Por Benedito Vasconcelos Mendes
Além dos bois mansos, que eram usados no
carro de boi, o burro, o jumento e, às vezes, o cavalo foram muito usados para
o transporte de carga nas fazendas, vilas e cidades sertanejas. O uso da
cangalha era obrigatório para o transporte de qualquer tipo de carga em lombo
de animal, mas para cada espécie de carga tinha um suporte adequado, que
era pendurado nos cabeçotes da cangalha. Por exemplo, as ancoretas para levar
água ou cachaça eram penduradas em suportes de ferro (ferros de ancoreta), com
ganchos, onde as aselhas das ancoretas eram colocadas.
Por sua vez, as argolas
destes ferros ficavam metidas nos cabeçotes da cangalha. A base de madeira para
receber latões de leite ou latas de "querosene", contendo água para
beber, também era amarrada nos cabeçotes da cangalha, por laços de relho de
couro cru ou de cordas de fibras de tucum ou de caroá.
A lenha, estacas,
mourões, cana-de-açúcar e outros materiais alongados eram transportados em
cambitos. Havia dois tipos de cambito, o de madeira serrada, feito pelo
carpinteiro, e o cambito solto, que nada mais era do que a ponta de uma
forquilha, com braços longos (artefato em forma de " V").
Os
dois cambitos soltos de cada lado da cangalha ficavam unidos pela própria
carga. Os caixões de transportar terra para construir açudes, estradas ou para
levar material de construção (areia, arisco, barro, pedra marroada, cal e
outros materiais) possuíam fundos falsos, pois quando a tropa de burros ou de
jumentos chegava sobre a parede do açude, por exemplo, as travas eram abertas e
a piçarra despejada. Quando os caixões iam ser cheios novamente, as travas eram
fechadas e assim sucessivamente.
As bruacas de couro, contendo goma ou farinha
de mandioca e os surrões de palha de carnaúba com grãos (feijão, milho etc)
eram amarrados por duas grossas cordas de couro cru ou com cordas feitas com
fibras vegetais de tal maneira que formavam laços, para pendurá-los nos
cabeçotes da cangalha.
Os caçuás para transportar frutas, raízes de macaxeira,
mandioca, batata-doce, jerimum e outros produtos eram feitos de várias matérias
primas. Dependendo da região, os caçuás eram produzidos com couro cru, talos de
carnaúba com textos de couro, de taboca (bambu) ou de cipó. Existia um
tipo de caçuá, que era uma espécie de mala de talo de carnaúba com tampa (dobradiças
de couro), que era usado para transportar queijo.
Os comboieiros, com suas
tropas de animais, levavam os produtos das fazendas para serem comercializados
nas feiras semanais das vilas e cidades interioranas. Os açudes eram
construídos com terra transportada em lombos de burros. O pisoteio da tropa de
animais sobre a parede do açude em construção servia para compactar o solo. A
cangalha era feita com 4 paus, as duas testeiras em forma de "V"
invertido, com os cabeçotes no ápice e as duas tábuas laterais, que eram
revestidas de couro cru, onde se prendiam as almofadas de junco, envoltas em
tecido de algodão. A cangalha era colocada no lombo do animal sobre uma espessa
esteira de junco ou de outro material (palha de carnaúba) contanto que desse
boa proteção ao animal, pois a cangalha podia pisar (ferir) o burro, quando a
esteira não era adequada.
Enviado pelo proprietário do Museu do Sertão Professor Benedito Vasconcelos Mendes.
Informação
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nenhum órgão público, é de propriedade do seu
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