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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Benedito Ruy Barbosa escreve série sobre cangaço

Por Alberto Pereira Jr.
O dramaturgo Benedito Ruy Barbosa, que prepara uma série sobre cangaço.
Mastrangelo Reino - 25.out.10/Folhapress

Benedito Ruy Barbosa, 81, tem três projetos seus na fila por um espaço na programação da Globo. Além de uma série sobre o poeta baiano Castro Alves (1847-1871) e uma novela das 21h chamada "Velho Chico", Benedito entregou recentemente à direção da emissora o texto de uma série ambientada no cangaço.

Intitulada "O Cerco", a trama se passa no nordeste do Brasil e começa no dia da morte de Lampião e Maria Bonita. 


"A ideia é mostrar o outro lado do cangaço, as pessoas que sofreram com os desmandos políticos", contou o autor à Folha.

Na história, um bando de cangaceiros se refugia em uma fazenda, enquanto os milicianos se aproximam para liquidá-los. Segundo Benedito Ruy Barbosa, "O Cerco" pode ser adaptado como uma série ou como uma novela para o horário das 23h, recentemente ocupado pelo remake de "Gabriela".

Fontes:
Folha UOL
http://lampiaoaceso.blogspot.com

A expectativa de um Novo Ataque


Matéria de 1927, publicada no jornal "O Mossoroense", no dia 17 de Outubro de 2012, em comemoração aos 140 anos de sua fundação.

Sob o título Mossoró continua em armas, na expectativa de um novo ataque, a primeira página do jornal dedica seu espaço para publicar as informações mais recentes referentes aos ataques do bando de Lampião a Mossoró.

turismo.culturamix.com

O texto dizia que a cidade ainda estava apreensiva quanto à possibilidade de um novo ataque “pela horda canibalesca de Virgulino Lampião, este terrível quadrilheiro do Nordeste, pelo insucesso do assalto que levou a efeito na noite de 13”.

No mesmo número também é destacado que o Lampião teria se refugiado, após a derrota sofrida em Mossoró, na zona do Jaguaribe, cidade do Jaguaribe, cidade de Limoeiro, no Ceará.

Ainda na edição de 25 de Junho de 1927, são publicados trechos de uma entrevista concedida pelo próprio Lampião ao jornal “O Nordeste”, de Fortaleza. No tópico referente à Mossoró, o cangaceiro frisou:

FOTO
Lampião

“Houve boa resistência em Mossoró, porém não me desagradou o resultado da luta; os inimigos estavam bem entrincheirados, mas consegui com 34 homens apenas, fazê-los recuar, abandonando as trincheiras; chegamos a tomar a cidade, mas em vista “tenente” 

O cangaceiro Sabino Gomes

Sabino Gomes ter caído em uma emboscada na frente da casa do chefe político; fui obrigado a fazer a retirada; o grosso de minhas tropas atinge a 190 homens e a retaguarda da mesma ficou sob comando de Luiz Pedro”.

O cangaceiro Luiz Pedro

Na mesma entrevista Lampião nega que tenham morridos bandidos de seu grupo, uma vez que, segundo ele, Jararaca não pertencia ao bando.


Em 03 de Julho de 1927, o jornal repercute entrevista com a senhora Maria José Lopes, ex-prisioneira da quadrilha de Lampião, que passou 16 dias como refém do bando. 

O que resta da fazenda Aroeira, de onde a Sra. Maria José Lopes foi sequestrada pelo bando. Zona rural da cidade de Paraná. - Acervo do historiógrafo Rostand Medeiros

“O bando aprisionou-me pelas 11h do dia 10 de Junho, no sítio da minha propriedade denominada Aroeira, do município de Luis Gomes. Logo os bandidos cometeram as maiores depredações, maltrataram-me, bem assim pessoas de minha família, quebrando toda mobília de casa, queimando alguns utensílios e conduzindo ainda pequenos objetos”, disse a senhora.

Questionada sobre onde havia ficado durante a invasão do bando a Mossoró, Maria José Lopes respondeu que os prisioneiros estavam bem perto da cidade, sob a mira de seis bandidos. “Após o ataque desta cidade, nada ouvi dos bandidos sobre resultado; e daqui partimos às 6h30 da noite. O grupo foi descansar em um roçado distante três léguas”, disse.

Em 17 de Julho, o jornal destaca informações repassadas por meio de carta por uma pessoa vinda do Ceará, que apontava o local onde o bando estava refugiado após a derrota em Mossoró. “A perseguição a Lampião no Estado do Ceará tem sido uma vergonha. É sabido que o prefeito de Missão Verde é um c´lebre protetor de Lampião, dizia trechos da reportagem.

Fonte de pesquisa:
Jornal O Mossoroense.
Caderno especial em 17 de Outubro de 2012.

Do acervo do escritor e pesquisador: Kydelmir Dantas

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DONA LICA, A REZADEIRA


Por: Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2012. Crônica Nº 886

DONA LICA, A REZADEIRA

Sou daqueles que acreditam que Jesus deixou poderes para seus seguidores diretos. Mas, mesmo nos tempos presentes, muitos mistérios ainda surgem no mundo inteiro como partes divinais. Nascido e criado no Sertão de Alagoas, fui ouvindo, vendo e respeitando histórias e ações. O próprio Lampião mesmo rondou por várias vezes a casa de seu Rodrigues na Ribeira do Capiá. 


O velho não desejava vê-lo e fazia suas orações para tal. Certo dia, porém, Lampião mandou recado que queria conversar com ele e que não tivesse receio, que não lhe faria mal nenhum. Rodrigues acedeu até que o chefe de bando chegou a sua fazenda, acampando nas imediações da casa-grande. O velho Rodrigues foi lá e Lampião afastou-se com ele, dos cangaceiros e disse saber da sua vidência e orações consideradas fortes. Queria apenas duas ou três delas contra os “macacos”. O velho falou que não sabia escrever. Lampião pegou um lápis e uma caderneta e foi garatujando o papel. Por fim, o bandoleiro agradeceu e foi embora. O velho Rodrigues continuou com suas devoções para manter o bandido afastado da sua fazenda. O homem morreu com 104 anos, predizendo com antecedência a data correta e a hora da sua futura morte.

No pátio da nossa escola uma mangueira bonita e formosa, enfeitava-se ainda mais quando se aproximava a florada. Numa ocasião notei uma tristeza na planta. Percebi que ela estava doente e pensei que o problema fazia parte do solo encharcado da região.  Passados mais alguns dias, o problema se agravava, quando um estalo despertou a consciência. Aquilo era olho grande, olhado, como falam por aí. Procurei saber se alguém conhecia uma rezadeira. Indicaram dona Lica e sua morada. Fui lá imediatamente. Uma casa humilde no meio de outras com os mesmos aspectos, na entrada da cidade. Dona Lica marcou a hora e com pontualidade chegou para espiar a mangueira, quando foi logo dizendo: “olho grande. O senhor devia ter me procurado antes, mas vou rezar três vezes na planta. Em geral só rezo uma. Mas, devido à situação...” Rezada às três vezes, a planta deixou de morrer e voltou a ser como era antes.

Admiro e respeito os rezadores, as rezadeiras, benzedeiras com esses nomes ou com outros quaisquer. É o dom de Deus agindo nos humildes e respeitadores dos princípios de Jesus. Ah! Para mim não importa de quem duvida. Tenho ainda muitos exemplos nos bornais. Nem sei se ainda é viva, DONA LICA, A REZADEIRA.

Autobiografia do autor: 

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA - Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.

Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º  teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão(encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL.

Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).


Texto – João Mossoró, o canto do Nordeste na voz de um menestrel

Por:  Higino Canuto Neto - de Juazeiro – Bahia
João Mossoró, Hermelinda Lopes e Oséas Lopes (Carlos André) - Trio Mossoró

“João Batista Almeida Lopes, conhecido artisticamente por João Mossoró, começou a carreira musical em 1956, quando participou com seus irmãos Oséas Lopes e Hermelinda, do lendário Trio Mossoró, uma homenagem à cidade natal, no Estado do Rio Grande do Norte.

Com a formação do Trio Mossoró, com Oséas na sanfona, Hermelinda no triângulo e João Mossoró no zabumba, o grupo seguiu a mesma estética introduzida por 


Luiz Gonzaga, caracterizada pela forte representação nordestina, nas vestimentas com o gibão e o chapéu de couro e nas músicas a cadência rítmica alegre e festeira do xote, do xaxado e do baião.

José Messias

Apadrinhado por personalidades como José Messias, que atualmente é jurado do programa do Raul Gil e o poeta cantador Luiz Vieira, o Trio teve o privilégio de contar com a parceria de grandes compositores como Antonio Barros, Cecéu, Anastácia, Dominguinhos e o maranhense João do Vale.

Em 1965, conquistaram o troféu Elterpe, o prêmio de maior importância da Música Popular Brasileira, na época. A cerimônia de premiação aconteceu no Palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo como sucesso premiado a música “Carcará”, composta por João do Vale e José Cândido. No mesmo ano, Maria Bethânia também gravou a canção que se tornou sucesso nacional e símbolo da resistência do povo nordestino ante as agruras da seca e o sistema repressor ditatorial que governava o Brasil na época.

Durante o tempo em que tocava nos programas na Rádio Mairink Veiga, João Mossoró conheceu e trabalhou com Luiz Gonzaga, tocando zabumba. Pelo Rei do Baião foi apelidado de Cibito, numa referência às suas pernas, cuja alcunha providenciou gravar em seu instrumento a frase “Cibito – O rei do zabumba”.

O Trio Mossoró se desfez em 1972 com 12 LP´s gravados, verdadeiras referências do cancioneiro nordestino em todo o Brasil. Em carreira solo, João Mossoró se manteve fiel às suas raízes, divulgando a sua arte como um menestrel dos cantares e saberes do povo nordestino.

Em 2004 o artista concretiza o seu desejo de prestar uma homenagem ao seu ídolo maior – Luiz Gonzaga, gravando o CD ‘O Mito e a Arte de Luiz Gonzaga’, com reconhecimento pelo critico e historiador musical Ricardo Cravo Albin, que dedicou todo um programa transmitido pela Rádio MEC à divulgação do trabalho. O Sucesso do disco rendeu um novo álbum: ‘O Mito e a Arte de Luiz Gonzaga’ – volume 2, complementando o ciclo de homenagens, prefaciado pelo Cravo Albin que escreveu: ‘bela voz, lindo repertório, tudo isso faz deste disco uma alegria em ligar o aparelho de som, no mais das vezes, emudecido por lançamentos bisonhos, quase insuportáveis’.

Em seu mais recente CD ‘Conexão Nordeste – O Arauto das Raízes Nordestinas’, João Mossoró interpreta canções de outros artistas também consagrados (Belchior, Chico Salles, Gonzaguinha, Nando Cordel, Dominguinhos, dentre outros), como num reconhecimento pela cumplicidade em produzir música de qualidade inspirado pela essência que brota do interior profundo do nordeste brasileiro.

Juntamente com seus irmãos Oséas e Hermelinda, João Mossoró insere o estado do Rio Grande do Norte na geografia musical brasileira, com a mesma grandiosidade com que

Jackson do Pandeiro

Jackson do Pandeiro introduziu a Paraíba, com a mesma intensidade com que João do Vale revelou o Maranhão e o mesmo ideal e devoção com que Luiz Gonzaga apresentava ao Brasil o seu estado Pernambuco, carregando todo o sentimento nordestino em sua genialidade musical.

João Mossoró é um arauto, um menestrel, um dos últimos ícones do forró em plena atividade, contemporâneo de outros forrozeiros históricos que o Brasil precisa reconhecer e aplaudir em sua grandiosidade.”

Enviado pelo cantor João Mossoró


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INFORMATIVO JOVENS ESCRIBAS – LANÇAMENTO DO LIVRO “EU NÃO SOU HERÓI-A HISTÓRIA DE EMIL PETR”

Por: Rostand Medeiros

Outubro se aproxima do seu crepúsculo, mas ainda estamos a todo vapor nas atividades literárias aqui em Natal.


Nesta terça começa a FLIQ (Feira de Livros e Quadrinhos de Natal), na quinta teremos lançamento de mais um livro e, no último dia do mês, fechando com chave de ouro, o 6º lançamento do mês.  # OTTO GUERRA – TRAÇOS E REFLEXOS DE UMA VIDA. Uma das filhas do grande pensador e humanista Otto de Brito Guerra, Dona Zélia Maria Seabra de Moura, organizou e vai lançar nesta quinta (25.10) uma reunião de textos importantes sobre seu pai que, se vivo estivesse, haveria completado 100 anos no último mês de julho. O livro será lançado pelo selo “Bons Costumes”, divisão da Jovens Escribas para publicações por encomenda.


Lançamento de “Otto Guerra – Traços e reflexos de uma vida” de Zélia Maria Guerra Seabra. Local: UNI-RN. Data: 25 de outubro de 2012 (Quinta-feira)Hora: A partir das 19h

# EU NÃO SOU HERÓI – A HISTÓRIA DE EMIL PETR. Mais um belo registro que chega às prateleiras por obra do selo “Bons Costumes” é o livro “Eu não sou herói – A história de Emil Petr”. Trata-se da biografia do filho de tchecos que nasceu nos Estados Unidos, lutou na Segunda Guerra Mundial, foi capturados pelos alemães, sobreviveu, veio a Natal e tornou-se patriarca da família Vale. Uma grande história contada pelo historiador Rostand Medeiros a pedido da família. A estreia do livro será no derradeiro dia do mês de outubro, no Iate Clube de Natal.


Lançamento de “Eu não sou herói – A história de Emil Petr” de Rostand Medeiros.Local: Iate Clube de Natal. Data: 31 de outubro de 2012 (Quarta-feira)Hora: A partir das 19h.

http://tokdehistoria.wordpress.com/



ALCINO, MEU PAI: RETRATO INACABADO - III (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

ALCINO, MEU PAI: RETRATO INACABADO

Como afirmado em linhas pretéritas, antes mesmo de enveredar pelos caminhos das pesquisas cangaceiras Alcino já era devotado, verdadeiramente apaixonado, pela autêntica música caipira. De Tonico e Tinoco então, o mais deslumbrado que possa existir.

Ainda menino, mas já de ouvido atento para coisa boa, eu me encantava quando pelos quatro cantos da moradia começava a ecoar a contagiante melodia caipira, na radiola ou no velho rádio ao entardecer. Naquela época Alcino já era um colecionador voraz de long-plays sertanejos, discos que cuidava com o maior zelo do mundo.


Eram centenas de discos em vinil, ainda hoje existentes e em quantidade ainda maior, mas se desse falta de algum então o mundo virava até se lembrar se havia doado ou emprestado a alguém. Ao lado desses discos, a coisa que mais gostava certamente era de sua pequena radiola, de cor azul, ainda lembro, portátil, pequenina mesmo, que lhe fora presenteada por um parente.

Há uns dois anos escrevi um texto intitulado “Uma radiola ao luar”, onde mencionava o cotidiano entre Alcino e o seu inseparável toca-discos. Eis parte do que escrevi:

“Sertão é assim mesmo, seu moço! Bicho e poesia, cantiga e lamentação, bom dia e inté mais se ver, boa sorte e que Deus lhe ajude! E pelos caminhos que cortam a vida, os barracos se espalhando feito galinha no terreiro, bicho no berreiro, qualquer coisa no cercadinho e o prazer imenso de dizer isso é meu. Não tem nada não, seu moço, mas tudo é dele. É dele porque o sertão é dele e ele é o sertão em pessoa.

Meu pai nasceu num lugar assim, nessa vastidão sertaneja onde tudo mundo era feliz e não sabia. Somente mais tarde, quando o filho de Dona Emeliana e Seu Ermerindo ouviu pela primeira vez uma autêntica cantiga sertaneja, um legítimo violar caipira, é que começou a juntar a letra da moda de viola com a terra que pisava e a realidade vivida e decisivamente concluiu que as belezas do sertão são melodias de se caminhar e pegar com a mão.

Foi nesse momento que a viola caipira de Tonico e Tinoco entrou melodiosamente no coração de Alcino. Aquele rapaz, já político e prefeito do lugar, logo ao amanhecer escurecido ligava seu velho e potente rádio Philips, de quase meio metro de diâmetro, e sintonizava nas emissoras paulistanas onde sabia que não demoraria muito para ouvir a voz inconfundível da dupla coração do Brasil.

Sou filho - e por isso mesmo posso falar - que o rapaz já casado ainda assim era um inveterado namorador. Todo mundo sabe disso até hoje. Assim, quando um dia um primo seu chegado do sul lhe trouxe de presente uma radiola portátil novinha, pequenininha e azul, todas as noites, e sempre já em altas horas, Alcino seguia em direção à praça da matriz, colocava seu toca-discos em cima de um banco e ia escolhendo a dedo as músicas de Tonico e Tinoco.

Muitos dizem que ele fazia serenata louvando as belezas do luarar sertanejo, outros afirmam que era serenata mesmo, mas com outras motivações apaixonadas. De qualquer sorte, invariavelmente se ouvia todas as noites “Tristeza do Jeca”, “Eu e a lua” e “Pé de ipê” nas doces e inconfundíveis vozes de Tonico e Tinoco.

E se ouvia na “Tristeza do Jeca”: “Nestes verso tão singelo/ minha bela, meu amor/ pra você quero contar/ o meu sofrer e a minha dor/ Eu sô igual a um sabiá/ quando canta é só tristeza/ desde um galho onde ele está/ nesta viola eu canto e gemo de verdade/ cada toada representa uma saudade...”.

Na “Eu e a lua”: “Eu me desperto em arta madrugada/ Em arvorada ponho-me a cantar/ Em tom profundo lamento em meu pinho/ Triste sozinho vivo a recordar/ Vem ouvir ingrata quem deixou de amar/ Somente a lua no céu estrelado/ Está a meu lado, surgiu num clarão/ E tu querida nem abre a janela/ Vem ouvir donzela a minha canção/ Tu foi aquela muié sem coração...”.

E “Pé de ipê”: “Eu bem sei que adivinhava/ quando as veiz eu ti chamava/ de muié sem coração/ Minha vóiz assim queixosa/ vancê é a mais formosa/ das cobocra do sertão/ Certa veiz tive um desejo/ de prová ao meno um beijo/ da boquinha de vancê/ Lá no trio da baixada/ pertinho da encruziada/ debaixo de um pé de ipê...”.

Até hoje, já aos 70 anos, Alcino continua ainda mais apaixonado pela autêntica música caipira. Naqueles idos suas paixões eram muitas e até dizem que muitas eram as mocinhas que choravam nos travesseiros ou pertinho das janelas, com os apertos nos corações que sempre chegam altas horas da noite e com a serenata sertaneja de Alcino”.

Mas hoje Alcino já chegou aos 72 anos e se não fossem as contínuas enfermidades que lhe afligem certamente ainda colaboraria muito com a cultura e a história nordestina. É possuidor de um verdadeiro acervo de obras inacabadas, livros que estão prestes a serem publicados, poemas matutos para serem transformados em canções. E sonhos, muitos sonhos.
O seu primeiro sucesso como compositor ocorreu pelos idos da década de 70, quando ainda era mais político do que qualquer outra coisa. Contudo, foi a política que o aproximou de grandes artistas nordestinos, de sanfoneiros da melhor qualidade, possibilitando que fizesse chegar aos rincões semiáridos de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo a musicalidade que tinha a feição do seu povo.


Quando prefeito, Alcino acostumou a todo final de ano oferecer ao seu povo uma festança diferenciada, com grandes nomes sertanejos e forró da melhor qualidade. Assim, a rua da prefeitura, no centro da cidade, era fechada de canto a outro e num dos lados um caminhão servia de palco para as apresentações. E por lá passaram Pedro Sertanejo, Elino Julião, João do Pífano, Gérson Filho, Clemilda, Abdias, Messias Holanda e tantos outros.

Mantinha uma amizade muito próxima com o grande forrozeiro Gérson Filho e sua esposa Clemilda. E foi esta que gravou, no ano de 1973, um verdadeiro hino sertanejo de sua lavra, chamado “Seca Desalmada”, que deu nome ao disco da forrozeira alagoana/sergipana e despontou como o maior sucesso daquele período. A letra, cuidando da fé e da religiosidade do povo sertanejo, dizia assim:

“Visitei o Juazeiro que fica lá no sertão/ Havia muito romeiro escutando um sermão/ Eu também fui escutar/ Prestei bastante atenção/ Perguntei quem era o padre/ Meu Padim Frei Damião que vinha da eternidade/ Pra salvar o meu sertão/ O sertão está passando uma grande provação/ É a seca desalmada acabando com o cristão/ Mas temos um defensor/ Meu Padim Frei Damião/ Padim Ciço Foi embora/ Para o céu Deus o levou/ O romeiro do sertão de tristeza até chorou/ Mas agora vive alegre/ O santo Padre voltou”.

Muitas outras canções compostas por Alcino foram sendo gravadas por duplas caipiras ao longo dos anos. Contudo, duas especialmente, e gravadas mais recentemente, alcançaram grande sucesso no sul do país. A primeira, registrada por Dino Franco e Mouraí no CD Presente de Deus, é um cateretê intitulado “Garça Branca da Serra”, cuja letra diz:

“Naquela serra do norte o sol nascendo dourado/ Lindos raios vão surgindo naquele reino encantado/ Ao longe a serra azul formando um manto sagrado/ A garça branca da serra tem ali o seu reinado/ Bem pertinho da cascata/ E perto da verde mata daquele sertão amado/ É obra da natureza o mundo da passarada/ A serra desponta bela no final daquela estrada/ A garça branca da serra fez ali sua morada/ Quando chega a tardinha ela volta pra pousada/ Com seu porte de rainha/ A plumagem é branquinha parece deusa sagrada/ Também tenho a minha garça, garça linda meu senhor/ Ela não mora na serra e também nunca voou/ É uma bela morena com um olhar encantador/ E a mulher que eu amo que o destino me enviou/ Ela vive em meu ranchinho/ É a garça do meu ninho, um bem que Deus me deixou”.


Já a segunda, “Desencanto da Natureza”, foi gravada por Dino Franco e Fandangueiro e se constitui num verdadeiro grito ambientalista, cuja preocupação maior é apontar as atrocidades do homem perante a fauna e a flora, a natureza enfim. Eis a letra:

“Eu vejo lá bem distante os papagaios voando/ Cada vez indo pra longe, o sertão estão deixando/ Fugindo da mão do homem, outro habitat procando/ Periquitos e araras também vão se retirando/ A raposa espreita tudo desconfiada olhando/ E o homem sem piedade cruelmente vai matando/ Caçador, caçador, com você estou falando/ Não mate a fauna e a flora, quero vê-las procriando/ Muito triste a mata chora a morte da passarada/ Os campos virando cinza com a fúria da queimada/ Na sombra da quixabeira não se vê onça pintada/ Caititu se retirou pra bem longe da baixada/ Galho seco despencando, caindo lá da ramada/ O homem cortando tudo em medonha derrubada/ Roçador, roçador não pegue mais empreitada.

Encoste a foice e o machado, evite fazer queimada/ O sertão é um paraíso, paraíso de esplendor/ Mata virgem, céu azul e canário dobrador/ Inhambu piando triste quando a tarde furta-cor/ Os bichos todos fugindo da mira do caçador/ O riacho ainda chora a mata cheia de flor/ E o homem destruindo as obras do Criador/ Predador, predador, olhai para o que restou/ Predador, predador, não mate o que Deus criou/ Não mate o que Deus criou”.

Entretanto, não duvido que a música que ele mais admira é uma composição sua em parceria com Dino Franco, cujo título “Sertão, viola e amor” é o mesmo do programa que manteve por muitos anos na Rádio Xingó Fm, de Canindé do São Francisco. Todas as tardes de sábado, com todos os radinhos sertanejos ligados, muitas vezes juntinhos ao ouvido, começavam ouvir a música de abertura do programa:

 “No nordeste brasileiro/ Uma onda se espalhou/ Na voz da Rádio Xingó/ Com seu apresentador/ Foi uma benção divina/ A um povo sofredor/ O violeiro cantando/ Sertão, viola e amor/ O cavaquinho do samba/ Num canto se encostou/ O tamborim fez silêncio/ Pra longe se retirou/ A natureza sorriu/ Ouvindo seu trovador/ No rádio leu-se a mensagem/ Sertão, viola e amor/ Cantigas e mais cantigas/ De um tempo que já passou/ As trovas apaixonadas/ Do poeta cantador/ Histórias de vaquejadas/ Maravilhas, sim senhor/ Me alegra quando ouço/ Sertão, viola e amor/ No nordeste, leste, oeste/ O povo se admirou/ Ouvindo a Rádio Xingó/ E seus poemas de amor/ Canta, canta minha gente/ Pois violeiro também sou/ O Brasil todo conhece/ Sertão, viola e amor”.

Na Rádio Xingó declamava os seus versos, falava aquilo que o sertanejo tanto gosta de ouvir, e entremeava seus diálogos cheirando a terra com a melhor música caipira, escolhida a dedo, oferecida com o coração. Eis o Alcino, o caipira de Poço Redondo, com o seu viver tão marcante.
Continua...

Biografia do autor:

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.  

Poeta e cronista
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