O início da divisão do bando em subgrupos
Longe de nós
leitores, estudantes, pesquisadores e escritores do tema cangaço fazermos
apologia ao crime nem a criminosos. Pelo contrário. Pesquisamos, estudamos e
lemos obras sobre o Fenômeno Social que existiu desde meados do século XVIII
até seu desaparecimento no início dos anos 1940, quase meados do século XX.
No decorrer
dos estudos nos são apresentados os fatos, com os atos ocorridos e suas
personagens, os quais estão afixados nas barreiras do riacho permanente da
história. Sendo a imaginação humana por demais fértil, principalmente em prol
de si própria, logicamente que a narração desses acontecimentos foram, e são,
alterados ao longo do tempo, para mais ou para menos, e até foram algumas
fantasias, causos, lutas e combates, criadas por alguns. Infelizmente, dentre
os próprios escritores, pesquisadores e historiadores vemos em suas entre
linhas, inúmeras criações fantasiosas sobre o tema cangaço.
Cada um tem
sua ‘maneira’ de ver a história. Muitas vezes ela segue para determinado ponto,
e esses só a vem em outra direção.
Uma das coisas
ocorridas no desenrolar desse Fenômeno Social que nos chama por demais a
atenção, referindo a era lampiônica, são as artimanhas, táticas e estratégias
planejadas, montadas e executadas por um sertanejo nascido no Pajeú das Flores,
região do sertão pernambucano, que pouco frequentou escola alfabetizadora, na
infância, e nunca, jamais, esteve em uma escola militar. No entanto, usou
práticas de guerrilhas em sua guerra particular contra as Forças Militares de
vários Estados da Região Nordeste que o perseguia que são por demais
admiráveis.
Lampião e seu
bando estão ‘curando’ as feridas da derrota sofrida em Mossoró, RN, na cidade
cearense de Limoeiro do Norte. Seu bando a partir daí, já bastante desfalcado,
começa a desmantelar-se por inteiro. Nos dias vindouros, após a estada naquela
metrópole cearense, muitos são pegos e presos, outros são mortos e vários
debandam, tendo ainda aqueles que resolvem se entregarem. Por fim, resta apenas
cinco ‘cabras’ e ele. Decidido a continuar no ‘trono’, resolve o “Rei dos
Cangaceiros” transpor as águas do Velho Chico e, em terras baianas, dá
sequência a seu reinado. Esse fato ocorre no ano de 1928. Lá estando, entra em
contato direto com Corisco, cangaceiro que atuou em seu grupo em terras
pernambucanas.
Captura
do bando do "Diabo Louro", subgrupo comandado por Corisco
Mais ou menos
um ano que estavam no Estado da Bahia, Lampião resolve recomeçar suas
extorsões, roubos e mortes, só que, dessa vez, ele muda seu modo de agir. Em
determinadas cidadelas baianas, ele não permite que seus homens façam alguma
‘travessura’, já em outras, a coisa coloca-se como uma verdadeira carnificina.
Após estarem
juntos, o grupo de Lampião e o pequeno grupo do “Diabo Louro”, fazendo um só
bando, isso já no ocaso de 1929, o chefe mor dos cangaceiros dá instruções a
seu, agora, lugar tenente, Corisco, para ele ir com parte do bando para
determinada região do sertão baiano, comece a fazer muitas estripulias por lá,
usando a rapidez nos ataques e, principalmente, nas retiradas, sem nem mesmo
terem o tempo de roubarem algo, só com o intuito de chamar a atenção das
autoridades estaduais. Começando assim, a ação dos subgrupos, propriamente
dito.
“(...) a
atuação do subgrupo por ele (Corisco), comandado, naquele momento, tem a
finalidade exclusiva de confundir a polícia e nisso o recém-nomeado ‘chefe’ vem
obtendo sucesso (...).” (“CORISCO – A Sombra de Lampião” – DANTAS, Sérgio
Augusto de Souza. 1ª Edição. Natal, RN. 2015)
A ação é muito
bem praticada por Corisco. Além de atacar determinados povoados e pequenas
cidades, ele manda ‘avisos’ que atacará outros (as). Com isso são formadas, às
pressas, defesas para as mesmas e as autoridades são informadas. O plano dá
resultado positivo, tanto que a própria imprensa também cai nele, e sabedora do
conteúdo dos boletins militares, publica notícias de por onde estão os
cangaceiros atuando.
O Diabo Louro
ataca Rio do Peixe, depois segue para a Vila de Saúde, aí trava combate com
volantes, solta a ‘notícia’ que atacará Caem, depois que irá até Jacobina... E
assim Corisco vai cumprindo a missão determinada pelo “seu capitão”. Segue
fazendo destino a Vila de Riachuelo, nessa é formada uma tropa de combate que
vai para a mata, de encontro o bando que está vindo. Mas, mais uma vez, são
boatos. A turba segue para outra ‘freguesia’. Em 16 de outubro de 1929. Corisco
está as portas da cidade de Miguel Calmon. Muda de rumo e seguindo de noite
adentro, cai em um piquete armado pela polícia baiana, isso já no município de
Morro do Chapéu, em um povoado chamado Tábuas. Em pouco tempo, dias apenas, há
notícias de Corisco vinda de uma estação ferroviária em um Distrito denominado
Barrinha. São comunicadas as autoridades de Jaguarari e Bonfim e a imprensa
começa a cobrar mais participação da Força. E assim seguiram aqueles
cangaceiros chamando atenção, muito mesmo, por onde passaram.
Com todos os
olhares das autoridades, imprensa e população voltadas para as ações praticadas
por Corisco e seus cangaceiros, Lampião está prestes a cumprir uma promessa que
fizera aos trabalhadores de uma estrada rodagem num lugar chamado Carro
Quebrado. Virgolino, anteriormente havia prevenido que, se retornasse a ver
homens trabalhando na construção da dita estrada, a qual ligaria Juazeiro a
Santo Antônio da Glória, mataria todos, aqueles que estivessem trabalhando
pagariam com a vida. No dia 18 de outubro de 1929, Lampião executa a tiros e
sangrados, nove trabalhadores que trabalhavam na construção da estrada. O crime
é bárbaro e desnecessário. Chama bastante atenção. Após mais outras investidas
do “Rei Vesgo”, a imprensa e as autoridades começam a desconfiar do porquê do
‘furacão’ que Corisco andou levantando bem distante de onde começava a agir seu
chefe. Ocorrem ataques, roubos, extorsões e mortes em lugares muito distantes e
ao mesmo tempo.
““ Convencida,
agora, de que os bandidos se acham, efetivamente, divididos em dois grupos, do
que lhe deu certeza terem ocorrido, quase nas mesmas horas, o tiroteio de Morro
do Chapéu e a façanha de Carro Quebrado, a chefia da Polícia, ao que sabemos,
vai mudar de plano, já tendo, nesse sentido, telegrafado aos comandantes das
forças volantes dando as necessárias instruções”. (Diário de Notícia, outubro
de 1929)”(Ob.Ct.)
Mas, para as
autoridades começarem a agirem dividindo as tropas, se faz necessário algum
tempo para adaptação. Enquanto isso, os dois grupos continuam agindo em pontos
longínquos.
No mês seguinte a chacina dos trabalhadores, novembro de 1929, Lampião faz
visitas amigáveis as cidades de Nossa Senhora das Dores e Capela, no Estado
sergipano.
Grupo
de Lampião - captura de Benjamin Abrahão - 1936/37
De volta a
terras baianas, já em dezembro do mesmo ano, Lampião ataca a vila de Cansanção
e, em seguida pratica mais uma chacina na de Queimadas, onde executam sete
militares, execuções essas que até os dias de hoje, não sabemos seu
significado, razão ou motivos. Em Queimadas, uma pequena vila na época, Lampião
dá prosseguimento ao plano anteriormente arquitetado, soltando para os quatro
ventos, que matou Corisco por ele estar querendo tomar seu poder. Se
pesquisarmos as datas das ações cometidas pelos dois grupos, veremos que haverá
dentre elas, algumas terem ocorrido os seus fatos no mesmo dia, e até na mesma
hora, ou próxima a essa, só que muito distante uma da outra.
“(...) fora
uma ação planejada com intuito de confundir a polícia. O intento, claro, fora
conseguido (...).” (Ob. Ct.)
Com as ações executadas
com total êxito pelos dois bandos, de repente, todos os cangaceiros somem do
‘mapa’. Todos se refugiam dentro da imensidão do Raso da Catarina, e por lá
permanecem por vários e vários dias... Nas
quebradas do Sertão baiano.
Fonte “CORISCO
– A Sombra de Lampião” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza.
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
Santo Antônio das Queimadas-Bahia
Fonte: facebook
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