Por: Expedita Ferreira
OUTRA FAMÍLIA - "Fui criada sabendo que tinha outros pais. Vivi em fazendas do interior de Sergipe. Meu pai de criação era Manuel Severo, e minha mãe de criação, se chamava Aurora".
ORGULHO - "Tenho muito orgulho de meu pai, era isto o que eu gostaria de dizer a ele agora. Estou certa de que ao lado de Deus, onde está, ele sabe o quanto o amo. Quero também agradecer a ele e minha mãe por serem eles os meus pais".
O NOME - Meu pai escolheu o nome de Expedita porque, sendo devoto do padre Cícero, ele fez uma promessa. Se tivesse um filho o nome seria Expedito, um santo guerreiro. Minha madrinha é a Imaculada Conceição".
MARIA BONITA - "O nome Maria Bonita, minha mãe, era na verdade, Maria Gomes de Oliveira. Ela sempre vinha com o meu pai quando ele me visitava".
VISITAS - Não devo ter estado com o meu pai mais do que três vezes, mas sua presença ficou muito forte em mim. Eu sempre era avisada de que ele vinha. Me arrumavam para recebê-lo. Eram sempre muito rápidas as visitas que meu pai me fazia. Numa das vezes, lembro que ele comeu depressa e foi embora. Sei que ele me visitava na medida do possível. Não podiam ser constantes os encontros para evitar suspeitas. Mas onde eu estava ele ia me ver".
MEDO - "Quando meu pai chegava eu tinha medo e corria pra me esconder debaixo da cama. E ele ia me tirar de lá. O medo que eu tinha não era dele, mas me assustava aquele monte de gente que sempre chegava junto com ele, cheio de coisas, as roupas, chapéus, aquele povo com aquela tranqueira toda".
CARINHO - "Meu pai era muito carinhoso comigo. Sempre me botava no colo, me dizia palavras de que não me lembro porque eu era muito nova. Um dia me viu chorando num canto e, para me consolar, começou a botar um bocado de moedinhas bonitas em cima de mim".
PRESENTE - "Uma
das coisas de que me lembro do meu pai é que ele me levava sempre muitos
presentes. Me recordo bem de uma tesourinha e de um cordão que me deu".
MORTE - Quando meu pai morreu não me lembro de ter causado um impacto grande em mim. Eu ia fazer seis anos. Só lembro que alguém me disse: Seu pai morreu, mas a notícia não teve o impacto que teria se eu vivesse junto dele. Eu estava numa fazenda do interior de Sergipe".
IMAGEM - "Durante muitos anos falaram muito mal de meu pai. Diziam monstruosidades a respeito dele. Somente quando já estava adulta foi que vim saber do lado bom dele. Foi em 1969, quando conheci Balão, Criança, Dadá e Sila (ex-cangaceiros) que vim a entender e conhecer o lado bom. Isso ficou mais forte quando conheci uma pessoa maravilhosa, a Cristina da Mata Machado, que escreveu o livro "As Táticas de Guerra dos Cangaceiros", que lançou em São Paulo. Antes eu não gostava de falar do meu pai".
MEU PAI - Você me pergunta com que nome eu chamava meu pai. \nunca o chamei senão de "meu pai". Sua presença nunca apago de dentro de mim. Ele é uma pessoa muito viva dentro de mim".
Fonte:
Diário
Oficial
Estado
de Pernambuco
Ano
IX
Julho
de 1995
Material
cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir
Dantas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com