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sexta-feira, 29 de abril de 2016

E O CANGAÇO DE SINHÔ PEREIRA ?!

Por Manoel Severo

Água Branca, cidade importante na história de cangaço. Palco da primeira ação de Lampião como chefe de um bando. Terra natal de Corisco, recebe no próximo mês de Julho, uma ousada edição do Cariri Cangaço. Dia 29 de julho de 2016, dentro da programação do Cariri Cangaço Piranhas 2016; as visitas à Casa da Baronesa e à fazenda de Ulisses Luna, serão ponto alto do evento. Por falar em Água Branca, assalto à casa da Baronesa, Lampião e Corisco, vamos reproduzir o profícuo debate entre pesquisadores sobre o cangaço do grande Sinhô Pereira, único chefe de Virgulino Ferreira.

 
Sinhô Pereira e Luiz Padre

Com a palavra o pesquisador Geziel Moura: "Por ocasião do assalto em Água Branca (AL) Lampião, ainda, estava sob ordem de Sinhô Pereira, é certo que ele comandou o bando, neste assalto, mas Pereira, ainda não havia se retirado para Goiás, hoje estado de Tocantins. Outros autores, apontam este caso, como o primeiro de Lampião, como comandante. Para pensar um pouco mais sobre o assalto em Água Branca e a Chefia de Lampião: Segundo o escritor José Bezerra Lima Irmão em sua obra "Lampião, a raposa das caatingas" na pág 116 - Sinhô Pereira após reunião com familiares, reuniu com a cabroeira, no dia 08.08.1922, passando efetivamente o comando do bando para Lampião, sendo que no dia 22.08.1922, Pereira segue para o então, estado de Goiás. Diversas são as datas apontadas, pelos autores e jornais, para o assalto da Baronesa de Água Branca, considerando o Diário de Pernambuco, cuja publicação informa que a data foi em 28.06.1922. Portanto, penso que na ocasião do assalto e utilizando um jargão do meio jurídico, Virgolino era um chefe de fato e não de direito. Em tempo: segundo o autor alagoano Clerisvaldo Chagas o dia do assalto foi 26.06.1922 sendo acompanhado do mesmo entendimento, por Geraldo Ferraz e Jose Bezerra Lima Irmão"

Narciso Dias, Geziel Moura, Jorge Remígio e Jair Tavares no Cariri Cangaço

O pesquisador e escritor Edvaldo Feitosa, um dos responsáveis pelo Cariri Cangaço em Água Branca comenta, " a questão de data e ano distorce muito as informações. A data que apresento no recente livro que lancei, "Água Branca História e Memória, é 26 de Junho de 1922."

Conselheiro Cariri Cangaço e sócio do GPEC, Jorge Remígio, esclarece: "O cangaço de Luís Padre e Sinhô Pereira, tinha a característica de vingança. Qualquer modalidade de cangaço, utilizando a nomenclatura de Frederico Pernambucano, "vingança, refúgio e meio de vida", carecia de um apoio logístico. Era fundamental uma mínima estrutura. Sinhô Pereira só encampou o seu cangaço por quase seis anos, graças ao apoio e amizade com o major Zé Inácio. Fundamental para a sua atividade cangaceira. O bando constituído por Sinhô e Luís Padre, não era suprido com produto de rapina. Além do major Zé Inácio do Barro, teve ajuda financeira do coronel Manoel Pereira Lins (Né da Carnaúba), de Isidoro Conrado e principalmente do coronel Antônio Andrelino Pereira da Silva. Este perdeu toda sua riqueza."

"O coito e proteção no Barro-CE era fundamental. Com a perda de prestígio do major Zé Inácio, sua prisão em março de 1922 e logo em seguida ter que migrar para Goiás, inviabilizou totalmente o cangaço de Sinhô. Seus objetivos ficaram distante de serem concretizados. O pedido de ajuda para o grande comerciante de Belmonte, Luiz Gonzaga Ferraz, mostra a mudança de atitude do chefe do bando. Temos que observar também, que Sinhô devia satisfações à família. Quando a família do parente Ioiô Maroto foi ultrajada pela tropa do tenente Pelegrino em maio daquele ano, Sinhô já estava ou não mais comandava o grupo de cangaceiros. Este por já se encontrar em fazendas de familiares, liberou o grupo na chefia de Lampião. Como o objetivo vingança não cabia mais na realidade do grupo, esse passou automaticamente a exercer um cangaço de negócio. No meu entender, quando do ataque de Lampião à cidade de Água Branca-AL em 26/06/1922, Lampião já era o chefe inconteste. A passagem do bando para ele por Sinhô em agosto, é mais um fato simbólico. Veja que o produto do saque à casa da Baronesa, ficou todo com o novo chefe da quadrilha. A ajuda que Sinhô teve para viajar para Goiás, foi doada pelos parentes Isidoro Conrado e Né da Carnaúba."
  
Major Zé Inácio, do Barro em foto do acervo de Sousa Neto

E contonua Remígio: "Um bando que tem como característica o cangaço meio de vida, que faz da sua atividade um "comércio", ele comete os crimes de roubo, extorsão, sequestro, sucessivamente. É uma prática rotineira. O produto dos saques, é justamente a fonte pagadora. Em alusão ao grupo de Sinhô Pereira, o que eu tenho conhecimento de fatos que fugiram ao objetivo principal, que era a vingança, foram o assalto à casa de Dona Praxedes, viúva do Cel. Domingos Leite Furtado, declaradamente a mando do Major José Inácio, o qual administrou a fazenda do coronel por vários anos, e declarou que estava mandando pegar o que era dele. Este fato ocorreu em 20/01/1919. Exatamente um ano depois, em 20/01/1920, o bando assaltou a fazenda do Cel. Basílio Gomes da silva, no Município de Brejo Santo. Ação também do interesse do Major Zé Inácio.

Visita do Cariri Cangaço ao Coité de Padre Lacerda

Dois anos depois, em 19/01/1922, por razões de contendas políticas, Zé Inácio manda seus homens, em conjunto com o bando de Sinhô Pereira, já com a presença dos irmãos Ferreira, até a Vila do Coité, para exterminarem a vida do Padre Lacerda. O qual registou bravamente. O interesse aí não era financeiro. A partir desse episódio de grande repercussão, o major sente perfeitamente que os tempos são outros e que não goza mais das "imunidades" recorrentes. A incursão á Paraíba logo em seguida, com o objetivo de pilhagem, sedo escolhida as fazendas de Waldivino Lobo, Adolfo Mais e Rochael Mais (a fazenda deste não chegou a ser assaltada), a meu ver, foi com o objetivo de acumular dinheiro para migração do Major José Inácio para São José do Duro em Goiás, onde vivia o amigo Luís Padre.

Para essa empreitada, além dos homens de Zé Inácio e o bando comandado por Sinhô, ainda foi convidado a participar, o famoso cangaceiro Ulisses Liberato de Alencar, o qual comandava um pequeno grupo. Figura nos autos do inquérito policial, declarações de Ulisses Liberato, afirmando este que recebeu duzentos mil réis pela participação e que o dinheiro produto dos saques, foram entregues ao Major José Inácio. Então companheiro, considero ações pontuais. Uma vez que o cangaço de Sinhô vingou por quase seis anos e se este dependesse da rapina e pilhagem para sustentar o bando, as ações dessa modalidade seriam corriqueiras. Agora, como afirmei em texto anterior, "não existe almoço grátis" Claro que o Major cobrou de Sinhô, toda estrutura que dera ao bando, como também a proteção e guarida." finaliza Jorge Remígio.

Visita do Cariri Cangaço a Fazenda do Major Inácio em Barro

Replica Geziel Moura, "pois é Jorge Remígio daí eu ter falado que Lampião era chefe de fato e não de direito, o que não precisaria da passagem de comando, mesma que simbólica, como você sugere. Em relação a data do assalto, penso que seja o dia 26, mas confesso que queria ler esta data, em algum periódico ou boletim da polícia, afinal tantos autores importantes falaram no dia 28, tais como: Chandler, Amaury e Anderson". Já o pesquisador de Pombal, José Tavares arisca: "Caro Jorge Remígio, eu só discordo quando o amigo diz "O bando constituído por Sinhô e Luís Padre, não era suprido com produto de rapina". Entendo que todo ajuda financeira que o bando recebia provinha de assaltos e pilhagens praticadas pelo próprio bando, em conluio com os coronéis coiteiros. Um exemplo bem pratico, foi quando o bando veio assaltar fazendeiros da região de Catolé do Rocha. Inclusive, sabe-se que, no bando, Gavião, filho do Major Zé Inácio, era uma espécie de fiscal do pai, para que não houvesse desvio produtos dos roubos." 

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço comenta: "Na verdade companheiro Zé Tavares, muito dos recursos que "sustentava" inicialmente o bando de Sinhô Pereira vinham da propria estrutura dos Pereira do Pajeu, inicialmente reconhecida família de posses; entretanto não creio que no meio de seus homens não houvesse quem "rapinasse", talvez tenha sido essa a natureza da colocação do confrade Remígio"

José Tavares e Manoel Severo

Para finalizar; o abalizado comentário do pesquisador e escritor, Conselheiro Cariri Cangaço, Sousa Neto: "sobre os mantenedores do Bando de Sinhô Pereira; as rapinagens acontecidas sob o comando dos Pereira foram ações isoladas e que tiveram a "idealização" do major Zé Inácio do Barro, uma vez que o Cel. Antonio Andrelino já se encontrava financeiramente falido. Era uma mão lavando a outra como se diz aqui no sertão. Dois episódios ficaram evidenciados pelos primos. Um foi o assalto a D. Praxedes no Nazaré comandado por Luiz Padre em 1919 sob a supervisão de Gavião e a outra, o assalto aos Maia em Catolé do Rocha-PB em 1922, comandado por Sinhô Pereira e também sob a supervisão de Gavião (Tiburtino). Se observarmos o inquérito de Ulisses Liberato de Alencar, ele afirma textualmente que foi "convencido" pelo major Zé Inácio, do Barro."  

E continua Sousa Neto: "O colega pesquisador, Gilmar Teixeira defende a tese que Sinhô Pereira ainda estava no comando do bando e não entrou para não ser reconhecido. À razão apresentada por ele é que o estratagema para o assassinato de Delmiro aconteceu naquele local onde os Pereira se fizeram presentes. 

As perguntas que não querem calar: porque Lampião ficou com o produto da rapinagem? e porque nenhum outro cangaceiro nunca mencionou a divisão do saque com Sinhô?".

Cariri Cangaço 
Em Julho: Piranhas e Água Branca

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