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terça-feira, 6 de agosto de 2013

CASA DE MENORES MÁRIO NEGÓCIO - UMA INSTITUIÇÃO EXTINTA - PARTE III

Por: José Mendes Pereira

Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano:

Foram tantas façanhas vividas por nós naquela escola nos anos sessenta e setenta, que aos poucos irei relembrando uma por uma. Foram fatos que nada nos ridicularizou, apenas fazíamos coisas que todos os adolescentes da nossa época faziam. Éramos uma família unida e nunca houve brigas entre nós. Vivíamos sobre severas ordens, mas vez por outra nós ultrapassávamos os limites, e estávamos a rirmos uns dos outros, devido as broncas que recebíamos da vice-diretora; e um dos mais capetas daquela instituição era você, meu mano, por não querer deixar ninguém quieto. Volta e meia você já aprontava uma contra alguém, mas jamais suas brincadeiras foram prejudiciais aos nossos amigos.

 
Raimundo Feliciano

Dona Caboquinha (Ana Salem de Miranda, a diretora, esposa do vice-prefeito de Mossoró, na época, Genildo Miranda), era para nós uma mãe de coração brando e grande, e em certos momentos ria com aquele jeito angelical dela, pelas desordens que nós, internos fazíamos.

Ali, nós tínhamos o apoio do governo Estadual, e pelo Dr. Xavier, o verdadeiro Manda-Chuva do SAM - Serviço de Assistência ao Menor, hoje, representado pela FEBEM. Nunca deixamos de usufruir dos nossos direitos, tínhamos tudo, menos bebidas e cigarros. 

Hoje eu vou falar um pouco de coisas que antigamente eram difíceis, como por exemplo, uma das coisas mais difíceis, e  que não se via de jeito nenhum, era uma bela barriguinha de uma jovem, pois além do vestido, ela ainda usava por baixo uma  combinação e uma tal de anágua. 

 

Não se via mulher usando vestido acima do joelho, e uma que com certeza era impossível se ver, a "calcinha". Nem nos varais se via uma estendida, apenas vez por outra uma garota se abestalhava, deixando-a exposta quando se sentava em algum lugar.

Hoje encontramos calcinhas expostas por todos os lugares que frequentamos; nas praias, nos festivais, nas casas de shows, nas escolas, e algumas mulheres fazem questão de tirá-las e rodopiá-las para jogarem no meio dos homens, principalmente oferecendo a cantores que animam shows. Mas isso é a evolução do tempo, e elas têm suas razões. "Quem quiser ver que a veja, ou tanto faz ver como saber que tem".  

 

Mas Sebastião (que era natalense), o João Batista lá de Massaranduba, município de Ceará Mirim, irmão do padre José de Anchieta, como nós o chamávamos, e eu, sempre tivemos as nossas oportunidades de vermos calcinhas sem muitos esforços, não em varais, mas em lindos corpos de mocinhas no auge do seu desenvolvimento, que gostavam de apanhar cajaranas lá no Pio XII.


Para quem não conheceu o Pio XII era uma repartição religiosa e dirigida por freiras, que funcionava em frente às primeiras caixas d'água de Mossoró, próximo ao Tiro de Guerra, e que esta instituição dava apoio a moças que tinham sido decepcionadas na vida amorosa, uma espécie de convento, eu não posso afirmar com clareza, e posteriormente ela foi desativada pela direção da Diocese de Mossoró.

 

Quando nós chegávamos ao Pio XII, geralmente, lá, já nos últimos galhos da cajaraneira, duas lindas mocinhas pegavam cajaranas e jogavam para outra que estava em baixo. De espertos, nós ficávamos acompanhando a outra, recebendo as cajaranas jogadas pelas duas garotas. Mas o nosso intuito não era recebermos as cajaranas jogadas, e sim, vermos as calcinhas das meninas. 

Certo dia não levamos sorte. Assim que entramos ao Pio XII para fingirmos que estávamos colhendo cajaranas, tempo depois chegou um senhor, e ao ver as meninas nos altos galhos, e nós sob elas, esbravejou, ameaçando-nos com um pedaço de lenha da própria cajaraneira. E nós não contamos conversa. Saímos de lá às carreiras, com medo que o homem nos matasse de cacetadas. Dias depois, através de uma delas, soubemos que uma daquelas garotas era sua filha. Nunca mais colocamos os nossos pés lá no Pio XII. Mas o que nós fazíamos geralmente eram coisas de adolescentes.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Fonte:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

Cordel na praça - "Lampião e Volta-Seca em Itabaiana"


Quarto livro do escritor Robério Santos (primeiro em versos) conta as desventuras de Lampião e Volta Seca em Itabaiana-SE em 1929. Fantasia misturada com realidade tem como pano de fundo uma cidade dominada por coronéis e as ruas antigas da Velha Loba. 

Conta também com uma série de ilustrações do artista plástico e arquiteto Melcíades e um mapa exclusivo de Itabaiana em 1929 confeccionado por José de Almeida Bispo. 

O autor planeja para 2014 o lançamento de "O Cangaço em Itabaiana Grande", livro que já está no prelo e há tempos já vem sendo aguardado.

"Lampião e Volta-Seca em Itabaiana é a certeza de que nossa Literatura de Cordel ainda tem muito a revelar. Robério, escritor e grande agitador cultural do Agreste Sergipano – no melhor sentido possível da agitação – nos presenteia com um cordel alicerçado em vasta literatura e na rica tradição oral que persiste no interior do Brasil. 

Tudo bem que o leitor desavisado pode tropeçar na linguagem coloquial que deixa de ser apenas sonoridade e se transforma em imagens, desenhos ortográficos, recriação e revitalização linguística. Entretanto, ao destravar a língua, sobrará poesia, informação, formação e prazer, muito prazer. Viva o Cordel! Viva Cordel! Viva o Cordé..."

Anderson Da Silva Almeida
(Autor de “Cordel Pra Velha Loba”)
O livro possui 60 páginas e custa R$ 20,00 (Vinte reais) com frente incluso.
Quer comprar? Ligue (79) 9969-5819
Ou envie um e-mail roberiosantos@hotmail.com


ROBÉRIO SANTOS nasceu no município de Itabaiana, Estado de Sergipe.

Escritor, retratista, jornalista, professor e profundo amante da cultura de sua terra, tem em sua história literária três outros livros: O Vendedor de Sereias (2011), Joãozinho Retratista (2011) e O Livro Branco da Fotografia (2012) e do inédito Álbum de Itabaiana (2013) em parceria com Vladimir Souza Carvalho. Membro da Academia Itabaianense de Letras onde ocupa a cadeira número 12, onde o patrono é João Teixeira Lobo (Joãozinho Retratista). Este é seu primeiro trabalho em Cordel.

http://lampiaoaceso.blogspot.com
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Hoje: Noite GECC - Cariri Cangaço !


Atenção companheiros Vaqueiros da História, Hoje,
Terça-feira, dia 06 de Agosto, mais um encontro do
GECC-Cariri Cangaço em Fortaleza.

Todos estão convidados.
Na pauta, o balanço das Avante-Première Cariri Cangaço, se você mora em Fortaleza, não perca!

GECC-CARIRI CANGAÇO
Reunião: Rua Gonçalves Ledo, 1630.
Auditório da ABO Ce,
entre a Heraclito Graça e Pe Valdevino.
Começa as 19h

Abraços,

Ângelo Osmiro
Manoel Severo
Aderbal Nogueira

http://cariricangaco.blogspot.com
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O REI ABATIDO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 6 de agosto de 2013. Crônica Nº 1062

Abrimos espaço para a matéria publicada no jornal impresso Gazeta de Alagoas, pag. “D” 16, do conceituado jornalista Walmir Calheiros, em edição do dia 28 de julho de 2013, especial para a Gazeta:

O rei abatido na fase aguda do movimento, governador Osman loureiro pôs fim ao cangaço.

HÁ EXATOS 75 ANOS MORRIA LAMPIÃO

 

Obra de autores alagoanos traz todos os episódios conhecidos no Estado para tentar uma história homogênea, em ordem cronológica.

Clerisvaldo B. Chagas

Na fase aguda do cangaço mais famoso em Alagoas, o Estado foi administrado por 18 governantes. Entre os administradores, apenas dois se destacaram no combate ao banditismo em geral e ao cangaço de Lampião: Pedro da Costa Rego (1924/1928) e Osman Loureiro (1934/1940). Mas somente este teve a honra de colocar à cabeça o louro da vitória final contra o cangaço. Esta e outras informações constam de Lampião em Alagoas lançado este ano, em Santana do Ipanema, onde os autores nasceram, e em Palmeira dos Índios. Trata-se do 17º de autoria de Clerisvaldo B. Chagas e o segundo de seu parceiro Marcello Fausto. Ambos decidiram por esta publicação após constatar a inexistência de obra sobre o cangaço que abordasse de forma geral as ações de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, chacinado com a companheira Maria Bonita e mais nove asseclas em 28 de julho de 1938; há exatos 75 anos, em Angicos, Sergipe, pelas tropas comandadas pelo então tenente João Bezerra, da Polícia Militar de Alagoas.
Os dois escritores afirmam que com a iniciativa deles, as pessoas passam a ter conhecimento também das ações pouco divulgadas das forças volantes e quanto à movimentação de tropas em Alagoas, bem como o trajeto das cabeças dos onze cangaceiros mortos, de Angicos a Maceió, depois de cerca de um ano de pesquisas de campo e de entrevistas com vários tipos de personalidades, entre os quais, ex-cangaceiros, vítimas do cangaço, e filhos de companheiros de aventuras de Lampião.

Marcello Fausto

Lampião continua sendo polêmico. Porém, os autores não são adoradores de cangaceiros. Pelo contrário, eles concordam com Graciliano Ramos, que escreveu em Vivente das Alagoas: Lampião era um monstro.De fato, Clerisvaldo e Marcello reúnem, emLampião em Alagoas todos os episódios conhecidos no Estado para tentar uma história homogênea, em ordem cronológica. Nos primeiros capítulos do livro são destacados o assassinato a tiros do industrial e pioneiro Delmiro Gouveia e a vinda dos Ferreira (Virgolino, pais e irmãos), perseguidos em Pernambuco para Alagoas, em 1918. E passam a narrar as façanhas do futuro Lampião no território alagoano, mês a mês, ano a ano, até a tragédia de Angicos. Sobretudo, a partir de 1922, com o até hoje lembrado assalto à baronesa de Água Branca, quando ele deixou de ser “cangaceiro manso” de outros bandos que agiam no Nordeste, inclusive no Sertão de Alagoas.

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Trupé Cultural – Arte Representada com Sucesso em Petrolândia

Por João de Sousa Lima(*)

O evento Trupé Cultural, acontecido em Petrolândia, Pernambuco, foi um sucesso. O idealizador do evento, o músico e empresário Jadilson Ferraz, conseguiu reunir os diversos seguimentos da arte e reunir uma grande multidão que lotou a orla da cidade e o Museu Restaurante Trupé cultural. O Museu foi também palco de várias apresentações. O grande poeta Chico Pedrosa e as palestras de João de Sousa Lima lotaram o espaço do Museu.

Várias bandas regionais, grupos de bacamarteiros, xaxados e danças abrilhantaram o palco principal. Destaque para o grupo Art Cênics de Paulo Afonso.

João de Sousa Lima abre a mostra sobre Luiz Gonzaga

A equipe da Trupé Cultural está de parabéns pela eficiência...

As mostras sempre bem visitadas por amigos da cidade

João de Sousa Lima lançou seus livros

Famílias inteiras em visita ao Museu

Quilombolas deram um show de ritmos na orla da cidade

Uma multidão seguiu a caminhada cultural

Diana Rodrigues (do Grupo de Xaxado de Triunfo) e as tias de Jadilson Ferraz, Lurdes e Dulce, não perderam nenhuma das atrações. 

Os bacamarteiros tiveram grande participações.

Jadilson Ferraz ainda encontrou tempo para receber os amigos 

Grupo dos Quilombolas abrilhantaram o evento

Quilombolas de Floresta Afro batuque

Bacamarteiros deram grande show

Dulce Ferraz sempre carinhosa...

 
O poeta Chico Pedrosa alegrou o Museu com suas belas e engraçadas poesias

Multidão lotou o Museu Trupé Cultural

Amigos e familiares de Jadilson Ferraz compareceram ao evento. Seu nonagenário pai Zé Ferraz, Neli, João, Helvécio Ferraz (irmão), Iêdo Ferraz (primo) e os amigos Armando, Anselmo.

O poeta de Petrlândia, Júnior (rádio AliAnça FM) 

Na roda de poesia popular Jaie Ferraz sempre atendo para levar a notícia para seu blog que é sucesso em Petrolândia

Bacamarteiros de Triunfo

João, Nely e sebastião carvalho.

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima


http://www.joaodesousalima.com/
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O CANGAÇO DE BOCA EM BOCA

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

Os fatos acontecem e posteriormente são interpretados e reinterpretados, produzindo conhecimento acerca do fenômeno ocorrido. Tal processo implica, necessariamente, na tomada de posições que se voltam para preservar a maior proximidade possível da realidade ou do fato ou mesmo disseminá-lo sem qualquer compromisso com a verdade. E isto, nas duas vertentes, aconteceu com o cangaço.

O que se tem hoje é uma diversidade de feições sobre o mesmo fenômeno, mas disseminadas em vias paralelas: uma que se oficializa como interpretação do cangaço, através dos estudos realizados, e outra através do senso comum, da concepção própria de cada um, das posições tomadas e que são alardeadas boca a boca. A primeira busca se aproximar da verdade histórica; a segunda produz uma verdade segundo a conveniência pessoal.

Com relação ao cangaço, o senso comum, ou seja, aquele conhecimento que o ser humano vai adquirindo, por experiência cotidiana, ao longo dos anos, acaba se transformando num imaginário coletivo onde estão refletidas as concepções populares acerca do cangaceirismo. Desse modo, é a imaginação popular que passa a valorizar ou desvalorizar o fenômeno, a concebê-lo da forma que pressuponha ter acontecido ou mesmo buscar na inventividade um modo de dignificar ou de macular.


De qualquer sorte, a noção que um estudioso ou pesquisador possui do cangaço geralmente se diferencia muito da visão que uma pessoa comum possui sobre a mesma saga sertaneja. A pessoa desprovida de análise mais aprofundada tenderá a imaginar o cangaço como um todo dentro da mataria, sem se preocupar com suas causas, motivações e percursos. Já o pesquisador procura compreender as partes desse todo.

O sertanejo comum, muito menos que um movimento de revolta, de contestação armada ou de banditismo social, ou mesmo como grupo organizado de sublevação à lei e à ordem social, proporá uma concepção que vai desde o mítico ao modo simplista de se fazer justiça pelas próprias mãos. E, diferentemente da concepção acadêmica, passa a mostrar uma clara tendência a sacralizá-lo ou excomungá-lo.

Longe de explicações academicistas, de refinamentos conceituais ou de arcabouços teóricos, a visão tida pela maioria das pessoas é a mais realista possível, ainda que possa não corresponder à verdade. Fruindo puro do que ouviu ou do que aprendeu, não há muito lugar para refinadas interpretações no conhecimento vulgar. A maioria das pessoas se contenta em ouvir e falar sobre o cangaço a ler sobre as versões existentes ou mesmo conhecer mais profundamente seus meandros.

Muitas vezes traz da nordestinidade, da elevação do seu herói conterrâneo, uma defesa já pronta, já na ponta da língua. Do mesmo modo que santifica a figura do Padre Cícero, a maioria dos sertanejos - estes priorizando o imaginário - poderá fazê-lo com relação a Lampião. Não é de se admirar que alguns coloquem o rei dos cangaceiros no mesmo patamar do Padre do Juazeiro, de Antônio Conselheiro e Frei Damião. Daí que aquela cruz fincada na boca da Gruta do Angico possui uma extrema significação para o nordestino.


E não haverá acadêmico ou pesquisador que possa fazer o sertanejo pensar de outro modo. Jamais aceitará que digam que Lampião não passou de um bandido feroz, um assassino cruel nem que o bando se prestou apenas a levar a morte, o medo e o terror por todo lugar aonde chegasse. E na ponta da língua do caboclo estará que aquele povo das caatingas teve coragem de enfrentar os poderosos e combater as injustiças sociais. E ainda que naquele tempo havia homem verdadeiramente valente para enfrentar o que de pior existia.
Neste último aspecto, o que se tem é a visão cimentada do cangaço como algo justo, necessário e que ainda hoje seria de muita serventia para combater as injustiças que se alastram. Eis o imaginário nascido da idealização do cangaço como fenômeno justificado pela injustiça se alastrando em todos os quadrantes sertanejos, fazendo preponderar aquela saga como uma luta em busca de justiça na carcomida sociedade nordestina de então. E que continua.

Para a maioria dos sertanejos, falar em cangaço é dizer da valentia e do destemor daqueles bravos errantes das caatingas, é dizer das estratégias matutas para fugir do encalço da volante perseguidora, é asseverar do romantismo daquela vida debaixo da lua e do sol, é pensar aquele modo de vida como uma grande aventura. Aquelas roupas, aqueles adornos, o ouro brilhando desde o chapéu à ponta dos dedos, tudo tão belo e atraente. Assim, não se volta para as vinditas sangrentas em si, mas sempre para os aspectos e aparatos grandiosos que envolviam os cangaceiros no seu percurso.


As explicações oferecidas através do senso comum não são consideradas pelos estudiosos por diversos fatores. Afirmam os pesquisadores que as pessoas tendem a misturar noções pessoais a um fenômeno muito mais abrangente; que procuram enxergar apenas o fato e desprezam todo um cenário que estava por trás e movia o cangaço; que geralmente se posicionam para opinar sobre o heroísmo ou o reles banditismo de Lampião.

Com efeito, o imaginário comum sobre o cangaço não é muito diferenciado, nos tempos atuais, das concepções controversas travadas em torno da religião, do futebol, de partidos políticos e candidatos, bem como dos acontecimentos cotidianos. Cada um fala com cátedra, defende sua posição e até acirra a discussão se o outro for frontalmente contra seu posicionamento ou sua bandeira.

Nesse entremeio de paixões e abominações, eis que surge o cangaço como a luta maior de um povo sofrido ou como um bando de baderneiros e violentos que aterrorizava o pacífico sertão. Contudo, insista-se em dizer, são concepções sempre nascidas de uma tendência pessoal, de relatos ouvidos e acreditados, de suposições que foram se firmando como verdades. Daí que pouco frutificará o trabalho daquele que pretenda ensinar ao sertanejo outro modo de pensar o cangaço.

Como ocorre com toda paixão popular, não só de defensores vive o cangaço. Mesmo que a maioria dos nordestinos se orgulhe dos feitos de Lampião e seu bando, há aqueles que ainda hoje fazem o sinal da cruz só de ouvir qualquer referência. E quando maldizem sua existência vão buscar no ferro em brasa de Zé Baiano, no mito das criancinhas jogadas para o alto e esperadas na ponta do punhal, no assassinato covarde de sertanejos inocentes, dentre outras versões cangaceiras, a sua feição mais negativa.


Mas nenhuma forma de desonra parece ter o poder de se sobressair ao culto quase sacralizado que a maioria dos sertanejos ainda conserva com relação ao cangaço. Pouco importa se Lampião foi herói ou bandido, se o seu bando foi responsável pela morte de inocentes ou se o medo se alastrou pelos sertões durante o seu reinado. Nada disso importa quando a consciência popular já firmou o entendimento de que o cangaço, e principalmente Lampião, é o próprio Nordeste na sua bravura maior, na sua luta incessante contra todas as injustiças.

Herói ou bandido? Depende de quem esteja do outro lado. Não é um fraco e sem motivos que sua e sangra aquela luta; mas também não é virtuoso quem tanto, além do inimigo, faz sangrar na luta. E não apenas o sangue escorrendo do ser, mas também a vermelhidão do pavor.


(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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