Por José Mendes Pereira
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sexta-feira, 11 de junho de 2021
PEÇA LOGO ESTES TRÊS LIVROS PARA VOCÊ NÃO FICAR SEM ELES. LIVROS SOBRE CANGAÇO SÃO ARREBATADOS PELOS COLECIONADORES.
NOVO LIVRO NA PRAÇA SOBRE CANGAÇO
Por José Mendes Pereira
LIVROS SOBRE CANGAÇO SÃO ARREBATADOS PELOS COLECIONADORES.
Por José Mendes Pereira
94º ANIVERSÁRIO DA PASSAGEM DE LAMPIÃO EM LIMOEIRO DO NORTE - CE.
No dia 15 de junho de 1927, os caminhos do já temido cangaceiro Lampião, levam-no até o pequeno município de Limoeiro do Norte-CE. Sua vinda ocorre após sofrer resistência na tentativa de assalto a cidade de Mossoró-RN e para chegar segue o percurso dos fios dos telégrafos que ligam os dois estados. Ele e seu bando ao chegarem ao município limoirense são recebidos por Custódio Saraiva de Menezes que no momento era o juiz de paz municipal e na ausência do prefeito municipal tomou a frente das decisões conciliadoras para proteger a cidade. Temos como herança desse fato histórico jornais, fotografias, memórias orais e escritas.
Se interessou pela história? Então venha conferir a Live que será realizada as 19:00hrs agora no dia 15 de junho onde se completa o 94º aniversário da passagem de Lampião por Limoeiro do Norte. Para esse momento, teremos a participação de Raimundo da Silva Araújo Júnior que é pesquisador e escritor do livro Memórias de Lampião em Limoeiro em Limoeiro. Bem como também, Renan Brito que é graduando em História pela Universidade Estadual do Ceará, bolsista do Programa de Educação Tutorial-PET, escritor e pesquisador em História do Cangaço. Ambos os pesquisadores discutiram sobre esse fato histórico limoeirense. Além dessa discussão, contaremos com a participação cultural do músico Leandro Silva. A transmissão fica por conta do canal da TV Educação (Limoeiro do Norte) no Youtube.
Ao final da Live será feito um sorteio de uma caneca e azulejo da coleção da loja Azuli, “CORAÇÃO NATIVO”. Ao longo da semana publicaremos as regras de participação do sorteio.
No dia 15 de junho às 19:00hrs vocês têm um encontro marcado com a gente no canal da TV Educação. Não percam! Até lá!
Apoiadores: Secretária municipal de Limoeiro do Norte.
@sigaazuli
@arretadoscamisas
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O COMBATE DO TENÓRIO E A MORTE DE LIVINO FERREIRA, IRMÃO DE LAMPIÃO.
Por Geraldo Júnior
Uma sensacional entrevista com um antigo morador da região do Sítio Tenório (Baixa do Juá), local onde houve um dos grandes combates entre Lampião e Forças Policiais Volantes.
Nesse confronto Lampião teve o olho perfurado por um estilhaço de um espinheiro e teve seu irmão Livino Ferreira morto.
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" O DELATOR, BOTICÁRIO TEÓFILO SIQUEIRA "
Por Luíz Bento
Nas três primeiras décadas do século XX, havia no Crato um boticário chamado Teófilo Siqueira. Sua Farmácia era frequentada não somente por quem precisasse de medicamentos, mas acima de tudo, por quem quisesse dar boa gargalhadas com os ditos chistosos do boticário. Pois bem, quando o comércio de medicamentos estava em baixa, Teófilo Siqueira selava o seu cavalo, selava outro para sua alma irmã, Pio Carvalho, e saiam os dois, sertões afora tocando uma carga de mala de couro de boi cheia de xaropes. Teófilo Siqueira receitava e Pio Carvalho aviava as receitas, fornecendo os xaropes.
Saiam de Crato sem destino certo e sem data de chegada, porque só regressavam quando os xaropes se acabavam. Eles faziam tantas diabruras por onde passavam, que nunca podiam voltar pelo mesmo caminho. Nestas viagens iam, sobretudo, aos então quase inacessíveis sertões do Piauí.
Em uma dessas viagens no interior do município de Pio IX, Teófilo Siqueira soube que o lendário " Senhor Pereira " por ali passará como boiadeiro, fugindo para Goiás, conforme concelho do padre Cícero.
Pois bem, na primeira Cidade de volta, Teófilo Siqueira denunciou por telegrama, ao chefe de polícia do Piauí, a passagem de Senhor Pereira por ali, indo para o Planalto Central, viajando de noite por invias veredas e dormindo de dia, para guardar o seu anonimato. O Chefe de Polícia do Piauí, sequioso de evidência por barrar a passagem, por seu Estado, do famoso " Comandante de Lampião ", mandou tenente Zeca Rubens com 40 praças para impedir a viagem de Senhor Pereira, o tenente infernizou tanto a vida do fugitivo, com sucessivos tiroteios, que Senhor Pereira zangado disse: " bem que eu queria ir embora, mas não deixaram. Vou voltar para o Pajeú para matar ou morrer"!
Ele efetivamente voltou; enquanto seu primo " Luiz Padre " teve mais sorte e chegou ileso à cidade de Cacoal, sul do Piauí; lugar combinado para os dois se encontrarem, entrando juntos os dois no Estado de Goiás.
Assim o boticário Teófilo Siqueira foi um grande delator sem ter razões para assim proceder. Ele entrou na história do Cangaço pela porta estreita da delação e o lendário " Senhor Pereira " guardou esta mágoa enquanto viveu em Goiás com nome trocado, e depois em Minas Gerais.
Fonte: Cariri: Cangaço, Coiteiros e Adjacências- Napoleão Tavares Neves . Pág 28- 29- 30.
Por: LUÍS BENTO
JATI 11/06/21/
FOTOS: Senhor Pereira ( Sentado) Luiz Padre ( De pé )
Obs: foram os primeiros chefes de ( LAMPIÃO ).
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INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Por Francisco Pereira Lima
Indicação Bibliográfica. PELOS SERTÕES DO NORDESTE, um livro Coletânea da professora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, com 618 páginas, tratando do Mundo Beato: Padre Ibiapina, Padre Cícero, Antônio Conselheiro e Zé Lourenço. O Mundo Cangaço e suas concepções. Excelente livro.
Quem desejar adquirir essa obra, entrar em contato com o professor Pereira pelo Whatsapp 83 9 9811 8286, ou por:
franpelima@bol.com.br
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A PRIMEIRA PAIXÃO DE LAMPIÃO
No dia 31 de maio era hábito realizar-se, em Nazaré, a festa de encerramento do mês mariano, ou seja, mês de Maria, a mãe de Jesus. Todo pessoal comparecia bem vestido. Virgulino também foi à festa. Vestiu a melhor roupa. Na igreja, correu os olhos pelos bancos e avistou a namorada. A menina tinha 16 anos de idade, olhos castanhos muito vivos, cabelos pretos, atados a uma fita azul. Rezava ajoelhada. Depois do terço eles se olharam. O amor sertanejo naquele tempo eram apenas olhares.
Ficaram algum tempo na calçada. Observaram o céu pontilhado de estrelas. Os foguetes espocavam.
Rosa retirou-se acompanhada da sua família. Encobriu-se na curva da estrada. Virgulino estava apaixonado.
Nessa época era Virgulino o vencedor das famosas vaquejadas de Vila Bela (Serra Talhada) e de Nazaré (distrito de Floresta). As moças vibravam quando ele cavalgava e rodava os dedos uma chibatinha. Após as vitórias, aplaudiam e enfeitavam de fitas o vaqueiro almocreve, artesão e poeta.
Meses depois, tudo findou. O destino estúpido traçou-lhe um paralelo, com caminhos diferentes. Foram raras as oportunidades que os dois enamorados se avistarem.
Nas horas vagas, Virgulino dedicava à menina, com carinho, versos de sua autoria, que cuidadosamente guardava no alforje:
(transcrevemos dois dos quatro estrofes)
Fonte: Lampião – Cangaço e Nordeste – Aglae Lima de Oliveira
foto: Virgulino com 20 anos de idade.
Segunda Fonte: facebook
Página: Ruy Lima
Grupo: Historiografia do Cangaço
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1394208990601533&set=gm.1700967100215794&type=3&theater
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MORTE DE JOÃO PESSOA: 90 ANOS DO CRIME QUE MARCOU A PARAÍBA E MUDOU A POLÍTICA NO BRASIL
Por André Resende, G1 PB
O maior fato político da Paraíba no Século XX, também considerado um dos mais importantes do Brasil pelo menos na primeira metade do século passado: a morte de João Pessoa, então presidente da Paraíba, completa 90 anos neste domingo (26). O assassinato que eternizou o nome do político na capital da Paraíba e o luto na bandeira do estado foi o episódio fatídico que mudou os rumos políticos do Brasil, decretando o fim do período da República Velha e alçando Getúlio Vargas ao poder.
Crime passional ou homicídio por razões políticas? Embora haja um acirramento de narrativas para contar as versões do fato, o professor da UFCG José Luciano de Queiroz Aires, doutor em História pela UFPE e autor do livro “A Fabricação do Mito João Pessoa: Batalhas de Memórias na Paraíba (1930-1945)”, propõe uma explicação científica para o assassinato do governador da Paraíba em 26 de julho de 1930 pelo advogado João Dantas, no Recife, como um misto das duas versões totalizantes.
O professor e escritor afirma que sem a morte de João Pessoa, e o tratamento político que foi dado a ela, com a peregrinação do corpo do presidente da Paraíba por todas as capitais antes de ser enterrado no Rio de Janeiro, quase como uma santificação do político, Getúlio Vargas dificilmente teria ascendido à Presidência da República por meio de uma tomada de poder através do que ficou conhecido como Revolução de 1930.
“A verdade é que João Dantas matou João Pessoa, mas, ao mesmo tempo, o transformou em um mártir, permitiu que se criasse um mito na figura do Governador da Paraíba na época. Esse fato histórico muda a História do Brasil. Ele germina o ‘getulismo’, não podemos subestimar como um crime passional, muito embora o estopim tenha sido”, explica.
A morte de João Pessoa, que na época tinha perdido as eleições presidenciais em março de 1930 enquanto vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas para Júlio Prestes, ajudou Getúlio a alimentar uma consternação popular que, somada à acusação de eleições fraudulentas e ao momento de crise financeira em consequência da crise de 1929, desencadearia o episódio histórico que ficou conhecido como Revolução de 1930.
A revolta destituiu o presidente Washington Luís, a quem João Pessoa se posicionou como oposição política enquanto vivo, impediu a posse de Júlio Prestes e determinou Getúlio Vargas como chefe do governo provisório que comandaria o Brasil. “Podemos afirmar que a morte de João Pessoa, com todo contexto político, econômico e social que existia, foi um dos motivos da Revolução de 1930 e consequentemente do fim do período que chamamos de República Velha”, analisou Aires.
Entre julho e outubro daquele 1930, à medida em que o corpo de João Pessoa peregrinava entre as principais capitais do Brasil para receber homenagens por conta da morte pretensamente política, seu nome ia batizando ruas, avenidas e praças pelo país, conta o historiador.
O ritual criado em torno das solenidades fúnebres para João Pessoa criou um mito, sendo idealizado pelo empresário e comunicador paraibano Assis Chateaubriand, entusiasta da Aliança Liberal, grupo político que o governador da Paraíba fazia parte, na análise de José Luciano de Queiroz Aires.
“Não só na Paraíba, quase todos os estados do brasil colocaram o nome de João Pessoa em algum espaço público. Em vários estados temos praças, homenagens a ele, mas essa mobilização aqui foi muito mais forte, com a mudança do nome da capital, da bandeira do estado, e com a criação de monumentos e de até um hino para a pessoa de João Pessoa”, conclui o professor.
Crise na oligarquia paraibana
Para entender o que pode ter levado João Dantas a puxar o gatilho do revólver e matar João Pessoa dentro da confeitaria Glória, no Centro do Recife, em 26 de julho de 1930, o professor e escritor José Luciano de Queiroz Aires comenta que é necessário antes conhecer o contexto político da Paraíba no período.
Àquela altura, João Pessoa estava há dois anos como governador do estado. Apesar de ter saído de uma família que pertencia à oligarquia paraibana, tentava implementar uma política moderna e centralizante que rompia com os interesses do grupo político do qual ele saiu.
Nesse modelo de gestão que João Pessoa instalava na Paraíba, os coronéis da época, como eram conhecidas as lideranças econômicas e políticas das cidades do interior, começaram a perder poder. O então governador paraibano trouxe para o aparelho do estado a maior parte das decisões que estavam nas mãos dos coronéis.
“As obras contra a seca passaram para o estado, ele desarmou coronéis, criou imposto, uma espécie de pedágio. Criou também uma reforma tributária para dinamizar o porto e o comércio no estado. As entradas e as saídas de produtos que vinham de fora, se fosse pelo porto da capital tinham um valor de tributo, e se fosse direto com Recife, a tarifa era altíssima. Esse é o fator fundante da política centralizadora”, relata o professor, pesquisador e escritor.
João Pessoa também cria, em meio a esse panorama político, o Tribunal de Contas, para fiscalizar as contas das prefeituras paraibanas, que eram reservas de poder dos coronéis. “Ele não rompe publicamente com os coronéis, mas submete todos eles a essa centralização. A reforma tributária, aliás, é o que explica, por exemplo, a Guerra de Princesa”, avalia Aires.
O episódio histórico da Revolta de Princesa, movimento armado comandado pelo coronel José Pereira contra as imposições do governo João Pessoa, culminou com conflito violento entre o líder político da cidade de Princesa Isabel contra a Polícia Militar do estado. Aquela é considerada a mais emblemática demonstração política de indignação das oligarquias ao modelo gestor de Pessoa.
A Guerra de Princesa, como lembra Aires, só viria a acabar - sem um vencedor na análise dele -, após uma intervenção federal a mando do presidente Washington Luís, embora não tenha contido a insatisfação dos coronéis. Além da queixa por conta dos impostos, que prejudicaram os negócios, as oligarquias paraibanas não aprovaram a vontade política de João Pessoa de excluir das eleições quadros antigos e consagrados no partido.
Na reunião do Partido Republicano da Paraíba, João Pessoa, ainda enquanto integrante, havia se posicionado contra as candidaturas de políticos mais tradicionais, oriundos das oligarquias, como o caso de João Suassuna, que havia antecedido Pessoa como presidente da Paraíba e que ocupava o cargo de deputado.
“Na convenção do partido, em 1930, João Pessoa defendeu uma política de renovação, queria tirar pessoas velhas para botar nomes novos. Nessa defesa, sacrificou o nome de João Suassuna, que buscava reeleição, mas manteve o do próprio primo na disputa, Carlos Pessoa de Umbuzeiro, que representava a velha política”, comentou Aires.
Em meio ao contexto político de conflito interno nas oligarquias, causado por João Pessoa, uma decisão governamental que causou contrariedade em outra família, a Dantas, da cidade de Teixeira, foi a mudança de chefias de cargos públicos importantes. Na época, o presidente (nome do cargo de então governador do estado) detinha o poder discricionária de mudar peças em órgãos da administração direta, como ainda é atualmente, e também no judiciário.
João Pessoa trocou juízes e delegados nas cidades onde as oligarquias tinham muita influência. No caso de Teixeira, reduto político da família Dantas, o presidente da Paraíba nomeou um delegado que passou a perseguir politicamente pessoas daquela família. “Temos registro de prisões de familiares de João Dantas no período, de mulheres da família, inclusive, fato que gerou muita indignação”, explicou o professor da UFCG.
A postura assumida por João Pessoa gerou uma rusga com três das principais oligarquias: Pereira, de Princesa Isabel; Suassuna, de Catolé do Rocha; e Dantas, de Teixeira. “Todos eram do mesmo grupo, incluindo a família Pessoa de Umbuzeiro, mas após o governo de João Pessoa acontece esse racha na oligarquia paraibana, principalmente com essas três famílias tradicionais do estado”, ressalta José Luciano de Queiroz Aires.
Muitos dos considerados perseguidos politicamente pelo governador decidiam pelo exílio político, indo morar em outros estados. A maior parte deles estabeleceu residência no estado vizinho Pernambuco, como foi o caso de João Suassuna, pai do escritor Ariano Suassuna, e do advogado João Dantas, que viria a se tornar no dia 26 de julho de 1930 o assassino de João Pessoa.
Ataques nos jornais
A crise vivida entre o governador do estado com as oligarquias gerou constantes discussões públicas por meio dos jornais, principalmente entre João Dantas, que escrevia para o Jornal do Commércio de Recife, e de João Pessoa, articulista do jornal do próprio governo paraibano, A União. Os embates por meio de artigos nos dois periódicos integram parte do acervo resgatado pelo historiador Wellington Aguiar, em seu livro “João Pessoa: O Reformador”, de 2005.
O uso do jornal A União para atacar seus desafetos políticos, aliás, era recorrente por parte de João Pessoa. Entre 20 e 26 de julho de 1930, data fatídica de seu assassinato, o periódico paraibano, considerado um dos mais antigos da América do Sul, reservou ataques diretos às famílias Pereira, Dantas e Suassuna nas manchetes principais.
Além dos ataques públicos às famílias rivais, inclusive como na capa do jornal de 24 de julho de 1930 quando liga João Suassuna ao movimento do cangaço no Sertão paraibano, o jornal A União deu publicidade a documentos retirados a partir de um arrombamento supostamente clandestino feito ao escritório mantido por João Dantas na capital paraibana, à época ainda cidade da Parahyba.
A versão que se popularizou foi de que o escritório foi invadido a mando político de João Pessoa, no entanto, oficialmente, o que se sabe é que o escritório foi encontrado arrombado e os documentos que nele estavam foram recolhidos pela polícia estadual da época.
O professor da UFCG, doutor em História pela UFPE, José Luciano de Queiroz Aires explica que não há mais como confirmar documentalmente que João Pessoa foi mandante da invasão ao escritório de João Dantas, mas que é indiscutível o uso político do material que foi recolhido a partir daquela invasão.
“A documentação sugere que [a invasão] foi feita pela polícia da Paraíba, inclusive o gabinete onde João Pessoa atendia era na mesma rua do apartamento que foi arrombado, mas não temos mais como comprovar a veracidade absoluta”, explicou o historiador.
Parte desses documentos foram publicados pelo jornal A União sob a manchete “Revelando a alma tortuosa dos conspiradores contra a ordem e a dignidade de nossa terra - A polícia apreendeu armas e sensacionais documentos na residência do sr. João Dantas”.
“Investigando sobre o caso, a polícia examinou os papéis espalhados, notando que entre eles havia documentos profundamente comprometedores no que se relaciona com a ordem pública e a agitação política que separou nos últimos tempos parahybanos dignos do grupo de aventureiros e traidores sem escrúpulos”, diz um trecho da reportagem sobre o episódio publicada no dia 22 de julho de 1930.
A reportagem inclusive traz que “os documentos encontrados ‘A União’ começará amanhã a publicar, porquanto os mesmos contêm curiosas revelações sobre os miseráveis modos de agir dos inimigos da Parahyba, dos quais o tarado João Dantas era uma espécie de espião e cônsul geral nesta cidade”.
O mesmo assunto estampou a capa do jornal A União nos dias 23 e 26 de julho, e teve publicações de reportagens nos dias 24 e 25 o mesmo mês. A manchete d’A União de 25 de julho, aliás, cita expressamente que a família Dantas havia roubado dinheiro dos cofres públicos a partir de obras estatais contra a seca.
A publicação das cartas de João Dantas cessou na edição de 26 de julho, quando na edição do dia seguinte, a cobertura jornalística do periódico do governo paraibano passou a se dedicar a reportar a morte de João Pessoa e seus desdobramentos. Porém, ao fim da publicação dessa edição, o jornal A União traz o seguinte trecho:
“No cofre marca ‘Torpedo’ encontrado no quarto do bacharel João Dantas a polícia achou notas redigidas pelo próprio punho do espião com a narrativa de atos amorosos pelo mesmo praticados. Tais notas não podem ser publicadas porque ofendem ao decoro comum. Mas quem quiser vê-las o pode fazer na delegacia”.
Logo em seguida, reproduz um poema escrito por João Dantas intitulado Sangue de Cangaceiro. As notas citadas na reportagem são as cartas de amor trocadas entre o advogado paraibano e a professora Anayde Beiriz, que em meio a essa briga política entre seu namorado e o governador do estado, teve sua honra ultrajada a partir da exposição de sua intimidade perante uma sociedade paraibana moralista e pouco afeita às mulheres que assumiam posturas sociais mais modernas.
‘Um crime pessoal’
O mesmo jornal A União que trazia o relato das notas imorais de João Dantas e indicava que estavam disponíveis na delegacia da capital paraibana, avisava que o presidente João Pessoa estaria no Recife, capital pernambucana, para visitar um amigo, o dr. Cunha Mello, que se convalescia de uma cirurgia. De toda forma, o poder tinha sido entregue ao vice-presidente Álvaro de Carvalho.
Se a nota no jornal influenciou nos planos de Dantas, não há como saber, porém após a sequência de ataques promovidos no jornal oficial do governo paraibano, o historiador José Luciano de Queiroz Aires comenta que é possível inferir que houve um contexto passional por parte do desafeto de João Pessoa.
“A exposição da intimidade do romance dele com a professora Anayde Beiriz pode ter sido um fato determinante nesse crime. A verdade é que a morte de João Pessoa foi um tiro que saiu pela culatra entre os perrepista [membros do Partido Republicano, rival ao de João Pessoa]. João Dantas criou um herói, houve uma mitificação. Os próprios perrepistas caíram em desgraça depois disso, passaram a ser perseguidos”, explicou.
O historiador comentou que não entende o crime meramente como passional, nem como apenas político. “Foi um crime de honra, como se dizia antigamente, para lavar a honra, foi por uma vingança em nome da honra. Havia uma sequência de problemas políticos, mas não foi um crime passional, foi um crime pessoal”, define o historiador doutor pela UFPE.
João Dantas e seu cunhado, acusado como cúmplice no assassinato, foram presos e posteriormente encontrados mortos dentro da cela em que ocuparam no Recife. A versão de suicídio de ambos não é aceita pela literatura histórica, que, segundo Aires, considera relatos de testemunhas de que o irmão de João Pessoa e um policial teriam sangrado João Dantas e seu cunhado no cárcere.
Anayde Beiriz, vítima indireta de todo esse acirramento político, após a morte de João Dantas, sabendo que a polícia estava à sua procura, se refugiou no Asilo Bom Pastor, no Recife. As freiras contam que quando ela chegou ao local já havia ingerido veneno, no dia 19 de outubro. Segundo a carta da Madre Superiora enviada à família, ela sofreu muito. Morreu rezando o Pai Nosso, no dia 22 de outubro de 1930.
João Pessoa, o presidente da Paraíba morto a tiros na confeitaria Glória no Recife, entrou para a história como mártir. Seu corpo peregrinou de porto em porto no Brasil, e foi enterrado no Rio de Janeiro. A comoção popular após sua morte gerou em setembro de 1930 a mudança do nome da capital da Paraíba e a adoção de bandeira vermelha e preta com o termo Nego, representando o luto e a luta.
“Não se pode subestimar a morte de João Pessoa. Foi um fato político mais importante para que ocorresse o fim da República Velha, para que mudasse para sempre os rumos da política do país”, concluiu José Luciano de Queiroz Aires.
https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2020/07/26/morte-de-joao-pessoa-90-anos-do-crime-que-marcou-a-paraiba-e-mudou-a-politica-no-brasil.ghtml
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JOÃO DANTAS
Por Wikipédia
João Duarte Dantas (Mamanguape, 12 de junho de 1888 — Recife, 6 de outubro de 1930) foi um advogado e jornalista brasileiro.[2][3][4]
Seu nome está ligado à História do Brasil, principalmente porque matou a tiros o então governador do estado da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.[2][5] João Pessoa era candidato a vice-presidente do Brasil na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, contra o grupo paulista de Júlio Prestes. A morte é considerada o estopim da Revolução de 1930, quando Getúlio ascendeu ao poder, após um levante popular contra uma suposta fraude nas eleições. Os disparos que vitimaram João Pessoa não tinham motivos ligados a política nacional, e sim, em sua maior parte por motivação política local que passou para o nível pessoal, uma vez que João Pessoa, como chefe da Polícia ordenou a invasão do escritório de João Dantas, publicando suas cartas íntimas. Dantas era ligado a proprietários de terras da Paraíba que foram prejudicados pela cobrança de impostos estabelecida por Pessoa.
Assassinato de João Pessoa
João Dantas era adversário político de João Pessoa e aliado de José Pereira Lima, chefe político do município de Princesa Isabel, o qual liderava uma intensa oposição às medidas governistas contra os interesses comerciais do grupo sertanejo. José Pereira recebia apoio dos irmãos Pessoa de Queirós, de Pernambuco, primos de João Pessoa e proprietários do Jornal do Commercio.
O embate político travado entre Dantas e Pessoa, através da imprensa, inclusive com ataques ao pai de Dantas, Dr. Franklin Dantas, e outros familiares, acendeu o ódio mútuo. Nesse contexto, a Polícia da Paraíba, sob o Governo de João Pessoa, invadiu escritório de Dantas, à Rua Duque de Caxias, e, além de outras coisas, apoderou-se de cartas íntimas entre ele e a professora Anaíde Beiriz. Anaíde Beiriz foi apontada como o estopim da revolução de 30, pela tragédia do assassinato de João Pessoa por João Duarte Dantas, com quem ela mantinha relacionamento amoroso.[6]
O jornal estatal A União fazia suspense diariamente, ao comentar sobre documentos imorais que haviam sido encontrados no escritório de João Dantas. Acrescentava que os interessados poderiam ter acesso ao material, na sede da Polícia. À época, em decorrência de uma reforma no Palácio do Governo, o mandatário do Estado, João Pessoa, despachava em prédio defronte à sede de A União. Segundo o livro Órfãos da Revolução, de Domingos Meirelles, os mais íntimos do presidente paraibano sabiam que nada era publicado no jornal oficial, sem sua aquiescência. A correspondência veio a público, dias depois da invasão.
A intriga fez que amigos de João Dantas o convencessem a se mudar para Olinda. Por ocasião de uma visita do presidente João Pessoa ao Recife, amplamente noticiada, com o objetivo de receber uma homenagem, João Dantas foi à Confeitaria Glória, na Rua Nova, onde disparou contra Pessoa. Dantas atirou duas vezes no presidente paraibano ferindo-o mortalmente. Fato este que foi usado pelos revolucionários sulistas a emplacarem a revolução iminente contra o presidente Washington Luis, que culminou levando ao poder Getúlio Vargas.
Dantas foi detido com seu cunhado Augusto Caldas, que era inocente, na Casa de Detenção do Recife, onde foram chacinados por oito homens que participavam da revolução em 6 de outubro de 1930, no início da Revolução de 1930. A versão oficial indicou suicídio. Esta versão é desacreditada pelo registro fotográfico de Louis Piereck.[7] Também Anaíde Beiriz morreria dias depois, no Recife, por envenenamento, aos 25 anos, provavelmente por iniciativa própria. Outras mortes se seguiram ao episódio, como a do então deputado federal, ex-presidente do estado, João Suassuna, pai do escritor Ariano Suassuna, que foi assassinado, no Rio de Janeiro, por Miguel Laves de Sousa.
A história já inspirou filmes, livros e peças teatrais. Até hoje, desperta muita polêmica quanto aos detalhes e interesses subjacentes às ações de ambas as partes.
Referências
↑ de Oliveira, Romão Cícero; et al. (2015). As Raízes da Justiça Eleitoral no Distrito Federal. Brasília: TRE-DF. p. 16. ISBN 978-85-5609-000-3
↑ Ir para:a b «Foi Assassinado em Recife o Sr. João Pessoa». Consultado em 20 de maio de 2017
↑ Academia Brasileira de Letras fala sobre João Dantas
↑ Lucyanne Mano (26 de julho de 2008). «1930 - Assassinado João Pessoa». Hoje na HIstória-Jornal do Brasil. Consultado em 16 de fevereiro de 2013
↑ da Silva, Aureni Maria (2016). «Anayde Beiriz: mulher moderna numa Paraíba antiga» (PDF). Viçosa. Revista de Ciências Humanas. 16 (1): 117-135
↑ Bezerra, Dinarte Varela (2008). 1930, a Paraíba e o inconsciente político da revolução: A narrativa como ato socialmente simbólico (Tese de doutorado em Ciências Sociais) (PDF). Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte. p. 31
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AS CARTAS DE JOÃO DANTAS E A MORTE DE JOÃO PESSOA
Por Manoel Severo