Por Clerisvaldo B.
Chagas, 20 de fevereiro de 2017 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.638
O rio
Perucaba, cujo início em Arapiraca havia sido transformado em açude, foi
urbanizado. O seu entorno, virou área de lazer e, em beleza, nada deve a nenhum
semelhante do Brasil. O simples açude redescoberto passou a se chamar “Lago do
Perucaba”. Essa área de lazer tão bela é hoje o principal atrativo da cidade e
motivo de intenso orgulho do povo arapiraquense.
AÇUDE
DO GOITI. Foto: (baixaki.com).
Apenas
complementando, o rio Perucaba despeja no rio São Francisco, após formar a
lagoa do Banguê, na Marituba de Baixo, em Penedo. Gostou do detalhe
informativo?
Pois bem, em
Palmeira dos Índios existe o açude do Goiti, no centro da cidade e que possui
uma longa história desde o Século XIX. Mesmo urbanizado, muitas coisas ainda
faltam para que o local se transforme no segundo Lago Perucaba.
Mas nessa luta
humana contra e a favor da Natureza, chega uma ótima notícia de Palmeira dos
Índios. As autoridades deram início a uma grande limpeza no açude e no entorno.
Quando terminarem todo serviço mais grosseiro, será a vez da retirada do
assoreamento. Falam em iluminação, pintura e tudo o mais.
De acordo com
o secretário de urbanismo Marcos Bezerras, até o final do ano será feito uma
passarela ao redor de todo o lago, que servirá como área de lazer para a
população:
“As
pessoas vão poder fazer caminhadas ao redor do Lago, que já estará iluminado e
limpo, com o trabalho de nossas equipes. Também existe um projeto para
revitalizar toda a área do Lago, ou açude, como muitos conhecem. Queremos que
esse, que é um dos nossos cartões postais, realmente atraia turista e seja um
ambiente de lazer para os palmeirenses (...)”. (Tribuna de Alagoas,
18.02.2017).
A propósito,
Goiti é a serra em cujo sopé fica o açude. No cimo, como foi colocada uma
estátua do Cristo com os braços abertos, passou o local à denominação popular:
“O Cristo do Goiti”, bem como “O Açude do Goiti”.
A serra do
Goiti faz parte, geograficamente falando, do relevo de Alagoas da Escarpa
Ocidental.
O viver é
assim como um viver de andorinhas e gaviões. Na concepção popular, andorinha
simboliza luta, esperança, perseverança, a metamorfose, a vontade de realizar.
Já o gavião, como toda ave de rapina, predadora e carnicenta, simboliza a
perseguição, a destruição, através de voos rasantes para destruir os sonhos de
outros voos.
Também
conhecida como ave da partida e do regresso, a andorinha representa o eterno
retorno e a ressurreição, em despedida e retorno para o recomeço. Busca refúgio
no inverno para reaparecer no verão. Mas nunca voa muito distante, pois sempre
preocupada em retornar para reiniciar os seus planos futuros e os seus próximos
voos.
Já o gavião é
um poderoso predador que não se inibe em atacar qualquer presa. Astuta, evita a
copa alta das árvores para se manter furtivo entre os arbustos, de onde dá voos
certeiros para atacar o que estiver ao redor. Parente e muito aproximado na
aparência do carcará, faz da carniça um de seus pratos prediletos. Contudo,
gosta mesma de ferroar suas vítimas para sentir a vida se esvaindo no sangue
que incessantemente jorra.
Como visto,
cada ave com seu jeito de ser, com seu estilo próprio de viver e de se
alimentar. A andorinha, sem atacar ou ferir os demais animais, sobrevive dos
grãos e restos encontrados nos seus pousos. O gavião, sempre violento e
faminto, não mede consequências para fazer de vítima o mais inocente dos
animais. Sua sanha é tamanha que leva no bico a marca sangrenta daquilo que
vitimou.
Então vai a
andorinha em seu voo pacífico, em seu voo leve, com seu destino de horizonte.
Deseja apenas seguir, voar e voar muito mais, para depois retornar na mesma
placidez da partida. Então, de baixo, avistando a liberdade da andorinha ao
alto, o gavião logo imagina um jeito de tornar aquela paz em grito de dor e de
aflição. Não deseja mais que a andorinha cumpra seu destino de vida, e sim que
se prostre ante o punhal no seu bico.
Então a
andorinha percorre sua estrada nas alturas sem ao menos imaginar que já foi
avistada como vítima. Segue seu voo sem pensar que a maldade lhe aguarda no
retorno, sem imaginar que sua paz já se ressente da ameaça. Enquanto isso, na
sua persistência maldosa, o gavião afia suas garras, toma seu veneno, se
alimenta de um ódio incompreensivelmente concebido. E se prepara para dar fim
ao destino de paz da andorinha.
Na natureza,
apenas uma presa e um predador. Aliás, é lei natural que assim aconteça, mas
pelo instinto da sobrevivência e não pela simples maldade. Significa que alguns
animais submetem a outros para se alimentar, para afastar perigos, para
delimitar territórios. Porém, se aproxima demais do humano quando inverte a
realidade do destruir para sobreviver para a mera dizimação pela infame
crueldade.
Urubus e
carcarás também são assim. São carnicentos, agourentos, terríveis predadores.
São domados por instintos sanguinários e cruéis. São frios na ação e impiedosos
na violência. São insensíveis e desumanos, acaso nas aves de rapina existisse
um laivo de humanismo. Ferem, furam, bicam, cortam, sangram, fazem jorrar as
seivas vitais das mais inocentes vidas. O pior é que nem sempre para se
alimentarem, mas tão somente pela motivação da maldade.
Não seria
errôneo se tudo isso fosse dito com relação ao ser humano. Pessoas existem que
são verdadeiros predadores, que são terríveis e temíveis rapinas, que agem não
pela necessidade de defesa, mas pelo simples desejo de ferir, magoar, violar a
paz e a vida. Pessoas ocultadas em gaviões que outra coisa não fazem senão
atacar a vida alheia. Então aquela pessoa que apenas procura viver como
andorinha, seguindo o seu destino de passo e luta, de repente passa a ser
atacada pela crueldade do próximo.
Gaviões
humanos que alardeiam falsidades, que alastram mentiras, que semeiam
discórdias, que se regozijam com o sofrimento do outro. Predadores humanos que
vivem à caça da paz para torná-la em aflição, que vivem à espreita da
felicidade para transformá-la em sofrimento, que se preocupam somente em
subtrair as esperanças e os contentamentos. Numa selva tão vasta e tão
enegrecida, eles estão por todo lugar. Os olhos são avistados, os passos
ouvidos, as presenças sentidas.
Ante as
tocaias dos gaviões, triste do destino das andorinhas humanas. Há uma vida
inteira a ser vivida pelos que desejam viver, há uma felicidade que alguns
desejam abraçar, mas em meio à selva de asfalto e chão sempre aqueles que
cruzam os caminhos para, a todo custo, impedir a caminhada. Talvez não
contentes com si mesmos, partem com venenosos punhais em direção aos que
desejam apenas voar seus sonhos, suas vidas, suas esperanças. E por isso tanta
violência e tanta maldade no mundo.
Mas que sigam
as andorinhas. Que busquem seus céus e horizontes. Os gaviões não alcançam
tudo. E contra todo predador haverá um predador ainda maior: o homem na sua
autodestruição.
Quando nos referimos ao empreendimento Cariri Cangaço e ressaltamos que trata-se de uma extraordinária construção coletiva, muitos não conseguem perceber a intensidade desse significado e como foi, é e será vital para o desenvolvimento não só de nosso evento, mas do sentimento que norteia nossas ações. O Cariri Cangaço é mantido por um instituto cultural: Instituto Cariri do Brasil, com personalidade jurídica, uma diretoria executiva, responsável pela legalidade de sua institucionalidade; tem em seus Estatutos a prerrogativa de manter um Conselho Consultivo de até 50 componentes; hoje o Cariri Cangaço possui 30 Conselheiros; personalidades ligadas aos objetivos do instituto e que representam 8 estados da federação; e ainda um Curador, responsável pelas principais ações e representações da Marca Cariri Cangaço, são esses, unidos a uma Nação apaixonada pelo nosso chão que fazem tudo acontecer.
O período de carnaval se aproxima. Basicamente em função de nossas atividades profissionais nos impedirem de costumeiramente viajarmos de modo mais prolongado, acabamos aproveitando essas brechas do calendário para intensificarmos encontros e reuniões com confrades de todo o Brasil, na direção da construção da agenda Cariri Cangaço para os anos de 2017 e 2018.
Ingrid Rebouças e o Cariri Cangaço...
Desta vez estaremos saindo de Fortaleza nesta sexta-feira, dia 24 de fevereiro, direto para Floresta em Pernambuco, a parada técnica nos permitirá chegar a tempo em nosso primeiro compromisso de trabalho: Município de Água Branca nas Alagoas, terra de nosso Conselheiro Edvaldo Feitosa,e a seu lado e ainda dos Conselheiros, Celsinho Rodrigues, João de Sousa Lima,Manoel Serafim, Archimedes Marques e Antonio Vilela, seremos recebidos pelos senhores, prefeito; José Carlos e vice,o amigo Moita. A reunião será as 10h da manha do dia 25, na pauta o consorcio para a realização de mais um festejado Cariri Cangaço em uma das mais belas e aconchegantes cidades do sertão. O período da tarde do sábado nos reserva uma outra importante agenda. No vizinho município alagoano de Delmiro Gouveia, a Secretária de Cultura, Patricia Brasil, ao lado do prefeito municipal, Padre Eraldo, recebe o Conselho do Cariri Cangaço para reunião de trabalho: A força da memoria e historia de Delmiro Gouveia chegando no Cariri Cangaço de forma magistral, consolidando de vez o estado de Alagoas como sede importante e vital do Cariri Cangaço.
Alcino Alves Costa, Patrono do Conselho do Cariri Cangaço
No domingo de carnaval, dia 26, a "Lapinha do Sertão", a mais bela cidade ribeirinha do país; Piranhas, recebe a Caravana Cariri Cangaço para as onze da manha partir para o berço de nosso patrono: teremos a honra de visitar a emblemática Poço Redondo, berço do Caipira mais famoso do cangaço, Alcino Alves Costa e será em seu Memorial, as 11:30h da manha a primeira reunião do Conselho Cariri Cangaço, com a presença de Rangel Alves da Costa e do prefeito municipal Junior Chagas, além de outras personalidades da vida cultural de Poço Redondo. na pauta a possibilidade da chegada do Cariri Cangaço também de forma oficial em Poço Redondo. A noite novamente arrancharemos na espetacular Piranhas.
Segunda-feira de carnaval, dia 27, dia Sagrado ! Sairemos de Piranhas, passaremos em Petrolândia para abraçar o estimado Jadílson Ferraz e seguiremos para almoçar em Floresta, ali ao lado dos Conselheiros, tendo a frente Manoel Serafim, e ainda confrades do GFEC; Marcos de Carmelita, Cristiano Ferraz, Amelia Araujo, Ana Gleide, Betinho Numeriano, Giovane Gomes de Sá, Denis Carvalho, Leo Gominho e muitos outros confrades, teremos a tarde uma grande reunião de trabalho para consolidação do segundo Cariri Cangaço em Floresta. O dia ainda marca reunião com o prefeito municipal de Floresta, Ricardo Ferraz.
A Terça-feira de carnaval, 28 de fevereiro, temos agenda semelhante na Vila mais famosa do cangaço. Nazaré recebe a Caravana Cariri Cangaço para a primeira reunião de nivelamento para a realização do Cariri Cangaço Centenário de Nazaré; dentro dos festejos preparados pela comunidade em celebração aos seus 100 anos de fundação. A família nazarena tendo a frente Rubelvan Lira promoverá esse encontro a partir das 10 da manha. A tarde partimos para a Fazenda São Miguel do inesquecível "Seu Luiz de Cazuza", em Serra Talhada em visita de cortesia e trabalho.
Helena Câncio, da Fundação Padre João Câncio
A quarta-feira de cinzas, dia 01 de Março, nos reserva ainda mais uma agenda importante de trabalho. Na cidade pernambucana de Salgueiro, estaremos sendo recebidos por Helena Câncio, presidente da Fundação Padre João Câncio; dentro do esforço de aproximação institucional e operacional entre a Fundação, que promove dentre outras iniciativas de sucesso, a festejada Missa do Vaqueiro, de Serrita; e o Cariri Cangaço. Haja fôlego... Mas sem dúvidas, um carnaval diferente com som do "baião " do Rei Luiz Gonzaga e cheiro de sertão. Nos aguardem , tudo o que aconteceu e acontecerá nesta agenda da Caravana Cariri Cangaço de Carnaval, acompanharemos através deste Blog.
Ednardo, compositor
contemporâneo, autor de composições antológicas das décadas de 70
e 80, como
Pavão Mysteriozo e Terral;
nome de
destaque no grupo chamado de
Pessoal do
Ceará e organizador ativo do coletivo cultural Massafeira (1979-1980).
Palavras
chaves: Educação, Filosofia, Música.
7.08.01.01-0
Filosofia da Educação
INTRODUÇÃO
A comunicação aqui apresentada é construída a
partir de uma leitura com análise crítica do texto da música “Artigo 26”, do
compositor cearense Ednardo, ou José Ednardo Soares Costa Sousa (nascimento em
17/04/1945), encontrando nele referências diretas à Declaração Universal dos
Direitos Humanos e indícios de resistência cultural e valorização dos elementos
regionais, em detrimento das imposições filosóficas e socioculturais do status
quo. De modo paralelo, tal análise nos possibilita a redescoberta de presságios
iniciais das estéticas simbolistas e modernistas em terras nordestinas.
A canção de Ednardo aqui analisada como
texto, divulgada inicialmente no LP Berro de 1976, chegou com maior impacto ao
grande público no final dos anos de 1970 e início da década de 1980, com o
compositor, autor de mais de trezentos textos de músicas divulgadas, ganhando
maior notoriedade nos anos 80, junto com seus conterrâneos Belchior e Fagner,
em apresentações e reuniões musicais que os definiam como o “Pessoal do
Ceará”. Para acompanharmos essa leitura, cabe-nos apresentar o escrito
por inteiro, corroborando com a posterior análise:
ARTIGO 26³
https://www.youtube.com/watch?v=wnGLWiZTpwQ
Olha o padeiro
entregando o pão
De casa em
casa entregando o pão
Menos naquela,
aquela, aquela, aquela não
Pois quem se
arrisca a cair no alçapão? (BIS)
Anavantu,
anavantu, anarriê
Nê pa dê qua,
nê pa dê qua, padê burrê
Igualitê,
fraternitê e libertê
Merci bocu,
merci bocu / Não há de quê!
Rua Formosa,
moça bela a passear
Palmeira verde
e uma lua a pratear
Um olho vivo,
vivo, vivo a procurar
Mais uma idéia
pro padeiro amassar (BIS)
Anavantu,
anavantu, anarriê
Nê pa dê qua,
nê pa dê qua, padê burrê
Igualitê,
fraternitê e libertê
Merci bocu,
merci bocu / Não há de quê!
Você já leu o
artigo 26,
ou sabe a
história da galinha pedrês?
E me traduza
aquele roque para o português
A ignorância é
indigesta pro freguês (BIS)
Anavantu,
anavantu, anarriê
Nê pa dê qua,
nê pa dê qua, padê burrê
Igualitê,
fraternitê e libertê
Merci bocu,
merci bocu / Não há de quê!
Você queria
mesmo, é ser, um sanhaçu
Fazendo fiu e
voando pelo azul
Mas nesse jogo
lhe encaixaram, e é uma loucura
Lá vem o
padeiro, pão na boca é o que te cura (BIS)
Anavantu,
anavantu, anarriê
Nê pa dê qua,
nê pa dê qua, padê burrê
Igualitê,
fraternitê e libertê
Merci bocu,
merci bocu / Não há de quê!
3. LP Berro.
Gravadora RCA Victor, 1976.
1. METODOLOGIA
Neste artigo, serão feitas algumas reflexões a respeito do assunto
Direitos Humanos a partir da educação, construindo-se um estudo
hermenêutico epistemológico que toma como base inicial o texto da música
“Artigo 26”, no qual surge de forma emblemática a reflexão filosófica acerca da
necessidade de oferta de educação e conhecimento para todos. A fim de alcançar
os objetivos propostos ao longo de tal estudo, pretende-se analisar o texto em
foco observando-se, em seu corpus, elementos e excertos que podem: a) ser
comparados ou mediatizados com a alegação de que, pela ótica da análise do
discurso (ORLANDI, 2002), a linguagem jamais é neutra; b) sugerir, de
encontro com o Diálogo de Platão (PLATÃO, 1993), a descoberta da educação como
“órgão” de visão que faz o “ser” sair integralmente das trevas, agregando-se à construção
do cidadão da polis; c) demonstrar o elo filosófico com a mensagem humanística
do Iluminismo francês; d) expressar a coerência do discurso ednardiano com o da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, da ONU; e) dimensionar a função
didática e social dos “padeiros” aludidos pelo compositor, face à influência da
belle époque e à doutrina assumida pelos estatutos da padaria espiritual que,
conforme Sânzio de Azevedo (AZEVEDO, 1983), visaram normatizar a atuação da
agremiação; Ademais, será desenvolvida uma discussão sobre os valores
circulantes, em especial os de natureza cultural, guindando-os aos fatores
sócio-históricos, artísticos ou científicos nos quais a educação está sempre
imbricada.
2. PADEIRO: UM
OLHO VIVO A PROCURAR MAIS UMA IDEIA
Aparentemente, o texto musical do “Artigo 26” foi
composto como homenagem à Padaria Espiritual, uma curiosa agremiação cultural
criada na cidade de Fortaleza, Ceará, em 1892 por alguns “rapazes de Letras e
Artes”, dentre eles o músico Henrique
Jorge (10/02/1872 a 06/10/1928), os poetas simbolistas Lopes
Filho (1868 – 1900) e Lívio Barreto (1870 – 1895), e o romancista e poeta
Antonio Sales (13/06/1868 a 14/11/1940). Porém, uma leitura mais aguçada de suas
linhas pode nos sugerir uma visão mais didática e filosófica do texto em
questão. Comecemos essa análise pelo título, compreendendo sua significação.
O título, enunciado como um mote direto para a
significação da mensagem, tem referência literal expressa no Artigo 26 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que dispõe que: "Todo ser
humano tem direito à instrução." E dela não sendo servido, certamente vai
ficar no prejuízo posterior.
Compreendendo
a concepção de “instrução” como essência das prerrogativas de uma educação para
todos, coerente com as concepções humanísticas dos Iluministas franceses, por
exemplo ̶ para lembrar dos ideais do Humanismo europeu ̶, ocorre-nos que, de
modo embrionário, essa noção filosófica e educacional já preexistia desde a
constituição filosófica do homem grego, perspassando os objetivos da Retórica
ou da Matemática, posto que a finalidade maior concentrava-se na
construção das potencialidades do homem social em si e na consecução deste como
indivíduo cidadão da polis. Nesse caso, é na República de Platão que o assunto
se acentua, quando está dito o seguinte:
(…) Como um
olho que não fosse possível voltar das trevas para a luz, senão juntamente com
todo o corpo, do mesmo modo esse órgão deve ser desviado juntamente com a alma
toda das coisas que se alteram, até ser capaz de suportar a contemplação do ser
e da parte mais brilhante do ser. A isso chamamos o bem.
Ou não? -
Chamamos.
- A educação
seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais eficaz
de fazer dar a volta a esse órgão, não a de fazer obter a visão, pois já a tem,
mas uma vez que ele não está na posição correta e não olha para onde deve,
dar-lhe os meios para isso (…) (PLATÃO, 1993, 518 C-D).
Textualmente,
a composição da canção de Ednardo começa com os versos “Olha o padeiro
entregando o pão / de casa em casa, entregando o pão”. A referência inicial é a
dos “padeiros” (como eram chamados os sócios da Padaria Espiritual)
distribuindo o “Pão” (o folhetim cultural da padaria) de porta em porta. A
idéia de criar uma espécie de “padaria” para produzir cultura e conhecimento,
para gerar/produzir um pão para alimentar o espírito dos necessitados,
parece-nos que brotou de um ''insight'' do gênio inventivo de Antônio Sales, no
momento em que o romancista e poeta degustava um pão. Nascia dali a idéia de
fabricar um pão para alimentar o espírito do povo, concebido como metáfora da
multiplicação do conhecimento. Certamente é dessa relação metafórica, mais filosófica
e cultural do que religiosa, que se alimenta a construção do texto musical de
Ednardo.
3. A PADARIA
ESPIRITUAL E SEU ESTATUTO
Todavia, em se
tratando de Padaria Espiritual, observemos que, indo além de uma “alimentação”
despretensiosa, a proposta cultural daqueles aludidos padeiros traz inerentes
marcas de pioneirismo e pré-modernidade, uma vez que, numa época marcada pelo
academicismo da literatura (1892-1896), é possível notar no gesto cultural e
pedagógico o traço transgressor que dá forma às manifestações públicas e
privadas realizadas pelo grupo, que enfatiza a rigor a defesa do localismo e a
aversão ao estrangeirismo, em especial o francês. Isso, notadamente, na esteira
da dinâmica movimentação sócio-politica e cultural da transição do século
XIX para o XX (nossa passagem da Monarquia para a República). A defesa desses
pontos de vista aludidos, que nitidamente antecipam ideias do nosso modernismo
literário, fica patente no Estatuto da Padaria Espiritual, publicado com
quarenta e oito (48) artigos nas páginas do Pão. Contrariando o espírito
cultural do período, este Estatuto pregava, por exemplo, a proibição do uso de
palavras estranhas à língua vernácula, no artigo 14, e a recusa do tom oratório
(tão ao gosto dos parnasianos) nas palestras e publicações, pretensão do artigo
11. Todavia, seguramente os dois artigos que davam maior seriedade à agremiação
eram os seguintes:
02) A Padaria
Espiritual se comporá de um Padeiro-Mor (presidente), de dois Forneiros
(secretários), de um Gaveta (tesoureiro), de um Guarda-livros na acepção
intrínseca da palavra (bibliotecário), de um Investigador da Coisas e das
Gentes, que se chamará Olho da Província, e demais Amassadores (sócios). Todos
os sócios terão a nomeação geral de Padeiros. […]
21) Será
julgada indigna a publicação de qualquer peça literária em que se falar de
animais ou plantas estranhos à Fauna e à Flora brasileiras […]
Embora
nitidamente adotando um ideário nacionalista de oposição ao pensamento do
colonizador, e a despeito da empolgação própria dos discursos juvenis, esses
rapazes não negaram o valor dos grandes escritos e dos pensadores anteriores,
como Goethe e suas obras, além de Shakespeare, Dante, Hugo, Camões, Homero e
José de Alencar, tomando-os também como referência e mostrando o caráter
consciente da agremiação, uma vez que, assim, recusava-se qualquer nacionalismo
deformado, exacerbado, e compreendia-se num pensamento nacionalista abraçado à
causa da valorização das referências da terra. Certamente, similar ao que foi
feito pela Semana de 1922, estavam com antecipação de três décadas, procurando
amadurecer a vitória de nossa brasilidade, aglutinando parcela salutar dos
conhecimentos europeus, em benefício da construção da identidade nacional; com
o Pão, ofertado diretamente aos cidadãos, na função de veículo dessas valorosas
pretensões didáticas.
4. O PÃO E OS
PERIGOS DO ALÇAPÃO
Com alma livre
e irreverente, a distribuir o “Pão” da cultura em todos os meios de uma
metrópole encantada com o espírito da Belle Époque, esses padeiros negavam a
aristocracia e vestiam seus ideais de irreverência e senso crítico, além
do sincretismo literário, como exemplo de dispersão do saber. Reiteramos: a
idéia da dispersão do saber é a referência mais marcante a seguir, exposta a partir
do título da canção de Ednardo: “Artigo 26”.
Vale aqui lembrar que a canção foi escrita
nos primeiros anos do Regime Ditatorial no Brasil (1964-1984), numa época onde
predominava na Educação uma forte influência externa e uma crescente evolução
do domínio cultural norte-americano sobre o país. Repito aqui os versos
musicados que dizem: “Você já leu o artigo 26; Ou sabe a história da galinha
pedrês?; E me traduza aquele roque para o português; A ignorância é indigesta
pro freguês”. Como já citamos anteriormente, a música de Ednardo, aqui em
análise, veio ao público no LP Berro, de 1976 (Gravadora RCA Victor). Neste
Long Play, de espírito tão próximo da visionária padaria citada, ressalta-se a
necessidade da distribuição da cultura, especialmente a partir da valorização
dos elementos regionais, nada obstante o grito de alerta ainda não tenha sido
escutado pela maioria das pessoas, que preferem, ainda hoje, por
desconhecimento, o encanto das culturas alheias dominantes. Somente escapando desse
encantamento e da “ignorância” é que cada pessoa pode ser livre, como o sanhaçu
da música, citação do pássaro rebelde genuinamente brasileiro; livre para
cantar solto no céu, mas sempre nas asas da educação, porque sem instrução e
sem cultura o cidadão torna-se uma presa fácil da manipulação do sistema
sociocultural. Como diz o texto: “Você queria mesmo é ser um sanhaçu; Fazendo
fiu e voando pelo azul; Mas nesse jogo lhe encaixaram, e é um loucura; Lá vem o
padeiro, pão na boca é o que te cura."
Como a ousada aventura contava com alguns
contraditórios – especialmente daqueles para quem a instrução do povo sempre
foi algo assustador –, para os padeiros havia o receio de entregar o
"Pão" naquela casa e ser alvo de violência verbal ou contestação. É
por isso que se diz "Menos naquela, aquela, aquela, aquela não; Pois quem
se arrisca a cair no alçapão?". E alçapão, um termo tão usual no período
posterior ao AI-5 no Brasil, quando predominaram as prisões de intelectuais nos
porões e alçapões do Estado opressor.
Ainda sugerindo ideais de liberdade é que a
canção exalta a tríade “Igualité, Fraternité e Liberté”, paradigmas cultuados
pela Revolução Francesa, mas menosprezados cotidianamente, na prática, pela
burguesia já vitoriosa. No caso do exercício de distribuição da cultura pelos
“padeiros”, o “educando” agradecia o "Pão" recebido, em francês,
idioma à moda na época (Merci bocu, merci bocu – Obrigado, obrigado), ao que o
padeiro respondia, inicialmente em francês (Nê pa dê qua, nê pa dê qua – de
nada, de nada), sugerindo passos de balé (padê burrê), para depois
sublinhar em português que "não há de quê!", após citar de modo
brejeiro, os passos em francês de nossa quadrilha matuta: “anavantu, anavantu,
anarriê”.
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para além de uma mera homenagem, a composição
de Ednardo abraça uma mensagem bem mais didática e filosófica. Como Orlandi
(2002, p. 95) afirma, “a linguagem não é jamais inocente”; ou seja, ela não se
mostra ou se apresenta como neutra. Pelo contrário, sempre há algo a mais a ser
dito, além do que está exposto nas palavras que compõem o “dizer”, e
atravessando os sentidos possíveis, porém escondidos nas entrelinhas.
Ainda mais se tratando de obra realizada no período em questão, oriunda de um compositor
tão polissêmico. Um compositor que, embora pouco acionado pelos atuais veículos
de mídia, mantém público fiel, que mais se aproxima da sua obra com o
hoje estrondos o avanço da internet. E para Ednardo, certamente o
que muito caracteriza seu pensamento é a marca inconteste de nunca ter se
reconciliado candidamente com o mundo em que vive, construído por desigualdades
econômicas e sócioculturais. Na composição em foco, sobressalta claramente sua
verve desconcertante, resgatando a utopia didática dos padeiros da Padaria
Espiritual e confirmando, num tempo onde quase todos os valores assumem
identidade de produto, a sua marca de permanente desafiador de ideias
prontas.
Hoje (23/2/17)
é dia do aniversário do historiador, livreiro e enciclopédia de livros sobre o
Nordeste: Prof. Francisco Pereira de Lima de Cajazeiras - Pb.
Parabéns pela sua enorme contribuição para a história do Nordeste, e que seja
muito feliz junto à família e aqui com a cabroeira! Felicidades e o grupo
dá de presente ao sr. uma cama de livros para descansar!
Abraços,
bibliófilos do grupo "O Cangaço!”
Obs: Os e-mails do professor Pereira são: fplima1956@gmail.com e franpelima@bol.com.brpara encomendas
de livros.
Material do acervo do pesquisador/historiador Guilherme Machado
O Withworth 32
era uma geringonça de 1,7 tonelada, que precisava de 20 juntas de bois para ser
puxado. Os sertanejos apelidaram-no de "matadeira". A condução dessa
poderosa máquina de guerra até os sertões da Bahia afigurou-se um erro de
estratégia dos militares, visto tratar-se a mesma de uma peça excessivamente
pesada e, por conseguinte, imprópria para regiões acidentadas, como aquela em
que tinha curso o conflito armado entre o exército brasileiro e os adeptos de
Antônio Conselheiro. Tratava-se de um artefato de uso da marinha do Brasil, que
acabou incluído no rol de armamentos destinados à guerra de Canudos. Sobre ele
escreveu Euclydes da Cunha: “...A pesada máquina, feita para a quietude das
fortalezas costeiras - era o entupimento dos caminhos, a redução da marcha, a
perturbação das viaturas, um trambolho a qualquer deslocação vertiginosa de
manobras”. E arremata: “Era preciso, porém, assustar os sertões com o
monstruoso espantalho de aço” ( CUNHA, Euclydes da. Os Sertões, 1ª edição. Rio
de Janeiro: Laemmert & C. Editores, 1902, p. 391). “Era dificílimo acertar
o alvo com esse canhão. A balística exigia cálculos a cada tiro, havia mais de
um engenheiro para cada canhão”, afirma o escritor Godofredo de Oliveira Neto,
sobrinho neto do general Mesquita, oficial na guerra de Canudos. No dia 29 de
junho (1897), durante intenso canhoneio, o Withworth 32 sofreu uma explosão,
provocando a morte de dois oficiais do exército: o médico Alfredo Gama e o 2º
tenente Odilon Coriolano. A peça estava posicionada no Alto da Favela, de onde
tentava bombardear o povoado de Canudos. Alguns historiadores acham que a
explosão se deveu a uma sabotagem dos canudenses, que se infiltraram nas tropas
da quarta expedição, usando uniformes militares. Certa feita, Antônio Pajeú e
Joaquim Macambira Filho formaram um grupo, junto com outros 10 combatentes,
para atacar o canhão. Todos foram mortos nesta heroica tentativa. Apenas um
conseguiu escapar para contar a história (No hino da artilharia brasileira há
uma referência a este fato). Abandonado pelas tropas no final da guerra, o
Withowort 32 receberia, anos mais tarde, os cuidados do DNOCS (Departamento
Nacional de Obras Contra a Seca), sendo posto em imponente pedestal. Em 1940
recebeu a visita do presidente Getúlio Vargas, que cumpria agenda política na
Canudos pós-conselheirista. Com a construção do açude do Cocorobó, nos anos
sessenta, foi transportado para Salvador, ficando exposto no Museu do Unhão. Em
1983, foi removido para a cidade de Monte Santo, onde permanece até hoje. Ali,
ele divide espaço com mais dois monumentos: a estátua do Conselheiro e o busto
do marechal Bitencourt. Por José Gonçalves do Nascimento
Minha mãe
sempre acompanhava-me aos assentamentos rurais de Mossoró, quando da minha
pesquisa do mestrado e mesmo posterior a esta.
Essa foto eu tirei no assentamento Hipólito, Município de Mossoró/RN, em 18 de
novembro de 2001.
A pedido de Ignácio Tavares de Araújo, que solicitou-me postar fotos da irmã
bem de saúde, mostro um pouco da alegria de Maria de Lourdes Araújo Cardoso
(Dona Lia) ( * Pombal, Paraíba - 29 de outubro de 1926 - + Pombal, Paraíba - 28
de novembro de 2013).
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso.
Esta é Moema Covello de Araújo filha de Hagahus Araújo Póvoa que é filho de Luís
Pereira da Silva ex-cangaceiro Luiz Padre, neto de Andrelino Pereira da Silva, o
Barão do Pajeú, avô materno de Luís Padre, sendo este último primo de Sebastião Pereira da Silva o ex-cangaceiro Sinhô Pereira, que também é neto de Andrelino Pereira da Silva.
Da esquerda para a direita: Vilar, Wilson e Hagahus que são filhos do ex-cangaceiro Luiz Padre - Esta foto recebi de Moema Covello Araújo.
Após a chacina na fazenda Tapera dos Gilo, Lampião saiu conduzindo seis cangaceiros baleados. Três deles estavam mortos. Ao chegar no Jacurutu, na propriedade do sobrinho de Gilo Donato do Nascimento (patriarca da família Gilo), Manoel Maneca, ele capturou seis trabalhadores que estavam em um corte de madeira e os obrigou a carregar os mortos e baleados, adentrando às caatingas do Tamboriu.
André (guia) e, na
sepultura dos cangaceiros. Foto tirada por Betinho Numeriano,
ex-vereador do município e pai de Bia Numeriano, vereadora atual.
Logo mais à
frente, ele liberou os rapazes e enterrou em uma só cova, os corpos dos
companheiros. Para despistar as volantes, a genialidade do rei do cangaço
aflorou quando ele demarcou o local colocando seis pedaços de madeira,
simbolizando que todos tinham sido abatidos e não seguia com os feridos, sendo
que no local somente três tinham sido sepultados. Como explicar tamanha
inteligência e estratégia do Rei do Cangaço?
Marcos de Carmelita e dona Cícera Rezadeira
Dona Cícera Rezadeira, ainda viva
e lúcida, residindo em Floresta, conheceu esse local na sua juventude e viu os
seis pedaços de madeira que Lampião deixou no local.
Material do acervo do pesquisador/historiador Guilherme Machado
Mamede Paes
Mendonça (1915-1995) era proprietário de uma venda no *arraial Ribeirópolis,
Sergipe, aí por 1934/35, quando um dia, ao levantar a vista, achou-se diante de
indivíduo cor de cobre, cara enfezada e todo aparamentado. Pensou tratar-se de
fiscal do imposto de consumo. Murmurou: "Tô campado!".
Encarando com firmeza, viu que se enganara. O cangaceiro perguntou:
- Vosmicê me conhece?
Mamede ainda não era gago. Respondeu:
- Conhecer não conheço não, mas desconfio.
O cangaceiro tirou as dúvidas: "Saiba que vosmicê está falando com o
capitão Lampião".
Foi aí que teve início a gagueira de Mamede:
- Api-pa-pois, ca-pi-ta-tão, o que é que o sa-si-nhor, ma-mi-ma-manda?
Lampião
pediu a féria do caixa, carne de bode, rapadura, perfume, balas para mosquetão
e parabelo, conhaque Macieira de 5 Estrelas.
- É ca-qui-qui-ca-claro, ca-pi-ta-tão! o sa-si-nhor, la-li-leva ati-ta-té e
veeeenda ta-ti-toda!
Depois de tão
horripilante encontro, Mamede Paes Mendonça resolveu deixar Ribeirópolis e
Sergipe. veio para a Bahia e tempos depois era um mega negociante, mas sempre
grato a Lampião.
Fonte blog.
Lampião Aceso.
Mamede Paes
Mendonça, foto extraída de Serra do Machado Era filho de Elisiário e Maria da
Conceição, possuiu uma padaria no povoado Serra do Machado, Distrito de Ribeirópolis-SE.
José Mendonça blogspot...!!!