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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CHAMADO DE DEUS!

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

BOA VIAGEM MEU BOM SERTANEJO, BOA VIAGEM MEU PAI!

Alcino Alves Costa
17/06/1940 – 01/11/2012

BOA VIAGEM MEU BOM SERTANEJO, BOA VIAGEM MEU PAI!

Rangel Alves da Costa

De: Sabino Bassetti para 

o Capitão Alfredo Bonessi


Bonessi:


Nosso querido amigo Alcino faleceu a 1 hora atrás. Alcino foi uma daquelas pessoas que a gente jamais vai esquecer, tanto pela sua humildade, como pelos seus conhecimentos e principalmente pelo homem que foi. Vamos orar e pedir que Deus o receba a seu lado.

Sabino Bassetti

Alcino Alves da Costa foi prefeito da cidade de Poço Redondo por três, gestões, poeta, escritor, compositor e pesquisador do cangaço.

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Lampião em Sergipe

Por: Luiz Antonio Barreto

Antes de chegar a Poço Redondo em 29 de abril de 1929, Lampião esteve em Ribeirópolis, Pinhão e no povoado do Alagadiço, pertencente a Frei Paulo. Parecia procurar alguém ou reconhecer um terreno onde contava com amigos, como Otoniel Dória, de Itabaiana, terra de Volta Seca. 

O cangaceiro Volta Seca

A amizade entre Lampião e Otoniel Dória certamente evitou a entrada do cangaceiro e do seu grupo em Itabaiana. No dia 21 de abril Lampião estava em Ribeirópolis, de lá foi para Pinhão, voltou para Ribeirópolis, foi a Alagadiço, seguindo viagem até chegar a Poço Redondo, a terra que mais contribuiu com gente - homens e mulheres – para os bandos de cangaceiros.

Entrando e saindo de Sergipe, Lampião escolhia a dedo o roteiro e o lugar de suas visitas. A sua presença em Capela, em novembro daquele mesmo ano, é a mais conhecida e relatada, graças aos depoimentos de Jackson Alves de Carvalho, incluindo o relato que fez ao conterrâneo Nelson de Araújo, publicado no jornal A Tarde, da Bahia, e aos artigos de Zózimo Lima, no Correio de Aracaju e na Gazeta de Sergipe. Os dois informantes foram protagonistas dos acontecimentos na Capela e mereceram de Lampião toda a atenção. Um deles chegou a ser procurado no cinema da cidade. Zózimo Lima era dos Correios e Telégrafos, posto chave para evitar que a notícia da presença ali do cangaceiro fosse comunicada às autoridades. Antes e depois de Capela, o capitão esteve em Nossa Senhora das Dores.

Lampião é o segundo da direita

A rota de Virgulino Ferreira da Silva em Sergipe era guardada por um grande círculo de amizades, transformadas quase sempre em coitos e em fornecimento de víveres, armas, munições, animais, dinheiro e outras coisas necessárias à sobrevivência do chefe e do seu bando. Um dos bons amigos de Lampião foi o capitão-médico do Exército Eronídes de Carvalho, 

Eronides de Carvalho

que depois da revolução de 1930 passou a ser figura destacada da vida política sergipana, ocupando o Governo da Interventoria e sendo, com a constitucionalização de 1934, governador do Estado.

Em agosto de 1929, ano que Lampião passou quase todo em Sergipe, na fazenda Jaramantáia, no município de Gararu, houve um encontro entre os dois amigos. Foram longas conversas, documentadas pela câmera fotográfica de Eronídes de Carvalho, em fotos que o cangaceiro usa perneiras, o que era raro. Além de ser amigo do militar, Virgulino Ferreira da Silva tinha fortes laços com Antônio Carvalho, o Antônio Caixeiro, pai de Eronídes e influente senhor de terras em Canhoba, Gararu e Porto da Folha e em outros locais do sertão do São Francisco. A notória amizade estimulava os comentários de que a família de Eronídes de Carvalho fornecia armas e munições novas, modernas, tornando Lampião melhor armado do que as forças que o perseguiam.

O cangaceiro Zé Sereno

O rio São Francisco era a ponte para Lampião, seu grupo e os grupos de outros chefes, como Zé Sereno e Corisco, que freqüentemente andavam em solo sergipano. 

O cangaceiro Corisco

Sendo comum a travessia, nem sempre foi fácil fixar, com precisão, quantas foram e quando foram as visitas dos cangaceiros a Sergipe. O que se sabe é que Sergipe foi bem frequentado e viveu dias de medo e sobressalto, debaixo da presença, sempre surpreendente, dos cangaceiros. 

Sabe-se, também, que os senhores de terra e de engenhos davam quantias significativas a Lampião, atendendo aos seus pedidos, quase sempre escritos, em cartões de visita, com sua foto ao lado, ou em simples pedaços de papel.

Antes de ter encontrado com o padre Artur Passos, em Poço Redondo, Lampião pode ter assistido missa em Canindé, o arruado antigo que desapareceu do mapa para que surgisse, com a barragem do rio, uma nova cidade. No entanto, não houve o registro, nos moldes do que foi feito pelo padre Artur Passos. 

A presença de Lampião em Sergipe permaneceu no noticiário dos jornais e nas conversas das cidades, povoados, nas feiras e nas ruas e estradas sergipanas, até sua morte, na gruta do Angico, nos domínios geográficos de Poço Redondo, no dia 28 de julho de 1938. O ataque da força alagoana atraiu a imprensa do Brasil, enquanto, por coincidência ou não, Eronídes de Carvalho, na chefia do Governo, novamente como Interventor, pagava matéria publicitária de Sergipe, nos jornais do Rio de Janeiro. A morte de Virgulino Ferreira da Silva não encerrou o ciclo. Corisco, que escapou do massacre por ter chegado atrasado para o encontro com Lampião, vingou o chefe, degolando moradores de fazendas da margem sergipana do rio São Francisco. O rei do cangaço mereceria, ainda, a atenção de escritores sergipanos, como Ranulfo Prata e Joaquim Góis. O primeiro era médico, escritor premiado como contista e como romancista, autor de Dentro da Noite, Navios Iluminados, Lírio da Corrente, escreveu Lampião, documentário editado em 1937 (Rio de Janeiro: Ariel).
 
Quando ainda vivo Lampião alimentava o imaginário social com suas façanhas. Joaquim Góis, investigador de polícia, integrante de uma das volantes sergipanas, revelou-se excelente narrador ao escrever Lampião – O Último Cangaceiro (Aracaju: Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, 1966). Outro sergipano, José da Costa Dória, radicado na Bahia, testemunha ocular da presença de Lampião no sertão baiano, deixou inédito Vida e Morte do Cangaceiro Lampião. 

Padre Artur Passos fez registro do seu encontro com Lampião em Poço Redondo em série de artigos publicados em pequenos jornais de Penedo, Alagoas e de Rosário do Catete e outros lugares de Sergipe. O jornalista baiano, radicado em Aracaju, Juarez Conrado é o autor de A Última Semana de Lampião, publicado em 1983, adaptado para especial de televisão. O acadêmico e magistrado José Anderson do Nascimento escreveu Cangaceiros, Coiteiros e Volantes, editado em 1998. Sila: Uma Cangaceira de Lampião é o livro de Ilda Ribeiro de Souza, a Sila, mulher de Zé Sereno, com seu depoimento sobre as andanças dos grupos pelo Nordeste. 



E Alcino Alves Costa, político de Poço Redondo, tem contribuído com informações e análises para a compreensão do fenômeno do cangaceirismo e especialmente sobre a presença de Lampião em Sergipe. Depois de publicar Lampião Além da Versão, em 1996, acaba de lançar O Sertão de Lampião, ambos editados sob os auspícios da Secretaria de Estado da Cultura. Vera Ferreira, filha de Expedita e neta de Lampeão e de Maria Bonita tem pesquisado e estudado o cangaço, publicando livros esclarecedores, sozinha ou em parceria com o incansável Antônio Amaury Corrêa de Araújo, odontólogo e escritor radicado em São Paulo.

 http://gilenosabetudo.blogspot.com.br/2012/05/lampiao-em-sergipe.html

Livros sobre "Cangaço"

Autor: Paulo Medeiros Gastão

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1938 - Angico

 
Lampião de A a Z

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Jararaca é entrevistado pelo "O Mossoroense"

José Leite - Jararaca 

Gravemente ferido durante o ataque de seu bando à cidade, Jararaca ficou recolhido na 

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Cadeia Pública de Mossoró, local onde concedeu entrevista ao professor Eliseu Viana, declarações essas publicadas no "O Mossoroense". 

A edição de nº. 884, datada de 19 de Junho de 1927, que consta esse acontecimento foi extraviada dos arquivos do periódico, mas o texto pode ser consultado no livro "Lampião em Mossoró", escrito pelo historiador Raimundo Nonato.

Raimundo Nonato da Silva

Na conversa com Eliseu Viana, o cangaceiro José Leite, o "Jararaca", revelou que fazia parte do bando de 

Virgulino Ferreira da Silva - Lampião

Virgulino Ferreira há um ano e seis meses, e que o ataque a Mossoró teria sido aconselhado por Massilon, não sendo este o desejo de Lampião.

O cangaceiro Massilon

Na entrevista, o bandido se autodenominou como um cangaceiro temível em toda zona pernambucana, contou que sempre encontrou proteção no território cearense, tendo o Padre Cícero do Juazeiro fornecido munição a Lampião.

Padre Cícero

Jararaca ainda detalhou a forma como foi alvejado durante o combate, afirmando que o primeiro balaço que o atingiu partiu de cima da 

Capela de São Vicente em Mossoró-RN

Capela de São Vicente, enquanto procurava tirar a munição de "Colchete" e conduzir a arma do mesmo.

O cangaceiro confessou também que a vida de bandido era muito ruim, mas que sempre procurou evitar maus tratos de seus companheiros, pois teve educação e era muito respeitado no bando.

Após ser divulgada no "O Mossoroense",  a entrevista ganhou proporções nacionais, sendo republicada no jornal "O Estado de São Paulo", onde obteve uma vendagem recorde de cinco mil e quatrocentos exemplares.

Na edição de 26 de Junho, é informado que Jararaca havia morrido nas proximidades da cidade de Assu, em consequência dos seus graves ferimentos, enquanto estava sendo transferido para a Cadeia de Natal. 

O cangaceiro foi enterrado em Mossoró, e até hoje seu túmulo continua sendo um dos mais visitados no Cemitério São Sebastião.

Adendos

Saindo de Mossoró no sentido Oeste/Leste Assu é a primeira cidade, seguida de outras e outras, até chegar a capital do Rio Grande do Norte, Natal
 Os depoentes da época afirmaram aos repórteres que, assim que os policias retiraram o cangaceiro Jararaca da Cadeia Pública de Mossoró,  ele foi conduzido para o Cemitério São Sebastião, e lá ele foi brutalmente executado.

Mas vale lembrar ao leitor que o jornal "O Mossoroense" publicou o que o comando policial informou.

Fonte: 
Jornal "O Mossoroense" 17 de Outubro de 2012, comemoração dos 140 anos de sua fundação. 

A outra face do cangaço


Autor: Antonio Vilela de Sousa


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ALCINO, MEU PAI: RETRATO INACABADO - V

Por: Alcino Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

ALCINO, MEU PAI: RETRATO INACABADO - V

 Tendo casado ainda rapazote e, portanto, sem ter tido tempo suficiente de aproveitar as ofertas próprias da solteirice, fato é que Alcino se tornou exímio galanteador e namorador já depois de família formada. Portanto, o seu envolvimento com outras mulheres mesmo já tendo esposa e filhos sempre foi uma de suas características mais criticadas, principalmente pela sociedade conservadora de então.

Jovem, bem simpático, líder político, prefeito de vez em quando, eram armas utilizadas por ele para enveredar pelos caminhos dos amores extraconjugais. Duvido que tenha se arrependido algum dia, e a verdade é que por muito tempo teve o prazer de ser um Don Juan dos sertões. Ora, sentia como coisa bonita, honra maior de um homem dizer que tinha mais de trinta filhos pelos quatro cantos. Eis um sempre questionável mérito de Alcino.


Mas tal fenômeno, ainda que esteja mais para o desavergonhamento, pode ser explicado. O poder com a simpatia são fatores importantes; a fama com a boa lábia também; e ainda mais a juventude unida a dois aspectos: o instante propício para os relacionamentos fáceis e as mulheres que se entregavam sem se importar com as consequências. Ora, ter uma relação com o prefeito, ser amante do líder, ou coisa desse quilate, deveria ser mesmo um orgulho ao avesso.

Mas pelo lado do próprio Alcino tal propensão pode ser explicada de modo diferente. Não duvido que a fama de mulherengo, de namorador e raparigueiro não lhe tenha entrado na mente como elemento de prestígio, de embevecimento, de confirmação e reafirmação de poder. Já tinha a força política, então buscava alargar seu prestígio espalhando um harém de mulheres em cada canto. Tanto foi assim – e continuou sendo – que jamais reclamou de ser visto com tal fama.

Assim, o espelho do poder não devia refletir apenas na sua força política. A sua realização só estaria completa se também fosse visto e comentado como aquele de tantas mulheres, de tantos filhos, disso e daquilo. Não acredito que nas suas aventuras extraconjugais tenha espalhado mais de trinta filhos como sempre apregoou.

São sete filhos com a esposa e mais seis com outras mulheres. Estes são conhecidos, confirmados. Já os outros estão mais para alimento do ego, para dar sustentação ao seu poder de atração e procriação. A psicologia explica essa busca de confirmação de poder também nas relações pessoais. Por isso não creio em tantos filhos como o próprio Alcino sempre insinuou. Mas, seja verdade ou não, outra coisa não se conclui senão essa vontade, essa pretensão exacerbada de ter feito realmente assim.

Daí também logo concluir-se que a sua radiola na pracinha, já tarde da noite, ecoando músicas sertanejas apaixonadas, não se devia somente ao seu gosto acentuado pelo cancioneiro caipira, mas também uma estratégia para dar voz ao seu donjuanismo. Assim, dali da pracinha, no silêncio da noite, cada música era cuidadosamente escolhida para mandar um recado amoroso àquela que bem queria, e que certamente espreitava pela fresta da janela, por cima do travesseiro, de coração apertado pelo secreto amor. E que tantas vezes não era tão secreto assim, pois até o marido corneado sabia.

Desse modo, dali da pracinha começava a libertar suas estrelas mensageiras. A radiola tocando em cima do banquinho da praça e ele pensando em alguém, lançando acenos ao vento, fazendo da brisa bilhetes. E certamente Moreninha Linda era pra uma, A Lua é Testemunha pra outra, Ingrata Morena ainda pra outra, e assim por diante. O repertório era imenso, as opções diversificadas. Mas será que Alcino tinha tantas assim?

Verdade é que tinha. Se não confirmasse, também ele não negava a ninguém. E não somente em Poço Redondo como nas cidades vizinhas. Tendo por profissão a de fiscal de tributos, mais conhecida na região como exator, quando não estava prefeito pedia para ser enviado para prestar serviços nas cidades vizinhas, Monte Alegre de Sergipe ou Canindé do São Francisco. Estratégias de conquistador.

E nestas cidades, principalmente Monte Alegre, onde ficava hospedado no Hotel de Odete, as peripécias amorosas de Alcino corriam soltas. Ora, se na própria cidade onde vivia sua esposa, seus filhos, seus pais e demais conhecidos, ele encontrava encorajamento para viver de alcovas, imagine então num lugar descompromissado. Verdade que até hoje a fama namoradeira de Alcino corre solta por aqueles rincões.

Alcino e sua esposa Dona Peta

Mas ela continuou, Dona Peta resolveu ficar, mesmo pagando sem merecer, mesmo sofrendo, continuou ao lado de Alcino. E só o verdadeiro amor faz isso. E permaneceu ao seu lado até o instante de sua morte, aos 65 anos, no dia 23 de junho de 2009. E ela era tão bonita, minha mãe era tão bonita...

Continua...       

Biografia do autor:

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com