Por Sávio Siqueira
Foto de Virgulino Ferreira da Silva com seus dez anos de idade-
No
sopé da Serra Vermelha, no sítio Passagem das Pedras, na margem do riacho São
Domingos, no município de Vila Bela, no Estado pernambucano, lá pelo meado do
ano de 1897, nasce uma criança e lhe dão o nome de Virgolino Ferreira da Silva.
Segundo alguns historiadores, o terceiro filho de Maria Sulena da Purificação e
segundo do Sr. José Ferreira dos Santos(Silva).
Local com os escombros da casa em que
Virgulino Ferreira Nasceu
Naquele tempo, passou a fazer e desfrutar daquilo que toda criança desfrutava e
fazia nas terras do semiárido sertanejo. Na maior parte do tempo, vivia na casa
de sua avó materna, casa de avós é sempre mais gostoso, até começar a ficar
taludinho. Nas campinas, ia pegar passarinho, caçar, colher e desfrutar dos
frutos das árvores ali, embaixo das fruteiras, onde parece que o fruto fica
mais saboroso, tomar banho nos poços que a enchurrada deixou no leito do riacho
São Domingos, enquanto pastorava os animais. Até chegar o tempo de ir para a
escola. Junto com seus irmãos mais velhos, Antônio e Livino, passa a frequentar
as aulas e nota-se que se destaca em comparação as outras crianças. Segundo
pesquisa de historiadores, ele chega a chamar a atenção do professor, pelo seu
desenvolvimento no aprendizado. Outro fato que vem chamar atenção, é de que
nenhum fato, até hoje, fora escrito como que os 'Ferreira', Antônio, Livino e
Virgolino, tenham sido briguentos na escola, no sítio, nas vilas ou cidade e
sempre mantinham respeito pelos mais velhos... Pelo menos que saiba, nada
sobre, li ou ouvi dizer.
Filho de casal pobre, neste mundão de Deus, tem que "pegar no batente"
logo cedo. Passa a fazer os afazeres na propriedade rural, enquanto seu pai
estava fora. Seu pai era um almocreve, transportava cargas de alimentos,
tecidos e objetos nos lombos dos seus burros. Logo, logo, a criança, Virgolino,
passa a seguir seu pai em suas longas caminhadas, aprendendo a profissão.
Virgolino não podia ver um pedaço de jornal, uma revista, um livro ou mesmo a
bula de algum remédio, que devorava suas letras em busca de saber o que nelas
estavam escrito. Aprendeu a tocar fole, sanfona, a arte de artesão em couro,
essa foi, creio, pelo seu atual meio de vida. Muitos animais com suas cangalhas
e arreios, e sabendo, ele mesmo consertava quando alguma reata quebrava, até
nos acampamentos onde paravam para descansarem. Fazia versos, cantarolava
prosas e músicas da época. Foi formando um corpo esquio, moreno e com
agilidades para idade, já chamava a atenção das moças da região. Gostava de
forró e, segundo alguns escritores, era um cabra bom dançador.
Quando o jovem contava com seus 17 anos, seus familiares o deixam tomando conta
dos animais e vão a uma Romaria em Juazeiro no Ceará, isso na segunda metade de
1915. Sua parentela retorna e ele fazendo o relatório dos dias em que ficou
tomando conta do sítio, diz ao pai e irmãos, que deu por falta de alguns dos
animais. Dias depois, junto ao tio Manoel Lopes, que era inspetor de
quarteirão, vagam pela caatinga em busca de rastros ou restos dos animais
desaparecidos. Após muitas horas de busca, veem vestígios de uma terra que
tinha sido removida há pouco tempo. Cavam e encontram várias peles de animais,
nas quais, tem a marca que as identificavam de que seria da sua família.
Naquele tempo, além do ferro usava-se uma marca, específica nas orelhas
das criações. Estava aí o motivo dos sumiços dos animais, alguém estava
roubando, matando, vendendo, ou comendo, a carne e guardando o couro para dar
fim depois.
Foto com Virgulino Ferreira da Silva com 20 anos de idade-
O local em que foi encontrada as provas do roubo, ou seja as peles dos animais,
ficava dentro das terras da fazenda Pedreira, a mesma tendo como proprietário o
Sr. Saturnino Alves de Barros. Próximo a casa de um de seus vaqueiros, morador,
Zé Caboclo. As provas levam o inspetor de quarteirão a prender Zé Caboclo e um
'sócio' que com ele andava, chamado Tibúrcio. São amarrados e levados para
pequena cidade de Ingazeira. Lá depois de um bom 'réla' e a advertência que não
deveriam continuar fazendo o crime, os libera e os manda embora. Insatisfeitos
e envergonhados pelo descobrimento do que andavam fazendo, ao chegarem na
fazenda Pedreira, vão queixar-se ao dono, contando a sua versão. O dono da fazenda
Pedreira, homem justo e sério, já estava com idade avançada. Tinha os Ferreira
como amigos e assim continuou.
Os
filhos daqueles que têm posse, na maioria das vezes, tentam sempre deixar os de
pouco recurso por baixo. O ancião Saturnino, tinha um filho que se enquadrava
exatamente nesse perfil. Arrogante, queria sempre machucar os outros. A fazenda
de seu pai era maior e com mais desenvolvimento financeiro do que o sítio
Passagem das Pedras de José Ferreira. Por isso, quando o pai de Virgolino vai a
fazenda Pedreira relatar o que estava acontecendo com seus animais, o filho do
dono da fazenda Pedreira, José Alves de Barros, conhecido por todos como Zé
Saturnino, tendo escutado o que os dois senhores conversavam, salta de lá e diz
para o pai que pode deixar que ele tomará as providências nesse caso. Diz
também que errado são os Ferreira andar em sua terras e, que Zé Caboclo não tem
culpa nenhuma.
Naquela
época não se faziam cercas dividindo os limites das propriedades. Os animais
pastavam livres nas 'soltas'. A tarde voltavam para o terreiro das casas dos
donos, pois estes os davam sempre uma ração extra, no caso das criações, com
certeza, seria um punhado de milho. Com isso, pelo instinto, os animais sempre
retornavam no ocaso de cada dia, para receberem sua 'ceia'.
Foto dos escombros da casa da fazenda Pedreira do
velho Saturnino-
O inspetor de quarteirão, Manoel Lopes, foi ao encontro de Zé Saturno no dia da
feira de Vila Bela. O encontrando, referiu sobre o acontecido em suas terras,
ou em terras de seu pai, praticado pelo vaqueiro Zé de Caboclo e seu 'sócio'.
Em vez de agradecer, Zé Saturnino diz muitas para o inspetor e o ameaça,
dizendo que falará com pessoas influentes, autoridades políticas, e o tirará do
cargo e colocará outra pessoa.
Ainda hoje comemora-se com muita festa a data da padroeira das cidades
interioranas. Naquele tempo, próximo da data da Festa da Padroeira de Vila
Bela, toda a população está em euforia para festeja. Seguindo com os
preparativos, primeiro mandam fazer suas roupas. Não havia roupas feitas,
comprava-se o tecido na metragem adequada e mandava-se fazer. Para as mulheres
tinham as costureiras e para os homens os Alfaiates. Antônio Ferreira mandou
uma determinada pessoa fazer sua roupa, terno, para poder, também ir pois iriam
todos, festejar. Ao vir com sua roupa encontra-se com o tal vaqueiro dos
Saturnino, Zé de Caboclo, e após muito xingamento, saltam dos animais e vão as
facas. Alguns autores referem esse fato como sendo na ida de Antônio pegar a
roupa. Depois de grande jogo de facas, termina por cair no chão a faca do vaqueiro.
Este salta na cela de sua montaria e pica-lhe as rosetas das esporas indo
embora. Antônio, guarda sua arma branca e, também montando, vai para casa. Sem
nada dizer aos pais, Antônio segreda apenas para Livino e Virgolino,
junta seus irmãos e parte em busca de Zé de Caboclo, mas, esse entrou num
'buraco no chão', e não conseguiram encontrá-lo. Seu pai, ao tomar conhecimento
do que se passava, saí em busca dos filhos e os encontrando, aconselha a
deixarem de lado. Trás os três de volta para casa e naquele ano ninguém da
família Ferreira foi festejar na Festa da Padroeira.
Daí pra frente, aquela região pegou 'fogo'. Mas, isso, contaremos depois...
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