*Rangel Alves da Costa
Nascido em 17 de junho de 1940, em berço familiar de Emeliana Marques e Ermerindo Alves Costa, no seu querido chão de Poço Redondo, dia 17 de junho deste ano Alcino estaria completando 80 anos. Seu adeus terreno ocorreu em 1º de novembro de 2012, aos 72 anos de vida. Sete anos já se passaram sem suas havaianas serem avistadas cruzando as ruas e esquinas de seu solo sagrado.
As mesmas havaianas que acompanharam todos os seus passos no chão sertanejo, desde o menino ao político, desde o homem simples e do povo ao prestigiado pesquisador, escritor, compositor, radialista, conferencista, e muito mais. Nem o ensino primário Alcino concluiu, mas concluiu com louvor os muitos ofícios que chamou a si por amor a terra: descrever a saga sertaneja em sua pujança e grandiosidade.
Partiu em 2012, contudo. E partiu ainda na flor da luta, ainda cheio de planos, ainda com a certeza que muito poderia fazer. Exemplos disso são os seus livros ainda não publicados, os seus muitos escritos ainda não transformados em outros livros, os seus rascunhos cheios de surpreendentes revelações e a sua letra miúda mostrando sua preocupação em guardar a fidelidade de cada detalhe da história sertaneja e cangaceira.
Eu, Rangel, sou filho de Alcino e guardião do muito que ele deixou. Toda a vida de Alcino hoje está comigo, em minha vida, sob os meus cuidados. Contudo - confesso -, difícil demais para mim que seja assim. Doloroso, até. Imaginem vocês um filho a cada dia encontrando e reencontrando, folheando e lançando o olhar, sobre uma vastidão de coisas, escritor e fatos, que ninguém imaginaria existentes. E tudo maravilhosamente grandioso, belo, como a demonstrar do quanto foi capaz aquele menino que sequer terminou o ensino primário.
Como eu disse, doloroso até. As pastas são muitas, muitas vezes as folhas desordenadas, os rascunhos, uma infinidade de descobertas ali guardadas e transcritas para a posteridade. Mas que posteridade, pois Alcino já partiu sem ter publicado sequer a metade de sua produção literária e de suas pesquisas? O que eu faço com isso, indago. E sem falar nos livros acabados e que estão à espera somente de serem publicados: “Canoas: o caminho pelas águas”, “Vaqueiro, Cavalo e Boi”, “João dos Santos, o Caçador da Curituba”, “Lendas e Causos do Sertão”, “A História de Santa Rosa do Ermírio”, “Artigos Jornalísticos”, “Artigos, Trovas e Versos”, e outros e outros. Sobre o cangaço, certamente mais uns três livros.
Fazer o que com tudo isso? Então eu indago. E novamente imaginem a cena. Eu sozinho no Memorial, com a mesa cheia de Alcino e mais Alcino por todo lugar, lendo Alcino, separando Alcino, procurando ordenar tanta coisa bela, e espantado com tudo aquilo. E que espanto bom e triste, quanta surpresa boa e dolorosa. Eu perante tudo aquilo que meu pai deixou e agora eu com ele convivendo, através dos escritos. Como se com ele eu estivesse constantemente dialogando. E dialogo, sim.
A graça divina mais uma vez lançou suas benevolentes mãos sobre mim. A graça concebida de ser filho de Alcino e Dona Peta, e também a graça de ser o filho escolhido para jamais ser desapartado do pai. Sempre na presença do pai, pois a cada instante dialogando com a grandeza da vida de Alcino: sua obra. A cada momento reencontrando Alcino naquilo que ele fez, escreveu e deixou como pedras fincadas em sua imortalidade. Imortal, pois, é Alcino. Não está mais aqui, mas enraizou-se tão fortemente no seu sertão e em sua história que para sempre estará presente.
Por último, uma confissão. Quando eu retorno a Poço Redondo, quanto eu ultrapasso os portões da antiga casa, eu não chego apenas ao Memorial. Eu vou encontrar meu pai!
Escritor
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