Por
Me. Cláudio Fernandes
O alferes
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi um dos principais articuladores
da Inconfidência Mineira
O dia de
Tiradentes é celebrado, sob regime de feriado nacional, em 21 de abril desde
1965 como forma de construção da imagem heroica do Patrono da Nação.
Desde 1965,
aos 21 dias do mês de abril, celebra-se no Brasil o Dia de Tiradentes e,
junto à pessoa deste, rememoram-se também os acontecimentos que configuraram a Inconfidência
Mineira. Neste texto, procuraremos explicitar os motivos pelos quais
Tiradentes passou a ser considerado um herói nacional e Patrono da Nação
Brasileira.
Sabe-se que
“Tiradentes” era o apelido de Joaquim José da Silva Xavier, um alferes
(cargo militar da época colonial) que também exerceu a profissão de dentista.
Tiradentes participou ativamente de um dos principais movimentos de contestação
do poder que a coroa portuguesa exercia sobre o Brasil Colônia: a Inconfidência
Mineira. Sabemos que esse movimento articulou-se entre os anos de 1788 e 1789 e
foi permeado por ideias provindas do Iluminismo que se alastrou pela Europa, na
segunda metade do século XVIII.
Os
inconfidentes de Minas Gerais geralmente integravam, com exceção de poucos, a
elite cultural e social daquela região (como era o caso do poeta Tomás
Antônio Gonzaga) ou então ocupavam postos militares ou exerciam profissões
liberais, como era o caso do referido Tiradentes. O que dava unidade ao grupo
eram ideias como a de liberdade e igualdade (ideias essas que também fomentaram
a Revolução
Francesa, em 1789), além do anseio pela emancipação e independência com
relação à Coroa Portuguesa, à época governada pela rainha D. Maria, “A
louca”.
Os planos de
insurgência contra o governo local em Minas, representado pelo Visconde de
Barbacena, foram articulados em 1788 e tiveram como estopim a política de
cobrança de impostos sobre a produção aurífera e sobre os rendimentos que
ganhava cada pessoa que compunha a população de Minas Gerais. Esse último
imposto era conhecido sob o nome de “derrama”. Apesar de terem uma organização
bem elaborada, os inconfidentes acabaram por ser delatados por Silvério
dos Reis, um devedor de tributos que, com a denúncia, acreditava poder sanar
suas dívidas com a coroa.
Todos os
inconfidentes foram presos. Tiradentes foi apanhado no Rio de Janeiro. O
processo estabelecido contra eles e os subsequentes julgamentos e sentenças só
terminaram em 1792, no dia 18 de abril. Os principais líderes receberam a pena
do banimento, isto é, foram expulsos do país. Tiradentes, ao contrário, foi enforcado
no dia 21 de abril ao som de discursos que louvavam a rainha de Portugal. Seu
corpo foi esquartejado e sua cabeça exibida na praça principal da cidade de
Ouro Preto.
Evidentemente,
o dia da morte de Tiradentes por muito tempo foi compreendido como o dia em que
um rebelde foi morto, como típico exemplo de retaliação absolutista.
Entretanto, após a Independência do Brasil e, principalmente, após a
Proclamação da República (época em que o Brasil, já desvinculado de Portugal,
procurava construir sua identidade nacional), a imagem de Tiradentes começou a
ser recuperada e louvada como um dos heróis da nação ou como um dos que
primeiramente lutaram (até a morte) pela liberdade.
Um exemplo
dessa imagem foi a instalação, em 1867, do primeiro monumento a Tiradentes na
cidade de Ouro Preto. Outro exemplo, o mais notório, foi a confecção, por parte
do pintor Pedro Américo, do quadro “Tiradentes Esquartejado” (ver imagem no
topo do texto) em 1893, época em que a República, recém-instituída, procurava
os mártires e os patronos da “Nação Brasileira”. O Tiradentes de Pedro Américo
traduz a imagem idealizada do martírio, que se aproxima do martírio de Cristo.
Essa visão
republicana de Tiradentes permaneceu (e, de certo modo, ainda permanece) no
imaginário popular dos brasileiros. Em 1965, durante a primeira fase do regime
militar no Brasil, o marechal Castelo Branco, então presidente da
República, contribuiu para o reforço dessa imagem de Tiradentes, sancionando a Lei
Nº 4. 897, de 9 de dezembro, que instituía o dia 21 de abril como feriado
nacional e Tiradentes como, oficialmente, Patrono da Nação Brasileira.
Me. Cláudio Fernandes
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