Forças volantes de Nazaré do Pico Serra Talhada
Após uma campanha completamente desastrada e constrangedora em Canudos na Bahia, o Exército regular não podia mais se ver envolvido em conflitos de natureza policial, no entanto seu uso era um constante, isto em função de não haverem ainda forças policiais federais naquela época.
Por outro lado, todos os governos do Nordeste brasileiro, via crescer velozmente o banditismo em seus territórios e precisavam criar uma força policial que fosse capaz de conter esse avanço tão nocivo a todos. Surgem então os pelotões mistos que ficariam conhecidos pelo nome de Volante. Estas volantes eram compostas por policiais militares e nativos do agreste e eram em geral comandadas por um oficial de Exército (tenente ou capitão), ou um delegado de policia, indicados geralmente por um “Coronel” da região, o que os tornavam conhecidos como “delegados calça-curta”.
Esses grupos percorriam grandes distâncias a pé, perseguindo os cangaceiros, na maioria das vezes, em notada diferença, pois os perseguidos se encontravam muito melhor armados e municiados que eles, além de contarem com uma verdadeira rede de apoio formada por coiteiros, simpatizante ou não, que os alimentava e forneciam até armamentos, enquanto que as forças legalistas, não traziam para si este mesmo tipo de apoio.
É preciso aqui esclarecer que algumas dessas tropas de Volantes, se utilizavam de métodos iguais e em alguns casos, até mais cruéis do que os dos cangaceiros para com aquela gente sofrida, chegando a ter ocorrido diversos casos de roubos, assassinatos e estupros causados pelos policiais das Volantes. Qualquer atitude ou deslize era motivo justificado para que houvesse esculacho contra os moradores, sendo que desta maneira a integridade física e moral do sertanejo e de seus familiares não valiam absolutamente nada diante daqueles que por ironia, deveriam se obrigar a os respeitar e proteger. Assim, o sertanejo via nos cangaceiros, homens que se respeitados, a recíproca seria idêntica, chegando mesmo a protegê-los.
Outro fator que dificultava o desempenho das Volantes era que ao contrário dos cangaceiros, eles tinham que respeitar as chamadas jurisdições, não podendo ultrapassar as fronteiras estaduais durante as perseguições. Esse impedimento, só bem mais tarde pode ser resolvido com um acordo firmado por quase todos os estados envolvidos, e que permitiam que as Volantes quando em perseguição, pudessem transitar livremente, não mais respeitando fronteiras.
Os componentes das Volantes sobreviviam com baixos recursos governamentais, com armamentos defasados, em marchas longas e exaustivas, muitas vezes sem alimentos, sem água de boa qualidade, dormindo mal, chegando a ficar com fardas aos farrapos, por terem que atravessar a caatinga, em sua maioria formada por facheiros, macambiras, unhas-de-gato, xiquexiques, mandacarus e quipás. E não foram raros os casos em que viram em seus quadros, casos de infecções, disenteria, impaludismos, picadas de cobras, ferimentos à bala, e até tuberculose.
JOÃO GOMES DE LIRA (1913-2011)
Foi lutar contra o cangaço aos 17
ANDRESSA TAFFAREL
DE SÃO PAULO
O pernambucano João Gomes de Lira tinha apenas 17 anos quando entrou para as forças policiais que combateram o cangaço no Nordeste, as chamadas volantes.
O alistamento foi uma "necessidade", segundo o neto Charles, pois a região de Floresta, cidade natal do avô, estava sendo ameaçada pelo bando de Lampião.
João não era do grupo que matou Virgulino, em 1938, mas conheceu o cangaceiro antes de virar policial, pois eram de cidades próximas.
Considerado o último combatente vivo que lutou contra o cangaço, recebeu inúmeras condecorações e homenagens.
Também escreveu um livro sobre o período: "Memórias de um Soldado de Volante", publicado em 1990.
Passar o dia em frente à máquina de escrever, aliás, era o que ele mais gostava de fazer nas horas de folga.
Antes de se aposentar como primeiro-tenente da PM, trabalhou em Recife e em vários municípios do interior.
Num deles, Carnaíba, foi vereador na década de 1970. Antes de assumir, chegou a pensar em desistir do cargo, pois achava que, por causa da quantidade de votos recebidos, não tinha sido bem aprovado pelos eleitores.
Em 1987, voltou para o distrito de Nazaré do Pico, em Floresta, onde passou o resto da vida. Ficou viúvo em 2001, após 60 anos de casamento. "Foi um grande baque para ele. Era um apaixonado pela minha avó", conta Charles.
Sem poder caminhar há vários anos por causa de uma artrose, morreu na quarta-feira (3), aos 98 anos, de edema pulmonar. Deixa 11 filhos, netos e bisnetos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário