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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

DIA APÓS DIA

Por Rangel Alves da Costa*

Mesmo cansado da luta do dia, ainda assim bate o pilão, sacode a peneira, despeja o pó numa cuia. Depois aproveita ainda da clareza do dia, se embrenha na mata, cata garrancho, resto de madeira carcomida, junta tudo em feixe, deita nas costas e retorna ao quintal, onde arria tudo ao lado do velho fogão. Depois de guarnecidas suas entranhas, pinga querosene por riba e acende o fósforo. Joga por cima e espera a madeira crepitar. Não demora muito e já se aproxima de abano à mão. Então a labareda vai cantando a primeira canção do já escurecido entardecer.

Sabe que é preciso ter a labareda morta e a brasa viva para assar um pedaço de preá, um naco de toucinho, uma tira de carne ou qualquer coisa mais gorda que reste salgada e estendida num canto do varal. Por cima do braseiro estende a grelha e o que for assar. Vira e revira para não tornar o alimento em carvão e assim perder a mistura do café da noite, parte inseparável da farinha seca. Acaso tenha farinha de fubá e ovos de capoeira, então a situação é diferente, também com relação à feitura do café. Primeiro apronta o cuscuz e o café e somente depois aproveita as brasas para o restante. Cuscuz de pacote, por não haver espiga de milho para ralar. Mas o café, mesmo de segunda, ainda é batido em pilão. Não são mais os grãos de antigamente, mas ainda assim o costume chama à batida de todo dia.

Bater pilão, aliás, é costume de raiz familiar, passado de geração a geração, desde as antigas mãos escravas às não menos escravizadas mãos que continuam lançando o grão ao fundo da madeira para depois o bater e bater. Noutros tempos não só o café em grão era batido em pilão como o milho e o arroz com casca. Mas também folhas medicinais secas para os chás e as pomadas caseiras. O milho para fazer xerém e servir de alimento aos bichos de criação, mas o café para o deliciamento de todo dia, prazer único do empobrecido após o cansaço do dia. Depois de batido, passado em peneira e levado à chaleira, o que se tem daí em diante é um perfume sem igual. Da boca da noite em diante ou ao alvorecer, se faz tão forte o aroma do café fervente que se imagina um encantamento pelos espaços.


As gerações deixaram ensinamentos, o passado deixou sua escrita, mas nunca se prossegue na leitura da mesma linha. Tudo vai irremediavelmente mudando. Até mesmo a manutenção dos costumes vai se tornando difícil, não só pelo novo que vai surgindo como pela dificuldade em obter aquilo que os pais e os avós tanto prezavam no prato do dia a dia. Ora, naquele tempo havia jabá e bacalhau em cima de cada balcão de mercearia ou bodega interiorana. E tudo acessível ao pobre. Era só chegar, experimentar um naco e mandar cortar um ou dois quilos. Não se comia muito, com a fartura desejada, mas muito diferente do que se passou a ter com o passar dos anos. A barriga teve de passar a se contentar com a fome, e esta com o que houvesse para comer. E assim continua.

Havia galinha gorda no quintal, havia galinha ciscando por todo lugar. As manhãs chegavam ofertando ovos de capoeira, fruta madura, grãos vingados nos serenos da noite. Havia a melancia, a abóbora, o melão coalhada, o maxixe, o feijão de corda, o quiabo, a batata, a mandioca, e tudo no pequeno roçado pelos fundos da casa. Mas num tempo de quintais e de pequena produção para a sobrevivência. Poucos são os quintais que ainda restam com algum pé de pau ou um pé de cidreira. Os poleiros sumiram, as galinhas também. As pequenas roças foram engolidas pelo progresso e ao homem só restou a pobreza crescente. E também a luta cada vez maior para sobreviver sem mais encontrar o trabalho na terra, na vaqueirama, na tiração do leite e na feitura do queijo.

É boca da noite e porteira aberta para o descanso do dia. E um dia nascido ainda na madrugada escura, antes mesmo de o galo cantar. E assim todo dia. Não ter tempo de sonhar ou fantasiar um mundo melhor, e já o relógio interior despertando para tudo se iniciar novamente. Na semiescuridão do madrugar fechado, sem amarelado nas frestas ou qualquer sinal da alvorada, logo levanta da cama de ripa e coloca os pés sob o chão batido. Ou o roló de couro cru ou descalço, não gosta de chinelo rasteiro. E tateando vai rumo à cozinha ou à porta da frente. Tanto no quintal como defronte a malhada, a primeira coisa que faz é alongar a vista em direção às cores do horizonte. Ali os sinais esperançosos ou as aflições.

Que chova ou faça sol é sempre assim, desde a hora de levantar ao sono chegar. A diferença mesmo somente nos afazeres perante cada situação. Acaso tenha chovido, a terra molhada torna a vida diferente, muito mais prazerosa e sempre com a certeza de um ganha-pão. Mas se for a estiagem que se faça adiante e por todo lugar, então a sobrevivência se torna em sofrimento. O fogo de lenha nem sempre é aceso, o bater pilão quase que silencia, até o toucinho some do varal. Mas a fé vai nutrindo o homem, e este alimentando de esperanças o seu mundo.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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CURIOSIDADES SOBRE O REI DO CANGAÇO


Virgulino distinguia-se dos demais rapazes em muitas coisas Tudo o que se metia a fazer fazia bem feito. Muitos estudiosos consideram que o bandido, nele, foi apenas um acidente, motivado pelas condições do meio e do seu tempo.

Era um hábil artesão – confeccionava artigos de couro, tais como cordas, cabrestos, rédeas, chibatas, peitorais, gibões, perneiras, alforjes, bornais, alpercatas e outros utensílios de couro. Gostava de participar de vaquejadas, tornando-se um dos cavaleiros mais hábeis da região. Ganhava algum dinheiro como amansador de burro brabo. Tocava harmônica, uma sanfona de oito baixos que o povo chamava pé de bode ou fole. Fazia versos, tinha jeito para repentista. Virgulino meteu-se até a pedreiro – rebocou uma parede da casa do Poço do Negro. Dançava muito bem, principalmente xote, mazurca, coco, pisada e xaxado. Era um rapaz bonito, de fala macia, boa estatura, moreno-claro, cabelos lisos. Um tanto vaidoso, chamava atenção nas festas, com suas camisas engomadas, calças de vinco, cabelo preto e fino bem penteado, untado de brilhantina.

Começava a chamar atenção o interesse especial de Virgulino e seu irmão Antônio pelas primas Gertrudes e Maria Licor. As duas jovens eram primas deles duplamente: Gertrudes e Licor eram filhas de Joana Lopes (Nanã, Joaninha Ferreira) irmã de Maria Lopes, mãe dos rapazes; o pai delas era Ferreira Catendo, primo carnal de José Ferreira.

Consta que Virgulino teria namorado também outra prima chamada Santina Lopes da Silva, filha de sua tia Maria José, (Dedé).

A primeira experiência de Virgulino com mulher ocorreu quando ele tinha 14 anos de idade: em companhia de outro adolescente e mais tarde também cangaceiro, chamado José Pereira da Cunha (vulgo Ventania), foi a ‘zona’ de Vila Bela e se engalfinhou com uma madame de nome Penha.

Tem-se notícia de que Virgulino, entre os 17 e 18 anos, teria tido um filho com uma moça chamada Alvinha, de 19 anos que “caíra na vida” depois de ser renegada pela família por ter sido “ofendida” por um caixeiro de loja.

Ele teria deitado os olhos também sobre uma morena chamada Rosa, que conheceu em Nazaré.

Fonte: Livro Lampião - a raposa das Caatingas, página 75
Autor José Bezerra Lima Irmão
Na foto: Virgulino, aos 10 e aos 20 anos de idade.
Fotos obtidas na obra de Optato Gueiros, Lampeão

Fonte: facebook
Página: Agente Carvalho
Grupo: O Cangaço

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LIVROS À VENDA... O INCRÍVEL MUNDO DO CANGAÇO – VOLUMES I E II.


De: Antonio Vilela (Garanhuns/PE)
Para adquirir entrem em contato diretamente com o autor através do e-mail incrivelmundo@hotmail.com ou com o Professor Pereira (Cajazeiras/PB) através do e-mail franpelima@bol.com.br.
Os livros custam R$ 35,00 (Cada) com frete incluso para qualquer localidade do país.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Antônio de Souza
Grupo: O cangaço 

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ÍNDIOS PANKARARÉS


Habitantes do Raso da Catarina no estado da Bahia. Essa tribo no passado reforçou as fileiras do Rei do Cangaço com vários de seus membros, entre eles: Gato, Inacinha, Antônia (Primeira companheira de Gato, Balão, Assúcar (Açúcar), Mourão, entre outros.

Ainda hoje alguns descendentes da tribo Pankararés habitam a região inóspita.

O tempo passou, mas os mesmos problemas do passado ainda existem no presente dessa gente. A verdade é que pouca coisa mudou e se depender da boa vontade da maioria dos nossos “governantes” jamais irá mudar, pois sabem que um povo submisso e sem acesso à educação é mais fácil de ser controlado e consequentemente... enganado.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

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OS URSOS NO CARNAVAL DE MOSSORÓ - 07 DE FEVEREIRO DE 2016

 Por Geraldo Maia do Nascimento

Todo ano é a mesma coisa. Pelo menos um mês antes do carnaval eles aparecem. São crianças e adultos fantasiados de ursos que saem às ruas da cidade, seguidos ao som de tambores e taróis, pedindo dinheiro a quem passar pela frente. Para uns, é apenas uma maneira disfarçada de mendigar; para outros, é o último vestígio dos áureos tempos dos carnavais de Mossoró. 

               
Os ursos que se espalham pela cidade nesta época do anos, alimentando o medo das crianças e a curiosidade dos adultos (ou a irritação), encontram na figura folclórica da fera aprisionada um misto de alegria e fantasia, além da oportunidade de ganhar algum dinheiro, que no final é distribuído entre os participantes da troça.
               
Não se sabe quando nem quem primeiro se fantasiou de urso em Mossoró. Mas quem fez, com certeza se inspirou numa das brincadeiras mais estimadas do carnaval do Recife que é a La Ursa; o urso do carnaval cujas origens encontra-se nos ciganos da Europa que percorriam a cidade com seus animais presos numa corrente, que dançavam de porta em porta em troca de algumas moedas, ao som da ordem: “dança la ursa!”
               
Nesse tipo de brincadeira do carnaval pernambucano, a figura central é o urso, geralmente um homem vestindo um velho macacão coberto de estopa, veludo, pelúcia ou agave. As máscaras, que no início eram feitas de papel-machê pintadas de cores variadas, deram lugar ao plástico de diversos formatos. Na brincadeira, o “urso” é preso por uma corda na cintura, segurado pelo domador, e dança para a alegria de todos ao som de toadas do próprio grupo ou sucessos das paradas carnavalescas, podendo variar para o baião, forró, xote e até polca. A Orquestra do urso de carnaval é geralmente formada por sanfona, triângulo, bombo, reco-reco, ganzá, pandeiro, havendo outras mais elaboradas onde aparecem violões, cavaquinhos, clarinetes e até trombones. O conjunto traz por vezes, além do domador, do urso e da orquestra, o tesoureiro, porta-cartaz ou porta-estandarte, balizas e outros elementos que lá estão só para brincar o carnaval.
               
Os ursos do carnaval de Mossoró não chegam a ser tão organizados. A maioria dos grupos são formados por crianças, onde uma ou mais se disfarçam de ursos, com fantasias feitas geralmente com material reciclado, enquanto o restante segue com a batucada que é formada por bombo e taróis, ou simplesmente latas. Não cantam; apenas tocam seus instrumentos de percussão, enquanto o urso evolui, fazendo piruetas, correndo atras de crianças ou abordando os adultos em busca de dinheiro.
               
Alguns foliões se fantasiam de ursos já a bastante tempo. Pesquisando nos jornais locais, encontrei uma entrevista com um folião nas páginas deste centenário jornal “O Mossoroense”, onde o marceneiro Francisco Lauro dizia que se fantasiar de urso era um sonho de criança. “Eu quando pequeno acompanhava ursos para me divertir e sonhava um dia poder divertir crianças com a mesma intensidade que sentia”. As vezes acontecem imprevistos, como o que relata Francisco Lauro: certa vez, o folião saiu fantasiado de urso com seus amigos, cercado de crianças, quando se dirigiu a um homem para pedir dinheiro. Em vez do dinheiro pedido, o homem puxou uma arma e a correria foi grande, afirma o marceneiro. Sem saber o que fazer nem ter tempo para correr, e já esperando pelo pior, Francisco Lauro teve a ideia de cair e se fingir de morto, numa cena hilária. O resultado foi que o homem acabou esquecendo a raiva e caindo na gargalhada. “E tudo acabou numa boa”, explica o folião.
               
Divertindo, assustando ou irritando, seguem os “ursos” com suas maneiras exóticas de brincar o carnaval, mantendo viva uma tradição que é passada de geração a geração.

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É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fontes:
http://www.blogdogemaia.com

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A VIDA DEPOIS DO CANGAÇO - PARTE I


O que faz dois homens não esqueceram suas rixas depois de três décadas do último encontro bélico entre eles? O soldado Adriano e o cangaceiro Zé Sereno, nos contam nesse histórico e eletrizante encontro ocorrido há 48 anos em um restaurante em São Paulo, promovido pela jornalista, historiadora e pesquisadora do cangaço, Cristina Mata Machado, no ano de 1968, 30 anos depois da morte de Lampião no ataque das volantes a seu esconderijo/coito da Grota do Angico. Vamos à leitura!


Trinta anos depois do cerco de Angico, Alagoas, onde Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram mortos e decapitados, reencontraram-se em um restaurante de São Paulo cinco participantes do combate na Grota do Angico. Eram quatro ex-integrantes do bando do "Rei do Cangaço" e um antigo membro da "volante", tão temido quanto os cangaceiros.

Depois da madrugada de 28 de julho de 1938, eles tomaram rumos diferentes. Deixaram o sertão, construíram uma existência sem aventura, tiveram filhos, tornaram-se cidadãos comuns. Todo aquele passado voltou, num relance dramático, quando o grupo começou a ser apresentado ao antigo "volante", o ex-soldado Adriano.

Adriano pareceu receber um choque ao ouvir o nome de Zé Sereno, o ex-bandido que ele perseguiu todo esse tempo, para vingar-se, e que hoje é um pacato zelador de um colégio. Adriano Ferreira de Andrade andou caçando Zé Sereno durante muitos anos. Em verdade, entrou na polícia, ficou três anos e meio na "volante" pervagando o alto sertão, unicamente para vingar-se de Zé Sereno.


Tinha umas contas a acertar com o cangaceiro desde um dia qualquer de 1936. 

- Pensei em dar uns conselhos pra ele, bem devagar, para não sofrer muito. 

Adriano cultivava seu ódio de morte por Zé Sereno. Jamais se esqueceu da provação que o cangaceiro lhe impôs em Jeremoabo, na Bahia, quando se avistaram pela primeira vez. Adriano trabalhava na fazenda do Coronel João Dantas e, um dia, viajava com a boiada quando passou por uma fazenda. Um coiteiro, sujeito que se especializara em homiziar cangaceiros, advertiu-o de que devia mudar o caminho, porque a estrada era ruim. 

- Fui parar noutra fazenda. Quando menos esperava, estava cercado por cinco cangaceiros. Eles disseram que eu era delator, me amarraram e me deixaram preso durante três dias. Fui até obrigado a ir numa festa com eles e me mandaram dançar. Imagine se uma pessoa que vai morrer tem vontade de dançar. O dono da fazenda que me conhecia, falou com os cangaceiros e pediu para não me matar. Foi assim que eu me salvei de morrer mesmo. Quando eles me soltaram. disseram assim: - "Agora pode andar sossegado". Mas eu disse pra mim mesmo: "Sossegado, hein?"

Em vez de sossegar, Adriano entrou para a "volante" e fez uma jura: — Enquanto existir cangaceiro, eu não saio da polícia. Só saio quando não tiver mais nenhum vivo. 

A vingança, quase


Por duas vezes a vingança de Adriano esteve por se consumar. A primeira foi no cerco do Angico, comandado pelo Tenente João Bezerra, que reunira várias "volantes para liquidar Lampião. Não se tratava de pegá-lo vivo ou morto, mas eliminá-lo sumariamente. O Tenente soube por intermédio de coiteiros que Lampião e diversos cabras se encontravam na Fazenda Angico. Foi para lá, obrigou outro coiteiro, que sempre fora amigo de Lampião, a dar notícias dos cangaceiros. Apresentou um ultimato: — Ou você me põe no lugar onde se encontram os bandidos ou então vai morrer. O "coiteiro" preferiu viver.

Às 5 da manhã, Lampião estava sitiado. As demais 'volantes' já haviam tomado posições diferentes cercando o refúgio do 'Governador do Sertão' quando o Tenente chegou à área que lhe cabia. O embate durou 20 minutos, talvez menos. O grupo do Tenente travara vários choques com cangaceiros, que corriam para tomar posição ou fugir ao cerco. O oficial já estava baleado. Ao chegar à barraca de Lampião, casa e trincheira ao mesmo tempo, viu muitos cangaceiros mortos. Um soldado gritou:

— Lampião morreu, Seu Tenente!

Entre a fugitivos estavam Zé Sereno, Sila sua mulher, Marinheiro e Criança. Adriano chegara um pouco tarde. Entre as onze cabeças decepadas na mesma hora, para mostrar ao povo do sertão que Lampião "mostrar ao povo que Lampião morrera mesmo", não estava a de Zé Sereno.

Na segunda vez, Adriano empreendeu sozinho à caça a Zé Sereno. Foi dois anos depois, em 1940. Ele soube em Jeremoabo que o cangaceiro estava lá. Havia festa na cidade, os cabras fatalmente iriam. Adriano preparou o fuzil, procurou um rapaz que estivera preso com ele na fazenda, convidou-o para a vingança, dava-lhe até outro fuzil. O rapaz não quis. Aquilo já passou. Adriano foi sozinho.

— Armei uma tocaia pro Zé Sereno. Só que ele não passou. Se passasse eu torava ele.

Mas Zé Sereno não foi à festa. Adriano gravou bem o bando dos cangaceiros que o prenderam e humilharam. Além de Zé Sereno, do grupo, fazia parte: Diferente, Zabelê, Meia Noite, Manuel, Moreno. O chefe era Zé Sereno. por isso Adriano pensava em se vingar nele. O antigo volante não sabia que no almoço, tantos anos depois, estariam Zé Sereno, sua mulher e mais dois ex-cangaceiros. Ele reaviva o velho ódio ao relembrar o seu passado na "volante", na qual ficou até a morte de Corisco, o Diabo Louro. 

Corisco, lugar-tenente do Lampião, vingou a morte do chefe, matando toda a família do coiteiro que o denunciou. (Nota: O coiteiro que Corisco matou, não o tinha traído, veja detalhes no artigo "O COITEIRO QUE TRAIU LAMPIÃO") Matou ¡inclusive duas mulheres pura "vingar Maria Bonita e Enedina", também mortas e decapitadas no cerco de Angico.

Com a morte de Corisco, desaparecia o último cangaceiro. Adriano cumprira sua jura, podia deixar a "volante". Foi o que fez. Trocou a profissão de soldado pela de comerciante, ficou em Jeremoabo até 1947, negociando com gado, viajando muito. Numa dessas viagens parou em São Paulo, tornou-se laminador. Exerce o ofício até hoje numa fábrica perto de casa. Antes de ser oficial, fez um aprendizado lento, como auxiliar.

Aos sessenta anos Adriano conseguiu o que queria. Criou os dois filhos. Maria, casada e mãe de cinco filhos, e João, oficial de uma costura. O rapaz tem clientes famosos: Chico Buarque de Holanda, Wilson Simonal, Edu Lobo. Adriano só não conseguiu achar Zé Sereno. "- Dizem que ele mora aqui em São Paulo. Mas não sei não. Se eu encontrasse ele hoje... Não quero nem saber..."

Um dia de Surpresas

Também os antigos cangaceiros não sabem como será esse encontro no restaurante. Só Sila sabe, e está impaciente.

— Cadê o pessoal?

Zé Sereno é o primeiro a chegar. Não estranha a presença da companheira. Agora vem Marinheiro, irmão de Sila, cunhado de Zé Sereno. Depois chega Criança. Os abraços são apertados, de longa saudade. Risos, lágrimas. Criança é o que estivera mais tempo afastado dos outros nestes trinta anos. Sila se dirige a ele com carinho, sorrindo:

— Como o senhor está forte, compadre!

Numa briga Criança era uma cobra

Criança mal consegue sorrir, a emoção o sufoca. Custa a responder:

— Comadre Silas, também está forte e cheia de saúde.

Zé Sereno olha com admiração para Criança. Ainda o trata de "menino". Criança contempla o companheiro, cinquentão como ele, e traz o mesmo respeito de outrora, quando Zé Sereno era o seu comandante. Zé Sereno fala. Criança se envaidece, mas baixa a cabeça, modesto, ao ouvir um elogio:

— Esse menino aqui era muito valente. Sempre calmo. Numa brigada, ele ela uma cobra.

Zé Sereno é o mais desembaraçado de todos; entre os demais, preserva ar de comando, vestígio do antigo chefe de grupo do bando de Lampião. Marinheiro o respeita como cunhado e como antigo líder. Tem razões para isso.

— Zé Sereno — lembra — encarou duas vezes o Capitão Virgulino.

A conversa agora é entre amigos íntimos. Casos e histórias são repassados. Um fala, outro completa a narrativa, corrige ou acrescenta um pormenor.

Ao grupo se junta agora um estranho, que é posto frente a frente com Zé Sereno. Adriano. O antigo volante. Os dois se olham. Zé Sereno cumprimenta o recém chegado mais por cortesia, sem saber ao certo de quem se trata. Adriano reconhece logo o antigo inimigo: sua imagem jamais abandonou a sua memória. Zé Sereno franze a testa, morde os lábios e volta rápido ao passado sem saber quem é aquele que chegou:

—Zé Sereno, este é Adriano, ex-volante e seu ex-inimigo.

Zé Sereno não esqueceu as mínimas coisas de sua vida de cangaceiro. Há nove anos trabalha como zelador num colégio, mas antes disso fez muitas coisas. Trabalhou como ambulante, vendendo peixe, foi operador de fábrica, depois esteve num frigorífico. Em São Paulo criou os filhos, todos "bem encaminhados". O mais velho, Ivo. é dono de uma imobiliária: o caçula Wilson pediu engajamento na Aeronáutica, é cabo; Gilaene trabalha numa grande empresa.

Zé Sereno nunca revelou a ninguém que pertenceu ao bando de Lampião. Antes por segurança do que por vergonha de sua outra vida. Temia que algum inimigo lá de Alagoas, onde o desejo de vindita é transmitido como herança de família, tentasse vingar algum fato do passado. Vergonha não tinha nem havia porque. Foi anistiado por decreto do Presidente Vargas, no fim da ditadura do Estado Novo; não tinha contas a prestar. Além disso, lá no Sertão, não tinha escolha:

— Naquele tempo tinha que ser cangaceiro mesmo ou entrar na volante.  tanto um como outro passava maus bocados - comenta Zé Sereno.

Dois tios e dois primos de Zé Sereno, Antonio de Engrácia, o velho Cirilo, Zé Baiano e Antonio Honório — eram cangaceiros, sem querer, acabaram por empurrá-lo para o mesmo destino.

— Houve uma briga e dois soldados foram mortos pelos meus tios. O pai de um dos soldados, de nome Lau, resolveu se vingar em mim. Disse que ia me matar. Como não sou cabrito pra morrer dependurado numa corda, resolvi sair pro mato. Me lembro bem, isso foi em 1930, eu tinha dezessete anos.

Zé Sereno foi ao encontro de Lampião. O Capitão Virgulino, como era chamado, estranhou a presença do quase garoto e foi logo perguntando:

— O que é que faz esse macaquinho aqui?

Zé Baiano, primo de Zé Sereno, respondeu:

— Na minha família só tem gente valente. Esse menino não vai negar a raça.

Lampião quis a prova, e a teve. Arrumaram uma briga de Zé Sereno com Volta Seca, também muito jovem, os dois se digladiaram durante muito tempo. Lampião deu um basta e ditou a sorte de Zé Sereno

— Esse menino é valente mesmo. Vai longe.

CONTINUA...

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PESQUISA RECENTES APONTAM QUE LAMPIÃO NÃO FOI APENAS UM RUDE CANGACEIRO


Os jovens sertanejos das estrelas de aço gostavam de música, poesia, leitura, cinema, moda, dança, costura, bordado, joias, ouro e adoravam perfumes. Segundo dizem, o chapéu de couro à moda Napoleônica de Lampeão  Virgolino era diferenciado dos chapéus de couro dos outros cangaceiros, todos tinham as abas reviradas (como o chapéu de Napoleão) e mandalas, mas, o do capitão Virgolino tinha uma estrela de Salomão (cinco  pontas) de ouro.  Os bandos tinham conhecimento profundo sobre os caminhos no mato, sobre as plantas curativas e nocivas, e sabiam táticas de defesa. Lampeão e Maria Bonita gostava de cachorros os quais eram úteis no bando, os cães do bando tinham uma forma peculiar de alarme, rosnar como como as gias e não, latir.

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, (Ipú, Ce. – 1863 – Alagoas, SE. 1917) Pioneiro da usina hidrelétrica de Paulo Afonso. Em Pedra, atual Delmiro Gouveia, aproveitou amplamente as águas do rio São Francisco, desenvolveu o lugarejo, dotou-o de melhores condições sociais, fundou uma fábrica de linhas. Construiu alojamentos para os seus empregados, e abriu estradas. É considerado pioneiro da indústria no Nordeste.

Os membros do bando de Lampião usavam cabelos compridos, lenço em volta do pescoço, grande quantidade de joias e um perfume exagerado. Alguns de seus nomes e alcunhas são os seguintes: Antônio Pereira, Antônio Marinheiro, Ananias, Alagoano, Andorinha, Arvoredo, Ângelo Roque, Beleza, Beija-Flor, Bom de Veras, Cícero da Costa, Cajueiro, Cigano, Cravo Roxo, Cavanhaque, Chumbinho, Cambaio, Criança, Corisco, Delicadeza, Damião, Ezequiel, Português, Fogueira, Jararaca, Juriti, Luís Pedro, Linguarudo, Lagartixa, Moreno, Moita Braba, Mormaço, Ponto Fino, Porqueira, Pintado, Sete Léguas, Sabino, Trovão, Zé Baiano, Zé Venâncio, Volta Seca, Tripa Seca, Azulão, Riqueza, Vinte e Cinco, Canjica, Labareda, José Baiano, Galo, Moita Brava, José Sereno, Zabelê, Barreiras, Asa Branca, Candeeiro, Beija-Flor, Luís Padre, Maritaca, Incubadora, Baioneta, entre outros.

LAMPEÃO - CAPITÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO E APOIADO POR AUTORIDADES

Segundo matéria de 1948 constante no acervo digital do jornal cearense O Povo (fundado em 07 de janeiro de 1928) foi em Juazeiro do Norte que Lampeão foi convidado pelo deputado e médico Floro Bartolomeu para receber das mãos do padre Cícero, por intermédio do servidor público federal Pedro de Albuquerque Uchoa, a patente de Capitão do Exército Brasileiro, a fim de incorporar-se às forças legais que combatiam a Coluna Prestes. No seu bando Lampeão adotava a hierarquia militar e hábitos de caserna, há relatos que ele mesmo às vezes usava um apito de comando.

Jornal O POVO
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AS VIDAS E AS MORTES DE JARARACA: NARRAÇÕES DE UMA DEVOÇÃO POPULAR NO NORDESTE BRASILEIRO - PARTE I

Eliane Tânia Freitas[*] [etmart@gmail.com]

Resumo

Este artigo parte de um estudo etnográfico da devoção popular ao cangaceiro Jararaca em Mossoró, Rio Grande do Norte, morto pela polícia local em 1927. Seu objetivo é destacar os ritos que manifestam e suportam tal devoção, sobretudo em seus aspectos verbais: testemunhos, narrações hagiográficas e fatos históricos tidos como reais - principalmente os fatos que cercaram a morte do cangaceiro e suas proezas no cangaço - que dão margem à reelaboração da identidade social do morto, de modo a aproximar sua vida do modelo do Robin Hood, o bom bandido, e sua morte do modelo do martírio cristão. Assim, ele pode tornar-se um santo funerário.


Resumo

Este artigo parte de um estudo etnográfico da devoção popular ao cangaceiro Jararaca em Mossoró, Rio Grande do Norte, morto pela polícia local em 1927. Seu objetivo é destacar os ritos que manifestam e suportam tal devoção, sobretudo em seus aspectos verbais: testemunhos, narrações hagiográficas e fatos históricos tidos como reais - principalmente os fatos que cercaram a morte do cangaceiro e suas proezas no cangaço - que dão margem à reelaboração da identidade social do morto, de modo a aproximar sua vida do modelo do Robin Hood, o bom bandido, e sua morte do modelo do martírio cristão. Assim, ele pode tornar-se um santo funerário.

Palavras-chave: religião, ritual, narrações, cangaço.
Abstract
The article is based on an ethnographic study of the popular devotion to Jararaca, a cangaceiro in Mossoró, Rio Grande do Norte, murdered by the police in 1927 . My aim is to show the rites that reveal and support such devotion by enphasizing its verbal aspects: testimonies, hagiographic narrations and historical facts - mainly the facts about the cangaceiro’s death and his life as a cangaceiro. Through these ritual speeches his social identity is recreated in conformity to a romantic Robin Hood model while his death become an exemplar of Christian martyrdom. So he turns into a funerary saint.
Keywords: religion, ritual, narration, cangaço.

Introdução

Em 1927 José Leite de Santana, conhecido como Jararaca, cangaceiro do famoso bando de Lampião[1], foi alvejado por um tiro e deixado para trás por seus companheiros, que fugiram após mal-sucedida invasão da cidade de Mossoró[2]. Alguns dias depois, ele viria a ser morto de um modo considerado singularmente cruel: teria sido enterrado vivo pela polícia que antes o aprisionara, já ferido à bala no confronto anterior. Ou, pelo menos, é o que até hoje se acredita verdadeiro a respeito desse episódio público, verdadeira saga sempre chamada a ilustrar a bravura dos resistentes que impediram a invasão e saque da cidade pelos então temidos cangaceiros de Lampião.

Setenta e um anos depois desse acontecimento, no dia 2 de novembro de 1998, Dia de Finados[3], seu túmulo aparecia nas manchetes dos jornais locais e da capital do Estado, Natal, anunciado como o mais visitado pela população da cidade e por turistas, alguns oriundos de cidades próximas, outros até de fora da região; alguns movidos por pura curiosidade, outros pela esperança de um milagre motivada por histórias ouvidas de pessoas que já haviam tido contato anterior com tal devoção ou pela própria publicidade promovida pelas matérias nos jornais.

O túmulo de Jararaca passou a receber essas visitas desde que se espalhou a notícia de seu sepultamento naquele local. Já então, em 1927, noticiou-se a versão que até hoje é tida como verdadeira pela maioria das pessoas com quem conversei, adeptos ou não da devoção: a de que ele teria sido enterrado vivo pela polícia, que o teria removido da cela na qual se encontrava preso na cadeia municipal, no meio da madrugada, sob a alegação de levá-lo ao hospital na capital - pois que sofria ainda os efeitos do ferimento à bala – para conduzi-lo, todavia, na verdade, até o cemitério público. Lá, Jararaca teria sido obrigado a cavar uma cova e, em seguida, teria sido empurrado para dentro dela com uma pancada (alguns dizem que teria sido novamente baleado, porém deixado vivo).

O que conferiu, de imediato, credibilidade a essa história foi o depoimento de um dos soldados da polícia que, em entrevista a um jornal local, contou detalhes do assassinato, do qual teria participado. O jornalista condena, na matéria, tal ação, e, nessa posição, é seguido depois por outras figuras ilustres da cidade, principalmente outros jornalistas e historiadores – inclusive, muitos deles, interessados em uma história política do cangaço[4] na região. Estes não se furtaram, em seus escritos posteriores, a qualificar como covarde tal ação, fazendo dessa afirmação, em alguns casos (ALMEIDA, 1981), tanto uma oportunidade de condenação à ação criminosa da polícia do que uma ocasião de exaltação à valentia do cangaceiro.

Nessa linha, visto como vítima do abuso de autoridade por parte de uma polícia que parecia desconhecer limites – e talvez representada como não menos violenta e ameaçadora do que os próprios bandidos que eram os cangaceiros – Jararaca termina por ganhar a simpatia popular. Não são poucos, por outro lado, principalmente entre as camadas letradas, os que duvidam de tal história e a consideram “folclórica” – no sentido pejorativo, de crendice popular, disseminada pelo oportunismo de um policial bravateiro e pela ingenuidade do povo, que gosta de histórias sensacionais...

Verdadeira ou não do ponto de vista factual, essa história tem sido capaz de gerar as mais diversas reações. Enterrado vivo tornou-se uma expressão sempre repetida quando se trata de narrar a história de Jararaca, por sua vez parte de uma saga histórica, a saber, a da invasão de Mossoró pelos cangaceiros de Lampião, segundo os historiadores, e a da resistência dos bravos de Mossoró, segundo a crônica da cidade tal como é contada por suas elites políticas. Nem sempre, aliás, essas duas linhagens narrativas se encontram separadas ou mostram-se distinguíveis uma da outra. Trata-se de uma história que na verdade são várias histórias, todas com seu tanto de romance e de crônica jornalística, suas verdades parciais e fictícias, suas lembranças bem selecionadas, devidamente filtradas pelo interesse e ponto de vista de quem as conta.

Jararaca tornou-se, assim, uma personagem lendária nessa saga. Elevado ao panteão dos mortos especiais[5] de que nos fala Peter Brown (1984), devido aos efeitos sociais, simbólicos e emocionais desencadeados por sua morte pública, representada como disruptiva e trágica, capaz de evocar a memória temas religiosos caros ao universo cristão, como o sacrifício, a via crucis, o sofrimento purificador, para destacar somente alguns dos mais presentes nas falas dos devotos.

Essas representações vêm somar-se àquelas sobre o cangaceiro, esse nômade, ora visto como o cabra impiedoso que afronta o Estado, a propriedade, as famílias, e se alia a um patrono local contra outras lideranças familiares, ora visto como avatar da honra masculina, vingador tradicional ou revoltado contra o latifúndio; ora peão das forças conservadoras, mercenário individualista, desenraizado, ora líder político que apela à força bruta, agindo em nome de uma suposta tomada de consciência da sua situação de oprimido, percebido como ameaça pelos dominantes. Muitas são as caras do cangaço.

Assim, nada há de surpreendente em que muitas sejam as histórias dentro da história de Jararaca e do episódio que fez dele um santo popular ou, pelo menos, alguém que pode ser lembrado e homenageado com oferendas no Dia de Finados, data na qual tipicamente se recorda e homenageia os entes queridos, sejam os da esfera privada - a família é a unidade por excelência dentro da qual tais prestações funerárias são obrigatórias - ou da esfera pública - artistas, esportistas, políticos, pessoas públicas em geral. Hoje, em Mossoró e região, ele é um desses mortos milagrosos ou santos que surgem nos cemitérios brasileiros, sem que para esse surgimento tenha sido necessária qualquer intervenção ou mediação da família do morto ou de qualquer outra instituição, religiosa ou não. Nenhum grupo social organiza a relação entre o morto e seus devotos ou frequentadores eventuais. Não há um oficiante, um mediador ”autorizado” – individual ou coletivo - que veicule a história verdadeira ou ensine procedimentos rituais adequados ao culto, ou defina seu tempo e lugar. No entanto, assim como surgiu espontaneamente, a devoção prossegue, para além da exibição pública em Finados, nos ritos prestados no dia-a-dia.

CONTINUA...

http://www.pucsp.br/rever/rv4_2007/t_freitas.htm
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Nazaré, Estamos Chegando !

Igrejinha de Nazaré, 09 de fevereiro de 2016

Três encontros, três reuniões de trabalho, passos firmes na concretização de  mais uma etapa do Cariri Cangaço Floresta 2016. Nazaré do Pico se une para proporcionar um evento inesquecível, dentro de um dos mais esperados do ano.

Entre os dias 8 e 9 de fevereiro o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo esteve visitando a região do Pajeú, primeiro na cidade de Floresta; relatada em postagem anterior; e em seguida Nazaré do Pico quando ao lado dos organizadores locais ultimou providências para a consolidação do Cariri Cangaço Floresta 2016. "Teremos dois dias em Floresta e um dia em Nazaré, nesta nossa primeira empreitada em solo pernambucano e aqui no Pajeú. Em Floresta já concluímos a programação agora estamos aqui em Nazaré para fechar o dia de Nazaré" comenta Manoel Severo.

 Manoel Severo e Netinho Flor com o testemunho de Delmiro Gouveia: Cariri Cangaço chega a Nazaré

Na manha desta segunda-feira de carnaval, dia 08 de fevereiro, na cidade de Delmiro Gouveia, a reunião foi com um dos principais organizadores do evento em Nazaré, Netinho Flor, ali começou a ser definido os principais pontos da programação que será realizada no dia 27 de maio, uma sexta-feira. “O Cariri Cangaço Floresta começa dia 26 de maio, quinta-feira a noite na cidade de Floresta e a sexta-feira, dia 27 será toda em Nazaré” esclarece Netinho Flor, e continua: “Estamos comprometidos com este grande momento e vem “nazareno” de todo o canto do Brasil para prestigiar o Cariri Cangaço”.

Netinho Flor e Manoel Severo

Netinho Flor e Manoel Severo se dedicaram a estabelecer o "esqueleto" da programação do Cariri Cangaço Floresta em Nazaré, para em seguida o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo apresentar a proposta inicial para a apreciação dos demais organizadores em Nazaré. "São tantos os cenários em nossa região que eu e Severo tivemos dificuldades em definir a programação desse primeiro Cariri Cangaço em Nazaré, mas tenho certeza que todos irão gostar, teremos um grande evento" ressalta Netinho Flor.

Depois de Delmiro Gouveia, Manoel Severo partiu para Nazaré do Pico, cerca de 50 km depois de Floresta. Já em Nazaré do Pico, Manoel Severo ao lado de Manoel Serafim, Maria Amélia e Cristiano Ferraz consolidaram na manhã do dia 09, terça-feira de carnaval, os detalhes que faltavam para o fechamento da programação. Ali em uma primeira reunião, foram discutidos os principais pontos da proposta com os colaboradores nazarenos tendo a frente Mabel Nogueira, uma das descendente dos Gomes Jurubeba, proprietários da emblemática Fazenda Jenipapo. "Todos estão unidos para fazer o Cariri Cangaço em Nazaré, será uma grande festa" fala Mabel Nogueira. Além de Mabel , estiveram presentes ao encontro, seu pai, Francisco de Assis, sobrinho de Gomes Jurubeba; Zezinho Nogueira e Afonso Nogueira, sobrinhos do lendário Manuel Neto e ainda Ulisses de Souza Ferraz , filho do grande Euclides Flor.

Ulisses de Souza Ferraz e Manoel Severo
 Começa o Cariri Cangaço em Nazaré...
 Cariri Cangaço em Nazaré, vem aí o Cariri Cangaço Floresta 2016...
Afonso Nogueira, sobrinho e guardião do Monumento ao Bravo Manuel Neto
Cristiano Ferraz, Mabel Nogueira, Maria Amélia, Afonso, Ulisses Ferraz, Manoel Severo, Manoel Serafim e Zezinho Nogueira diante do busto de Manuel Neto.

No momento final da visita, a curadoria do Cariri Cangaço esteve em reunião de trabalho com Rubelvan Lira e Maria Lúcia, filhos do inesquecível João Gomes de Lira. Na residência do grande nazareno foram dadas as cores finais para o grande momento do Cariri Cangaço em Nazaré. "Sem dúvidas teremos um evento histórico do Cariri Cangaço em Nazaré, uma grande e inesquecível festa".

Na residência do inesquecível João Gomes de Lira, reunião final para o Cariri Cangaço em Nazaré do Pico: Mabel Nogueira, Rubelvan e Lucinha, Manoel Severo, Cristiano Ferraz, Maria Amélia e Manoel Serafim.
Maria Lúcia, Rubelvan Lira e Manoel Severo

Os encontros com os Nazarenos resultaram na formatação de uma programação dinâmica, envolvente e plural, contemplando, à exemplo de Floresta, o melhor da história e da memória do povo nazareno. Ao final fica a certeza de um grande e responsável trabalho de equipe. Os talentos que se somam tendo como objetivo primordial a consolidação da memória, história e tradição de nosso chão, de nossa terra, é a isso que estamos a serviço, é nisso que acreditamos, esse é o nosso verdadeiro combustível, sejam bem vindos ao Cariri Cangaço Floresta 2016 - Floresta do Navio e Nazaré do Pico.

Cariri Cangaço Floresta 2016
26 a 28 de Maio
Floresta do Navio e Nazaré do Pico
Programação em breve...

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CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - “ANTÔILÓIA” - PARTE VI


Dá para se escrever um livro de casos e de “causos” sobre a figura pitoresca de Antônio de Elói, Antônio Elói, “Antôilóia”, ou “Tôilóia” como o chamavam. Era baixo, forte, chegava a Manaíra, nos dias de feira, sempre montado em seu cavalo arreado. Era de pouca conversa, mas simpático a muitos. Tinha a fama de ser bastante econômico, apesar de possuidor das maiores propriedades de terra na região dos Baixios e Serra da Bernarda. Dos fatos mais simples que se conhece é que adoçava o café com rapadura por que era mais barato do que o açúcar. Comentavam que era possuidor de muitas moedas e joias de ouro e prata que, somente em período recente, foram associadas a favores que Lampião lhe teria concedido em troca de amizade e abrigo. Também são famosas as narrativas das botijas que ele encontrou. O que parece mais provável é que ele teria recebido de Lampião, para guarda, certa fortuna. 


Quando Lampião precisou partir às pressas, não teve oportunidade de voltar ao Baixio para reaver os bens guardados. Por segurança, vários lotes de joias e moedas teriam sido enterrados em lugares distintos e ali permanecido durante anos. Após a notícia da morte do bando, nos Angicos, teria vindo a certeza de que os bens não seriam reclamados. Já anciã, a filha mais nova de Antônio Elói nos contou a história de que ele e a esposa “desenterraram pelo menos sete botijas”. O mais curioso é que o Antônio sempre afirmava que era muito pobre, porém, quando aparecia uma grande fazenda que estivesse à venda, e esta fizesse limite com a dele, ele queria comprar. Chegava para a esposa e dizia: “Idalina, tem uma terra ali que eu tinha tanta vontade de comprar, mas eu não posso, não tenho dinheiro”. Na noite desse dia a mulher dele tinha um sonho. Alguém que já havia morrido aparecia nesse sonho e dizia a ela um local onde havia algo enterrado, tinha ouro, era uma botija. Por cinco vezes o pobre “Antôilóia” lamentou-se por ser pobre, por cinco vezes lhe foi oferecida uma boa fazenda, por cinco vezes Idalina sonhou com botija e, por causa desses sonhos, ele tornou-se proprietário dessas cinco fazendas... Mesmo após a morte dele, conta-se ainda que duas botijas foram encontradas.

Casa Grande, de Antônio Elói, no sítio Baixio, Manaíra. Por várias vezes acolheu Lampião e seus companheiros. Anos depois, em volta dela, foram desenterradas várias botijas, por Idalina, esposa de Antônio. - Telhado novo, mas mantem a mesma estrutura anterior e o anexo nos fundos.
Foto do autor (2013)

Antônio tinha um irmão de nome Manoel. Era o caçula e soube-se que ainda estava vivo. Fomos à sua procura no alto da Serra da Bernarda. Perguntávamos se alguém conhecia a residência de Manoel Elói. Passamos toda uma manhã nos arredores de sua casa sem que ninguém o identificasse. Somente quando falamos que era irmão do “Antôilóia”, alguém disse: “ah, é o ‘Manélóia”. Foi uma grata surpresa a entrevista que tivemos com ele. Cidadão de idade avançada, de uma cordialidade fora do comum. Memória viva e lúcida, narrou-nos histórias desde sua infância.

Era “galego”, tinha em torno de dez anos. Desceu a Bernarda, ia descendo o Boqueirão na direção da casa do irmão. Aproximou-se dele uma caravana montada a cavalo. Chapéus de couro enfeitados, um bocado de “espingardas”, até aí tudo normal. Mas quando um dos cangaceiros disse: “vô pegá o minino prá capá”, “Manélóia” disparou no mato em uma carreira tão grande, que não notou os galhos de mato e de espinhos que lhe iam rasgando a pele e a roupa.

Pouco tempo depois os cangaceiros “apearam” na casa de “Antôilóia”, assentaram-se na sala e, enquanto conversavam, entrou correndo um galeguinho assustado, todo arranhado do mato. Ao reconhecê-lo, Lampião perguntou: 

- Toinlóia, esse minino é seu? 

– É meu irmão, respondeu Antônio. 

- Me ardiscurpe, eu num sabia. Dissero uma pilhéra com ele e ele saiu perdido no mato”, encerrou o chefe do cangaço.

Recentemente Dona Jardelina, filha de Antônio Elói, nos contou: “Mãe era pequena e ajudava Vó. Vó fazia o almoço e mãe ajudava ela. Lampião gostava muito de capão assado com farofa e de bode cunzinhado. Toda vez que ele vinha para a casa que ficava na Vaca (sítio próximo ao Baixio, de Antônio Elói), Mãe ajudava Vó”.

CONTINUA...

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