Por: Rostand
Medeiros (Blog TOK de HISTÓRIA)
A NARRATIVA DE
ZÉ FELIPE (PAI DE MARIA BONITA)
Sobre esta
mulher sabemos que se chamava Maria Gomes de Oliveira, que nasceu no dia 8 de
março de 1911, na fazenda Malhada do Caiçara, no Estado da Bahia e seus
familiares chamavam-na de Maria Déia. Já seus pais eram os fazendeiros Maria
Joaquina da Conceição e José Gomes de Oliveira.
Muito já foi
escrito, muito já foi analisado e muito já foi comentado sobre ela. Mas não
custa nada trazer para o público do nosso blog “Tok de História” duas antigas
reportagens jornalísticas realizadas com familiares da famosa cangaceira.
Vinte anos
após a morte de Lampião e Maria Bonita na Grota do Angico, o repórter A. C.
Rangel e o fotógrafo Rubens Boccia seguiram para o sertão a serviço do
periódico carioca “O Jornal”.
Este era
autodenominado o “órgão líder dos Diários Associados”, sendo o primeiro veículo
jornalístico adquirido pelo poderoso Assis Chateaubriand e se tornou o embrião
do que viria a ser a empresa jornalística Diários Associados. O objetivo dois
profissionais da imprensa era realizar uma entrevista com o pai de Maria
Bonita, José Gomes de Oliveira, mais conhecido como Zé Felipe.
Os pais de Maria Bonita
O pai de Maria
Bonita nada narrou sobre a esterilidade do sapateiro e nem sobre o primeiro
marido da sua filha, mas comentou que ficou arruinado com a união de Maria e o
“Rei do Cangaço”. Ele afirmou ao jornalista que em consequência daquela união
passou oito anos andando pelo norte do país, verdadeiramente como um “cão
escorraçado e sem sossego”.
Zé Felipe
comentou que após Maria decidir seguir os passos de Virgulino Ferreira da Silva,
o Lampião, nas poucas vezes que pode estar frente a frente com a sua filha,
buscou convencê-la a deixar aquela vida. Atitude bastante razoável para um pai
diante daquela situação. Comentou que Lampião vivia como um “alucinado” e que
não parava em parte alguma. Mas como bem sabemos, ele não conseguiu convencer a
filha.
Grande parte
da entrevista procura mostrar Maria Bonita como uma mulher muito valente, até
mesmo violenta, que encarava Lampião sem medo.
O jornalista
Rangel informa que Zé Felipe lhe narrou que em uma ocasião em meio a uma
caminhada forte, com a polícia seguindo nos calcanhares, Maria Bonita foi
ficando cada vez mais para trás, pois trazia embalada uma criança sua, com
pouco tempo de nascida. Sem explicar como, a reportagem informa que a cangaceira
com seu filhinho pegou um cavalo e conseguiu chegar próximo ao bando. Como a
criança chorava muito, Lampião se exasperou e, para evitar que o bando fosse
encontrado pela polícia, quis “sangrar” com um punhal seu próprio filho. Mas
Maria saltou de punhal na mão e encarou o chefe cangaceiro frente a frente e
este desistiu de sua ação. Noutra ocasião Zé Felipe narrou ao jornalista Rangel
que Maria tinha ficado raivosa com o companheiro e chegou a quebrar-lhe uma
cabaça d’água na cabeça. [2]
Em outra parte
da narrativa, o velho Zé Felipe narrou uma desobediência de sua filha perante
Lampião.
Sem dizer a
data, afirmou que em uma ocasião o bando chegou a um lugar denominado Girau do
Ponciano após haver praticado saques. Por alguma razão que Zé Felipe não detalhou,
Maria passou a pegar várias peças de pano, de várias cores, jogando-as para
cima e depois pisando no pano. Daí media até o alto da sua cabeça e depois
mandava cortar aquele pedaço e entregava aos mais pobres do lugarejo dizendo:
“- Quem tá noiva prá casar ganha uma peça”.
O pai da cangaceira afirmou que
apenas ela podia fazer aquele tipo de coisa e que Lampião estava zangado com
ela na ocasião por alguma “Ruga” (Rusga), mas não comentou a razão.
Zé Felipe aos
periodistas comentou que até aquela data não conseguia compreender o desejo
irascível de Maria seguir atrás de Lampião. Mas quem pode explicar as razões do
amor?
É sempre
interessante ler antigas reportagens ligadas aos participantes do cangaço, com
informações transmitidas por seus próprios parentes, por aqueles que conviveram
com a figura pesquisada debaixo do mesmo teto. Mas interessante ainda é quando
estas opiniões foram relatadas a jornalistas anos depois do fim do cangaço,
quando muito da apreensão de se falar sobre os personagens deste assunto havia
desparecido. Mas esta matéria de 1958 se mostrou bastante limitada, pouco
detalhista e tendenciosa ao sensacionalismo. Mostrando uma extrema limitação do
jornalista, que a nosso ver perdeu uma grande oportunidade de conhecer mais
detalhes da vida da companheira de Lampião através do relato do seu próprio
pai.
Fonte principal:
http://tokdehistoria.com.br
Rostand Medeiros é historiógrafo e pesquisador do cangaço
Fonte: facebook
Página: Geraldo JúniorO Cangaço
http://blogdomendesemendes.blogspot.com