Por José
Mendes Pereira
Fransquinho
Vasconcelos (aos 43 anos), dona Terezinha (aos 29 anos), Vasconcelos Neto (aos 4),
Silvia (aos 3 anos).- 1956 - http://azougue.org
Era um homem de admirável simplicidade. Educado, calmo, que atendia as
pessoas com um simples gesto de boas vindas. Filho de uma grande personalidade
de Apodi, mas radicado em Mossoró, o escritor, poeta e jornalista José Martins
de Vasconcelos.
Lembro-me bem onde funcionava a sua primeira Livraria e Tipografia. Próximo ao
antigo Cine Cid, na Rua Coronel Vicente Sabóia. Nunca foi homem de luxo, apenas
organizava o seu comércio; um birô (bureau), feito de pereiro,
envernizado, pequeninho onde guardava todos os seus documentos, notas
fiscais, talões... Posteriormente na mesma rua, construiu um prédio, e lá
se estabeleceu até os seus últimos dias de vida.
Nos anos
sessenta e setenta eu era tipógrafo na Editora Comercial S/A., e através de
contatos gráficos, fiz amizade a ele. Deixando a vida gráfica, as nossas
amizades cresceram mais ainda, quando fui prestar os meus serviços públicos ao
Estado-RN, numa escola, cujo patrono é o seu pai, José Martins de Vasconcelos.
Jornalista
José Martins de Vasconcelos
Ele
querendo que o nome do seu velho pai fosse zelado e seguisse mais adiante,
fazia panfletos para serem entregues na escola, todos levados e distribuídos
aos alunos por mim.
A história
que segue, não foi ele que me contou, mas, segundo os gráficos mais antigos que trabalharam comigo, já
falavam o que havia ocorrido na sua tipografia.
Fransquinho Vasconcelos tinha um dos seus empregados que muito o paparicava.
Por mais que existissem homens honestos, não serviam para lavar os pés do
seu grande e honesto profissional.
Nos
finais de semana, principalmente aos sábados à tarde, era do costume, o
empregado fazer bicos (horas extras) em sua tipografia. Enquanto Fransquinho Vasconcelos organizava os seus documentos de trabalho, o operário
permanecia lá dentro da oficina, fazendo as suas impressões tipográficas,
isto no sentido de adiantar os pedidos para a semana entrante.
Mas geralmente, aos sábados, desaparecia dinheiro da sua gaveta, e, como tendo total
confiança no seu empregado, jamais imaginou que poderia ser ele
que o roubava. E os desaparecimentos de dinheiro continuavam, sem ter a
certeza quem seria o larápio.
Já cansado
de ser assaltado, idealizou uma simples e bem pensada ideia, para
descobrir quem seria o ladrão que o roubava. Comprou um chocalho, não
tão grande, mas médio, e montou-o sob a gaveta onde ele guardava os seus
valores.
Imagem da internet
Nessa tarde, depois de pronta a armadilha, foi lá dentro da oficina, e disse ao
empregado, que iria dar um dedinho de conversa com os amigos, lá na praça da
Catedral. Geralmente, lá estavam: Jorge Pinto, proprietário do Cine Pax,
Seu Medeiros, proprietário da Casa Medeiros, Seu Ferreira, da Casa Ferreira, Odílio Pinto,
seu contador, Paulo Bedel que era agrimensor - e outros e outros comerciantes se divertiam por lá.
Mas Fransquinho Vasconcelos, em vez de ir a dita viagem, que era logo ali pertinho da sua gráfica, escondeu-se por
trás de um monte de caixas com livros que iria ser colocado nas prateleiras, e
lá ficou observando quem iria lhe roubar.
Como o empregado não imaginava tal desconfiança do velho patrão, parou a
máquina impressora, foi até a sala, em seguida, dirigiu-se
até a porta que saía para rua, para ter certeza que Fransquinho
Vasconcelos tinha ido a dita viagem; e vendo que o patrão havia ido mesmo. Voltou, abriu a gaveta do birô, assustando-se com o trim-trim do chocalho.
Desconfiado,
em vez de retornar à oficina, e sentindo vergonha da sua própria fraqueza, e
não imaginava que o patrão se escondia por trás das caixas, foi tentar
disfarçar o seu erro entre elas. Mas se enganara! Quando tentava se
ocultar por ali, viu o patrão banhado de tristeza, por saber que quem o
roubava era o seu homem de confiança.
Ao vê-lo ali escondido, disse-lhe:
- Que vergonha, seu Fransquinho! Que vergonha!
- Muito mais
vergonha sinto eu - dizia Fransquinho Vasconcelos, trêmulo e sentindo
piedade do miserável. Pois jamais eu imaginei que você fosse capaz disso.
Mas não vou te demitir. Você vai continuar trabalhando nesta gráfica. Se eu te
demitir, aqueles teus filhos irão todos morrerem de fome, e eles não têm culpa
da sua fraqueza. Leve sempre para sua casa coisas adquiridas através do
teu suor, para ensinar a teus filhos o caminho da vida sem decepções. Se você
continuar assim, estará ensinando aos teus próprios filhos a serem
desonestos. E o fim será cadeia e mais nada.
O que eu sei, é que o homem não quis ficar mais trabalhando, abalando-se de Mossoró com
toda sua família. Nunca mais foi visto nesta cidade.
Minhas simples
histórias
http://blogdomendesemendes.blogspot.com