Por José
Mendes Pereira
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Mesmo com
dúvidas, se verdade ou não, seu Leodoro Gusmão era um apreciador das histórias
sobre onças, todas contadas pelo seu compadre seu Galdino. Dúvidas, tinha, mas
não podia dizer que, “aquelas suas histórias eram cabeludas”. Não senhor! Nas
viagens que sempre fez com ele, procurando os seus animais de curral, nunca viram uma onça sequer. Mas, seu Galdino garantia que naquela
região era infestada de onças perigosas, e de várias cores. E algumas delas, ele calculava um peso de 20
arroubas mais ou menos. O tamanho seria de 2,30 a 2,50. Para que desmentir o
seu compadre e amigo de longos anos? De forma alguma.
Seu Leodoro
trouxe do berço, uma educação para homem nenhum botar defeito. Nunca fora
crítico, e não tinha coragem de decepcionar ninguém, muito menos um amigo e
compadre de fé. Uma verdade ou uma mentira a mais, não seria por isso, que iria
duvidar, somente para decepcioná-lo. Não senhor! Isto não estava no
seu humilde e leigo dicionário "matuto".
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Foi numa quarta-feira
de cinzas, em uma manhã nublada, que se tornaram compadres, lá na Catedral de
Santa Luzia. O vigário que oficializou o batizado do filho do seu Leodoro, foi
o famoso e querido Padre Humberto Bruening, que durante a recepção, vez por
outra, chamava a atenção dos padrinhos, que abençoassem de coração as famílias,
conservassem as amizades, e dispensassem alguns problemas que surgissem entre
eles.
Monsenhor Huberto Bruening
Assim que o batizado terminou, seu Galdino foi incumbido para
cuidar da formação daquele filho do seu Leodoro que havia apadrinhado. E de
imediato, olhando para ele, disse-lhe:
- Aí, está teu filho, meu compadre Galdino! Cuida dele. Ser
padrinho de uma criança é tomar todos os cuidados, e se responsabilizar por ela,
principalmente da sua formação.
- Sim senhor! Fez seu Galdino cheio de timidez.
Seu Galdino ficou meio admirado com a advertência do seu Leodoro. O contador de histórias de onças, ficou como se
estivesse hipnotizado. Nenhuma palavra saía da sua boca, para confirmar ou
contrariar um pouco o que dizia seu Leodoro. E ali, permaneceu se perguntando: “Será que meu compadre sabe dos meus desejos pela Gertrudes, sua esposa?" Ou será que ele acha que o filho é meu?
Não, seu galdino! O velho fazendeiro Leodoro nunca imaginou tal coisa contra a sua honrada esposa.
Seu Galdino nunca havia feito o que muitos homens fazem,
mudar de mulher. Tinha aquele desejo irresistível pela mulher do agora
compadre, mas nunca tocara nela nem com uma flor de jasmim, porque, a dona Gertrudes não era qualquer uma que se entregava fácil. E jamais, ela teve
pensamentos ridículos com ele, e nem com homem nenhum, somente estava para o
seu marido e mais ninguém.
Quando ainda jovem, e nem conhecia seu Leodoro, seu Galdino
tivera um namorico passageiro com a Gertrudes, e em um
passeio na praia de Tibau, ali pelas dunas, e numa delas, meio declinada, Gertrudes pediu ao seu Galdino que pegasse para ela uma flor, que viçosamente, nascera
entre as areias coloridas do abismo. Seu Galdino partiu para apanhar a flor.
Mas, infelizmente, ao tentar apanhá-la, seu ele caiu de barreira abaixo. Quando
ela viu que o jovem paquerador iria se arrebentar ali mesmo, virou-se para
o outro lado e gritou:
- Não precisa mais Galdino, eu já peguei uma aqui.
Depois, lá se vinha seu Galdino subindo a duna todo quebrado.
Mas nessa noite, depois de algumas histórias de onças contada
por seu Galdino, seu Leodoro pretendeu criar uma historinha para ele ouvir. E
de repente, surgiu com a sua história meio cabeluda.
- Eu acredito plenamente nas histórias que o senhor conta sobre onças compadre, porque
tudo é possível. A que eu tenho para lhe contar não é sobre onças, mas muito
interessante. A última vez que a Gertrudes, minha esposa, foi visitar os
seus familiares lá nas Minhas Gerais, fez um passeio nas águas de uma
lagoa, isto sobre o lombo de uma cobra sucuri, com mais de 20 metros de
comprimentos, e da espessura de um tonel.
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Ela ainda me adiantou que - continuava seu Leodoro - a sucuri
já era treinada para este fim, servindo de prancha para os turistas que ali
apareciam e queriam surfar sobre as águas da lagoa. O que ela me contou, fiquei
de boca aberta, compadre! O início do passeio foi na beira da
lagoa, a sucuri deu partida, com a Gertrudes em cima dela, em pé, de
braços abertos, como se fosse uma sufista, ou a estátua do Cristo Redentor, e
saiu rodeando a lagoa, com toda velocidade.
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E quando chegaram ao lugar de
onde haviam saído, a sucuri deu um freio tão grande, mas foi tão grande, que
a jogou longe da lagoa, saindo feito uma roda, passando sobre pedras,
matos rasteiros, rodando sobre o solo, embolada como se fosse um tatu
bola.
- Meu Deus! – Fez seu Galdino.
E quando ela caiu na real, isto é, há tempo tinha
saído de cima do lombo da sucuri, já estava no terreiro dos seus familiares,
porque havia esbarrado em um rio que passava em frente à casa da família. E ao
cair nele, a água corrente a levou até lá".
- Minha nossa Senhora! Que coisa, hein! – admirou-se seu
Galdino.
Já satisfeito com o troco que havia dado ao seu Galdino,
sobre uma história que ele tinha contado, seu Leodoro disse:
- Eu já estou indo, compadre Galdino. Eu preciso ir ao
campo.
Despedindo-se, montou-se na égua e foi-se embora.
- Mas que compadrinho mentiroso! Que sucuri que nada! Nesses
dias ela irá surfar em outra cobra, mas desta vez surfará é na minha
anaconda. -Dizia seu Galdino balançando a cabeça e se desmanchando em
risos, pela grande mentira que o Leodoro soltara naquele momento.
Minhas Simples Histórias
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