Por Manoel Severo
Água Branca,
cidade importante na história de cangaço. Palco da primeira ação de Lampião
como chefe de um bando. Terra natal de Corisco, recebe no próximo mês de Julho,
uma ousada edição do Cariri Cangaço. Dia 29 de julho de 2016, dentro da
programação do Cariri Cangaço Piranhas 2016; as visitas à Casa da Baronesa e à
fazenda de Ulisses Luna, serão ponto alto do evento. Por falar em Água
Branca, assalto à casa da Baronesa, Lampião e Corisco, vamos reproduzir o
profícuo debate entre pesquisadores sobre o cangaço do grande Sinhô
Pereira, único chefe de Virgulino Ferreira.
Sinhô Pereira
e Luiz Padre
Com a palavra
o pesquisador Geziel Moura: "Por ocasião do assalto em Água Branca (AL)
Lampião, ainda, estava sob ordem de Sinhô Pereira, é certo que ele comandou o
bando, neste assalto, mas Pereira, ainda não havia se retirado para Goiás, hoje
estado de Tocantins. Outros autores, apontam este caso, como o primeiro de
Lampião, como comandante. Para pensar um pouco mais sobre o assalto em
Água Branca e a Chefia de Lampião: Segundo o escritor José Bezerra Lima
Irmão em sua obra "Lampião, a raposa das caatingas" na pág 116 -
Sinhô Pereira após reunião com familiares, reuniu com a cabroeira, no dia
08.08.1922, passando efetivamente o comando do bando para Lampião, sendo que no
dia 22.08.1922, Pereira segue para o então, estado de Goiás. Diversas são as
datas apontadas, pelos autores e jornais, para o assalto da Baronesa de Água
Branca, considerando o Diário de Pernambuco, cuja publicação informa que a data
foi em 28.06.1922. Portanto, penso que na ocasião do assalto e utilizando um
jargão do meio jurídico, Virgolino era um chefe de fato e não de direito. Em
tempo: segundo o autor alagoano Clerisvaldo Chagas o dia do assalto foi
26.06.1922 sendo acompanhado do mesmo entendimento, por Geraldo Ferraz e Jose
Bezerra Lima Irmão"
Narciso Dias,
Geziel Moura, Jorge Remígio e Jair Tavares no Cariri Cangaço
O pesquisador
e escritor Edvaldo Feitosa, um dos responsáveis pelo Cariri Cangaço em Água
Branca comenta, " a questão de data e ano distorce muito as
informações. A data que apresento no recente livro que lancei, "Água
Branca História e Memória, é 26 de Junho de 1922."
Conselheiro
Cariri Cangaço e sócio do GPEC, Jorge Remígio, esclarece: "O cangaço de Luís
Padre e Sinhô Pereira, tinha a característica de vingança. Qualquer modalidade
de cangaço, utilizando a nomenclatura de Frederico Pernambucano,
"vingança, refúgio e meio de vida", carecia de um apoio logístico.
Era fundamental uma mínima estrutura. Sinhô Pereira só encampou o seu cangaço
por quase seis anos, graças ao apoio e amizade com o major Zé Inácio.
Fundamental para a sua atividade cangaceira. O bando constituído por Sinhô e
Luís Padre, não era suprido com produto de rapina. Além do major Zé Inácio do
Barro, teve ajuda financeira do coronel Manoel Pereira Lins (Né da Carnaúba),
de Isidoro Conrado e principalmente do coronel Antônio Andrelino Pereira da
Silva. Este perdeu toda sua riqueza."
"O coito
e proteção no Barro-CE era fundamental. Com a perda de prestígio do major Zé
Inácio, sua prisão em março de 1922 e logo em seguida ter que migrar para
Goiás, inviabilizou totalmente o cangaço de Sinhô. Seus objetivos ficaram
distante de serem concretizados. O pedido de ajuda para o grande comerciante de
Belmonte, Luiz Gonzaga Ferraz, mostra a mudança de atitude do chefe do bando.
Temos que observar também, que Sinhô devia satisfações à família. Quando a
família do parente Ioiô Maroto foi ultrajada pela tropa do tenente Pelegrino em
maio daquele ano, Sinhô já estava ou não mais comandava o grupo de cangaceiros.
Este por já se encontrar em fazendas de familiares, liberou o grupo na chefia
de Lampião. Como o objetivo vingança não cabia mais na realidade do grupo, esse
passou automaticamente a exercer um cangaço de negócio. No meu entender, quando
do ataque de Lampião à cidade de Água Branca-AL em 26/06/1922, Lampião já era o
chefe inconteste. A passagem do bando para ele por Sinhô em agosto, é mais um
fato simbólico. Veja que o produto do saque à casa da Baronesa, ficou todo com
o novo chefe da quadrilha. A ajuda que Sinhô teve para viajar para Goiás, foi
doada pelos parentes Isidoro Conrado e Né da Carnaúba."
Major Zé
Inácio, do Barro em foto do acervo de Sousa Neto
E contonua
Remígio: "Um bando que tem como característica o cangaço meio de vida, que
faz da sua atividade um "comércio", ele comete os crimes de roubo,
extorsão, sequestro, sucessivamente. É uma prática rotineira. O produto dos
saques, é justamente a fonte pagadora. Em alusão ao grupo de Sinhô Pereira, o
que eu tenho conhecimento de fatos que fugiram ao objetivo principal, que era a
vingança, foram o assalto à casa de Dona Praxedes, viúva do Cel. Domingos Leite
Furtado, declaradamente a mando do Major José Inácio, o qual administrou a
fazenda do coronel por vários anos, e declarou que estava mandando pegar o que
era dele. Este fato ocorreu em 20/01/1919. Exatamente um ano depois, em
20/01/1920, o bando assaltou a fazenda do Cel. Basílio Gomes da silva, no
Município de Brejo Santo. Ação também do interesse do Major Zé Inácio.
Visita do
Cariri Cangaço ao Coité de Padre Lacerda
Dois anos
depois, em 19/01/1922, por razões de contendas políticas, Zé Inácio manda seus
homens, em conjunto com o bando de Sinhô Pereira, já com a presença dos irmãos
Ferreira, até a Vila do Coité, para exterminarem a vida do Padre Lacerda. O
qual registou bravamente. O interesse aí não era financeiro. A partir desse
episódio de grande repercussão, o major sente perfeitamente que os tempos são
outros e que não goza mais das "imunidades" recorrentes. A incursão á
Paraíba logo em seguida, com o objetivo de pilhagem, sedo escolhida as fazendas
de Waldivino Lobo, Adolfo Mais e Rochael Mais (a fazenda deste não chegou a ser
assaltada), a meu ver, foi com o objetivo de acumular dinheiro para migração do
Major José Inácio para São José do Duro em Goiás, onde vivia o amigo Luís
Padre.
Para essa
empreitada, além dos homens de Zé Inácio e o bando comandado por Sinhô, ainda
foi convidado a participar, o famoso cangaceiro Ulisses Liberato de Alencar, o
qual comandava um pequeno grupo. Figura nos autos do inquérito policial,
declarações de Ulisses Liberato, afirmando este que recebeu duzentos mil réis
pela participação e que o dinheiro produto dos saques, foram entregues ao Major
José Inácio. Então companheiro, considero ações pontuais. Uma vez que o cangaço
de Sinhô vingou por quase seis anos e se este dependesse da rapina e pilhagem
para sustentar o bando, as ações dessa modalidade seriam corriqueiras. Agora,
como afirmei em texto anterior, "não existe almoço grátis" Claro que
o Major cobrou de Sinhô, toda estrutura que dera ao bando, como também a
proteção e guarida." finaliza Jorge Remígio.
Visita do
Cariri Cangaço a Fazenda do Major Inácio em Barro
Replica Geziel
Moura, "pois é Jorge Remígio daí eu ter falado que Lampião era chefe
de fato e não de direito, o que não precisaria da passagem de comando, mesma
que simbólica, como você sugere. Em relação a data do assalto, penso que seja o
dia 26, mas confesso que queria ler esta data, em algum periódico ou boletim da
polícia, afinal tantos autores importantes falaram no dia 28, tais como:
Chandler, Amaury e Anderson". Já o pesquisador de Pombal, José Tavares
arisca: "Caro Jorge Remígio, eu só discordo quando o amigo diz "O
bando constituído por Sinhô e Luís Padre, não era suprido com produto de
rapina". Entendo que todo ajuda financeira que o bando recebia provinha de
assaltos e pilhagens praticadas pelo próprio bando, em conluio com os coronéis
coiteiros. Um exemplo bem pratico, foi quando o bando veio assaltar fazendeiros
da região de Catolé do Rocha. Inclusive, sabe-se que, no bando, Gavião, filho
do Major Zé Inácio, era uma espécie de fiscal do pai, para que não houvesse
desvio produtos dos roubos."
Manoel Severo,
curador do Cariri Cangaço comenta: "Na verdade companheiro Zé Tavares,
muito dos recursos que "sustentava" inicialmente o bando de Sinhô
Pereira vinham da propria estrutura dos Pereira do Pajeu, inicialmente
reconhecida família de posses; entretanto não creio que no meio de seus homens
não houvesse quem "rapinasse", talvez tenha sido essa a natureza da
colocação do confrade Remígio"
José Tavares e
Manoel Severo
Para
finalizar; o abalizado comentário do pesquisador e escritor,
Conselheiro Cariri Cangaço, Sousa Neto: "sobre os mantenedores do
Bando de Sinhô Pereira; as rapinagens acontecidas sob o comando dos Pereira
foram ações isoladas e que tiveram a "idealização" do major Zé Inácio
do Barro, uma vez que o Cel. Antonio Andrelino já se encontrava financeiramente
falido. Era uma mão lavando a outra como se diz aqui no sertão. Dois episódios
ficaram evidenciados pelos primos. Um foi o assalto a D. Praxedes no Nazaré
comandado por Luiz Padre em 1919 sob a supervisão de Gavião e a outra, o
assalto aos Maia em Catolé do Rocha-PB em 1922, comandado por Sinhô Pereira e
também sob a supervisão de Gavião (Tiburtino). Se observarmos o inquérito de
Ulisses Liberato de Alencar, ele afirma textualmente que foi
"convencido" pelo major Zé Inácio, do Barro."
E continua
Sousa Neto: "O colega pesquisador, Gilmar Teixeira defende a tese que
Sinhô Pereira ainda estava no comando do bando e não entrou para não ser
reconhecido. À razão apresentada por ele é que o estratagema para o assassinato
de Delmiro aconteceu naquele local onde os Pereira se fizeram presentes.
As perguntas
que não querem calar: porque Lampião ficou com o produto da rapinagem? e porque
nenhum outro cangaceiro nunca mencionou a divisão do saque com Sinhô?".
Cariri
Cangaço
Em Julho:
Piranhas e Água Branca
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