Por José
Mendes Pereira - (Crônica 10).
Aqui abro
aspa, "infelizmente o amigo e irmão Raimundo Feliciano faleceu em
fevereiro de 2019".
Meu amigo e
irmão Raimundo Feliciano:
Se a Casa de
Menores Mário Negócio foi para nós um divertimento de bagunças sem
prejudicarmos ninguém igualmente foi o Tiro de Guerra que nos divertíamos a
cada momento, muito embora lá não só foi flores, passamos por provas difíceis,
como reclamações fortes quando errávamos no treinos e nas sofridas marchas, e
os treinos de guerra nas imediações do campo de futebol Manoel Leonardo
Nogueira.
No ano de
1970, todas as madrugadas, de segunda a sexta, você e eu saíamos da Casa de
Menores Mário Negócio em direção ao Tiro de Guerra, para cumprirmos aqueles
ensaios de guerrilheiros, administrados pelos sargentos: Moura, Everaldo e
Gumercindo.
O sargento
Moura (1º. sargento), alto, magro, de olhos azuis, de cor galegada, e mantinha
a ordem com severidade, mas na verdade, quando estava apaisana, era uma boa
pessoa, que nos atendia como se nós fôssemos seus amigos. Era encarregado da
1º. turma de atiradores e residia na sede do TG.
O sargento
Everaldo (2º. sargento) era baixo, de corpo largo, moreno, irritado e bastante
moralista. Qualquer erro praticado por um recruta, já estava escalado para
fazer faxinas no TG, limpando janelas, varrer a quadra, limpar banheiros etc. E
um dos que mais fez aquele trabalho, sem dúvida, foi você. Meia volta, volta e
meia, você estava escaldo para fazer faxinas. Mas você não deve culpar ninguém,
merecia, devido as suas brincadeiras. Pouco falava com nós, atiradores. Mas em outros
momentos, era gente fina. O sargento Everaldo era encarregado da 2º. Turma.
O sargento
Gumercindo (3º. sargento), este estava no começo da vida, com 25 anos de idade,
e de estatura média, meio atlético, moreno claro, de voz grossa e lenta, amigo
de todos os recrutas, e que algumas vezes, ele escondeu falhas de atiradores.
Residia no antigo Grande Hotel em Mossoró. O sargento Gumercindo era
encarregado da 3ª. turma de atiradores, sendo nós dois, comandados por ele, e
que muitas vezes se irritou com alguns recrutas, mas logo estava de bem com
todos nós e até brincava.
Certa feita,
numa madrugada de 1970, já bem próximo ao final da conclusão das nossas
prestações militares com o exército, saímos da Casa de Menores já atrasados,
que deveríamos chegar ao TG antes das cinco horas da manhã. E de lá, nós
sairíamos em caminhada até o local em que treinávamos tiros ao alvo, localizado
no Abolição I. Quando nós chegamos ao TG todos os atiradores e dois sargentos
já haviam seguido viagem a pé, apenas o sargento Moura se encontrava lá. Assim
que nos viu ficou xingando, chamando-nos de dois grandes irresponsáveis, por
termos chegado atrasados ao TG.
Como ele iria
no jeep levando os fuzis, balas e outros equipamentos para os nossos treinos eu
pedi que nos levássemos, já que a pé nós não chegaríamos tão cedo.
O sargento
Moura foi curto e grosso, dizendo que não nos levava, porque os outros
atiradores haviam caminhado cedo para o locar de treino, e nós, usando
irresponsabilidades, àquelas horas, ainda estávamos no terreiro do Tiro de
Guerra. E sem mais dizer nada, ligou o jeep e deu partida em direção ao ponto
de treinamento.
Eu gritei,
insistindo, pedindo-lhe que nos levássemos no jeep até ao local de treino. Como
ele e os outros sargentos já viviam irritados com você, devido o seu péssimo
comportamento, a resposta que ele me deu, que me levava, mas o 138, você, não
iria no jeep de jeito nenhum.
Como nós
morávamos na mesma casa e eu não querendo deixar você para trás, respondi-lhe
que se não te levasse eu não iria com ele. Ciente disto, novamente deu partida
no jeep. Mas ele se arrependeu. Andou muito pouco, rendendo-se, e em seguida
gritou, nos chamando para irmos com ele.
O sargento
Moura era professor de Educação Física no Colégio Diocesano, e tinha que passar
lá para comunicar aos dirigentes que àquela manhã não dar aulas aos alunos,
porque estava indo para os treinos do Tiro de Guerra.
Nós
caminhávamos pela rua dos fundos do colégio, e lá, ele desceu nos dizendo que
precisava comunicar a sua ausência naquele dia à secretaria do colégio, e que
logo voltaria.
Assim que ele
desceu e abriu o portão do colégio nos recomendou, que uma porção de vacas que
ruminava por ali, nós não a deixássemos entrar no quintal do colégio. Mas
quando ele desapareceu da nossa vista o gado fez carreira e entrou na garra e
na marra, sem que nós pudéssemos evitar aquela invasão do rebanho.
Ao sair da
secretaria e ao ver o rebanho de gado dentro do cercado, que na época era
cerca, o sargento esbravejou, e quase nos engole, exigindo que nós colocássemos
todos os animais para fora das dependências do colégio. Sem outra solução,
fomos obrigados a correr atrás dos animais, e sem muitos esforços, finalmente,
conseguimos expulsá-los de lá.
Mas o pior foi
o castigo que recebemos lá no treino. Você Raimundo, teve que passar várias
vezes em uma cerca de arame farpado, rastejando, e do outro lado, um cocô de
vaca estava te esperando, deixando-lhe todo sujo e fedorento.
Os sargentos
te marcavam porque você não deixava ninguém quieto. Era um verdadeiro capeta.
Foi uma grande sorte ter terminado o serviço militar em Mossoró, foi condenado
várias vezes para ser mandado para a tropa em Natal.
Eram 64 pontos
de faltas que nós tínhamos direito, e agradeça de coração, mesmo você dando
trabalho aos patenteados, muitas vezes, consideraram a sua ausência, aliás,
quase todas as suas faltas foram causadas pelo seu péssimo comportamento, mas
sem prejudicar a ninguém, apenas irritava os sargentos.
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