Fazenda Santo Antônio e as gentis companhias do anfitrião, Luiz
Eduardo Costa e seus convidados: o escritor Alcino Alves e seu filho, Deputado
João Daniel e esposa, Paulinho Costa e esposa, Frei Enoch e outros.
Espero receber
em breve, um novo convite para atualizarmos os papos literários e políticos e
desfrutar dessa paz que a gente só encontra na morte, no céu, cercado por
anjos, bem como revisitar Santa Brígida, para observar melhor alguns aspectos
daquela comunidade que ainda me deixa intrigado e quem sabe, reescrever essas
observações, obtidas ligeiramente numa primeira visita. Aliás, uma semana antes
da minha ida a Santa Brígida, o vice-governador Jackson Barreto, esteve naquele
município levado por Luiz Eduardo, para conhecer a devoção de Pedro Batista,
que continua forte em Santa Brígida.
01
Lampião. Ranulfo Prata. Rio de Janeiro, Ariel, 1934.
02 O
Messianismo no Brasil e no Mundo, Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo,
Editora da 03 Universidade de São Paulo, 1965. Rio de Janeiro, Editora
Alfa-omega, 2ª Ed. prefácio de Roger Bastide, 1976.
03 O Povo do
Velho Pedro, dirigido por Sérgio Muniz, 1967. Filmado durante a semana Santa de
1967 e julho do mesmo ano, com apoio do Centro de Estudos Rurais e Urbanos e do
Instituto de Estudos Brasileiros, ambos da Universidade de São Paulo.
04 Cangaceiros
e Fanáticos. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1960.
05 Pedro
Batista, Elieser César. Salvador, Correio da Bahia, 18 de novembro de 2001,
republicado em Memórias da Bahia –II, Correio da Bahia, nº6, 2004.
06 - Santa
Brígida encontra-se no meio do caminho, entre Jeremoabo e a sede de Paulo
Afonso.
07 - O
Messianismo no Brasil e no Mundo, Maria Isaura Pereira de Queiroz.
08 - O
Messianismo no Brasil e no Mundo, Maria Isaura Pereira de Queiroz.
Referências
Bibliográficas
IRDEB-TVE-BAHIA.
Pedro Batista o Conselheiro que deu certo. Salvador, 1997.
OLIVEIRA, João
de. A Vida e Morte de meu padrinho Pedro Batista da Silva – cordel, 1970.
QUEIROZ, Maria
Isaura Pereira. Sociologia e Folclore: A dança de São Gonçalo num povoado
baiano. Salvador, Livraria, Editora Progresso, 1958.
O Messianismo
no Brasil e no Mundo. São Paulo, Editora Alfa-Omega, 2ª edição, 1976
SILVA, Z.
Apóstolo. A vida de Zezito Apóstolo da Silva – líder dos romeiros do Beato
Pedro Batista. Salvador, EGBA/Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2002
Parte desse artigo foi copiado do blog de Cláudio Nunes que atua no
jornalismo de Sergipe e o recebeu para publicação do também jornalista,
professor universitário, Diretor de Imprensa da ASI, membro do IHGSE e do IGHBA
Professor Gil Francisco.
http://meneleu.blogspot.com.br/2015/06/o-beato-pedro-batista-e-sua-comunidade.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com