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sexta-feira, 27 de março de 2020

LIVRO CORISCO A SOMBRA DE LAMPIÃO

Por Francisco Pereira Lima

A recomendação bibliográfica de hoje: 
CORISCO: A Sombra de Lampião, de Sérgio Augusto S. Dantas. 
Um excelente livro sobre essa figura emblemática do Cangaço. 
CORISCO. 

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IPANEMA/CAMOXINGA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de março de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.282

Aproveitamos a foto artística, serena e histórica de Jeane Chagas, num belíssimo flagrante do Ipanema cheio. Fotografia tão diferente de dezenas de fotos e vídeos sobre o impacto das águas do riacho Camoxinga. Muitos desses vídeos foram editados, sem explicações nenhuma, movidos apenas pelo sensacionalismo, fazendo com que os santanenses que estão fora, entrassem em pânico pensando eles que Santana estava submersa pelas águas do rio Ipanema.
IPANEMA, SERENO. (FOTO: JEANE CHAGAS).

O rio Ipanema tem largura suficiente para absorver qualquer grande cheia como já aconteceram desde o século XIX. Fora o turbilhão que sempre se forma nas sete bocas da barragem assoreada, o rio corre ligeiro, mas sereno no seu leito. Corre apenas no que é seu e sempre foi assim. Não estamos falando de terrenos dentro do leito e no limiar do Panema, cedidos criminosamente a ricos ambiciosos ou a pobres sem condições. Residências, garagens, oficinas, são vistas debaixo de pontes de Santana. Quando se anuncia uma tragédia, os ausentes santanenses têm a impressão que a nossa cidade foi totalmente invadida pelas águas. Responsabilidade. Responsabilidade só e tudo será normal.
Quanto ao riacho Camoxinga, afluente do rio Ipanema, já defendi tese sobre sua foz. Venho dizendo isso desde que era professor do Colégio Estadual. Toda a região onde está assentado o Colégio, o casario da rua da frente, um pouco da rua de trás e o Largo Cônego Bulhões, foram formados com a poeirinha fina do riacho Camoxinga e o remanso do rio Ipanema. Houve um entulhamento da foz. O riacho teve que procurar novas alternativa para alcançar o seu receptor Ipanema. Não deveria haver nenhuma construção nessa área que por direito da natureza, pertence ao riacho Camoxinga. Mesmo que ele passe anos a fio sem encher, o espaço é dele. Mas os imprudentes povoaram a área sem nenhum estudo geográfico. E o resultado é que a tromba d’água que de vez em quando ocorre (as nascentes ficam em região muito alta) funcionam como uma loteria para todos os habitantes da área citada.
E quando falo em imprudentes, falo das autoridades que apenas deixaram que lugares assim fossem povoados, até que chega o dia fatal.
Parabéns à Natureza que deixou vidas em paz e levou apenas os bens como advertência.


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DESTINO E SINA NOS SERTÕES CANGACEIROS

*Rangel Alves da Costa

O sertão cangaceiro era o mesmo tabuleiro onde se espalhavam as peças do jogo acirradamente disputado pelos quatro cantos, desde o alvorecer ao mais fechado negrume da noite. A manhã surgida aos olhos do vivente entrincheirado nas caatingas e tocas era a mesma brotando festiva diante do olhar do velho matuto ao abrir a porta de sua tapera de barro.
Sertão bonito demais, indescritível sertão! Terra e chão, malhada e vastidão, saleta de chão e alpendre sombreado, mataria e garrancho. Eis o sertão do cangaceiro e do lavrador, do coiteiro e do citadino, da volante e do vaqueiro, do bandoleiro das caatingas e do homem de paz no roçado, da beata e do vigário, do coronel e do jagunço. Sertão de muitos lados, muitas faces e muito mais. Eis que vastidão de véu e cortina, de espelho turbado, em cujo lado de lá mora a dor e o sofrimento, a morte tragando a vida, o sobreviver fraquejando diante do mundo apocalíptico.
E por que será que o sertão é assim tão contrastante, de um lado a beleza e de outro a feiura horripilante, numa face o sorriso e na outra o lanho do sofrimento? Se a grandiosidade paisagística do lugar, com seu luar inigualável, seus caminhos instigantes e as cores que vão se formando por cima da mata durante o entardecer servem para acalentar o vivente, de outro lado faz do sal do sofrimento a balança que há em tudo. Não há nada tão belo que não venha com uma pontinha de amargura.
O sertanejo vive num paraíso sem jardim, vive ao lado do roseiral sem poder cheirar a flor, vive ladeando o que há de mais belo na natureza e caminhando por estradas de pontas de pedras e espinhos pinicantes. O orgulho imenso de ser filho da terra e com ela se confundir em tudo, não afasta o desencanto que também bate à porta. O prazer de repente se transforma em dor e agonia. Porque o homem é instigado ao prazer e ao sofrimento para se conhecer o seu merecimento no mundo.
Contudo, dentro do próprio sertão, perante os seus filhos, há outras diferenças que parecem querer dividir os nativos em muitos. São vidas e jeitos de viver diferentes, pessoas com atitudes e vocações que desafiam os entendimentos. Por cima da mesma terra, gente que nasce para a paz e tantos que buscam a guerra. Muitos cheios de contentamento com a vidinha humilde e simples que têm, e outros deixando a porta sossegada de casa e seguindo rumo ao desconhecido, ao perigoso, ao desafiador.
Ao escolher a vida cangaceira, fazer valer seu ímpeto sertanejo para se tornar errante nas caatingas, o jovem certamente não tinha o pensamento suficiente claro para imaginar as consequências imediatas desse ato nem as durezas futuras no seu cotidiano debaixo do sol, sob a lua, correndo de costas, enganando a morte, saltando pedras e caindo em espinhos, deixando para trás rastros de sangue. Vida de sangue, de medo, de ataque e de fuga.
A paixão pelo cangaço, como acontece com todas as paixões, trazia a insanável cegueira até que o espinho de quipá furando olho o acordasse para a realidade. E será que estava vivendo, que aquilo era mundo, que era jeito de gente viver e morrer? Somente quando abria os olhos e já não podia voltar atrás é que é se entregava de corpo e alma ao mundo que escolhera. Primeiro o encanto, depois a realidade. E então o espanto. Em tudo a vida ao lado da morte.
Amigo do tempo, amigo do mato, amigo do bicho, amigo do matuto do lugar, muitas vezes amigo do inimigo, mas também hostil a quase tudo. Confiar sempre desconfiando, falar meia palavra porque já é demais, não se aproximar muito para não deixar marcas, ser apenas o vulto e a sombra que no instante seguinte já não é mais. Cangaceiro era tudo, quase sem ser nada. E até era melhor ser assim mesmo para ver se tinha uma vida sem tanta perseguição.
Que coisa boa ao encontrar uma casa, um imenso palácio para o merecido descanso. A porta maior do mundo, ladeando o sertão e suas veredas. Palacete de cama macia, adornada por terra cheia de espinhos, pedras como travesseiros, uma lua inteira como cobertor. E sonhar com a linda princesa que vai chegando devagarzinho, subindo pelos lados da serra, cautelosamente caminhando ao encontro do seu amado. E traz na mão alguma coisa bonita, brilhosa, reluzente. Mas não, é a volante de mosquetão. O mesmo pesadelo de todas as noites.
Que vida dura, seu moço, e o menino nem pensou um bocadinho nisso antes de tomar a decisão de ser cabra de Lampião. Mas agora é tarde demais. Está formado na vida, sabe tudo, é doutor. Conhece o remédio do mato, a cobra que é venenosa, cada pegada que encontra, todo barulho que ouve, todo farfalhar de folhagem. Sabe que há inimigo na redondeza, que o silêncio da mata logo se tornará em grito, em disparo, num pegapacapá desgraçado.
Bichos não. Nem quase bichos. Apenas seres humanos com seus destinos. E tão seres humanos que se compraziam com qualquer instante de paz que encontrassem. Sagrado era o alimento conseguido, sagrada era a visita do coiteiro que trazia o carregamento que tanto precisavam pra sobreviver. Assim eram os dias, assim eram as noites cangaceiras. Assim era a vida no sertão de Lampião.      

Escritor
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LOCALIZADA UMA SUPOSTA FILHA DE LAMPIÃO... AINDA VIVA.


Por Geraldo Júnior

UM SEGREDO GUARDADO OU UM EQUÍVOCO?



Pensei e repensei muito antes de publicar essa matéria por estar ciente da repercussão e da enorme quantidade de críticas que certamente virão após a sua exibição. Alguns “baterão o martelo” e formarão opiniões antes mesmo de conhecer a fundo a história de dona Luzinete José dos Santos “Dona Luzia”.

Segundo informações de familiares da dona Luzia nome que se acredita ter sido escolhido por Lampião e com o qual ela foi inicialmente registrada, nasceu no dia 13 de dezembro de 1925, dia de Santa Luzia, santa da devoção do cangaceiro-mor. Dona Luzia teria nascido de uma relação amorosa entre Lampião e uma índia da tribo dos Cariris habitantes da região de Palmeira dos Índios no Estado de Alagoas, índia essa que após ter sido retirada do convívio tribal por Lampião, foi batizada e passou a se chamar Cristina Maria da Conceição, nome dado por religiosos.

Luzinete José dos Santos

Cristina Maria da Conceição, mãe de Luzia, após o distanciamento e a ausência de Lampião e certamente com o consentimento deste, passou a conviver maritalmente com Antônio José da Silva e juntos criaram Luzia e outras quatro crianças que acreditam serem originárias do cangaço, por terem suas paternidades desconhecidas. Rosélia Belo dos Santos, filha de dona Luzia, afirma que todas essas crianças eram sustentadas com o dinheiro que era enviado por Lampião, que por vez ou outra aparecia para visitar sua mãe.

No ambiente familiar todos sempre desconfiaram da relação de dona Luzia com Lampião devido aos comentários que ela sempre fazia, tendo inclusive em algumas ocasiões, levada pela emoção, se declarado filha de Lampião, assunto que os familiares nunca levaram a sério. Ainda segundo sua filha, dona Luzia sempre evitou falar abertamente sobre o assunto certamente por temer algum tipo de atentado devido às ações violentas de seu suposto pai.



Outro fato que marcou a vida de dona Luzia aconteceu em julho de 1938 quando ela foi levada por sua madrinha para ver as cabeças dos cangaceiros mortos em Angico, fato que a trouxe pesadelos e traumas durante toda sua vida, e hoje com idade avançada esses traumas e pesadelos teêm se intensificado e o assunto tem sido comentado com maior frequência e insistência por parte de dona Luzia, algo que tem causado incômodo aos familiares que buscam um contato com familiares de Lampião para realizarem um exame de DNA, para sanar de uma vez por todas essa dúvida que tanto tem angustiado os familiares de dona Luzia.

Em um curto espaço de tempo estarei postando no canal CANGAÇOLOGIA (YouTube) os depoimentos de dona Luzia, que apesar da dificuldade em se expressar devido à idade avançada responde aos questionamentos, e de sua filha Rosélia Belo dos Santos que gentilmente me concedeu a informação e depoimentos e a quem deixo meus agradecimentos.

Seria realmente dona Luzia filha de Lampião ou tudo não passa de um grande equívoco?

Esperamos todos termos essa resposta em breve.

Observação: Dona Luzia teve seu nome e ano de nascimento alterados no decorrer de sua vida, segundo informações. Fato que será explicado no documentário que será exibido no canal.

Geraldo Antônio De Souza Júnior – Criador e administrador do Blog e Canal Cangaçologia “YouTube”.



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EU VI OS PEDAÇOS DE LAMPIÃO

Por Clerisvaldo B. Chagas

07.08.1938. Santana/Piranhas (AL)

Três ou quatro dias após a remessa das cabeças para Maceió, chegava a Santana uma caravana da Faculdade de Direito do Recife, composta dos acadêmicos Alfredo Pessoa de Lima, Haroldo Melo, Décio de Souza Valença, Elísio Caribé, Plínio de Souza e Wandnkolk Wanderley, todos em excursão e desejando ir diretamente a Angicos.Coincidiu que estavam chegando notícias de que os abutres (urubus) viviam sobrevoando o local do combate, sinal de que os corpos não haviam sido bem sepultados.

O Tenente-Coronel Lucena resolveu então formar uma caravana com os acadêmicos e me disse que eu teria de acompanhá-los, menos como sargento do Batalhão, do que como correspondente do Jornal de Alagoas. Partimos, então para Angicos no dia 7 de agosto.

O Jornal nos Municípios, Jornal de Alagoas de 18.8.38

‘Com a chegada dos acadêmicos do Recife, tivemos de ir com eles a Angicos, local do combate, lá sepultar os corpos deixados à toa. Encontramo-los já meio ressecados, amarelecidos, a pele agarrada no osso como se a carne houvesse fugido. Já não tinham pelos e era difícil a identificação. À vista daqueles, em plena caatinga, o acadêmico Alfredo Pessoa fez um discurso capaz de comover até mocós e preás que andassem por ali. E só então tive uma pequena ideia da atrocidade da decapitação. Um corpo sem cabeça, onze corpos sem cabeça e o discurso do Pessoa: que coisa de arrepiar cabelos! (FRUTA DE PALMA, 168).’


Na realidade os corpos não haviam sido sepultados. Ficaram ali mesmo no leito do córrego, cheio de pedregulho. Amontoado os onze, a tropa havia simplesmente feito um montão de pedras por cima. Além de ser difícil cavar sepultura ali, a gana de Bezerra e de seus comandados pelos troféus dos cangaceiros lhes havia retirado todo o restinho de senso humano que possuíssem.

Ficamos ali quase um meio dia, a cavar uma vala comum no mesmo local, pois não havia condições de conduzir aqueles pedaços de gente para parte alguma fora do córrego.

O célebre coiteiro Pedro Cândido era integrante da Caravana e, além de nos descrever as principais fases do combate que ele engendrara, mostrou-nos o corpo de Lampião, da mesma forma identificado por três ou quatro pessoas que integravam a caravana e que também conheciam detalhes físicos do Rei do Cangaço.

Se não foi a única (e não foi), foi uma das poucas vezes em que observei emoções no rosto do Tenente-Coronel Lucena: ao ouvir o discurso do acadêmico, encarando os pedaços de Lampião.

Fotografia dos acadêmicos: Wandenkolk Wanderley (presidente)1, Elisio Caribé3, Décio de Sousa Valença4, Plínio de Sousa5, Haroldo de Mello6 e Alfredo Pessoa de Lima2. A este incumbia apresentar ao interventor federal em Pernambuco, Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães, o relatório da missão.

Uma observação: O acadêmico n°4, Décio de Sousa Valença é o pai do famoso cantor Alceu Valença.

Fontre: Blog Clerisvaldo B. Chagas


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BASTIDORES CANGAÇO 1996 - CANDEEIRO E TENENTE POMPEU

Por Aderbal Nogueira

1996 minha primeira vem com dois personagens importantes na historia do nordeste.

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UTENSÍLIOS DA FAMÍLIA DE LAMPIÃO.

Por Aderbal Nogueira



Seu Camilo de Moura, atual proprietário das terras que foram da família Ferreira nos mostra algumas peças de utensílios que eram usados pela família de Virgulino quando moravam na Passagem das Pedras.

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JURITI | #02 | CNL



O RASO DA CATARINA E A PERSEGUICÃO A LAMPIÃO


Por Beto Rueda

Era o mês de novembro de 1932, as tropas baiana e pernambucana surpreenderam Lampião na Caverna do Chico, no Raso da Catarina(ecorregião localizada na parte centro-leste do bioma caatinga, no Estado da Bahia).

Firmou-se um convênio entre os interventores da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco no sentido de prender o chefe cangaceiro. O chefe da polícia baiana instituiu um prêmio de 10 contos de réis pela captura, vivo ou morto.

A polícia seveciava os coiteiros para obter confissões. Os tenentes do exército Ladislau, Liberato, Manuel Arruda, Filadelfo Neves, Campos de Menezes, Luis Mariano e Osório Cordeiro comandavam as tropas. Partiram de Jeremoabo.

Atravessar aquela imensa região inóspita era um feito extraordinário. Nos lajedos a água era invisível, o ar sufocante.

Cangaceiros e soldados convergiram para um combate, isolados e sedentos.

Resistir, ficar exposto ao calor abrasador, acima de 40 graus, ao sol forte, com sede e desespero, era necessário ser um forte. A vida para todos naquele momento parecia odiosa.

Lampião olhou em torno da paisagem rala, avistando apenas garranchos cinzentos, na terra esturricada. Não existia casa, nem água, muita tristeza. Fez-se uma trégua.

As volante retornaram na perseguição com a certeza do êxito.

Os cangaceiros fugiram e deixaram os seus pertences na caverna. Os soldados recolheram armas, munição, jogos, alpercatas, chapéus enfeitados, perfumes, moedas e o livro História de Christo, de Papini. O livro foi oferecido pelo comerciante Jackson Alves Carvalho em 29.11.1929 - Capela, Sergipe. Maria do Capitão saiu ferida.

Lampião foi para Itapicuru e quase matou o coiteiro, Dr. João da Costa Pinto Dantas, filho do Barão de Jeremoabo, que fugiu para Salvador. Lampião atribuía-lhe a denúncia.

Em itapicuru assaltou armazéns e seguiu para Massaracá, onde uma força de contratados, sob o comando do sargento José Joaquim de Miranda, apelidado de Bigode de Ouro, o esperava para um ataque. Lampião matou Bigode de Ouro e dividiu o bando em três grupos.

Vivia Lampião mais uma situação limite de resistência física e arrojo nos confins do sertão.

REFERÊNCIAS:

OLIVEIRA, Aglae Lima de. Lampião, Cangaço e Nordeste. Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro, 1970.

CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião, o rei dos cangaceiros. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1981.

Enviado por Beto Rueda

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1921 OS PRIMÓRDIOS DA SAGA DE LAMPIÃO

Por Rostand Medeiros


AINDA VIVE O HOME M QUE EM 1921 SEPULTOU O PAI DE LAMPIÃO
Diário de Pernambuco , 29 de março de 1973, Terceiro Caderno, Página 3.
Pesquisa – Tadeu Rocha / Fotos José Valdério
Diário de Pernambuco, 29 de março de 1973, 
Terceiro Caderno, Página 3.
Num velho casarão alpendrado de uma fazenda sertaneja, em plena caatinga pernambucana do Município de Itaíba reside o ancião Maurício Vieira de Barros, que em maio de 1921 sepultou o pai de Lampião, morto por uma força volante da Policia alagoana. Nos seus bem vividos e muito sofridos 86 anos de idade, ele viu e também fez muita coisa, por esse Nordeste das caatingas e das secas, dos beatos e dos cangaceiros, dos soldados de verdade e dos coronéis da extinta Guarda Nacional.
O Sr. Maurício Vieira de Barros nasceu em 2 de abril de 1886, Na casa dos seus 30 anos, foi Subcomissário de Polícia no Estado de Alagoas e, na dos 40, chegou ao posto de Sargento na Polícia Militar de Pernambuco. Depois, respondeu a dois júris por excesso de autoridade e, desde 1955, está vivendo uma velhice descansada no Sítio dos Meios, em companhia de sua filha Dona Jocelina Cavalcanti de Barros Freire.

Se não fossem as ouças, que já estão fracas, o velho Maurício não aparentaria os seus quase 87 anos, pois ainda caminha com passo firme e guarda boa lembrança dos fatos de sua mocidade e maturidade. 

Ele é, agora, a derradeira testemunha viva do início de uma tragédia sertaneja: a transformação do cangaceiro manso Virgulino Ferreira em bandido profissional que convulsionaria os sertões nordestinos durante 17 anos.
Casa do Sítio do Meio em 1973.
UM ATOR NO PROSCÊNIO

A primeira indicação do Sr. Maurício Vieira de Barros como a autoridade policial que sepultou o pai de Lampião nos foi dada, há mais de 20 anos, pelo Major Optato Gueiros, no segundo capítulo do seu livro sobre Virgulino Ferreira. 

O autor das “Memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes” ouviu o relato da morte de José Ferreira da boca do próprio Virgulino, nos começos da década de 1920, quando Lampião ainda era um simples cabra de Sinhô Pereira. 

Optato Gueiros também informa que, anos mais tarde, Lampião poupou a vida de Maurício, no povoado de Mariana, em gratidão pelo sepultamento de seu pai.
Maurício Vieira de Barros sendo entrevistado pelo professor e escritor Tadeu Rocha e acompanhado de Bruno Rocha.
Nos meados de dezembro do ano passado, após concluirmos que não foi feito, absolutamente, o registro dos óbitos de Sinhô Fragoso e do pai de Lampião (mortos na primeira “diligência” da volante do Tenente Lucena), julgamos necessário ouvir o Sr. Maurício Vieira de Barros, que nos constou ainda estar vivo e residir para os lados das cidades de Águas Belas ou Buíque. Somente o antigo policial que sepultou os dois cadáveres poderia revelar-nos a data precisa da morte de José Ferreira.

NO RASTO DA TESTEMUNHA

Após consultarmos inúmeras pessoas sobre o paradeiro do ancião Maurício de Barros, afinal soubemos do Sr. Audálio Tenório de Albuquerque que esse seu compadre estava morando na fazenda Sítio dos Meios, no Município de Itaíba. Rumando para Águas Belas, entramos em contato com os nossos parentes do clã dos Cardosos, entre os quais fomos encontrar o jovem veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, neto do velho Maurício, por parte de pai.
Notícia do ataque dos cangaceiro ao lugar Pariconha em 1921, 
hoje município alagoano distante 354 km de Maceió.
Na tarde quente do dia 17 de janeiro, em companhia do veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, do fotógrafo José Valdério e do jovem estudante Bruno Rocha, deixamos a cidade de Águas Belas pela rodovia PE—300, na direção de Itaíba. Após cruzarmos o rio Ipanema e o riacho Craíbas. Pegamos uma estrada vicinal, por onde atingimos, dificilmente, o Sítio dos Meios, a uns 2.5 km de Águas Belas, a outros tantos de Itaíba e a 9 da cidade alagoana de Ouro Branco.

Fomos encontrar o velho Maurício no alpendre do casarão da fazenda de sua filha, jovialmente vestido de blusão de mangas compridas c calçado com sandálias havaianas. A presença do seu neto Ricardo e a delicadeza de sua filha Dona Jocelina permitiram-nos conversar longamente com o Sr. Maurício Vieira de Barros. O fotógrafo Jose Valdério documentou a nossa visita e o estudante Bruno Rocha gravou a nossa conversa.
Lampião nos primeiros anos.
SUBCOMISSÁRIO SEPULTA DOIS MORTOS

O Sr. Maurício Vieira de Barros  já exercia o cargo de Subcomissário de Polícia da cidade de Mata Grande, em maio de 1921, quando o Bacharel Augusto Galvão, Secretário do Interior e Justiça de Alagoas na segunda administração do Governador Fernandes Lima, enviou ao sertão uma força volante da Polícia, sob o comando do 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, a fim de dar combate ao banditismo. Antes que essa força chegasse ao sertão, os cangaceiros saquearam o povoado de Pariconha, na tarde de 9 de maio. Logo que a volante do Tenente Lucena atingiu seu destino, cuidou de prender os participantes desse saque, entre os quais estavam os irmãos Fragoso e os irmãos Ferreira, residentes no lugar Engenho Velho. A volante cercou a casa dos Fragoso e do tiroteio resultou a morte de José Ferreira e Sinhô Fragoso, ficando baleado Zeca Fragoso e saindo ileso Luís Fragoso.

Avisado em Mata Grande das mortes ocorridas no Engenho Velho, o Subcomissário Maurício de Barros dirigiu-se a esse lugar e fez transportar, em redes, os dois cadáveres para a povoação de Santa Cruz do Deserto, em cujo o cemitério os sepultou. O fato de José Ferreira e Sinhô Fragoso terem sidos deixados mortos por uma “diligência” da Polícia Militar de Alagoas levou o Subcomissário de Mata Grande a enterrá-los no cemitério mais próximo.
DATA DA MORTE DO PAI DE LAMPIÃO

Na breve história de 17 anos, qual foi a do cangaceiro Virgulino Ferreira (que se fez bandido profissional em 1921 e foi eliminado em 1938), existem erros de datas de mais de um ano, como no caso da morte de seu pai pela volante do Tenente Lucena. Tem-se escrito que esse fato aconteceu em abril de 1920, o que não corresponde, em absoluto, à verdade histórica.

Ao que apuramos no Arquivo Público e Instituto Histórico de Alagoas, 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão foi nomeado Comissário de Polícia da cidade alagoana de Viçosa em 10 de abril de 1920, assumiu o exercício do cargo logo no dia 15 e permaneceu nessa comissão até princípios de maio do ano seguinte. Ele ainda assinou ofício na qualidade de Comissário de Viçosa em 28 de abril de 1921. No dia 4 de maio esteve no Palácio do Governo, em Maceió. E no dia 10 desse mês, deixava Palmeira dos índios “com destino ao sertão”, estando “acompanhado de um contingente de 24 praças”, conforme registrou o seminário palmeirense O Índio, de 15 de maio, em seu número 16, página 3.
Nota sobre a volante do Tenente Lucena no seminário palmeirense O Índio, de 15 de maio, em seu número 16, página 3.
Viajando a pé, a volante do Tenente Lucena só alcançou o sertão ocidental de Alagoas uma semana mais tarde. Por isso mesmo, sua “diligência” no Engenho Velho somente pode ter ocorrido nos começos da segunda quinzena de maio de 1921. O Sr. Mauricio de Barros não se recorda mais da data do sepultamento dos mortos pela “diligência” no Engenho Velho. Lembra-se, porém, que foi numa quinta-feira. Ora, a primeira quinta-feira da segunda quinzena de maio de 1921 caiu no dia 19, o que permitiu ao Correio da Tarde, de Maceió, publicar no fim desse mês uma carta de Mata Grande, sobre os acontecimentos do Engenho Velho. A esse tempo, os estafetas do Correi levavam, a cavalo, três dias entre as cidades de Mata Grande e Quebrangulo, de onde as malas postais seguiam de trem para Maceió.  
Detalhe da carta enviada de Mata Grande e publicada no final do mês de maio de 1921 pelo jornal Correio da Tarde, de Maceió, sobre os acontecimentos do Engenho Velho.   
EPISÓDIO MUITO CONTROVERTIDO

Sempre foram muito controvertidas as circunstâncias da morte do pai de Lampião. Na primeira entrevista que concedeu a um jornal (o recifense Diário da Noite, de 3 de agosto de 1953), o Sr. João Ferreira, irmão de Virgulino, declarou o seguinte sobre a morte de seu pai: “Findo o tiroteio, seguido pelo abandono do local pela tropa, eu o fui encontrar sem vida, caído sobre um cesto, tendo às mãos uma espiga de milho, que estava debulhando, ao morrer”.

Por seu turno, parentes e amigos do Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão costumam dizer que o velho José Ferreira resistiu à Polícia, atirando de dentro da casa dos Fragoso. Parece-nos que há engano em ambas as versões, pois o Sr. Maurício Vieira de Barros nos disse que encontrou o cadáver do pai de Lampião no terreiro da casa dos Fragosos.
O Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, 
comandante da desastrada volante que matou o pai de Lampião.
Este depoimento se harmoniza com o informe que nos deu o Sargento reformado Euclides Calu, residente em Mata Grande, e a história que contava o velho Manoel Paulo dos Santos, Inspetor de Quarteirão no Engenho Velho, ao tempo da morte do pai de Lampião. História que nos foi transmitida por seu filho Gabriel Paulo dos Santos e pelo magistrado alagoano Dr. Dumouriez Monteiro Amaral.
O informe do velho Calu e a história contada pelo velho Manoel Paulo referem que José Ferreira foi morto durante o tiroteio do Engenho Velho, quando ia tirar leite em um curral. De fato, o cerco da casa da casa dos Fragosos foi feito ao amanhecer do dia 19 de maio de 1921. E o tiroteio que se seguiu e vitimou José Ferreira ocorreu “antes do café da manhã de um dia muito chuvoso”, como declarou, textualmente, João Ferreira, na citada entrevista a um jornal recifense. E não há dúvida que o Inspetor de Quarteirão Manoel Paulo dos Santos foi a testemunha mais isenta de paixões no episódio da morte do pai de Lampião.

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