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domingo, 24 de março de 2024

CHOCALHOS DOURADOS DE LAMPIÃO

  Por José Mendes Pereira


A inveja está presente em todas as classes sociais, e até mesmo, em todas as espécies de animais, porque, quando um ver outro capturar uma presa, quer tomar de imediato, como se dissesse: “- Você pegou, mas é meu!”. E parte para o ataque do toma toma.


Se você observar o comportamento de um animal, por exemplo, uma rês (eu vivi no campo e conheço as astúcias de muitos deles), que geralmente tem ao seu lado uma amiga ou amigo, ali, o ciúme doentio está presente, que não quer nem que outra rês, fique perto do amigo ou da amiga. E assim caminha os seres vivos completamente tomados pelo ciúme. A inveja nasce até mesmo por coisas que não têm valor nenhum. E o ser humano é assim mesmo, pior do que os próprios animais. Inveja até o lugar que o outro se senta, se deita, faz refeições, frequenta, debocha para acabar uma amizade...

O difícil é nós sabermos o que leva um sujeito ter inveja de um simples objeto, quase sem valor, chamado chocalho, que só serve mesmo para ser colocado no pescoço de uma rês, e soltá-la no campo, e com o seu som, indicar ao vaqueiro em que direção está ruminando o animal chocalhado. 

Rostand Medeiros
 
O historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros escreveu o que segue sobre a grande inveja do fazendeiro José Saturnino, que teve dois Chocalhos dos animais de seu José Ferreira da Silva, pai dos famosos cangaceiros Lampião, Antonio, Livino e Ezequiel Ferreira.

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Vamos apreciar o que diz o Rostand:

Ferreiras e Nogueiras eram vizinhos. Um parente dos Nogueiras, o José Saturnino, se mostrou “despeitado”, quando viu que o gado dos Ferreiras andava na caatinga com uns chocalhos bonitos, dourados, comprados em Juazeiro do Norte, no Ceará. 

-Chocalho dourado

Até então, todos os chocalhos que chegavam à fazenda Serra Vermelha eram negros e sem graça. No sertão, onde o gado é criado sem cercado, o chocalho funciona como um meio de o vaqueiro localizar bois, vacas e cabras. Saturnino invejando, amassou o chocalho do gado dos Ferreiras e sem eles nas suas reses perderam bois e vacas.

Vaqueiro e seu amado cavalo

Para não ficarem por baixo os Ferreiras deram o troco, amassando chocalho do seu gado. Saturnino não gostou; capou o cavalo de Virgulino. Virgulino cortou os rabos das vacas de Saturnino. A briga cresceu e o juiz de Vila Bela obrigou os Ferreiras a se mudarem. Foram morar no distrito de Nazaré, hoje Carqueja, com uma condição; nem visitavam Serra Vermelha, nem Saturnino entrava em Carqueja. Mas José Saturnino quebrou o acordo e os Ferreiras não gostaram.

Lampião e seu irmão Antonio Ferreira

Começaram a fazer arruaças em Carqueja. Foram obrigados a se mudarem, desta vez para Alagoas, onde um amigo de Saturnino, a pedido deste, matou o pai de Virgulino e feriu um irmão. 

Tenente Zé Lucena responsável pela morte de José Ferreira da Silva pai dos Ferreiras.

Virgulino decidiu vingar-se.

Integrou-se ao bando do cangaceiro Sinhô Pereira e depois começou a agir por conta própria, com seu próprio bando. Seu poder cresceu, ele passou a ser temido até pelos governadores.

Sinhô Pereira - https://br.pinterest.com/pin/483925922460968767/

Em 1926, chegou a propor ao governo de Pernambuco dividir o Estado em dois: à capital caberia a administração do litoral, enquanto ele reinaria sozinho, no Sertão. De cangaço em cangaço, Lampião terminou por ter a cabeça colocada a prêmio por 50 contos de réis.

Cabeças decepadas dos cangaceiros Lampião, Maria Bonita e seu bando

Em 1938, seu bando foi desarticulado, ele e seus companheiros foram degolados e suas cabeças exibidas em praça pública.

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"O BRONZEADO", UM DOS BANDIDOS QUE ATACARAM O APODY EM 10 DE MAIO.

 Por Antônio Filemon Rodrigues Pimenta


Desde dias de julho findo chegou a esta cidade, o prisioneiro Manoel Ferreira, por alcunha - Bronzeado, que fez parte do bando chefiado por Décio Hollanda e Massilon Benevides, que atacou a cidade de Apody a 10 de maio deste anno. Capturado em Martins, ao subir a ladeira da serra onde demora àquella cidade, o bandido fez revelações, que aclararam o processo instaurado, em Apody contra os mandantes do assalto.


Bronzeado falla a todo o mundo que o visita e conta a sua história, a mesma, com os pormenores que pode e sabe.

Diz, como o ouvimos, que é natural de Lavras, tem 27 annos, solteiro, é filho do agricultor Antonio Vicente Ferreira e Maria Roymunda da Conceição, tendo dois irmãos, menores de 15 annos para baixo, de nome José Vicente e Maria, seus paes moram no sítio "Iracema" de Lavras, perto do Sr. João Augusto, um dos perseguidores de Lampião.

Bronzeado diz que trabalhava ao Sr. José Cardoso, que mora em uma fazenda do Sr. Izaías Arruda chefe de Missão Velha e do qual o Cardoso é primo. Estava ali trabalhando quando chegou a ordem do Sr. Izaías de seguirem para Apody. Afim de fazerem o ataque já conhecido, a convite do Sr. Décio Hollanda, morador em Pereiro. Elle e outros não queriam seguir, mas foram obrigados.

O portador da carta de Décio fôra o conhecido "chauffeur" Júlio Porto, também bandido, que aqui morou. Ao bandido Massilon que morava naquella fazenda e onde trabalhava de sapateiro, e ao Júlio Porto Juntaram-se 14 pessoas mais, inclusive elle, Bronzeado. Desse pessoal de Izaías declaro, diversos estão no bando de Lampião como se verá dos nomes seguintes:

Vareda, José Ruque, Grigório, José Torneiro, Coqueiro, Asa Branca, Calangro, Mormaço, Cajazeira, Miúdo, Rouxinol, Jurity, Nevoeiro, (ou Navieiro)? 16 pessoas as acima citadas.

Isto em dias de abril, e seguiram para a fazenda "Bálsamo" de Décio Hollanda. D'ali marcharam para Apody, onde chegaram pela madrugada em 10 de Maio, andando à noite e ocultando-se de dia, desde a sahida de Missão Velha.

Em Bálsamo, juntaram-se mais 4 indivíduos de nome: Vicente Brilhante; outro que este chamava de primo, Vicente de tal e mais um morador de Décio. Este acompanhou o bando até 3 léguas, voltando a exigências de Massilon, que presenciou a aflicção em que ficara a mulher de Décio, que chorava e pedia não violentassem as famílias.

Pobre senhora, tão digna de consideração.

Há minudências outras que já a nossa imprensa revelou.

O CANGAÇO NA IMPRENSA MOSSOROENSE
Antônio Filemon Rodrigues Pimenta.
Tomo II
Páginas 69 e 70.
Fundação Vingt-Un Rosado 
Coleção Mossoroense
Série "C", Número 1104,
Outubro 1999.

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SAUDOSO PROFESSOR LUIZ SERRA, AUTOR DO LIVRO "O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO".

 Por José Mendes Pereira

Prof. e escritor de Brasília Luiz Serra

Lamentável:

Parece-me que este livro foi o seu primeiro trabalho (entenda), sobre cangaço. 

Infelizmente, veio a Covid-19 e o levou. Professor Luiz Serra esteve em Natal com sua filha no ano de 2016, para o lançamento do seu livro. Fui informado por ele que precisava vir à Mossoró, mas ainda não tinha sido programado para lançar a sua obra aqui.

Sempre estudiosos do cangaço me enviam e-mails para adquirirem esta obra, e eu os forneço o e-mail do professor Pereira, para uma possível solicitação, que é: 

franpelima@bol.com.br 

Era professor de língua portuguesa UnB
Pós-graduado UCM RJ
Revisor / fazia orientação para interposição de recursos de Redação / Gramática

Ministrava aulas de treinamento e atualização nos seguintes órgãos:
Itamaraty - Brasília;
Justiça Federal, 1ª Região;
Superior Tribunal de Justiça;
IPEA - Instituto de Pesquisa Aplicada;
Instituto Publix - Gestão Pública;
COOPERFORTE;

Ministrava aulas no IPA - Instituto de Português Aplicado (DF) e no IAD - Instituto Avançado de Direito - DF.

Era assessor de Revisão do CENIPA - Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.

https://br.linkedin.com/in/prof-luiz-serra-79061246

UM POUCO DA SUA BIOGRAFIA:

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 8 de junho de 1950. Licenciado em Letras (Português) e Literatura Brasileira pela UnB e pós-graduado em Linguagem Piscopedagógica do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da FAB (Cenipa), do Ministério da Defesa, Militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense. Como revisor, atuou na Câmara dos Deputados e em obras relevantes na área técnica e administrativa, como no projeto “Governança em Ação”, de Caio Marini, e no livro didático “Provas Discursivas: Estratégias”, de João Dino. Pert. à Associação Nacional de Escritores. Bibl.: O sertão anárquico de Lampião: Cangaço, Canudos, Padre Cícero, Coluna Prestes, Coronelismo e Estado Novo: o Nordeste no início do século XX, 2016. Faleceu a 8 de março de 2021. 

https://anenet.com.br/luiz-serra/

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LAMPIÃO E OS MOTIVOS DA CRIAÇÃO DAS FORÇAS VOLANTES DE NAZARÉ

 Por O Caçador de Histórias

https://www.youtube.com/watch?v=QWtLcvEVL6U&ab_channel=OCA%C3%87ADORDEHIST%C3%93RIAS

Forças volantes de Nazaré do Pico Serra Talhada Após uma campanha completamente desastrada e constrangedora em Canudos na Bahia, o Exército regular não podia mais se ver envolvido em conflitos de natureza policial, no entanto seu uso era um constante, isto em função de não haverem ainda forças policiais federais naquela época. Por outro lado, todos os governos do Nordeste brasileiro, via crescer velozmente o banditismo em seus territórios e precisavam criar uma força policial que fosse capaz de conter esse avanço tão nocivo a todos. Surgem então os pelotões mistos que ficariam conhecidos pelo nome de Volante. Estas volantes eram compostas por policiais militares e nativos do agreste e eram em geral comandadas por um oficial de Exército (tenente ou capitão), ou um delegado de policia, indicados geralmente por um “Coronel” da região, o que os tornavam conhecidos como “delegados calça-curta”. Esses grupos percorriam grandes distâncias a pé, perseguindo os cangaceiros, na maioria das vezes, em notada diferença, pois os perseguidos se encontravam muito melhor armados e municiados que eles, além de contarem com uma verdadeira rede de apoio formada por coiteiros, simpatizante ou não, que os alimentava e forneciam até armamentos, enquanto que as forças legalistas, não traziam para si este mesmo tipo de apoio.  É preciso aqui esclarecer que algumas dessas tropas de Volantes, se utilizavam de métodos iguais e em alguns casos, até mais cruéis do que os dos cangaceiros para com aquela gente sofrida, chegando a ter ocorrido diversos casos de roubos, assassinatos e estupros causados pelos policiais das Volantes. Qualquer atitude ou deslize era motivo justificado para que houvesse esculacho contra os moradores, sendo que desta maneira a integridade física e moral do sertanejo e de seus familiares não valiam absolutamente nada diante daqueles que por ironia, deveriam se obrigar a os respeitar e proteger. Assim, o sertanejo via nos cangaceiros, homens que se respeitados, a recíproca seria idêntica, chegando mesmo a protegê-los. Outro fator que dificultava o desempenho das Volantes era que ao contrário dos cangaceiros, eles tinham que respeitar as chamadas jurisdições, não podendo ultrapassar as fronteiras estaduais durante as perseguições. Esse impedimento, só bem mais tarde pode ser resolvido com um acordo firmado por quase todos os estados envolvidos, e que permitiam que as Volantes quando em perseguição, pudessem transitar livremente, não mais respeitando fronteiras. Os componentes das Volantes sobreviviam com baixos recursos governamentais, com armamentos defasados, em marchas longas e exaustivas, muitas vezes sem alimentos, sem água de boa qualidade, dormindo mal, chegando a ficar com fardas aos farrapos, por terem que atravessar a caatinga, em sua maioria formada por facheiros, macambiras, unhas-de-gato, xiquexiques, mandacarus e quipás. E não foram raros os casos em que viram em seus quadros, casos de infecções, disenteria, impaludismos, picadas de cobras, ferimentos à bala, e até tuberculose. JOÃO GOMES DE LIRA (1913-2011) Foi lutar contra o cangaço aos 17 ANDRESSA TAFFAREL DE SÃO PAULO O pernambucano João Gomes de Lira tinha apenas 17 anos quando entrou para as forças policiais que combateram o cangaço no Nordeste, as chamadas volantes. O alistamento foi uma "necessidade", segundo o neto Charles, pois a região de Floresta, cidade natal do avô, estava sendo ameaçada pelo bando de Lampião. João não era do grupo que matou Virgulino, em 1938, mas conheceu o cangaceiro antes de virar policial, pois eram de cidades próximas.
Considerado o último combatente vivo que lutou contra o cangaço, recebeu inúmeras condecorações e homenagens.
Também escreveu um livro sobre o período: "Memórias de um Soldado de Volante", publicado em 1990.
Passar o dia em frente à máquina de escrever, aliás, era o que ele mais gostava de fazer nas horas de folga.
Antes de se aposentar como primeiro-tenente da PM, trabalhou em Recife e em vários municípios do interior.
Num deles, Carnaíba, foi vereador na década de 1970. Antes de assumir, chegou a pensar em desistir do cargo, pois achava que, por causa da quantidade de votos recebidos, não tinha sido bem aprovado pelos eleitores.
Em 1987, voltou para o distrito de Nazaré do Pico, em Floresta, onde passou o resto da vida. Ficou viúvo em 2001, após 60 anos de casamento. "Foi um grande baque para ele. Era um apaixonado pela minha avó", conta Charles.
Sem poder caminhar há vários anos por causa de uma artrose, morreu na quarta-feira (3), aos 98 anos, de edema pulmonar. Deixa 11 filhos, netos e bisnetos.

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LAMPIÃO, MARIA BONITA E O CANGAÇO

Por Antônio Corrêa Sobrinho

AMIGOS,

O E-BOOK "LAMPIÃO, MARIA BONITA E O CANGAÇO SOB O OLHAR DOS LITERATOS EM JORNAIS E REVISTAS" JÁ SE ENCONTRA DISPONÍVEL (EM PDF) NO SITE www.antoniocorreasobrinho.com.
ESPERO QUE APRECIEM O TRABALHO, QUE FIZ COM GOSTO, PARA MIM E PARA TODOS VOCÊS.
ABRAÇO FRATERNO.

https://www.facebook.com/groups/179438349192720

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GRAVEMENTE NO PÉ, O REI DO CANGAÇO BUSCOU REFÚGIO NA “CASA DE PEDRA” DA LENDÁRIA SERRA DO CATOLÉ, EM SÃO JOSÉ DO BELMONTE (PE).

Por Valdir José Nogueira de Moura

Frondosa e ainda existente, a árvore do tipo “pau-ferro”, localizada bem às margens da lendária Lagoa do Vieira, a pouca distância da Pedra do Reino, testemunhou o combate travado no dia 23 de março de 1924, com uma volante comandada pelo major da polícia de Pernambuco Theophanes Ferraz, onde o cangaceiro Lampião foi seriamente atingido no pé e morta sua montaria, tombando o animal sobre sua perna. Tendo se livrado do peso do animal morto e mesmo ferido, o cangaceiro consegue reagir à altura da situação. Na gruta conhecida como Casa de Pedra, na Serra do Catolé município de São José do Belmonte, Lampião se refugiou e iniciou sua recuperação.

Interessante apontar que da Casa de Pedra onde se refugiou Lampião, tem-se uma magnífica visão do vale onde fica a famosa área histórica conhecida como Pedra do Reino, retratada no romance de Ariano Suassuna – O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. A Lagoa do Vieira também é citada nesse famoso romance através de uma explicação dada pelo personagem Luís do Triângulo:

“Naquele momento, chegávamos a uma Lagoa rasa, situada à direita da estrada, Luís do Triângulo explicou:

- Essa é a Lagoa do Vieira! Os Vieiras eram parentes do Rei João Ferreira e estiveram, também, metidos na “Guerra do Reino”! Diziam eles que esta Lagoa era encantada e que, aqui, Dom Sebastião tinha uma mina de ouro para os pobres!”.

Valdir José Nogueira de Moura

Fotografia: Durante Seminário do Cariri Cangaço em São José do Belmonte, em outubro de 2018, na visita à “Casa de Pedra de Lampião” na Serra do Catolé. Ensaio fotográfico de Rodrigo Honorato com o confrade Quirino.

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