Clerisvaldo B. Chagas, 28 de setembro de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2,589
Quem joga no bicho se alvoroça. Todos os dias tem que sonhar com um animal que conste na roleta, que se assemelhe ou tenha hábitos parecidos. Quando não sonha com um bicho da roleta, fica desarvorado, procurando na na via um sinal indicativo da sorte. Vê cachorro na rua, joga no cachorro. Vê cavalo na rua, joga no cavalo. Assim vai tentando chegar ao objetivo, sim senhor. Quando o cambista não passa, ele vai à banca. Joga religiosamente como quem paga a água, a luz, o botijão de gás. É uma angústia sem fim do viciado no jogo do bicho, cujo sonho de pobre é ganhar um milhar. Só fala no bicho, vive para o bicho, e cada cambista é um amigo que parece cúmplice alimentador de sonhos.
Em Santana do Ipanema, a velha Joana não dava sossego à vizinhança quando sonhava. Saía de porta em porta indagando: “Tu assonhasse com que, comadre?” Resposta dada, voltava a casa onde o dinheiro já estava enrolado esperando o cambista sabidão. O pouco trocado ganho no jogo, já serve para o ovo, a banana... O tempero. A velha Joana, analfabeta, perguntou ao açogueiro: “com quem assonhass assa noite, compade?” E ele: “Sonhei com um bicho que começa com a letra “A”. Joana se alegrou: “já sei. Dessa vez eu ganho”. E a velha Joana iria arriscar o seu dinheirinho suado no tal bicho da letra “A”. A saia varria o chão na alegria incontida de Joana, cujo marido era um dos seus incentivadores ao vício.
Joana aguardou o passar das horas com certa impaciência. Lá nos segredos da tardinha, saiu o resultado do jogo. A velho se encontrou o açogueiro, que lhe perguntou o resultado, se havia ganho na aposta “Ganhei a estrada, cumpade”. “Você me mandou jogar num bicho da letra ‘A’ foi triste”. Resposta: “Como! Eu não ganhei na águia?”. Você ganhou, mas eu perdi quando joguei no Alufante.
Só você, dona Joana!!!
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