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terça-feira, 18 de julho de 2023

NÃO DEVEMOS ESQUECER O SERESTEIRO COCOTA, IRMÃO DOS COMPONENTES DO ANTIGO TRIO MOSSORÓ - OSÉAS LOPES, HERMELINDA LOPES E JOÃO MOSSORÓ ESTE ÚLTIMO, O FAMOSO SIBITO, APELIDO DADO POR LUIZ GONZAGA, O REI DO BAIÃO..

 Por José Mendes Pereira

Cocota

Francisco de Almeida Lopes era carinhosamente alcunhado em Mossoró por Cocota. Seresteiro de primeira categoria; amigo dos amigos, conduzia consigo uma admirável popularidade. Nasceu na cidade de Santa Luzia, Mossoró, no Rio Grande do Norte, e era filho do senhor  Messias Lopes de Macedo e da honrada dona Joana Almeida Lopes, era irmão dos cantores Oséas Lopes (o atual Carlos André), Hermelinda Lopes que faleceu recentemente, e do João Batista Almeida Lopes, que artisticamente, é conhecido por João Mossoró.

Trio Mossoró. - João Mossoró, Hermelinda Lopes e Carlos André

Uma jovem que era empregada doméstica dos seus pais, conduzia consigo uma paixão louca pelo seresteiro. O mais interessante, a jovem tinha um irmão ainda criança, que não se sabe o que ele havia feito contra o Cocota, fazendo com que ele o castigasse, dando-lhe uma terrível surra. A agressão do Cocota foi tão violenta, que seus irmãos, juntos, quase não conseguiram arrancar a criança dos braços do agressor. Salva das violências praticadas pelo seresteiro, a criança saiu em choro, prometendo-lhe que quando crescesse iria matá-lo, ou de um jeito ou de outro.

Anos após, quando os irmãos formaram o Trio Mossoró, Cocota não fazia parte do grupo, mas no auge do sucesso, e já morando no Rio de Janeiro, os irmãos resolveram levá-lo para o Rio, para tentar "carreira solo", com o apoio do Trio Mossoró.

Não se sabe se o que acontecera contra o Cocota, tenha sido causado pela paixão da jovem, mas tudo indica que sim, já que ele estava de viagem pronta para juntar-se aos irmãos, que já brilhavam no mundo artístico. Sabendo que tão cedo ele não voltaria a Mossoró, sua terra natal, é provável que ela tenha sido a idealizadora de um plano triste e tenebroso.  

O  apelido Cocota deve ter origem desta ave tão linda.

Já que o Cocota viajaria para a “cidade maravilhosa”, a jovem o convidou para fazer uma festinha em sua residência, onde lá, ele cantaria as mais belas músicas que faziam sucesso na época.  Como ele era um jovem conhecido na cidade, amigo de muitos, não negou a sua solicitação, dando-lhe a palavra que à noite estaria presente em sua residência.  

O  apelido Cocota deve ter origem desta ave tão linda.

Cocota era um jovem que não dispensava um bom gole, e nessa noite, bebeu vários goles a mais, chegando a ficar totalmente embriagado. É claro que a jovem, sentindo a perda da sua paixão, e talvez, não se sabe, premeditou o crime, tenha lhe dado ainda uns goles mais e mais. Já muito embriagado, ela o convidou para deitar-se, prometendo-lhe que no dia seguinte, o levaria para casa dos seus pais. Cocota concorda, e caminha para o quarto, onde lá se deitou.   

Mas o seresteiro, não imaginava que a sua viagem e carreira artística estariam prestes a serem encerradas, e por má sorte ou coisa arquitetada, o Cocota estava marcado para morrer. E na noite do dia 12 de fevereiro de 1962, a criança que Cocota açoitara, que agora já era um jovem, chegou ao local da festa. Apoderado de uma tesoura, o rapaz começou a furar-lhe. Foram 38 perfurações. Cocota tentou escapulir pela porta da cozinha, e tento pular o muro para proteger a sua vida, mas sobre o muro da casa da jovem, era cheio de cacos de vidro, e por mais que ele tentou subir, não conseguiu se livrar da morte, caindo logo em seguida.

Seu Messias e Dona Joana Lopes tiveram o desprazer de ver o seu ente querido morto, com o corpo e os punhos banhados em sangue, saindo pelas perfurações feitas pela maldita tesoura e pelos cortes dos vidros. Cocota tentou se livrar da morte, fez tantos esforços para  viver, no intuito de apresentar a sua invejada profissão aos brasileiros, principalmente aos seus conterrâneos mossoroenses. Mas infelizmente,  não conseguiu, calando assim e acabando com os sonhos daquele que foi o maior seresteiro da nossa cidade Mossoró

Os donos do poder, desde então, nada fizeram de maior importância para homenageá-lo. Mas seus irmãos ainda não perderam as esperanças que esse dia venha acontecer, que na Praça dos Seresteiros, seja colocado o seu busto, talhado em bronze, para apresentar às futuras gerações, que ele foi o maior seresteiro de todos os tempos em Mossoró. 

A Praça dos Seresteiros de Mossoró, encontra-se nesse estado.

Nota: Todas as informações deste artigo foram gentilmente cedidas pelo cantor Carlos André, quando de sua visita em minha residência, em companhia do irmão João Mossoró e do professor, poeta, escritor, pesquisador do cangaço, gonzaguiano e do Trio Mossoró, Kydelmir Dantas de Oliveira, no dia 12 de Junho de 2012. 

Veja o que escreveu Kydelmir Dantas sobre o Trio Mossoró: - https://blogdomendesemendes.blogspot.com/2022/04/joao-mossoro.html

Contatos com Oséas Lopes (Carlos André):

Tel. 55 (81) 3422.0605 / (81) 9121.4485

Facebook: www.facebook.com/oseas.carlosandre

Twitter: www.twitter.com/carlosandrecant

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O CANGACEIRO PEITICA ANTES E DEPOIS DO CANGAÇO. 1938 E 1980.

Por Guilherme Machado

José Calixto da Silva, o cangaceiro Peitica. Na primeira foto mostra ele no dia da sua entrega Juntamente com o bando de pancada em outubro de 1938. Na segunda foto mostra ele em São Paulo ano 1980.

https://www.facebook.com/photo/?fbid=6144168195687054&set=gm.2014006945610273&idorvanity=893614680982844

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MATUTO...

Por José G. Diniz

Sou matuto do interior
E nunca senti vergonha
Tomava chá de pepaconha
E curava a minha dor
Um sabia era o meu cantor
Os sapos uma linda orquestra
O papagaio dava palestra
E abraça a nossa medida
Leite de pinhão curou a ferida
Que tinha na perna destra

Sou paraibano e sertanejo
Beradeiro nascido na roça
Pé rachado da mão grossa
Mordido pelo percevejo
Tomei coalhada, comi queijo
Feito do leite da cabra preta
Chupei limão não fiz careta
Sofri picada de uma aranha
Brinquei jogando castanha
Ganhei sem fazer mutreta.

https://www.facebook.com/josegomesd

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INALCANÇÁVEL VELHICE

 Por Hélio Xaxá


É bom envelhecer.

A gente percebe que ser jovem era só uma onda...

A juventude passa

Mas ser feliz continua na moda...

A velhice tem lá os seus achaques

Mas a gente aprende

A olhar para trás com ternura...

A gente não fica chato.

Simplesmente deixa de ser idiota.

Já não quer mais som alto

Prefere ouvir aquela música suave...

A velocidade tem que acompanhar

A serenidade dos nossos momentos...

Longe de ser uma folha caindo

Somos um velho girassol se abrindo

Para receber os raios de um novo sol...

Nunca falamos sozinhos

Conversamos com as plantas...

Com vultos do passado

Invisíveis à olhares insensíveis...

A vida ganha outra conotação...

A Natureza se veste doutra aquarela...

Os arco-íris sempre saem das nuvens

E mergulham num oceano plácido...

A gente na velhice

Fica tão carente quanto na adolescência...

Exige cuidados e atenções

Que só a benevolência do amor pode dar...

Carinho, paciência, zelo...

A velhice é o tempo da volta.

Sua chance de devolver

Todo o esmero que foi dedicado

Ao seu

desenvolvimento

Físico, mental e espiritual...

E creia-me, filho:

Você nunca fará o bastante.

Sempre terá a impressão

De ter recebido em dobro cada gesto

Toda renuncia na vida

Cada noite de sono perdida

E toda lágrima de tristeza

Ou alegria por você derramada...

Aprenderá inclusive que

A coisa mais perfeita do mundo é a lágrima

Pois vai do coração aos olhos

Desde a mais tenra idade...

Eu enxuguei as suas

Você enxugará as minhas

E as de seus filhos

E sempre vai dar um jeito

De, sem que ele perceba,

Trocá-las por meigos sorrisos...

Porém, isso tudo só se dará

Na sua doce e inalcançável velhice.


Hélio Xaxá

https://www.facebook.com/helio.xaxa

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PARICONHA

 Clerisvaldo B. Chagas, 17 de julho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.928

Pariconha é uma cidade montanhosa do semiárido alagoano. Fica nos confins do estado e também faz divisa com Pernambuco. Podemos dizer que o município é muito novo ainda, emancipado de Água Branca em 5/10/1989. Com um pouco mais de 10.000 habitantes, localiza-se a 360 metros de altitude, no Maciço de Mata Grande. Da capital a Pariconha existe uma separação de 306 quilômetros, que podem ser vencidos tantos pela BR-316, via Santana do Ipanema, quanto pela dorsal do estado, via Arapiraca (sendo duplicada). O seu nome tem origem num ouricurizeiro, cujo fruto possuía duas conhas (polpas). Daí o nome evoluiu para Pariconha e tem o gentílico de pariconhenses.

PARICONHA (DIVULGAÇÃO).

É certo que a cidade é pequena e muito nova, mas procura modernizar-se, coisa que fez com a igreja local que é muita bonita. O município, devido ao clima semiárido mais forte dos extremos do estado, destaca-se com as lavouras tradicionais da região e a criação de gado miúdo, ou seja, caprino e ovino, mais resistentes ao clima. Seus festejos mais em destaques são a festa da Emancipação e as homenagens ao padroeiro, Sagrado Coração de Jesus. Pariconha, como antigo povoado, já sofreu ataques, pelo menos três, de Virgulino Ferreira, antes de se tornar Lampião e pertencente ao grupo dos Porcino (Lampião em Alagoas). Houve episódios dramáticos, cujo delegado da época foi muito maltratado. Em busca de pesquisas cangaceiras, essa região montanhosa é rica em narrativas e abrange todas as cidades do Maciço.

Pariconha limita-se ao Norte com Tacaratu (PE), ao Sul com Delmiro Gouveia, a Oeste com Água Branca e a Oeste com Jatobá (PE). Isso supõe um intenso intercâmbio entre essas cidades do extremo Oeste do estado, mas tendo como ponto de convergência a cidade de Delmiro Gouveia, a maior do Alto Sertão. Ao conhecermos a região serrana, ficaremos no mínimo, impressionados com as paisagens de altitude. Inclusive, o pico mais alto de Alagoas está por ali em território de Mata Grande: é a serra da Onça com 1.016 metros de altitude, isto é, tudo nas vizinhanças de Pariconha. É sempre bom visitarmos regiões de altitudes, onde iremos encontrar hábitos diferentes, belas paisagens e não raras vezes, animais e vegetais, com características próprias do nicho.

Pariconha lhe aguarda.

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PROGRAMAÇÃO COMPLETA

Por Manoel Severo


SEMINÁRIO CARIRI CANGAÇO

SERRA DA BORBOREMA EM GURJÃO

Paraíba - Nordeste do Brasil

19 de agosto 2023 - Sábado

MANHÃ

8h Visita ao Instituto Histórico e Geográfico de Gurjão

Casa de Padre Ibiapina - Gurjão PB

8h30 Abertura do Seminário

FUNDAC - Gurjão PB

8h35 Formação da Mesa Oficial

Autoridades e Convidados

8h40 Apresentação da Filarmônica Nossa Senhora do Rosário

8h45 Entrada Estandarte Cariri Cangaço

CAPITÃO QUIRINO e CÉLIA CANGACEIRA

9h Palavras de Saudação aos Presentes

MANOEL SEVERO- Curador do Cariri Cangaço

JULIERME WANDERLEY - Presidente da Comissão Organizadora

CARLOS ANTÔNIO G DA COSTA - Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Gurjão

JOSÉ ELIAS BORGES BATISTA - Prefeito Municipal de Gurjão

9h15 "A Gênese do Cangaço"

BISMARCK OLIVEIRA - Pocinho PB

10h15 " O Cariri Histórico"

DANIEL DUARTE PEREIRA - São João do Cariri PB

Mesa de Debates

JULIERME WANDERLEY - Campina Grande PB

MANOEL SEVERO - Fortaleza CE

LUIZ FERRAZ FILHO - Serra Talhada PE

11h30 Almoço Sertanejo

TARDE

13h30 "A Morte do Alferes Maurício"

GRIJALVA MARACAJÁ HENRIQUES - São João do Cariri PB

14h10 "De Lagoa de Pedra para o Seridó: A fuga do bando de Antônio Silvino após o assassinato do Alferes Maurício"

DRA FABIANA AGRA - Campina Grande PB

15h "O Cangaceiro Antônio Silvino na Literatura"

KYDELMIR DANTAS- Nova Floresta PB

15h50 "Quem foi Antônio Silvino na percepção da família"

RAFAEL BORGES - Caruaru PE

16h40 "Serra da Colônia - Pajeú: O Berço de Antônio Silvino"

HESDRAS SOUTO - Tuparetama PE

17h30 Encerramento

Grupo de Xaxado

Uma Família em Missão - Gurjão PB

Realização:

PREFEITURA MUNICIPAL DE GURJÃO

CONSELHO ALCINO ALVES COSTA DO CARIRI CANGAÇO

COMISSÃO ORGANIZADORA SERRA DA BORBOREMA

Apoio:

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO DO CARIRI

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO DE GURJÃO

SBEC - SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO

ABLAC - ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES DO CANGAÇO

GPEC - GRUPO PARAIBANO DE ESTUDOS DO CANGAÇO

GECC - GRUPO DE ESTUDOS DO CANGAÇO DO CEARÁ

Cariri Cangaço

Território de Grandes Encontros

Vem com a gente!


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VEM COISA BOA POR AÍ!

 Por Manoel Severo Barbosa

Você que é apaixonado pelas coisas de nossa terra, por nossas raízes e pela grandeza de nosso Nordeste, prepare-se: Vem muita coisa boa por aí.

Cariri Cangaço, Território de Grandes Encontros!!!

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LUTO NO FUTEBOL E NA MPB...

 Por José Cícero

Partiram de nós hoje (17) para o andar de cima:

■O grande jogador PALHINHA aos 73 anos. Ele que brilhou na seleção, bem como em times como o Cruzeiro, o Atlético e no Corinthians. Foi inclusive, técnico do Ferroviário do CE. Eu adorava seu estilo e sua leveza clássica de jogar. Um verdadeiro craque na expressão lidima da palavra. Adeus... Obrigado Palhinha!

▪Na música foi embora tb hoje o grande e famoso compositor, cantor e arranjador, ídolo da MPB e da bossa nova JOÃO DONATO aos 88 anos.

A boa cultura e o esporte/futebol brasileiro ficam mais pobres e de luto.

Que eles sigam na luz e em paz. Saudades...

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MARIA BONITA: ESPECULAÇÕES QUANTO À DATA DO SEU NASCIMENTO

Por José Bezerra Lima Irmão


Maria Bonita nasceu no dia 8 de março de 1911 – assim afirmam Antônio Amaury Corrêa de Araújo, Alcino Alves Costa, João de Sousa Lima e Frederico Pernambucano de Mello, informação aceita por todos os estudiosos do cangaço na atualidade. 

Antônio Amaury e Alcino Alves

Essa data serviu de referência para as comemorações do centenário do nascimento de Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, ocasião em que o mestre Amaury publicou o seu Maria Bonita – a Mulher de Lampião, sob os auspícios da Assembleia Legislativa da Bahia. Na folha de rosto, o autor assinalou os termos inicial e final da vida da personagem objeto de sua obra: “* 08/03/1911 † 28/07/1938”.

Antônio Amaury e João de Sousa Lima

Essa data foi informada a Antônio Amaury por uma irmã de Maria Bonita chamada Antônia, que, sendo apenas três anos mais nova, tendo portanto praticamente a mesma idade, muito contribuiu para esclarecer várias minúcias sobre a vida de sua irmã.

Antônia irmã de Maria Bonita - - Acervo: Fotos Gilmar Teixeira

O problema é que ninguém conseguiu localizar qualquer documento de Maria Bonita para confirmar a informação de Antônia. Foram vãs as buscas nos cartórios e paróquias de Jeremoabo, Glória (antiga Santo Antônio da Glória, em cujo município se situava a fazenda Malhada da Caiçara) e até de Senhor do Bonfim e Juazeiro.

Oleone Coelho Fontes

Oleone Coelho chegou a considerar que se nem o doutor Amaury conseguiu achar certidão de identidade da cangaceira de Santa Brígida isso é sinal de que ninguém mais o fará, pois ninguém para ter como ele paciência e perseverança para rastejar esses pormenores no chão da história.

Mas Amaury fez escola. A busca foi retomada por seu discípulo João de Sousa Lima, sem dúvida um dos mais abnegados pesquisadores dos assuntos do cangaço, especialmente na região de Paulo Afonso, e nesse aspecto ninguém o supera. João de Sousa Lima dedicou-se anos a fio à pesquisa da vida de Maria Bonita, coligindo dados, entrevistando parentes e antigos moradores da Malhada da Caiçara, Sítio do Tará, Rio do Sal, Riacho e Arrastapé. O resultado desse esforço veio a lume em seu livro A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, revelando tudo o que importa sobre a vida e a família da famosa cangaceira. Faltava, porém, uma prova que atestasse a data do seu nascimento, já que a data aceita – 8 de março de 1911 – era baseada apenas na memória de sua irmã Antônia.

Luiz Ruben de Alcântara

Luiz Ruben de Alcântara, outro incansável estudioso, depois de quase duas décadas de pesquisas sobre o cangaço, vasculhando documentos oficiais, jornais e boletins policiais, nas bibliotecas, arquivos públicos e institutos históricos de vários Estados, dá conta de sua perplexidade ante as informações sobre Maria Bonita. Luiz Ruben reuniu com o tempo um universo de elementos sobre o cangaço, e, polido e prestimoso, de forma louvável, põe à disposição dos amigos todo esse cabedal. 

Tudo o que se quiser, é só pedir a ele. Não conseguiu, porém, obter a certidão de batismo ou do registro civil da famosa sertaneja.

Outro grande pesquisador, Frederico Pernambucano de Mello, detentor de considerável acervo sobre o cangaço, reunido e catalogado de forma criteriosa e metódica, também não logrou êxito no tocante às certidões da Musa do Cangaço.

Manoel Severo e Frederico pernambucano de Mello

Com o tempo, alguns livros de registros cartorários e paroquiais se deterioraram (por incêndios, goteiras, mofo, cupins, ratos, baratas, traças) ou se extraviaram.

Há ainda a questão da dificuldade de acesso a esses livros. Não se pode ir a um cartório ou arquivo paroquial e dizer que quer ver este ou aquele livro, e de pronto verificar livremente folha por folha o que nele consta. Não é assim. O interessado precisa saber mais ou menos o que quer, em especial o nome da pessoa a ser pesquisada, o período do fato e outros dados, e então a pessoa competente do próprio cartório ou paróquia faz a busca. Muitas vezes é preciso fazer o pagamento antecipado da taxa do serviço. Quase sempre é marcada data para fornecimento do resultado positivo ou negativo da pesquisa. A busca pelo próprio interessado somente é possível à base do “jeitinho” – por amizade, confiança ou outro recurso.

Padre Celso Anunciação

O padre Celso Anunciação, notável teólogo, comunicador social, clérigo erudito, à época em que foi vigário da Paróquia de São Francisco de Assis, em Paulo Afonso, empenhou-se na busca da certidão de nascimento ou de casamento daquela Maria quetinha o mesmo nome da Menina da Galileia, sendo ele também um estudioso daquela Maria sertaneja, como a Judite que não suportava Holofernes – conforme ele mesmo justificaria a motivação da sua busca, tendo inclusive realizado em Paulo Afonso a mostra cultural intitulada “Maria Bonita em Nós”. Valendo-se da facilidade de acesso aos arquivos paroquiais, o padre Celso empreendeu várias viagens para abrir velhos livros de registros de batismos e casamentos em Senhor do Bonfim, Glória e Jeremoabo.

Voldi de Moura Ribeiro

O pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, em companhia do padre Celso Anunciação, achou a certidão de batismo de uma Maria (somente Maria, sem sobrenome), nascida a 17 de janeiro de 1910, filha de Maria Joaquina da Conceição. Em virtude do nome “Maria”, e tendo esta como mãe Maria Joaquina da Conceição, havia sobejas razões para se supor que aquele seria o registro do nascimento de Maria Bonita.

Maria Joaquina mãe de Maria Bonita

Ocorre que o próprio Voldi, tendo entrevistado duas sobrinhas de Maria Bonita –Adailde Gomes de Oliveira (filha de Zé de Déia, irmão de Maria Bonita) e Maria Geuza Oliveira dos Santos (filha de Antônia Maria de Oliveira, irmã de Maria Bonita) –, assegura que “ambas foram enfáticas em afirmar que todas as irmãs de Maria Bonita
tinham o nome MARIA” (Voldi de Moura Ribeiro, Lampião e o Nascimento de Maria Bonita, p. 84).

Em sua pesquisa, Voldi constatou que de fato tanto Maria Bonita como suas sete irmãs tinham todas elas “Maria” no nome, sendo na família distinguidas como Benedita Maria (Benedita), Maria Gomes (Maria de Déia), Antônia Maria (Deusinha), Amália Maria (Dondom), Francisca Maria (Chiquinha), Joana Maria (Nanã) e Olindina Maria (Dorzina).

Maria Bonita e Lampião

A certidão atribuída a Maria Bonita é na verdade a certidão de Benedita Maria, a primogênita, que foi batizada simplesmente como “Maria”, identificando-se na vida adulta como Benedita Maria de Oliveira, Benedita Gomes de Oliveira ou Benedita Maria da Conceição (este foi o nome declarado ao se casar com Antônio José de Oliveira).

Benedita irmã de Maria Bonita - acervo Gilmar Teixeira

Voldi é um pesquisador dedicado e perspicaz. Ele obteve e publicou em seu livro a certidão de “Maria”, ou seja, de Benedita Maria (ob. cit., p. 83).

O próprio Voldi observa que Benedita ora era chamada Benedita Maria de Oliveira (conforme legenda da foto à p. 69), ora Benedita Maria da Conceição (conforme texto em negrito à p. 97). A “Maria” em apreço, ao se casar com Antônio José de Oliveira, declarou o nome de Benedita Maria da Conceição (p. 97-98).

Voldi encontrou na mesma ocasião o assentamento do matrimônio de Joanna Maria d’Oliveira (Nanã, Nanzinha, p. 96-97) e o registro de “Antônia” (sem sobrenome), que é justamente Antônia Maria da Conceição (Deusinha, p. 98-99), o que corrobora a informação de que todas as irmãs tinham “Maria” no nome, se não no batistério, mas no convívio social.

Era comum na época constar nos batistérios apenas o “nome” da criança, sem sobrenome. Lampião foi batizado simplesmente como “Virgolino”, e mesmo no registro civil foi assim que foi feito o assentamento oficial – apenas Virgolino, sem sobrenome.

Voldi Ribeiro obteve também a certidão do registro de nascimento de Maria Joaquina da Conceição (Dona Déia, mãe de Maria Bonita), e ao comentar esse achado ele deixa patente ter percebido que a “Maria” que consta na certidão atribuída a Maria Bonita é na verdade Benedita Maria. Diz Voldi:

“a. O primeiro aspecto que nos chamou à atenção foi o Registro de Nascimento, além de identificar uma coincidência com o nome exato da Mãe de Maria Bonita, tem o fato dela mesmo ter nascido no ano de 1894 e a data e o ano do seu falecimento ter sido em 16 de junho de 1964, então com 70 anos, o que nos indica que no ano do nascimento de Benedita, a primogênita provavelmente em 1909 ou 1911, a mesma estaria então com 15 anos de idade, no costume do Sertão Nordestino da época, era bastantecomum uma mulher ter os primeiros filhos em torno desta idade” (sic – p. 99-100).

Ou seja, quando Maria Joaquina da Conceição (Dona Déia) deu à luz suaprimogênita, em 1909 ou 1911, tinha mais ou menos 15 anos, e a primogênita foi Benedita, conforme reconhece Voldi Ribeiro. Ora, Benedita nasceu em 1910 (portanto entre 1909 e 1911). Os autores dão realmente 1910 como o ano do nascimento de Benedita. Conforme assinalou o mestre Antônio Amaury, “... em 1910 veio ao mundo uma menina que recebeu o nome de Benedita e tornou-se a irmã mais velha da menina que nasceu no ano seguinte e que é a nossa focalizada” (ob. cit., p. 46).

Sabe-se agora, graças à descoberta de Voldi Ribeiro, que Benedita Maria nasceu no dia 17 de janeiro de 1910.

Em suma, 17 de janeiro de 1910 é a data do nascimento de Benedita Maria de Oliveira ou Benedita Maria da Conceição, nomes adotados por ela na vida adulta, e não a data do nascimento da outra Maria, Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita.

Ao analisar essa certidão, João de Sousa Lima, embora a considere “prova plausível”, deixou patente seu ceticismo, ponderando que poderia se manifestar de modo mais aprofundado nessa questão “se outra documentação for encontrada trazendo referências mais palpáveis sobre a data de nascimento de Maria Gomes de Oliveira” (Revista Contexto – Educação, ano 3, nº 5, out/nov 2012, da Secretaria de Educação de Petrolina, PE).

É louvável o empenho do abnegado Voldi Ribeiro que com essa pesquisa lançou novas luzes sobre aspectos importantes da família da primeira-dama do cangaço, especialmente ao descobrir o nome da avó materna de Maria Bonita – Francelina Maria da Silva (ob. cit., p. 99/101). Esta descoberta vem em boa hora, pois antes se supunha que sua avó materna se chamava Ana Maria da Conceição, e agora se fica sabendo ser esta a avó paterna, conforme já havia assinalado Antônio Amaury em seu consagrado Maria Bonita – a Mulher de Lampião (p. 45).

Escritores José Bezerra Lima Irmão de Dr. Amaury.

Enviado pelo o escritor e pesquisador do cangaço José Bezerra Lima Irmão autor do livro "Lampião a Raposa das Caatingas".

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