Tive a honra de fazer parte de um profícuo evento cultural em Dores, próspera cidade da entrada do sertão sergipano, a convite do meu amigo, professor JOÃO EVERTON DA CRUZ, titular da Secretaria Municipal de Juventude, Cultura, Turismo e Eventos, e do não menos amigo JOÃO MARCELO, Prefeito Municipal. Nesse evento festivo, com danças folclóricas, encenações e cantorias, que faz parte do projeto “Dores é Cultura”, aproveitei a oportunidade para fazer mais um lançamento do meu “Lampião – a Raposa das Caatingas”. Tive o prazer de rever o historiador João Paulo, Presidente da Academia Dorense de Letras, e a querida amiga Salete Nascimento, pioneira em Sergipe da Literatura de Cordel. Parabéns, João Everton! Parabéns, prefeito João Marcelo!
Foto memorável, tirada num encontro de escritores ocorrido em Missão Velha (Ceará), promovido pelo grupo Cariri Cangaço.
A senhora que aparece à esquerda é sobrinha-neta do legendário coronel Antônio Joaquim de Santana, o conhecido coronel Santana, da fazenda Serra do Mato, na Chapada do Araripe, famoso coiteiro de Lampião, pai do então Juiz de Direito de Juazeiro, Dr. Juvêncio Joaquim de Santana, que foi Secretário de Justiça do Ceará.
No centro, encontra-se minha querida amiga Neli Conceição, filha do casal de cangaceiros Moreno e Durvalina. A senhora à direita é dona Orlandina, filha do não menos famoso Isaías Arruada, que foi chefe político de Missão Velha e Aurora (Ceará), outro coiteiro de Lampião, com quem se desentendeu depois e tentou envenená-lo. Peço desculpas à sobrinha-neta do coronel Santana e ao cidadão na outra extremidade da foto, filho de dona Orlandina, por não declinar os seus nomes, pois infelizmente perdi as anotações que fiz naquela oportunidade.
Se Manoel Severo Barbosa ou outro companheiro do Cariri Cangaço souber os nomes dessas ilustres figuras, por favor me informem. Ah, sim... Nessa foto estou segurando o meu livro "Lampião - a Raposa das Caatingas", que acabava de autografar para a sobrinha-neta do coronel Santana. Um abraço a todas essas pessoas. Espero revê-las.
Foto 2015
Em recente viagem divulgando o meu livro em Pernambuco e Alagoas, tive o prazer de encontrar essa grande figura humana, o Silva Júnior, misto de jornalista, poeta, empresário e "arquiteto" - ele mesmo projetou, desenvolveu e decorou o prédio de sua pousada em Canindé, onde me hospedei como um lorde. E olhe que eu não estava só: estava com "Lampião - a Raposa das Caatingas".
Foto 2015
Fiquei impressionado! Ao ser entrevistado na Rádio Excelsior sobre o meu livro “Lampião – a Raposa das Caatingas”, no programa “Alô Juventude”, que como o nome indica tem por alvo os jovens, sucederam-se telefonemas de toda parte, comentando e fazendo perguntas sobre Lampião, sobre Antônio Conselheiro e sobre o Padre Cícero, personagens que simbolizam a história do Nordeste, a terra do mandacaru, do xiquexique, da macambira – a terra do espinho. Mais que um livro sobre a história do cangaço, “Lampião – a Raposa das Caatingas” termina sendo um esboço da história do Nordeste. Agradeço o apoio do jornalista Renê Vilela na divulgação do meu trabalho. Um abraço ao Pablo Reis. Divulgar um livro é mais difícil do que escrevê-lo.
Foto 2015
Amigos pesquisadores do tema cangaço: sempre que passarem por Poço Redondo, não deixem de visitar o MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA. Alcino – o Vaqueiro da História – foi o maior pesquisador dos assuntos do cangaço em Sergipe. O Memorial é mantido com zelo e carinho por seu filho Rangel Alves da Costa. Estive lá recentemente em companhia de Oleone Coelho Fontes e fiquei emocionado ao ver como é reverenciada a figura de Alcino, com a exposição de fotografias, suas obras (inclusive os originais manuscritos ou datilografados) e objetos de uso, até suas inseparáveis sandálias, que ele usava até nos comícios: Alcino foi prefeito de Poço Redondo três vezes.
Foto 2015
Esta foto registra o momento em que assinei o termo de posse como Membro Correspondente da Academia Gloriense de Letras (AGL), em sessão solene realizada no dia 12 de dezembro de 2015. Este fato é de grande importância simbólica para mim, pois foi em Glória, antiga Boca da Mata, que vivi a minha infância. Escolhi como patrona minha professora do curso primário, Cleodice Tavares Lima.
Foto 2015
A Livraria Escariz é o Templo do Livro. Nesta última quinta-feira, na Escariz, durante o lançamento do livro "Joaquim Bento, o Poeta", de Souza Lima - da esquerda para a direita: Martha Hora, Cris Souza, João Lover, Souza Lima, eu (José Bezerra) e Domingos Pascoal. Martha tem na mão seu livro de poesias e crônicas "Desvendando Sombras e Sonhos". Souza Lima exibe o meu "Lampião - a Raposa das Caatingas". Cris, eu e Pascoal mostramos o livro que estava sendo lançado na ocasião, "Joaquim Bento, o Poeta", que conta a saga desse grande poeta paraibano, na visão de seu filho, meu querido amigo Sousa Lima. Viva a Escariz, o Templo do Livro! Viva a Literatura Sergipana!
Foto 2015
Não tenho culpa, mas esse Lampião anda muito exibido... Anda agora para cima e para baixo com o Deputado LUCIANO BISPO, digno Presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, filho ilustre de Itabaiana, que honra a sua terra. Esta foto foi tirada na Bienal de Itabaiana, a festa do livro. Um abraço, deputado. Espero que arranje tempo para ler o meu modesto trabalho, "Lampião - a Raposa das Caatingas". E viva Itabaiana Grande!
Foto 2015
Flagrante histórico – para mim, evidentemente: a foto registra o momento em que passei às mãos do mestre Antônio Amaury Corrêa de Araújo o meu “Lampião – a Raposa das Caatingas”, por ocasião do “CARIRI CANGAÇO” em Piranhas, em julho de 2015. Antônio Amaury é o mais abnegado pesquisador do cangaço da atualidade. É impossível escrever sobre Lampião sem citar o mestre Amaury, pesquisador incansável, que dedicou a vida ao estudo da saga cangaceira.
Foto: 2015
Foto 2015
Adquira o "Lampião a Raposa das Caatingas" através deste email:
Se este livro "SILA DO CANGAÇO... ... AO ESTRELADO" estiver faltando em sua estante, precisa adquiri-lo urgentemente, porque livros com tema cangaço voam rapidamente, principalmente os colecionadores não dão chances, arrebatam logo, chegando a comprarem em grande quantidades.
Basta entrar em contato com o Dr. Archimedes Marques através deste e-mail:
Este dia
entrou para a história, com a solenidade de posse da minha honrosa cadeira na
Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço (ABLAC ).
O evento aconteceu na Universidade Tiradentes na Cidade de Aracajú, Capital de
Sergipe, donde contou com a presença das maiores autoridades daquele Estado e
com os mais renomados Escritores e Pesquisadores do Brasil.
É, para mim, uma honra fazer parte deste seleto grupo. Por oportuno, parabenizo
aqui todos os acadêmicos e em especial o Presidente da Academia *Archimedes
Melo* *Marques* e a Secretária Acadêmica *Elane Lima Marques* , pela
organização do evento.
É com imenso e
sincero pesar que recebo a notícia do falecimento daquele que foi meu mestre e
amigo, Dr. Chiquinho. Profissional exemplar, um ser humano excepcional, com ele
aprendi que a advocacia pode ser exercida com simplicidade, humildade e
respeito aos colegas e, sobretudo, às partes envolvidas na lide. Sua
inteligência, profissionalismo e experiência me encantavam. Foi o Dr. Chiquinho
que me recebeu de braços abertos em seu escritório quando eu era apenas uma
simples estudante de Direito e, na ânsia do saber, buscava um escritório
para um estágio. Foi ele que me acolheu e sem reservas me repassou
conhecimentos que até hoje me são valiosos. Viramos amigos verdadeiros, amizade
que perpassou meu período de estágio em seu escritório. Era sempre com sincera
alegria que eu o encontrava e o abraçava, e o reverenciava como meu eterno e
querido mestre. Minha gratidão será eterna por tudo que me ensinou, gratidão
por sua amizade e seu carinho fraternal.
O Dr. Chiquinho foi e continuará sendo
um exemplo para a advocacia responsável e desinteressada. Vá com Deus, meu
querido mestre! Um dia nos encontraremos em outra esfera para botarmos nossas
"fofocas" em dia e darmos boas risadas sobre o que nos dava alegria.
Estou certa de que, com sua partida, perco bem mais que um colega advogado,
perco uma referência rara de sabedoria, benevolência e humildade. Que São
Damião, seu santo de devoção, lhe receba e lhe faça as cortesias da Casa em sua
chegada! Respeito, gratidão e saudades, para sempre.
Fiquei triste com a partida para outra dimensão do santanense Juriti. Pessoa humilde, amigo de todos e sapateiro que servia à sociedade com talento, prego, cola e graxa. Eu o conheci há décadas vendendo quadros de uma vidraçaria da cidade. Ultimamente estava na lista dos últimos sapateiros de Santana do Ipanema.
JURUTI NA SUA TENDA. (FOTO: B.CHAGAS/ARQUIVO).
Foi na sua tenda, ao lado da Matriz de Senhora Santana, quando o vi pela última vez. Pedia para o nosso amigo colar um calçado novo que queria me dá vexame. Foi ali que o sapateiro desabafou suas vitórias, falando de estudos e formatura de filhos. Citou positivamente o desembargador José Carlos Malta, em nossa palestra, mas também de pessoas que não sabem valorizar a sua arte. No espaço deve ter sido muito bonito o voo do Juriti. Deus o acolha com todo carinho mais esse guerreiro sertanejo.
ASFALTO CHEGANDO À RUA NAIR AMARAL.
Voltando ao asfalto que vai cobrindo as vias de Santana do Ipanema, registrei as ações da Empresa na Rua Nair Amaral. Não é a minha rua, mas é a paralela, continuação da Rua Manoel Madeiros. Depois fui ver o início dos trabalhos na Avenida Castelo Branco passando pela Escola Helena Braga até o Corpo de Bombeiros. Pela sua largura, o asfalto ficou tão bonito parecendo o melhor trabalho entre todos. Assim o Bairro São José, foi prestigiado em mais de três ruas, inclusive a da igreja que abriga o santo padroeiro.
Assim em nossas andanças vamos colhendo sem querer, os depoimentos de pessoas como mototaxistas, motoristas e donas de casa extremamente felizes com o asfalto. Essas pessoas dizem: “não interessa quem fez, como fez e quando fez, a realidade é que fez”.
O terrível facínora, terror do Nordeste, prepara o assalto a *Rio Branco, PE
Transcrição de Antonio Corrêa Sobrinho
As populações alarmadas defendem de arma na mão a vida e a propriedade
Notícias de Rio Branco, no sertão de Pernambuco, trazem informes da situação de pavor em que se encontra aquela vila, sob a ameaça de ataque dos facínoras dirigidos por Lampião, que se tornou em toda a zona sertaneja do Nordeste um nome mais temido do que foi anos atrás o famoso Antonio Silvino.
O aspecto de Rio Branco em 1932
IN: tatiannetfb.blogspot
As notas, que temos à mão, pintam-nos uma situação de pavor, não entrando na sua composição nenhuma expressão de exagero.
Há o relato simples de atrocidades e, sobretudo, vivamente reproduzida, à sombria impressão que a aproximação do bandoleiro determina no espírito timorato das populações.
O bandido faz-se anunciar por uma série de assaltos, roubos, mortes, desrespeito à propriedade alheia e à individualidade das senhoras, bastando a encher de maus augúrios todos quantos se julgam sob a ameaça da sua presença incomoda.
Antiga Estação Ferroviária
IN: tatiannetfb.blogspot
O povo sertanejo é de natural simplório e dado à crendice, de sorte que os feitos desses vultos sinistros crescem facilmente e se distendem na sua imaginativa, tomando proporções de horrores. Não fosse, assim, formada a sua alma, entretanto, e o pânico seria fatalmente o mesmo, porque Lampião, agindo sob a discreta proteção de alguns fazendeiros e autoridades, que desvirtuam dessa maneira o seu papel, enche facilmente o espírito daquele povo com o relato que o precede das incríveis truculências e barbaridades praticadas todos os dias e já hoje tornadas lendárias, numa imensa zona do Brasil interior.
Capela do Livramento
IN: tatiannetfb.blogspot
A noite de 17 para 18 de agosto, por exemplo, foi de sinistros presságios para o povo de Rio Branco. O vilório sabia que Lampião, conduzindo perto de 100 facínoras, bem municiados e bem montados, aproximava-se da vila, pronto a assaltá-la, para se fazer em campo na manhã seguinte.
Foi, pois, uma noite passada em claro, sob a impressão de que o bando sinistro se achava a oito léguas de distância.
A população de Rio Branco pegou em armas, desde o mais humilde cidadão às pessoas de maior destaque da localidade, empenhadas na defesa do lar e da vida. O médico Dr. Luiz Coelho, o juiz de direito da comarca de Buíque, Dr. Roma, ali a passeio, o gerente do banco, o tenente coronel Justino, o capitão José Bezerra da Silva, todas pessoas as mais influentes da vila, tomaram a frente dos homens que se puseram à sua defesa, a fim de encorajar a população alarmada.
Resistência armada dos bravos de Rio Branco
IN O Jornal
E parece que essa resistência impressionou o bandoleiro, porque apesar de estar a oito léguas do Rio Branco, Lampião não se encorajou a atacá-la, prosseguindo noutra direção os seus crimes. Entretanto, essa resolução pouco serviu a Rio Branco, porque, alarmado como estava, o povo preferiu continuar militarizado, temendo a cada momento um assalto que apenas, no seu julgamento, fora, por circunstâncias momentâneas transferido.
Assim pensando, é fácil avaliar os prejuízos advindos para o pequeno comércio local e toda a vida, em suma, do lugarejo rústico, que permanecia até os últimos dias de agosto inteiramente suspensa, na ameaça de que os bandoleiros a qualquer momento repontassem.
*Salvo melhor informação, Rio Branco é o atual município de Arcoverde.
Há pouco mais de cem anos um novo vírus emergiu e nos meses finais da Primeira Guerra Mundial, como do nada, a infecção explodiu em vários países e continentes, mais ou menos ao mesmo tempo. Varreu como fogo desde grandes cidades, até as pequenas comunidades. De Boston à Cidade do Cabo, de Londres à Mumbai, o mundo conheceu a “influenza espanhola”, ou “gripe espanhola”. Assim chamada porque o primeiro surto amplamente relatado ocorreu em Madri, em maio de 1918,
Quando o vírus se esgotou, na primavera de 1919, um terço da população mundial havia sido infectada e pelo menos 50 milhões de pessoas estavam mortas. São 40 milhões a mais dos que pereceram nos campos de extermínio da Primeira Guerra Mundial e 10 milhões a mais dos que morreram de Aids, nos quarenta anos desde que essa síndrome foi reconhecida pela primeira vez na década de 1980.
No entanto, exceto aqueles que assistiram entes queridos sucumbirem às complicações pneumônicas mortais da gripe espanhola, ou aqueles que cuidaram de pacientes em enfermarias e perderam colegas devido à infecção, o vírus de 1918 deixou relativamente poucas marcas na consciência coletiva mundial. “Os americanos não perceberam a pandemia”, observou o historiador ambiental Alfred Crosby, no livro Forgotten Pandemic: The Influenza de 1918 (1989), “então rapidamente esqueceram o que notaram”.
O jornal The Times, de Londres, ficou igualmente intrigado com o fracasso da pandemia em deixar um resíduo emocional. “Tão vasta foi a catástrofe e tão onipresente sua prevalência, que nossas mentes atormentadas pelos horrores da guerra se recusaram a percebê-la”, opinou um editorial de fevereiro de 1921. E continua – “Veio e desapareceu, um furacão através dos campos verdes da vida. Ceifando centenas de milhares de jovens e deixando para trás um grande número de enfermos ”.
Apenas três meses após surgir, parece haver pouco risco da pandemia do novo coronavírus COVID 19 ser esquecido pelos historiadores. Até porque, no momento em que escrevo essas linhas, esse terrível problema já ceifou a vida de 6.610 pessoas, quebrou as bolsas de valores mundiais, aterrou o setor de aviação internacional e está provocando inúmeros outros problemas em todo planeta. Nesse momento a Europa está no olho da tempestade e a América do Norte se encontra na fila para sentir toda a sua força.
À medida que a escala completa do desafio apresentado pelo COVID 19 se torna clara para os governos em todo mundo e Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde – OMS, emite crescentes advertências sobre a necessidade dos países “tomarem ações urgentes e agressivas”, aqueles que estão familiarizados com a história e a ciência das pandemias se acham cada vez mais temerosos que a história esteja prestes a se repetir. Especialistas em saúde global vêm dizendo há anos que outra pandemia cuja velocidade e gravidade rivalizaria com a epidemia de influenza de 1918 não era questão de se, mas de quando…
Cientistas do principal centro de pesquisa biomédica em doenças infecciosas da Grã-Bretanha, o Instituto Francis Crick, concordam que “Isso não é coisa normal. Isso será diferente do que alguém que já viveu. O comparador mais próximo é a gripe de 1918”.
Como alguém que estuda e escreve sobre pandemias há mais de quinze anos, compartilho dessas preocupações.
Meu interesse pelo assunto começou em 2005, quando entrevistei o professor de virologia John Oxford, que ministra aulas na conceituada Queen Mary and Westfield School of Medicine, em Londres. Alguns meses antes do nosso encontro, uma cepa do vírus da gripe aviária H5N1 havia provocado uma série de mortes no Vietnã e eu pedi ao professor Oxford que me desse uma ideia sobre a ecologia e virologia dessa gripe, pois tinha uma viagem a Hanói para escrever um texto sobre esse vírus para o jornal The Observer. Muito rapidamente, nossa conversa se voltou para outros notáveis surtos de doenças infecciosas, incluindo a pandemia de influenza de 1918 a 1919.
Foi para mim o início de uma obsessão pela gripe espanhola e outros vírus pandêmicos que me levaram, por meio de um doutorado e uma bolsa de pesquisa, a um profundo envolvimento com a história de doenças infecciosas e pandemias.
Apesar das preocupações do professor Oxford de que o H5N1 em 2005 pudesse se combinar com uma cepa da gripe suína para criar um “vírus do Armageddon”, a temida pandemia de gripe aviária nunca se materializou. Em vez disso, ele foi acusado de “alimentar uma pandemia” para aumentar os gastos em pesquisas sobre vírus na sua universidade. Em 2009 a OMS se encontrou negativamente no centro das atenções, quando um surto de um novo vírus da gripe suína desencadeou um alerta mundial de pandemia, apenas para que a doença não se mostrasse mais grave do que uma gripe sazonal regular. Essa é uma das razões pelas quais a OMS estava tão cautelosa ao designar o COVID 19 como uma pandemia, adiando o anúncio formal até 11 de março de 2020.
Quão mortal será o surto de COVID 19 ninguém ainda pode dizer, mas a cada hora os ecos de 1918 estão ficando mais altos.
Para mim, a sensação de que a história pode estar prestes a se repetir veio com as primeiras imagens de Wuhan mostrando as “salas de espera” hospitalares construídas às pressas, cheias de fileiras e mais fileiras de cubículos repletos de pacientes com coronavírus.
Quando o bloqueio de Wuhan e outras cidades chinesas entrou em vigor, e a contagem de baixas diminuiu, prendi a respiração. Será que as medidas draconianas de quarentena da China impediriam uma pandemia? Pensei até que, talvez, não testemunhássemos uma repetição de 1918! Mas depois veio o drama dos passageiros presos no navio de cruzeiro Diamond Princess. Confinados em suas cabines no porto de Yokohama, a maioria dos quais achou que era algo simples e logo eles teriam liberdade para retomar suas vidas. Em vez disso, após um atraso de 72 horas das autoridades japonesas em realizar ações mais efetivas após a notificação do primeiro caso, ocorreu um saldo de dois passageiros mortos e 621 infectados.
Uma semana depois o número de infectados pelo novo coronavírus em outros países excedeu os da China pela primeira vez. Surtos significativos também foram registrados na Coréia do Sul, Irã e norte da Itália. Então, sem aviso prévio, no final de fevereiro de 2020, vários casos surgiram em um lar de idosos na cidade americana de Seattle. Como em 1918, o vírus agora estava se espalhando abaixo dos radares da OMS e dos governos, fora das cadeias de contato conhecidas, tornando-se uma pandemia quase inevitável.
Uma teoria afirma que a pandemia de 1918 se iniciou no Kansas, Estados Unidos. Outra hipótese foi que se originou no norte da França. Outra linha de pensamento aponta que ela também veio da China. As evidências sugerem que, a princípio, o vírus da gripe espanhola também se espalhou silenciosamente e furtivamente pelo mundo. Isso ocorreu porque, como na atual onda de infecções por COVID 19, as doenças iniciais eram leves, com uma taxa de mortalidade de cerca de 0,5 a 1%, muito baixas para registrar a mortalidade de fundo por gripe sazonal e doenças respiratórias não relacionadas. Outros fatores em 1918 foram a ausência de sofisticados sistemas de vigilância epidemiológica em tempo real e a presença de uma imprensa compatível, em vez das mídias sociais.
Um dos primeiros locais a sofrer com a pandemia de gripe espanhola, cujos registros foram bem registrados, ocorreu entre o final de fevereiro e o início de março de 1918, em Camp Fuston. Este era um campo de treinamento do Exército dos Estados Unidos no estado do Kansas, onde jovens recrutas estavam sendo preparados para seguir para o norte da França e os rigores da guerra de trincheiras. O surto ali foi explosivo. Em questão de dias, cerca de mil e duzentos soldados estavam na lista de doentes, forçando os médicos a requisitarem um grande auditório adjacente ao hospital da base para atender esse pessoal. A grande maioria dos homens não sofreu nada pior do que uma febre de três dias, mas cerca de um quinto dos hospitalizados desenvolveu pneumonias agressivas e, em maio, setenta e cinco deles haviam morrido. Hoje, a fotografia de mais de duzentos soldados dispostos na enfermaria de emergência dessa base militar é uma das imagens mais conhecidas e assustadoras da pandemia de 1918.
Logo, em maio de 1918, milhões de espanhóis foram repentinamente atingidos por uma doença muito semelhante, assim como milhares de tropas americanas e francesas no norte da França.
No início do verão europeu de 1918, grandes surtos da influenza espanhola foram marcados por um nível incomum de mortalidade em adultos jovens, uma característica das ondas posteriores da pandemia. Também foram relatados surtos em Copenhague, Dinamarca, e outras cidades do norte da Europa. Em Manchester, Inglaterra, por exemplo, o oficial médico local da saúde, James Niven, ficou tão alarmado com a súbita doença em um grande número de crianças em idade escolar, que imprimiu às pressas 35.000 folhetos explicando os perigos da gripe e dando instruções estritas para o isolamento dos doentes.
No entanto, foi à segunda onda de gripe, no outono de 1918, que trouxe o poder humilhante do vírus. Em Londres, por exemplo, as mortes em outubro aconteceram a uma taxa de 4.500 falecimentos por semana e, em meio ao pânico, os serviços de saúde em toda a Grã-Bretanha ficaram rapidamente sobrecarregados. Como o filho de um clínico geral da cidade de Lancashire lembrou: “Muitos estavam doentes, as pessoas desabavam em suas casas, nas ruas e no trabalho. Muitos nunca recuperaram a consciência. Todo o tratamento foi inútil”.
Como na onda anterior da primavera, os pacientes mais afetados desenvolveram pneumonias agressivas em um ou mais lobos dos pulmões. Em alguns casos, essas pneumonias eram acompanhadas por uma condição chamada cianose por heliotrópio, onde os rostos dos pacientes adquiriam cor de lavanda, enquanto eles ofegavam.
Em setembro de 1918, em Camp Devens, outro grande campo de treinamento do Exército dos Estados Unidos, na cidade de Ayer, estado de Massachusetts, a condição dos militares ali presentes era tão deplorável quanto no Camp Funston. Eram tantos os soldados prostrados em camas improvisadas, que estas tinham de ser instaladas em corredores e salas laterais. Um médico do Exército que testemunhou os piores casos comentou sobre as vítimas que “seus rostos logo vestem um tom azulado, uma tosse angustiante traz à tona o escarro manchado de sangue. De manhã, os cadáveres são empilhados no necrotério e amarrados com cordas”.
Embora ambas as epidemias se espalhem por gotículas respiratórias através de tosses e espirros, os coronavírus não conseguem uma transmissão tão eficientemente entre humanos, como é o caso da gripe comum. De fato, acredita-se que o COVID 19 não apresenta um risco a distâncias superiores a dois metros. Em vez disso, o principal modo de propagação do vírus parece ser o contato social prolongado, como ocorre nos agrupamentos familiares.
Outra diferença é que a gripe espanhola apresentava uma taxa de mortalidade notavelmente alta para adultos entre os vinte e os quarenta anos. Já o novo coronavírus é principalmente um risco para idosos, pessoas com 60 anos ou mais, que possuam doenças subjacentes e outras condições médicas. Também não existem evidências firmes que as crianças sejam um vetor significativo de infecção, um contraste crucial com a gripe espanhola, que costumava adoecer crianças antes dos adultos.
No lado dos problemas relativos ao novo coronavírus há evidências crescentes que uma pessoa livre de sintomas, mas que esteja infectada, pode ser capaz de transmitir o vírus. Pior ainda, a taxa média de reprodução do COVID 19 – ou seja, o número de pessoas que serão atingidas por uma pessoa infectada – está em 2,2. O que é notavelmente mais alto do que a taxa da gripe espanhola, que foi de 1,8.
Outra consideração é que em 1918 quase todo mundo já havia sido exposto a algum tipo de gripe antes, o que significa que a maioria das pessoas podia contar com certo grau de imunidade. O resultado foi que a gripe espanhola infectou apenas um terço da população mundial. Por outro lado, ninguém tem imunidade ao novo coronavírus, daí as estimativas de que até 80% da população mundial poderia ser infectada, até o momento em que a pandemia houver terminado.
A maior razão de preocupação, no entanto, é que, até agora, o COVID 19 parece matar cerca de 2% dos casos confirmados. Essa é uma taxa de mortalidade muito semelhante a da gripe espanhola.
Mas mesmo isso não deve ser motivo de pânico ou desespero. Uma das principais lições da pandemia de 1918 é que cidades americanas como St. Louis, que agiram cedo e decisivamente para conter o vírus, proibindo grandes reuniões públicas, fechando escolas e isolando casos suspeitos ou doentes, tiveram um desempenho notavelmente melhor do que cidades como Filadélfia, que não tomaram medidas oportunas, ou não as sustentaram.
O problema é que tais ações são extremamente perturbadoras para a economia, fato refletido na relutância das autoridades em empregar essas medidas, exceto como último recurso.
Extraído do blog tok de história do historiógrafo rostand medeiros