Na fria e equilibrada Suécia, mais precisamente em sua capital Estocolmo, se encontra a sede do SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute, uma organização Internacional dedicada à investigação de conflitos, venda global de armamentos, controle de armas e desarmamento. Fundada em 1 de julho de 1966, com o status legal de uma fundação independente, o SIPRI é conhecido internacionalmente por fornecer dados considerados fidedignos ao público interessado e todas as pesquisas do SIPRI são baseadas exclusivamente em fontes abertas. Esta organização construiu sua reputação e posição sobre uma base calcada na competência na coleta de dados concretos e fatos precisos, tornando acessível à informação imparcial sobre a evolução de armas, as transferências de armamentos, produção, as despesas militares mundiais, bem como sobre as limitações de armas, reduções e desarmamento.
É apregoado que a tarefa do SIPRI é a realização de “pesquisa científica sobre questões de conflito e cooperação de importância para a paz e a segurança internacionais com o objetivo de contribuir para uma compreensão das condições para a solução pacífica dos conflitos internacionais e para uma paz estável”. (Ver http://www.sipri.org/) Nesta posição, segundo SIPRI, a nação tupiniquim gastou 28 bilhões de dólares em 2010 com as suas forças armadas.
Se alguém aí conhece estatística e economia, pode até contestar a metodologia da pesquisa, mas fica difícil contestar a competência deste instituto sueco.
TEM GENTE QUE GASTA MENOS E FAZ MELHOR
A primeira posição pertence aos Estados Unidos. Estes gastaram em armamentos e suporte com as suas forças armadas em 2011, o incrível montante de quase setecentos bilhões de dólares.
SIPRI military expenditure database
Rank | | Country | | % of GDP | Per capita ($) |
— | | World Total | 1,546,529,200,000 | 2.2% | |
1 | | | 687,105,000,000 | 4.7% | 2,141 |
2 | | | 114,300,000,000 | 2.2% | 74 |
3 | | | 61,285,000,000 | 2.5% | 931 |
4 | | | 57,424,000,000 | 2.7% | 922 |
5 | | | 52,586,000,000 | 4.3% | 430 |
6 | | | 51,420,000,000 | 1.0% | 401 |
7 | | | 46,848,000,000 | 1.4% | 558 |
8 | | | 42,917,000,000 | 11.2% | 1,524 |
9 | | | 38,198,000,000 | 1.8% | 593 |
10 | | | 34,816,000,000 | 2.8% | 30 |
11 | | | 28,096,000,000 | 1.6% | 142 |
12 | | | 24,270,000,000 | 2.9% | 493 |
13 | | | 20,164,000,000 | 1.5% | 560 |
14 | | | 19,799,000,000 | 1.9% | 893 |
15 | | | 15,803,000,000 | 1.1% | 398 |
16 | | | 15,749,000,000 | 7.3% | 2,653 |
17 | | | 15,634,000,000 | 2.7% | 244 |
18 | | | 13,001,000,000 | 6.3% | 1,882 |
19 | | | 11,604,000,000 | 1.5% | 759 |
20 | | | 9,369,000,000 | 3.2% | 1,230 |
Bem, se não estamos entre os três primeiros colocados (Estados Unidos, China e França) a pesquisa aponta que o Brasil gasta mais com sua classe fardada que países como Coreia do Sul, Canadá, Austrália, Turquia e até mesmo Israel.
Em relação aos outros três países comentados anteriormente, pode-se dizer que são bem menores do que o Brasil em área territorial e não dá para comparar. É verdade, mas é verdade também que a vizinhança da Coreia do Sul, Turquia e Israel não é, por assim dizer, lá muito amistosa. Por esta razão estes países justificam gastar muito dinheiro com armamentos.
E como fica o poder armado da nossa vizinhança?
Bem não dá para esperar muito da Bolívia, do Uruguai, Equador, do Paraguai. O vizinho Peru possui boa qualidade em termos de armamentos, mas nossas relações são positivas, como é com a maioria dos países da nossa região. As forças argentinas, o eterno inimigo do passado, depois das Malvinas e redemocratização estão piores em termos materiais do que as forças militares daqui.
Já a Colômbia é a segunda nação da América do Sul que, segundo o SIPRI, mais gasta com armamentos. Mas os militares colombianos têm problemas de sobra dentro do seu território com as FARC.
De nossos vizinhos, segundo as mídias especializadas sobre estratégia e geopolítica, o que causa maior preocupação é a Venezuela, onde o histriônico líder Chaves merece atenção. Ele tem comprado muita coisa dos russos. Como os propalados 24 caças Sukhoi SU 30MK, um avião moderno, com autonomia suficiente para cobrir grande parte da região norte do Brasil. Como oposição o Brasil oferece alguns caças F-5 reformados, ou “tunados”, que ficam baseados em Manaus.
Não duvido da capacidade dos nossos ases, nem da reforma feita pela EMBRAER nestes aviões, mas a diferença tecnológica é gritante.
Mais gritante ainda é quando vemos os dados do SIPRI e descobrimos que o 11º país que mais gasta com armamentos no Mundo (Brasil), não tem material aéreo superior (em nível de aviação de caça) ao 50º colocado da lista, a Venezuela.
PARA ONDE VAI A GRANA?
E se gastamos 28 bilhões de dólares nas nossas forças armadas, por que nossos guerreiros possuem materiais tão velhos, tão sucateados?
É que mais de 80% do que as forças armadas brasileiras recebem é gasto com a folha de pessoal, tanto ativos, como inativos.
Segundo afirmou o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Vitelio Brustolin, em ao jornal “O Globo”, em dezembro de 2009, as forças armadas têm bastante dinheiro, mas gastam a maior parte com custeio de pessoal e benefícios sociais.
Gasto com pessoal consome grande parte do orçamento das forças armadas brasileiras - Fonte - http://novomaragato.blogspot.com.br/2010/09/ou-ficar-patria-livre-ou-morrer-pelo.html
Brustolin fez um histórico dos gastos militares no período de 1995 a 2008 e em 2009 o Ministério da Defesa teve o terceiro maior orçamento da União, recebendo R$ 51 bilhões de reais. Superior na época ao Ministério da Educação, que foi de R$ 40 bilhões, e menor apenas que os da Previdência e da Saúde. Mas boa parte do dinheiro não foi para comprar novos equipamentos, nem para desenvolver tecnologia.
Segundo a reportagem, o professor de Relações Internacionais da PUC-RJ Marco Antônio Scalércio, especialista em assuntos de Defesa, afirmou que o Brasil investe menos do que o necessário na estratégia das Forças Armadas.
Mas espera aí. Então o nosso pessoal fardado não merece ganhar bem para cumprir suas funções e quem serviu não tem o direito a receber por correto merecimento?
É lógico que sim!
Mas o que não pode existir é que um país que possui tamanha capacidade de recursos naturais, não tenha meios adequados de defesa.
Alguma coisa está muito errada.
O ERRADO É COMO SE GASTA
Recentemente esteve no Brasil o general do Exército Martin E. Dempsey, Chefe do Estado-Maior Conjunto, a maior autoridade militar americana, que realizou uma visita de cortesia a Brasília. No seu encontro com o ministro da Defesa Celso Amorim, este militar de alta patente declarou que o Brasil é um dos motores econômicos mundiais. Depois de anos de promessas, a economia do Brasil tornou-se recentemente a sexta maior do mundo. Com uma população de 220 milhões o Brasil possui uma força de trabalho educada, matérias-primas abundantes e a nação está preparada para ir ainda mais à frente. Para este militar o Poder Nacional é agregado ao poder econômico, diplomático e militar e o Brasil já se considera como uma potência mundial. (Ver http://www.defesanet.com.br/br_usa/noticia/5383/Gen-Dempsey-Procura-Expandir-os-Lacos-Militares-com-o-Brasil) Mas como vimos repetidamente na mídia, o Brasil é um país com deficiências para defender suas fronteiras e riquezas.
Agora adivinhem qual é o país que possui uma das maiores quantidades de água potável na Terra?
Acertou quem disse Brasil.
Creio que hoje todos concordam que os Estados Unidos, ao invadirem o Iraque estavam atrás de um certo tipo de líquido negro. Mas se ao invés de petróleo, os gringos quisessem água doce? Aí meus amigos, adeus Amazônia e o Aquífero Guarani!
Parece que o problema do reequipamento das forças armadas brasileiras é de gerenciamento, ou então os suecos do SIPRI mentem até dar uma dor na língua!
O Brasil é uma nação de paz, onde quase todos seus conflitos passados foram resolvidos por diplomatas do naipe do Barão do Rio Branco. Mas o Barão é agora parte da história.
A mesma história que em seu bojo possuí inúmeros exemplos de povos e nações que perderam muito do que tinham por não se protegerem corretamente.
No final a questão não é se deve, ou não, gastar com defesa no Brasil, mas o como se gasta.
P.S. – Apesar de não dispor de dados mais atualizados, que apontam para uma diminuição dos gastos militares brasileiros, a situação aparentemente permanece inalterada. E tem gente que acha que do jeito que está, temos condições de participar do Conselho de Segurança da ONU.
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Extraido do blog Tok de Histótia, do historiógrafo Rostand Medeiros