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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CAPITÃO JOSÉ GONÇALVES BEZERRA

Por Fernando Maia Nóbrega

“O senhor, Capitão, vai pagar caro”. o couro de Trancelim” (Severino Tavares)


Nome: José Gonçalves Bezerra
Nascimento: Sem informações
Morte: 10 de maio de 1937. –Sítio Conceição, Crato-Ce.
Motivo: Vingança
Acusados: Severino Tavares e Fanáticos do Caldeirão.

Antecedentes 

Por volta de 1890, chega a Juazeiro atraído pelos milagres ali ocorridos no ano anterior e pela fama de santidade do Padre Cícero um paraibano de nome José Lourenço da Silva.

De princípio, fixa-se na cidade e vai trabalhar como agricultor pelos sítios. Aos poucos vai se inserindo, de maneira marcante, na vida religiosa e se transforma em renomado beato.

Ao correr do tempo passa a ser admirado por sua capacidade de trabalho e inteligência. Observado pelo Padre Cícero é aconselhado a arrendar terras na região onde pudesse trabalhar por conta própria. Seguindo o conselho recebido, José Lourenço aluga um sítio, pertencente a João de Brito numa localidade chamada Baixa da Anta na cidade do Crato.
 



José Lourenço em foto do livreiro Luis Maia.


Na nova paragem fez grandes plantações de macaxeira, feijão, cana de açúcar de açúcar e inúmeras fruteiras. Em virtude de sua fama de caridoso e acolhedor de pobres, logo seu sítio recebe grande quantidade de fanáticos que lá foram morar em busca de trabalho e religiosidade.

Uma ou duas vezes por mês, José Lourenço, juntamente com seus moradores, ia a Juazeiro assistir missas e visitar o Padre Cícero. Em uma de suas idas, recebeu do reverendo um boi Zebu, chamado Mansinho, para ser criado na Baixa da Anta.

O animal foi cuidado com todo zelo e carinho pelos fanáticos, mormente por se tratar de uma doação feita pelo “Santo Padim Cícero”, como gostavam de se referir ao sacerdote. Aos poucos, a estima dedicada ao Boi Mansinho foi se transformando em adoração. Os chifres eram adornados com flores e fitas; sua urina transformada em remédio milagroso e as pontas das unhas em amuletos.
 


Monsenhor Joviniano Barreto, pároco de Juazeiro, denunciava às autoridades eclesiásticas da região que na Baixada Anta os fanáticos estavam se desviando da ortodoxia da Igreja Católica, e se praticando o fetichismo em total heresia aos cultos da Santa Igreja.  Blog do Sanharol  


Dr. Floro Bartolomeu atendendo os anseios do Monsenhor e evitar críticas
da imprensa, pôs fim no totemismo ao prender o Beato José Lourenço e mandar sacrificar o Boi Santo na presença de muitos fanáticos.

Em 1926, João de Brito, cedendo às pressões, desfaz o acordo de arredamento do sítio Baixa da Anta forçando o Beato José Lourenço ocupar uma propriedade do Padre Cícero conhecida como Caldeirão dos Jesuítas também localizada na cidade do Crato.

Exatamente como antes procedera, o Beato José Lourenço juntamente com 300 famílias faz grandes plantações de algodão, imensos canaviais, constrói dois açudes, ergue uma capela e várias casas no novo assentamento. Tudo que era produzido pertencia a todos inexistindo um dono exclusivo.

Em 1934, com a morte do Padre Cícero, muitos os sertanejos desamparados de um líder foram ter guarida nas terras do Caldeirão. Se havia falta de emprego no Cariri, nas terras do Beato,ao contrário, todo mundo trabalhava e mais ainda: o que era plantado ou criado pertencia à coletividade inexistindo a figura do patrão.
 


No seu inventário, o Padre Cícero deixara todas as terras que lhe pertenciam para os padres salesianos. E como a Igreja já se pronunciara contra as distorções religiosas praticadas na comunidade do Beato Zé Lourenço e, principalmente, tendo receio que os fanáticos se apoderassem das terras ocupadas, o bispo procurou um meio de expulsá-los de lá.
  
Usando o prestígio do seu partido político, a LEC – Liga Eleitoral Católica – representantes da Igreja pressionaram o governo para extinguir a comunidade do Caldeirão sob o argumento de uma possível célula comunista.

Reunidos no Palácio da Luz em Fortaleza:



O Governador do Estado, Dr. Menezes Pimentel  


Juntamente com...


Secretário de Estado Andrade Furtado. 


O Chefe de Polícia Cordeiro Neto e o...
 

Bispo do Crato D.Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva 


Decidiram acabar com o Caldeirão. (01)

A primeira atitude tomada pelo Chefe de Polícia foi enviar dois agentes secretos ao Caldeirão para se inteirar da realidade. O primeiro era um agente civil que se infiltrou como fanático; o outro era o Capitão Zé Bezerra que se passando por industrial dizia estar ali com o intuito de instalar uma usina de beneficiamento de oiticica.

Depois de dias de observação, embora não tenha verificado a existência de armas, o relatório do militar classificava a situação como “perigosa” e era favorável a sua desativação em virtude do caráter comunista na distribuição dos lucros.

Em setembro de 1936, sob o argumento que a comunidade do Caldeirão, com mais de 1500 habitantes, era uma ameaça ao Estado, um contingente de 150 policiais foi enviado para a desocupação do lugarejo. Enquanto os pobres sertanejos abandonavam suas casas, o Capitão Zé Bezerra, nomeado interventor do arraial, ordenou o desarmamento dos moradores, sendo encontrado somente instrumentos de trabalho: enxadas, foices e machados. Em seguida, deu-se o prazo de cinco dias para os casados abandonarem o local e dois aos solteiros. Por último, a polícia queimou os casebres, os depósitos de algodão e víveres. Consta que saqueou todo bem que tivesse e liquidez imediata.

Foi precisamente durante sua permanência na direção do Caldeirão que Zé Bezerra cometeu duas faltas gravíssimas aos olhos dos fanáticos: a tortura praticada numa mulher em meio a um interrogatório sobre o paradeiro de José Lourenço e ter causado a morte do cavalo Trancelim animal preferido do Beato. A revolta dos moradores se transformou em ódio e num sentimento perpétuo de vingança.

Após a expulsão, os fanáticos se reagruparam sob o comando do Beato José Lourenço em um lugar inóspito na Serra do Cariri que englobava dois sítios: Mata dos Cavalos e Curral do Meio.
 
A Morte do Capitão Zé Bezerra 


José Gonçalves Bezerra era reconhecidamente um homem bravo, corajoso, experiente policial, sendo o oficial escolhido pela Polícia Militar para combater o cangaço no Estado na segunda e terceira décadas do século translato.

A literatura cearense é pródiga em referência sobre o José Bezerra. Otacílio Anselmo eminente escritor caririense, oficial da polícia e contemporâneo do Capitão, o descreve como “(...) policial arbitrário e cruel”. O autor de “O Padre Cícero – Mito e Realidade” – diz ter presenciado uma surra aplicada por aquele policial em um cabo da polícia dentro do quartel da capital. (02).

Nertan Macedo, outro escritor, define o Capitão Zé Bezerra como “(...) um dos maiores bandidos autoridades que se teve notícias no Ceará.”. (03)

É bem verdade que na incessante procura a pistoleiros e cangaceiros no Ceará, verificada entre os anos de 1920 a 1930, coube na época aos Tenentes Peregrino Montenegro e Zé Bezerra a missão de exterminar banditismo no interior do Estado.

Ressalte-se que foi sob o comando de Zé Bezerra que ocorreu a “Tragédia das Guaribas”, onde Chico chicote e seus companheiros foram trucidados em 1927 em Brejo Santo - CE.



 

Ruínas da casa de Chico Chicote. Fotos de Manoel Severo. 


Entretanto, em que pese os inúmeros riscos de vida passados nas refregas contra cangaceiros, foi durante a pacífica tomada do Caldeirão em 1936, que o Capitão Zé Bezerra cometeu dois graves erros, os quais foram fundamentais para a execução de sua morte no ano seguinte. O primeiro, quando em um interrogatório sobre o paradeiro do Beato José Lourenço, Bezerra usou de meios torturantes ao queimar os seios de uma mulher com o charuto que fumava. O outro, talvez o mais grave aos olhos dos crentes, quando sob o efeito de bebida alcoólica, cavalgou o Trancelim, cavalo de estimação do Beato. Durante toda noite percorreu a região, açoitando o animal e às carreiras passava pelas ruelas do arraial. Recolhido à estrebaria, exausto o cavalo viria a morrer no outro dia. Ressalte-se que havia a crença entre os fanáticos, aceita como a mais pura verdade, que ao morrer o Beato subiria aos céus montado no Trancelim. O Capitão Zé Bezerra cometeu a heresia de profanar a religiosidade daquele povo.

Tempos depois, quando já ocupavam a Mata dos Cavalos, os moradores se dividiam em duas correntes de pensamento. De um lado, sob o comando teocrático e pacifista de José Lourenço, pregava-se o perdão aos responsáveis pela diáspora do grupo. Do outro, sob a liderança político-militar de Severino Tavares, clamava-se pela vingança e a reconquista do Caldeirão.

Os seguidores de Severino Tavares nutriam e armazenavam um ódio e um desejo de vindita contra o Capitão José Bezerra. Para a consecução de seu intento, tramaram um plano arrojado e inteligente que seria o de atrair o militar à Mata dos Cavalos e assassiná-lo! Uma cilada foi tramada e posta em prática.

Em maio de 1937, apareceu no quartel da polícia em Juazeiro um cidadão de nome Sebastião Marinho a procura do Capitão José Bezerra para apresentar uma queixa. Ao ser atendido pelo militar, informou que suas terras haviam sido invadidas pelos fanáticos do Beato José Lourenço e que é conhecedor de um plano de Severino Tavares de invadir e saquear a cidade do Crato. Embora muito experiente, o Capitão de nada desconfiou e tomou somente uma providencia antes da diligência: o querelante teria que ir com a polícia ao local.
 

No dia 10 de maio de 1937, formou-se uma volante com objetivo de ir a Mata dos Cavalos assim estruturada:
1 - Capitão José Bezerra
2 - 1º Sargento Anacleto Gonçalves Bezerra
3 - 2º Sargento José Marcolino Brasileiro
4-  2º Sargento Marcelino
5 - 3º Sargento Jaime Olimpio Rocha
6 - Cabo Benigno Gomes
7-  Soldado Raimundo Pereira
8 - Josafá Torquato Gonçalves
9 - Soldado José Dantas (Corneteiro)
10 - Soldado Eugênio Cesário da Silva
11 - Soldado Álvaro Gomes Bezerra (03)
  
Ressalte-se que o sargento Anacleto e o soldado Álvaro eram filhos do Capitão.

Ao constatar o pequeno número de policiais destacado para a missão, Sebastião Marinho, talvez com o intuito de despistar suspeita, disse: •.
  - “Capitão, os soldados são pouco...”.
  Talvez por ser conhecedor do caráter pacifista dos fanáticos e ignorar a nova faceta belicista no grupo, respondeu:
  - “São suficientes.”

Partindo em cima de um caminhão cedido pela prefeitura de Juazeiro passaram pela delegacia do Crato, onde o Capitão foi alertado pelo tenente João Lima, comandante do destacamento daquela localidade, sobre o pequeno número de soldados. Mais uma vez o José Bezerra dispensou ajuda.

Ao chegar perto do local destinado, O Capitão Zé Bezerra mandou parar o carro e ordenou que os policiais entrassem em forma. Em seguida, deu alguns esclarecimentos e ordenou que o sargento Marcelino e soldado Cesário ficassem guarnecendo o caminhão. Aos demais, que o seguissem.

Adentraram por uma vereda que dava acesso ao arraial. Em dado momento, inesperadamente saiu de dentro de um espesso matagal uma mulher correndo. Com receio que ela fosse avisar aos fanáticos, o Capitão com o grupo saiu em sua perseguição.

Eis que inopinada e inesperadamente os militares são cercados e atacados ferozmente por vários fanáticos, surgidos como fantasmas do meio da mata, armados de cacetes e foices.

Em poucos minutos, jaziam inertes Capitão Zé Bezerra, sargento Anacleto, cabo Benigno e o soldado Josafá.

Do caminhão se ouviu o estampido de tiros oriundos da mata. O soldado Cesário falou para o sargento Marcelino:
  - “O Capitão foi atacado, sargento”.
  “Tenho pena do Capitão, mas ele foi avisado que os soldados eram insuficientes” Respondeu.
  Cinco minutos depois Cesário viu um vulto se arrastando pelo mato: era o sargento José Olímpio sangrando e com golpes profundos na cabeça. Arquejando, a vítima disse:
  -“Não deixem que os bandidos acabem de me matar...”.
  Logo após, ouviram uns novos gemidos. Era o sargento Marcolino com alguns soldados feridos.
  - “Fomos atacados de surpresa. Vi o Capitão estirado no chão e o Anacleto também. Acho que morreram.” - Disse Olímpio.

O sargento Marcelino reuniu os soldados capazes de se moverem, mesmo os feridos em pequena gravidade, e foram ao encontro do Capitão. Lá se depararam com um quadro tenebroso: com a cabeça esfacelada, ainda segurando o parabelum, jazia morto o Capitão Zé Bezerra. Ao seu lado, o filho Anacleto. Mais adiante o corpo do cabo Benigno, e do soldado Josafá e mais três cadáveres de fanáticos.

Assim morreu como viveu o bravo militar: da maneira mais trágica e cruel. Morreu como um dia lhe dissera Severino Tavares:

-“O senhor, Capitão, vai pagar caro o couro de Trancelim!” (04). 


N O T A S


01 - João Xavier de Holanda – Polícia Militar do Ceará em Meio Século de República 1939 Vol. 3 pág. 47. Editora INESP. Fortaleza 2003.
02- Otacílio Anselmo e Silva. Brejo Santo sua história e sua gente – A Tragédia de Guaribas pág.190. Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Fortaleza 1981.
03 - N.A. A relação completada dos componentes da volante policial nos foi fornecida pelo sargento Eugênio Cesário da Silva, na cidade de em Juazeiro do Norte em 1981. Em1937, Cesário era soldado da Polícia Militar e esteve presente no massacre dos policiais.
04 - João Xavier de Holanda, O.c.pág.58.

BIBLIOGRAFIA

HOLANDA, João Xavier. Polícia Militar do Ceará em meio século de república 1889-1939
Fortaleza. Editora INESP ,2003

SILVA, Otacílio Anselmo. Brejo Santo sua história e sua gente – Tragédia de Guaribas
Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Fortaleza 1981.

Pesquei em
História de Juazeiro


Foto de Menezes Pimentel: blog fortaleza nobre
Foto de Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva: Arquivo particular do Diácono Policarpo Rodrigues.


Este é trasladei do blog: "Lampião Aceso" 

Um Poema Espírita

O Pior dos Erros Médicos


Por José Cícero

...E o doutor sumo – especialista
pleno de sua arrogância
adentrou o quarto.
Vestido em seu impecável jaleco branco.
Tinha a aparência dos anjos para o moribundo.
Um lenitivo. Um refrigério...
Certamente a última esperança que lhe prendia a vida.
E de cabotino durão, com sede de ouro para todo o resto
pensava o esculápio em sua conta bancária.
- Preciso ganhar dinheiro!
E assim, envergou seu bisturi ligeiro
na direção do paciente desfalecido.
Decúbito dorsal.
Riscou a geografia daquele corpo inerte sobre a maca fria.
Seguira sem pestanejar seu padrão gregário.
Na mais pura e desumana das intenções.
Mais uma vitória da cruel mesmice
sobre a boa prática da caridade alheia.
Faltava ao médico acreditar na vida
pelo ângulo verdadeiro.
Porém a esperança dos otimistas
Esperava piamente, por seu gesto digno.
Pela fina Lâmina afiada do monetarista.
Uma incisão. Um corte longitudinal.
Sangue sobre o lençol igualzinho o dele.
Lâmina tênue do instrumental.
Deslizando sobre a carne viva do paciente
como ele próprio, organicamente calmo,
cheio de paciência e de pecado.
Enfim, rasgou-se a pele do tecido humano.
Faca de Hipócrates de Cós
adentrando a carne fraca da pobre alma.
Um Paracelso pós-moderno.
Às avessas.
Neo-açougueiro insensível.
Louco por cobre e por dinheiro.
Mas de repente,
Não mais que de repente.
Ele parou no meio do caminho.
Pensou por um instante decisivo.
- Preciso ganhar dinheiro!
O corte aberto como um buraco negro
sobre o corpo do seu paciente desfalecido.
Mas, 'no meio do caminho tinha uma pedra'.
Quando soube que o moribundo não tinha posses.
Apenas não sabia o tal doutor,
que todo conhecimento a Deus pertence.
Que toda ciência emana dos céus.
Contudo, muito mais doente
que o moribundo homem que ele cortava
estava o cristianismo mundano com aquilo.
Ignominioso fato.
Mas, mesmo abortando o cirúrgico ato
o tal médico anticristão do mundo
continuará riscando para sempre,
como um castigo explícito
com seu bisturi monetário
sobre a sua própria carne
ainda mais patológica e claudicante,
os limites contraditórios
daquele seu ato triste e falho.
Mas que não fora o primeiro.
Quiçá em sua própria face
cheia de pus, pecados e micróbios...
O médico ainda assim seguirá cortando
o tecido frágil do imponderável mistério.
Naquele instante - teve um estalo: sonhara ser político.
Pensou ele:
- Isso é mágico. Quem não tem dinheiro paga com o voto.
E em dívida com seu humanismo sedentário
Decerto, além, noutro plano.
Pagará em dobro ele próprio, o maior dos preços.
Pelo seu lamentável procedimento.
Assim como todos(que como ele) não operaram a feitura do bem
no tempo devido aos pobres.
Não elegendo a caridade como o farol da vida eterna.
Todos os que optaram pelo monumental contra-senso
entre o ético e o científico.
A vida e o dinheiro.
Uma contradição perante o seu compromisso ético.
E a operação ainda segue a sua lógica tosca e fria:
Onde quem pode pagar – Vive.
E quem não pode, à míngua – Morre.
Pobres médicos, estes, que mesmo doentes
ainda não se deram conta
que no além-fronteira da vida não há moeda,
malgrado todo o dinheiro que juntaram
talvez não encontrem sequer quem os operarem
dos grandes males que acumularam.
 

Por José Cícero - In Poemas Inéditos(2011) D.R

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Provérbio Nordestino

Padre Airton Freire

  

PENSAMENTO DESTEMPERADO É CANCELA ABERTA PRA TODO PREJUÍZO. DIZER A VERDADE NÃO É AMAR FUXICO, JÁ DIZIA MEU COMPADRE CIÇO.


O padre Airton Freire de Lima, nasceu de uma família pobre em 29 de dezembro de 1955, em São José do Egito (PE). Estudou Filosofia e Teologia no Instituto de Teologia do Recife (ITER) e Psicologia na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (PE).

Foi ordenado sacerdote pela Diocese de Pesqueira (PE), em 13 de fevereiro de 1983. Fez formação Analítica no Centro de Estudos Freudianos em Recife e Pós Graduação na Metodologia de Ensino criada por Paulo Freire, pela Universidade Estadual do Ceará.

A Fundação Terra, uma organização que ajuda pessoas pobres da cidade de Arcoverde, no Sertão do Estado de Pernambuco. A entidade foi criada para ajudar pessoas pobres que viviam no lixão da cidade.


Fontes:
Ascom/TC-AL
Blog do Juarez Morais

LEMBRAR É PRECISO

CONVITE PARA CONVERSAR SOBRE CANGAÇO E OUTROS TEMAS NORDESTINOS


By Rostand Medeiros
Rostand Medeiros, João de Sousa Lima e Juliana Ischiara
Amigos estudiosos do cangaço, coronelismo, misticismo, marca encontro no centro da Praça de Alimentação do Midway Mall, às 19:00 horas da próxima quarta-feira, dia 24 de Agosto, para criar grupo de estudo dedicado ao assunto.
Todos que se interessarem pelos temas são convidados e benvindos.

Lá estarão, dentre outros:

Múcio Procópio,
Photo 
 Rostand Medeiros
[Honório+lindo+026.jpg]
 Honório Medeiros,
Epitácio Andrade e Isaura Rosado
Epitácio Andrade,
Dr. Ivanildo Alves da Silveira, Ângelo Dantas...
A ideia é a criação de um calendário de reuniões, pauta de temas, locais de encontro e ampliação do movimento.

Qualquer dúvida por intermédio dos e-mails:
Posso garantir que estarei lá...

Todos ficarão honrados com a sua presença.


Rostand Medeiros é:

Pesquisador na área de História, com artigos publicados nos jornais Tribuna do Norte, Novo Jornal e na revista cultural Preá. Autor do livro "João Rufino-Um Visionário de Fé" (2011), sobre a biografia do criador do Grupo Santa Clara/3Corações, a maior empresa de torrefação de café do Brasil. Coautor do livro Os Cavaleiros dos Céus - A Saga do Voo de Ferrarin e Del Prete (2009), apoiado pela Embaixada da Itália no Brasil, Força Aérea Brasileira e Universidade Potiguar. Consultor do SEBRAE no projeto “Território Sertão do Apodi – Nas Pegadas de Lampião”. Membro do IGRN (Instituto de Genealogia do RN) e SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço). Técnico em Turismo, atua há mais de 15 anos na área. Fundador da SEPARN – Sociedade para Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental do Rio Grande do Norte, entidade que atuou em parceria com o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis na preservação do patrimônio espeleológico do RN.


Contatos:
rostandmedeiros@gmail.com /
 (84) 9904 3153 / (84) 3231 0222.


Nuvens de Areia no Estados Unidos

Tempestade de Areia bagunça os Estados Unidos

Nuvem de areia atingiu a cidade de Phoenix, no Arizona // Reuters (Reuters)




 
Uma nova tempestade de areia atingiu cidades do Estado do Arizona, nos Estados Unidos. É a terceira "nuvem" do tipo em apenas um mês. A pouca visibilidade prejudicou pedestres, motoristas e atrasou voos...

O pacto dos governantes para eliminar os cangaceiros Parte II

Por: Honório de Medeiros


O que nos diz Fenelon Almeida acerca da morte de Jararaca? Não obstante as dores fortes que sentia, Jararaca (em foto jovem ao lado) dava sinais evidentes de que iria sarar dos graves ferimentos recebidos.


Vinha aos poucos melhorando. Seu organismo resistia de maneira surpreendente. E ISSO PASSOU A PREOCUPAR AS AUTORIDADES POLICIAIS DE MOSSORÓ. POR TEMOR ou por simples espírito de vingança, preferiam que ele morresse de vez, sem apelação. Que desaparecesse de Mossoró. Não queriam mais tê-lo ali nem uma semana.


O TENENTE LAURENTINO DE MORAIS TINHA IDO A NATAL, DE ONDE REGRESSOU NO DIA SEGUINTE (com quem teria estado ele?). A partir de sexta-feira, dia 17, começou a circular pela cidade a notícia de que o ainda temível cangaceiro seria transferido de Mossoró para Natal – uma informação lacônica, desacompanhada de qualquer comentário ou explicação da medida.

Sérgio Dantas, novamente: Até hoje ignora-se de onde ou de quem partiu a ordem para o extermínio do cangaceiro. Importante, para a compreensão da possibilidade desse pacto, é a leitura da carta publicada por Manoel Alves do Nascimento, enviada por Paulo Fernandes, filho de Rodolfo Fernandes, em 15 de setembro de 1963, ao escritor Nertan Macedo, que pela sua importância vai transcrita integralmente, sem ser editada:

"Limo. Sr. Nertan Macedo
Rio de Janeiro (GB)

Na qualidade de filho de Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins, prefeito de Mossoró, RN, por ocasião do assalto de Lampião àquela cidade, tendo deparado à página 213, linhas 20/21 do seu livro ‘Capitão Virgulino Ferreira Lampião’ com uma afirmativa que não corresponde a verdade, cumpro o dever de refutá-lo e solicitar de V. SA. as providências que o caso requer. De V. SA. referindo-se à Jararaca, que ‘de madrugada, um conselho local, reunindo elementos de maior destaque da municipalidade, decidiu pela morte do bandido’.



Jamais ouvira falar em tal reunião nem também ouvira imputar a elementos da municipalidade a decisão de eliminar o bandido Jararaca. Quando ocorreu o assalto de Lampião (13 de junho de 1927), encontrava-me no Rio cursando o 6° ano de medicina. Menos de quatro meses depois meu pai veio a esta capital e aqui faleceu a 10 de outubro, tendo conversado comigo sobre os dramáticos acontecimentos e não me declarou entretanto ter mandado matar Jararaca. Posteriormente ouvi pessoas de minha família e também estranhos sobre os referidos acontecimentos e nunca ouvi qualquer coisa que induzisse pelo menos a um indício de verdade na afirmação de V. SA. Deliberei entretanto em viajar recentemente até Mossoró para investigar melhor o assunto. Falei a várias pessoas, homens honrados, alguns dos quais tomaram parte na defesa da cidade e de nossa residência e todos unanimemente repudiam a versão do seu livro. Embora cumpra a V.SA. e não a mim provar o alegado. Apresso-me em aduzir alguns comentários que esclarecem o assunto. Vejamos alguns fatos e circunstâncias em que se desenrolaram os acontecimentos em exame.

1 – As forças policiais, sediadas em Mossoró, obedeciam ao comando do oficial Abdon Nunes;
2 – O Governador do Rio Grande do Norte, Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros e o seu chefe de polícia, Desembargador Manoel Benício de Melo, estavam à época, em franco dissídio com o prefeito de Mossoró (meu pai);
3– Segundo consta, as autoridades estaduais não acreditavam que Lampião atacaria Mossoró e por isso não enviaram, com antecedência, forças suficientes para defesa da cidade;
4 – O Sr. Mirabeau Melo, chefe da repartição do telégrafo em Mossoró era irmão do chefe de polícia, e atuava como informante das coisas locais e porta voz do governo era um medíocre intrigante, inadequado para a missão que o destino lhe reservou pois tanto o governador do estado e seu chefe de polícia como o prefeito de Mossoró eram homens de bem e do mesmo partido político de modo só se compreende o dissídio entre eles em torno do problema de interesse público em virtude da ação maléfica de mexeriqueiros;

Governador José Augusto Bezerra de Medeiros

5 – As advertências à população e providências tomadas por meu pai eram exploradas pela oposição até com o ridículo. Chamavam-no por exemplo de velho medroso por se preocupar com um possível ataque de Lampião à cidade;
6 – Quando porém se tornou certo o ataque e o pânico dominou a cidade nossa casa foi procurada como refúgio por alguns desses detratores. Segundo relato que me fez nosso motorista, José de Paula, já falecido, que assistiu à cena, um comerciante de alta projecção local, José Martins Fernandes ajoelhou-se aos pés de meu pai e lhe pediu perdão da campanha que movera e lá ficou, em nossa casa, perdoado, inerte e inútil, durante toda a luta;
7 – O telegráfo nem sempre foi voraz[15]. Recordo-me ainda de ter lido os telegramas vindos de Mossoró e retransmitidos de Natal para Juvenal Lamartine, governador eleito para o Rio Grande do Norte por eles ficava-se com a impressão de que Lampião dominará a cidade;
8 – Jararaca, preso, recusou o alimento que lhe fornecia o xadrez e declarou que só comeria comida da casa do prefeito. Minha mãe enviou leite para sua alimentação. Houve censura e comentários por essa atitude.
9 – Boatos, intrigas políticas dominavam o ambiente apesar de que houvesse o real perigo de um novo assalto;
10 – Corriam porém ameaças de que o governo cogitava de desarmar os civis que eram afeiçoados a meu pai embora houvessem defendido à cidade e fossem todos homens pacatos em Mossoró não havia nem nunca houve o hábito do rifle;
11 – Jararaca dissera ou mandara dizer ao meu pai que desejava falar-lhe em particular. Até hoje não se sabe o que ele pretendia dizer pois foi massacrado na noite que seguiu;
12 – Pessoas fidedignas que conviveram com meu pai disseram-me agora que ele na intimidade reprovou a morte de Jararaca;
13 - Alega-se que se meu pai tivesse tido conhecimento prévio do massacre projetado teria se apressado em ir ao encontro solicitado por Jararaca pois no consenso de muitos, este desejava, no mínimo, revelar onde estava escondido seu dinheiro ou fazer qualquer revelação a respeito de Lampião, por vingança, pois ele não acudiu aos seus rogos para que o levasse ferido, deixando à margem de um desvio ferroviário rente aos fundos de nossa casa;
14 – Ainda está vivo um dos soldados da escolta que abateu Jararaca. É o Sr. João Arcanjo, hoje funcionário da prefeitura de Mossoró. Não o ouvi por escrúpulo. Deve ter sido um mero instrumento a cumprir ordens de algum superior sem nada saber nem poder se insurgir contra as mesmas;
15 – Sabe-se ainda que o Sr. Amaro Silva, agrônomo, funcionário do Ministério da Agricultura, cortou as orelhas de Jararaca e levou-as para Natal para exibi-las às autoridades.
As circunstâncias e fatos narrados induzem a conclusão de ser pura invencionice afirmativa de que ‘um conselho local, reunindo elementos de maior destaque da municipalidade, decidiu pela morte do bandido.’
Os fatos devem ter ocorrido de outro modo.


Continua...

Honório de Medeiros

honoriodemedeiros.blogspot.com

Desafio do Blog do Sanharol - (106 - 2011)


Blog do Sanharol
 
 
Quem é o galã?
 
E... não sei se essa moda do "Corte de Cabelo" era antes ou depois do Pigmaleão 70"!
 
Em que local é a foto?


Está dado o seu recado, Magnólia Fiúza

"Blog do Mendes e Mendes"



Lembra disso ? Vem comigo...

 
Grande Cariri, terra mágica, encantadora e encantada, terra minha, terra sua, terra nossa... terra do Cariri Cangaço!

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em 2009 foi dada a largada para esta grande festa da cultura, da memória e história do nordeste, nascia o Cariri Cangaço...

 
 
 
 
 
 

 
 
Todos os personagens marcaram a primeira edição; suas histórias, experiências, expressões, foram determinantes para a construção deste evento; pensado para acima de qualquer coisa; unir a grande família dos apaixonados pelo nordeste...
 
 
 
Por enquanto é só... e vamos contando juntos: Só faltam 32 dias para o Cariri Cangaço 2011, venha você também fazer parte dessa história!

O pacto dos governantes para eliminar os cangaceiros Parte I

Por: Honório de Medeiros 


Teria havido um pacto entre os governadores para a eliminação física dos cangaceiros, sem que lhes fosse dado o direito de responderem processo ante a Justiça? O estudo dos autores e os indícios levam a crer que sim.

Houve uma reunião em Recife, no dia 28 de dezembro de 1926, entre os chefes de polícia dos estados do Nordeste, cujo teor não pôde ser vazado para a imprensa em decorrência do seu caráter reservado e das medidas de ordem interna que estavam sendo tomadas e não podiam ser reveladas. O Governador anfitrião, Estácio Coimbra, na abertura do conclave, fizera críticas contundentes aos coronéis do interior e sua complacência com o banditismo.


Estácio Coimbra

E já havia tomado algumas medidas radicais no combate ao cangaceirismo: nomeara, a 16 de novembro daquele ano, o Major


Teófanes Ferraz Torres para comando geral das unidades policiais de cidades e vilas no interior do Estado e lhe dera “carta branca” para atacar o principal suporte dos cangaceiros, através da eliminação ou redução drástica de seus coiteiros, mesmo que para isso fosse necessário prender e torturar, como de fato foi feito ao longo dos anos seguintes.


Frederico Pernambucano de Mello, comenta o encontro: "Daí para a idéia da promoção de novo encontro ia apenas um leve passo. Ele é dado logo a 28 de dezembro desse ano com a reunião, mais uma vez no Recife, de representantes dos Estados atingidos pela ação do banditismo – os tradicionais, como os mais recentes – de modo especial a que decorria do comando superiormente engenhoso de Lampião.

Da Paraíba, freguesa antiga do bandido, chega o chefe de polícia, Júlio Lira; do Ceará, Paes de Carvalho; do Rio Grande do Norte, Benício Filho. Pernambuco se faz representar pelo chefe de polícia, Eurico de Souza Leão, e pelo secretário de Justiça, Genaro Guimarães. (...) Alagoas, Ernande Teixeira Bastos; (...) Madureira de Pinho, chefe de polícia da Bahia.

Vamos aos indícios: no Rio Grande do Norte, Sérgio Dantas relata o episódio da morte de Mormaço e Bronzeado: Mossoró, 12 de março. A cadeia pública passava por minuciosa revista. Prisioneiro recambiado para a cidade de Apodi deu conta às autoridades de plano de fuga encabeçado pelos cangaceiros Mormaço e Bronzeado. O objetivo da empreitada – segundo o delator – seria o aprisionamento do carcereiro e a tomada das armas depositadas no paiol.  A polícia não titubeou e investigou sumariamente a denúncia. Descobriu sinais de arrombamento em porão localizado no setor norte do presídio. Sem maiores rodeiros, responsabilizou os dois cangaceiros por tentativa de fuga e os imobilizou à força de algemas. Na manhã seguinte decidiu-se pelo encaminhamento dos prisioneiros para a capital. O tenente Laurentino ficou encarregado de facilitar o transporte. Além de Mormaço e Bronzeado, seriam de igual recambiados os criminosos Thomaz dos Santos e Waldemar Ramos, presos comuns, detidos há meses na cidade salineira.

Massilon, Lampião e Sabino

A ordem de transferência para Natal – segundo insinuações surgidas no período subseqüente à eclosão do movimento revolucionário de 1930 – partira do Governo do Estado, ainda na véspera. Fato concreto, imaculado de dúvidas, é que a transferência em discussão foi efetivamente autorizada. Entre Mossoró e Açu, no Sítio Lagoa Cerrada, os bandoleiros encontraram a morte. Foram fuzilados. Não se chegou, à época, a ser apresentada à sociedade civil versão verossímil para o caso. Durante o governo revolucionário de 1930, entretanto, foi aberto Inquérito para apurar os extermínios de criminosos, inclusive cangaceiros. O Tenente Abdon Nunes – não se sabe a que pretexto – chamou para si toda a culpa pelos assassinatos. Isentou o Governo do Estado de qualquer responsabilidade. Durante interrogatório, disse, textualmente: ‘Não recebi ordens de ninguém. E diga ao Chefe de Polícia que tive pena de não ter podido matar os outros’.

No Ceará a imprensa reagiu à chacina, em tudo e por tudo realizada nos moldes utilizados para a morte de Jararaca, Bronzeado e Mormaço, comandada pelo Sargento José Antônio do Nascimento, do cangaceiro Lua Branca e quatro comparsas, remanescentes do bando de João Vinte e Dois: “Os grandes responsáveis são os poderosos e tranqüilos mandantes dessas tropelias dos cangaceiros. São vendedores de armas e munições. São os compradores solertes dos produtos de cada assalto”.

O que nos diz Fenelon Almeida acerca da morte de Jararaca? Não obstante as dores fortes que sentia, Jararaca dava sinais evidentes de que iria sarar dos graves ferimentos recebidos. Vinha aos poucos melhorando. Seu organismo resistia de maneira surpreendente. E ISSO PASSOU A PREOCUPAR AS AUTORIDADES POLICIAIS DE MOSSORÓ. POR TEMOR ou por simples espírito de vingança, preferiam que ele morresse de vez, sem apelação. Que desaparecesse de Mossoró. Não queriam mais tê-lo ali nem uma semana. O TENENTE LAURENTINO DE MORAIS TINHA IDO A NATAL, DE ONDE REGRESSOU NO DIA SEGUINTE (com quem teria estado ele?). A partir de sexta-feira, dia 17, começou a circular pela cidade a notícia de que o ainda temível cangaceiro seria transferido de Mossoró para Natal – uma informação lacônica, desacompanhada de qualquer comentário ou explicação da medida.

Cangaceiro Jajaraca recolhido na cadeia de Mossoró

Sérgio Dantas, novamente: Até hoje ignora-se de onde ou de quem partiu a ordem para o extermínio do cangaceiro. Importante, para a compreensão da possibilidade desse pacto, é a leitura da carta publicada por Manoel Alves do Nascimento, enviada por Paulo Fernandes, filho de Rodolfo Fernandes, em 15 de setembro de 1963, ao escritor Nertan Macedo, que pela sua importância vai transcrita integralmente, sem ser editada:
"Limo. Sr. Nertan Macedo
Rio de Janeiro (GB)

Na qualidade de filho de Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins, prefeito de Mossoró, RN, por ocasião do assalto de Lampião àquela cidade, tendo deparado à página 213, linhas 20/21 do seu livro ‘Capitão Virgulino Ferreira Lampião’ com uma afirmativa que não corresponde a verdade, cumpro o dever de refutá-lo e solicitar de V. SA. as providências que o caso requer. De V. SA. referindo-se à Jararaca, que ‘de madrugada, um conselho local, reunindo elementos de maior destaque da municipalidade, decidiu pela morte do bandido’.

Jamais ouvira falar em tal reunião nem também ouvira imputar a elementos da municipalidade a decisão de eliminar o bandido Jararaca.Quando ocorreu o assalto de Lampião (13 de junho de 1927), encontrava-me no Rio cursando o 6° ano de medicina. Menos de quatro meses depois meu pai veio a esta capital e aqui faleceu a 10 de outubro, tendo conversado comigo sobre os dramáticos acontecimentos e não me declarou entretanto ter mandado matar Jararaca. Posteriormente ouvi pessoas de minha família e também estranhos sobre os referidos acontecimentos e nunca ouvi qualquer coisa que induzisse pelo menos a um indício de verdade na afirmação de V. SA.  Deliberei entretanto em viajar recentemente até Mossoró para investigar melhor o assunto. Falei a várias pessoas, homens honrados, alguns dos quais tomaram parte na defesa da cidade e de nossa residência e todos unanimemente repudiam a versão do seu livro. Embora cumpra a V.SA. e não a mim provar o alegado. Apresso-me em aduzir alguns comentários que esclarecem o assunto. Vejamos alguns fatos e circunstâncias em que se desenrolaram os acontecimentos em exame.

Trincheira da casa de Rodolpho Fernandes


1 – As forças policiais, sediadas em Mossoró, obedeciam ao comando do oficial Abdon Nunes;

2 – O Governador do Rio Grande do Norte, Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros e o seu chefe de polícia, Desembargador Manoel Benício de Melo, estavam à época, em franco dissídio com o prefeito de Mossoró (meu pai);
3 – Segundo consta, as autoridades estaduais não acreditavam que Lampião atacaria Mossoró e por isso não enviaram, com antecedência, forças suficientes para defesa da cidade;

4 – O Sr. Mirabeau Melo, chefe da repartição do telégrafo em Mossoró era irmão do chefe de polícia, e atuava como informante das coisas locais e porta voz do governo era um medíocre intrigante, inadequado para a missão que o destino lhe reservou pois tanto o governador do estado e seu chefe de polícia como o prefeito de Mossoró eram homens de bem e do mesmo partido político de modo só se compreende o dissídio entre eles em torno do problema de interesse público em virtude da ação maléfica de mexeriqueiros;
5 – As advertências à população e providências tomadas por meu pai eram exploradas pela oposição até com o ridículo. Chamavam-no por exemplo de velho medroso por se preocupar com um possível ataque de Lampião à cidade;

6 – Quando porém se tornou certo o ataque e o pânico dominou a cidade nossa casa foi procurada como refúgio por alguns desses detratores. Segundo relato que me fez nosso motorista, José de Paula, já falecido, que assistiu à cena, um comerciante de alta projecção local, José Martins Fernandes ajoelhou-se aos pés de meu pai e lhe pediu perdão da campanha que movera e lá ficou, em nossa casa, perdoado, inerte e inútil, durante toda a luta;
7 – O telegráfo nem sempre foi voraz[15]. Recordo-me ainda de ter lido os telegramas vindos de Mossoró e retransmitidos de Natal para Juvenal Lamartine, governador eleito para o Rio Grande do Norte por eles ficava-se com a impressão de que Lampião dominará a cidade;

8 – Jararaca, preso, recusou o alimento que lhe fornecia o xadrez e declarou que só comeria comida da casa do prefeito. Minha mãe enviou leite para sua alimentação. Houve censura e comentários por essa atitude.
9 – Boatos, intrigas políticas dominavam o ambiente apesar de que houvesse o real perigo de um novo assalto;

10 – Corriam porém ameaças de que o governo cogitava de desarmar os civis que eram afeiçoados a meu pai embora houvessem defendido à cidade e fossem todos homens pacatos em Mossoró não havia nem nunca houve o hábito do rifle;
11 – Jararaca dissera ou mandara dizer ao meu pai que desejava falar-lhe em particular. Até hoje não se sabe o que ele pretendia dizer pois foi massacrado na noite que seguiu;
12 – Pessoas fidedignas que conviveram com meu pai disseram-me agora que ele na intimidade reprovou a morte de Jararaca;
13 - Alega-se que se meu pai tivesse tido conhecimento prévio do massacre projetado teria se apressado em ir ao encontro solicitado por Jararaca pois no consenso de muitos, este desejava, no mínimo, revelar onde estava escondido seu dinheiro ou fazer qualquer revelação a respeito de Lampião, por vingança, pois ele não acudiu aos seus rogos para que o levasse ferido, deixando à margem de um desvio ferroviário rente aos fundos de nossa casa;
14 – Ainda está vivo um dos soldados da escolta que abateu Jararaca. É o Sr. João Arcanjo, hoje funcionário da prefeitura de Mossoró. Não o ouvi por escrúpulo. Deve ter sido um mero instrumento a cumprir ordens de algum superior sem nada saber nem poder se insurgir contra as mesmas;
15 – Sabe-se ainda que o Sr. Amaro Silva, agrônomo, funcionário do Ministério da Agricultura, cortou as orelhas de Jararaca e levou-as para Natal para exibi-las às autoridades.
As circunstâncias e fatos narrados induzem a conclusão de ser pura invencionice afirmativa de que ‘um conselho local, reunindo elementos de maior destaque da municipalidade, decidiu pela morte do bandido.’
Os fatos devem ter ocorrido de outro modo.

Honório de Medeiros e Manoel Severo

Ouvi a respeito do Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros e ele me respondeu que o Jararaca morrera na luta. É cedo para esclarecer o caso. Ainda estão vivas pessoas envolvidas direta e indiretamente no assunto. Há ainda descendentes próximos de outros. Seria tarefa subversiva agitar agora essa questão. Meu objetivo é apurar os fatos, senão a bem da verdade e da memória de meu pai refutar a imputação que indiretamente lhe foi feita. Assim como é importante entender os “bastidores” da morte de Chico Pereira, através da leitura de Adauto Guerra Filho: Apesar de ser uma história longa e complexa, não é difícil entender a razão de tanta contradição. Em primeiro lugar, levemos em consideração uma informação do livro ‘Vingança, Não’ de F. Pereira Nóbrega, o qual diz que os dois Presidentes de Província, Dr. Juvenal Lamartine, então Presidente do Rio Grande do Norte, e João Suassuna, Presidente da Paraíba, fizeram um pacto de morte no dia 18.08.1928. Isto assim se explica: O Presidente da Paraíba não queria entrar em choque com o recém-eleito Cel. João Pessoa, que dera a Chico garantia de liberdade. Então idealizou uma forma de condená-lo fora do Estado. Ele bem sabia que cangaceiro no Rio Grande do Norte tinha vida curta e, por isso, oportunamente se aproveitou do assalto à casa do Cel. Quincó para idealizar uma forma de incriminar Chico Pereira[18]. Isto aconteceria ao induzir o bandido principal, Antônio Jerônimo, conhecido por Antônio Chofer, a dizer que Chico estava entre eles. Pessoas maliciosas vão mais além, afirmando que o assalto fora programado, tanto é que, logo após a ida de Chico para a detenção, em Natal, Antônio Chofer caiu no desinteresse da Justiça, inclusive sendo solto e ficando no anonimato.

Outro fato curioso que nos induz a pensar que o assalto foi programado é o excessivo interesse de Antônio Suassuna – o Tonho, sobrinho do Presidente da Paraíba, pela ‘liberdade’ de Chico Pereira. Ele próprio hospedou Chico em sua casa, na Fazenda Cajueiro, no município de Catolé do Rocha. Ali chegando, Chico foi alvo de sua atenção, havendo Tonho servido de mediador entre ele e João Pessoa, ao levá-lo à presença do Presidente eleito. Naquela ocasião, Tonho convenceu Chico de que, após o júri em Princesa, nada mais lhe aconteceria. Este fato, aliás, o demoveu da idéia de se retirar para Goiás. 

Chico Pereira

Em Acari, Chico Pereira, sentindo o acre da traição, escreveu a Tonho, fazendo paralelos entre a cadeia e a Fazenda Cajueiro e, na doce ilusão de que um dia seria solto, dizia ao traidor que após ficar livre, não hesitaria em matá-lo.Ainda com referência ao fato, o Sr. Abdias Pereira Dantas, numa conversa com o autor em Nazarezinho, no dia 04.01.1985, assim falou: “Só me queixo da morte do finado Chico, de João Suassuna. Depois que Chico morreu, ele mandou me chamar para conversar. Respondi que, com um bandido da qualidade dele, não queria conversa. Quem fez o assalto à casa do Cel. Quincó foi o sobrinho dele”.
Ainda para tornar mais clara a contradição da Justiça, o Pe. Francisco Pereira Nóbrega falou ao autor em João Pessoa, em 10.01.1985, que, no momento do assalto, seu pai se encontrava no município de Pombal. Ele é também dos que acreditam na hipótese do assalto ter sido programado naquele lugar. Pelo menos uma coisa não se põe em dúvida: a morte de Chico estava programada. Isto está confirmado no depoimento de um soldado sobrevivente que reproduziu um diálogo entre Juvenal Lamartine e o Ten. Joaquim de Moura. O Presidente solicitou a presença do Tenente em seu gabinete e a ele assim se dirigiu: - É verdade que aquele cangaceiro da Paraíba vai voltar para Acari?
- É, sim.
- Olhe! Não quero esse homem vivo.

Essa determinação, a priori, até dispensa pesquisadores de fazer exames mais apurados sobre notas de jornais diversos, tais como: Correio de Campina – 17.12.1928. ‘Teria sido Chico Pereira vitimado mesmo de um desastre de carro? Pessoas residentes no interior do Estado (Rio Grande do Norte) põem dúvida à afirmação. O Presidente potiguar é acusado de mandar fuzilar sumariamente os sertanejos acusados’ (Livro “Vingança, Não”, pág. 254).

Diário da Manhã, de Recife (PE) – 02.11.1928. “Chico Pereira, preso há pouco, ao ser transportado para a cidade de Acari, onde devia ser julgado, foi morto de ordem superior pelos policiais que o conduziam. Alegou-se que o carro que o conduzia capotou, verificando-se terrível desastre.” (Livro “Vingança, Não”, pág. 254). Continua, mais a frente, Adauto Guerra Filho: O Sr. José Pereira da Costa, cidadão de Ouro Branco, tabelião da cidade e curioso das histórias da região, assim detalhou o fato, em 09.07.1984: “Chico Pereira chegou preso a Santa Luzia na companhia do Ten. Manoel Arruda e alguns soldados. O Ten. Francisco Honorato, de Serra Negra do Norte, foi indicado para recebê-lo. Chico vinha de paletó e gravata e isso provocou censura da parte do Tenente: - Como se conduz um bandido de paletó e gravata? Isso é um cachorro de fila.

Em seguida, com arrebates, tirou o paletó e a gravata de Chico e autorizou os soldados a lhe colocarem as algemas. O Ten. Francisco Honorato esperava que o matador de Chico fosse ele. Porém a ordem do governo veio para o Ten. Joaquim de Moura. Ele ficou revoltado”.
Quem matou Chico Pereira: João Suassuna e Juvenal Lamartine? Teria sido Aproniano, irmão de Chico Pereira, quem assassinara João Suassuna no Rio de Janeiro, contratado pela família de João Pessoa ou unicamente para vingar Chico Pereira? Corre essa lenda ou história no Sertão. Talvez não se saiba nunca a verdade. A morte de Chico Pereira é a prova do Pacto dos Governadores? 
Raimundo Nonato como que referenda essa tese: Em longo depoimento constante de publicação oficial (A República de 22-10-1930) por determinação ‘post’-revolução do Chefe de Polícia, João Café Filho, e prestado perante o 1º Juiz Distrital de Natal, D. Arnaldo Neto, declarou o Capitão Moura todos os pormenores do plano delegado para a morte de Chico Pereira, em 29-10-1930[20], no transporte do preso para julgamento, no Acari, de suposto processo.
E publica também, em sua obra, a defesa de Juvenal Lamartine: Quando morreram os bandidos de “Lampião”, no município de Mossoró, e Chico Pereira, num acidente de automóvel, no município de Currais Novos, o chefe de Polícia, de acordo comigo, mandou proceder ao inquérito pelo Delegado especial, a fim de que a verdade fosse apurada com rigor. Vitoriosa a revolução, foi aberto novo inquérito a fim de ser processado o presidente do Estado, o chefe de polícia e os oficiais e soldados como responsáveis pelas mortes dos facínoras. A medida deve ser completada pela ereção de um monumento comemorativo das façanhas desses bandidos atacando cidades e fazendeiros honrados. É preciso glorificar o crime e punir os que defendem a propriedade, a vida e a honra ameaçadas por salteadores perigosíssimos.

Mesmo assim Raimundo Nonato chega a ser irônico quando aborda o episódio da morte de Mormaço e Bronzeado:De todos, “Mormaço” foi o bandoleiro que prestou declarações mais importantes, tendo dado nada menos que quatro depoimentos: em Crato, CE., a Pau dos Ferros, Martins e Mossoró, RGN. Em todas as referências e as acusações são mais ou menos semelhantes. Juntamente com “Bronzeado” e mais dois presos de justiça, que se encontravam na cadeia de Mossoró, foi levado para a estrada de Natal e morto com os outros. Do ocorrido há um processo, onde se fez prova de qualquer forma, que um dos bandidos pegou um fuzil, atirou nos companheiros, e depois, suicidou-se com a mesma arma...
Gutemberg Costa noticia a reação do Tenente Abdon Nunes ao inquérito contra si aberto como conseqüência da execução e Jararaca: Dois anos e meio depois da morte de Jararaca em Mossoró, o capitão Abdon Nunes de Carvalho, avocou para si toda a responsabilidade do episódio. Assim, o processo tão desejado, contra os ex-governadores José Augusto e Juvenal Lamartine não teve curso. Por causa disso a minúscula facção política de oposição (daquela época) fez violenta carga, pela imprensa contra o Governo, de acordo com comentário de Raul Fernandes na sua obra sobre o assunto, citada neste capítulo. 

Houve ou não um pacto entre os governadores para a eliminação física dos cangaceiros, sem que lhes fosse dado o direito de responderem processo ante a Justiça?


Continua...

Honório de Medeiros
Fonte:honoriodemedeiros.blogspot.com