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domingo, 8 de julho de 2012

Horácio Novaes e o Coronel Santana

Por: Bosco André
Pesquisador Bosco André, notável contador de histórias e grande memorialista do cariri cearense

Missão Velha ainda não possui comarca; era o início do século passado; respondiam pelo município, Juízes da Comarca de Crato e Barbalha. Dentre esses, destacaremos o Dr. Antonio  Olímpio da  Rocha,  que em sua judicatura, ocorreu  um fato pitoresco, envolvendo  o magistrado e o famoso Cel. Santana,  da Serra do Mato; então  ex-Intendente   de Missão Velha (1903  até 1913 e de 1914 a 1917).

cariricangaco.blogspot.com
Houve um homicídio em que foi vítima o infeliz Cangaceiro  Cobra  Preta, esse, afilhado  de   batismo  e  cangaceiro do   Cel. Santana. Na época não existia cercas divisórias entre as propriedades e o gado era  pastoreado solto  em cima da Serra do Araripe. Começaram a  roubar gado em cima da Serra  e o Cel. Santana, desconfiava  que  o  autor dos roubos, tratava-se de  um  seu   desafeto, Delegado de Porteiras, Horácio Cavalcante, mais conhecido por Horácio Novais. O Cel. Santana na época já  havia perdido  o  poderio político, entretanto mantinha ainda grande força na região e aguardava  Horácio  Novais, "pisar novamente na Gameleira!!!"
Foi aí que o Cel. Santana, mandou que Cobra Preta, se infiltrasse no  Grupo de Novais, afim de matá-lo. Como por ironia do destino,  sob  o   novo  comando,  o cangaceiro foi  melhor aquinhoado talvez,  recebendo melhor tratamento e lá ficou.   Novais,  como desafio ao Cel.  Santana,  começou  a visitar  a  feira  da  Gameleira (o pé de Gameleira, ainda hoje existente) a mesma se realizava debaixo da grande árvore, onde os feirantes comercializavam os seus produtos, inclusive improvisando os caixões para acondicionamento das suas mercadorias nas raízes expostas da árvore.
Gameleira; testemunha secular dos tempos do cel. Santana da Serra do Mato
O Cel. Santana comentava em rodas de sua convivência: "nesses  dias,  Horácio Novais,  vem bater  aqui  na  Serra  do  Mato!!! " (local  da  sua  moradia). Decorridos alguns meses, o Cel. Santana,   mandou  seduzir Cobra  Preta, para voltar para  o seu grupo, conseguido o intento, poucos dias depois, Cobra Preta, foi morto  no sitio Talhado, altas horas da noite, quando foi invadida sua própria casa.  Instalado o Inquérito Policial e ao chegar a Justiça, foi intimado a depor o Cel. Santana,  perante a autoridade Judiciária. Tendo a incumbência de ouví-lo,  a pessoa do Dr. Antonio Olímpio da Rocha, então Juiz de Direito do Crato.

O magistrado ao chegar ao Cartório do Tabelião José Jácome, ali já  se encontrava  o  Cel.  Santana,  em atendimento à sua intimação.  Em Termo de  Assentada, para tomada do depoimento de Santana, o Juiz, após  as  advertências  do    estilo, perguntou ao Cel. Santana, se "a sua pessoa tratava-se de Antonio Joaquim de Santana?", tendo o Cel. Santana, respondido "tratar-se do Cel. Antonio Joaquim de Santana", ao que Juiz, o interpelou por três ou  quatro vezes, se a pessoa ali presente, tratava-se de Antonio Joaquim de Santana, tendo o Cel. Santana, repetido por todas as vezes, de que se tratava do Cel. Antonio Joaquim de Santana. Tendo o Juiz, dito em tom de ameaça, que podia mandar prendê-lo, ao que o Cel. Santana, respondeu: "Sei Doutor, mais se o Senhor fizer isso: “Vai cavar o chão com as costas!".  Neste momento  o  Juiz,  retirou-se  da  Sala  das  Audiências    e  imediatamente  ausentou-se da Vila. 

O Processo só teve seu término no ano de 1926, entretanto a condenação  veio para o famoso Horácio Novais e seus cangaceiros:  Pedro Dedão e Zé Sanção; funcionaram como componentes   do  Corpo de Sentença deste  Julgamento, dentre outros, os Srs. José Gonçalves  de  Lucena,  Crispim de  Oliveira  Rocha, Pedro Silva Lima e  José  André  Gomes  (Zeca André); pai do autor destas notas e pesquisa.

ROGACIANO BEZERRA LEITE: O POETA FILÓSOFO

Por: José Ozildo dos Santos
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Considerado o mais ilustre de todos os poetas de Itapetim-PE, Rogaciano Bezerra Leite nasceu no sítio Cacimba Nova, aos 30 de junho de 1920. Filho de agricultores teve uma infância simples e humilde. Inteligência precoce, cedo descobriu que possuía o dom da poesia. E, aos quinze anos de idade já“mostrava sua tendência para literatura e para a arte de fazer poesia”, tendo, nessa época, desafiado o cantador e poeta Amaro Bernardino.
Na cidade de Patos, Estado da Paraíba, Rogaciano iniciou sua carreira como cantador. Nesse estado, participou de várias cantorias, travando conhecimento com Pinto de Monteiro, de quem se tornou amigo e discípulo. Posteriormente, transferiu-se para o Rio Grande do Norte.




Em 1943, retornando ao Pernambuco, fixou residência em Caruaru, onde, por algum tempo, redigiu e apresentou seu primeiro programa radiofônico diário.
Poeta andarilho, cantou em diversas capitais brasileiras:“em São Paulo, apresentou-se no Palácio Bandeirantes, sendo reconhecido pelo então Governador Ademar de Barros. Depois escolhe Fortaleza, capital cearense, para fixar residência. Ainda participando de cantorias para sobreviver, especializa-se em dramaturgia, passando a atuar na profissão, apesar de não deixar de ser poeta. Em 1953, casa-se no Rio de Janeiro. Viaja pelo país, mas retoma à Fortaleza. Em 1968, deixa o Brasil e passa curta temporada na França e outros países europeus, incluindo a ex-URSS (União Soviética). Deixou na praça central de Moscou o seu registro maior: a poesia ‘Os Trabalhadores’, que traduzida para o idioma daquele país, tornar-se-ia como epígrafe sua, contida em ponto de relevo”.

Cognado como ‘o poeta filósofo’, Rogaciano Leite deixou extensa produção literária. Entre seus poemas mais conhecidos, destacam-se: ‘Acorda Castro Alves’, ‘Dois de dezembro’, ‘Os Trabalhadores’ e ‘Eulália’, além do famoso soneto intitulado “Se Voltares...”, transcrito a seguir:

Como o sândalo humilde que perfuma
O ferro do machado que lhe corta,
Hei de ter a minh’alma sempre morta
Mas não me vingarei de coisa alguma

Se algum dia, perdida pela Bruma,
Resolveres bater à minha porta,
Em vez da humilhação que desconforta
Terás um leito sobre um chão de pluma

Em troca dos desgostos que me deste,
Mais carinhos terás do que tiveste
E meus beijos serão multiplicados...

Para os que voltam, pelo amor vencidos,
A vingança maior dos ofendidos
É saber abraçar os humilhados

Convidado pelo ‘Jornal Última Hora’, de São Paulo, para escrever uma matéria sobre a seca do Nordeste, apresentou seus resultados em uma série de três poemas: ‘A terra’, ‘O homem’ e ‘O Retirante’, publicados nas páginas daquele jornal paulista, em 9 de março de 1953, dos quais, transcrevemos abaixo, apenas este último:

Sobre a estrada poeirenta os batalhões famintos
Desenham, com seus pés, confusos labirintos
Que outros pés, a seguir, não tardam a apagar;
É o drama... é o desgraçado drama degradante
Do romeiro rural, do rosto retirante
Sem rumo e sem arrimo, e sem arranjo, a errar...

Sob o sol causticante, à margem das estradas,
Em torno aos troncos nus das árvores peladas
Choram homens sem fé, mulheres infelizes...
Criancinhas mirradas, como cães sem dono,
Para iludir a fome e conciliar o sono
Mordem cascas de pau e succionam raízes!

No olhar de cada mãe desesperada e aflita
Há uma dor que vem d’alma, estúpida, infinita
E que o seio materno em convulsões retalha,
Por ver, exposto ao solo adusto e fumarento,
Seu filhinho morrer, famélico e sedento,
Sem um só pingo de água e sem qualquer migalha

A tragédia traduz-se atrás do tosco tronco...
E o bando sem bandeira, abandonado e bronco,
Em pós de se prover do que o País promete,
Expõe-se, estaca, estanca, esvai-se, exclama, estua,
E cansa e cai e xinga e chora e continua
Na mesma cena atroz que aumenta e se repete

No silêncio da noite, à beira de alguns poços
Onde exala o mau cheiro e onde branquejam ossos,
Onde a lama estalou de tanta sequidão
Há clamor de inocentes, maldições de adultos...
E em meio àqueles magros e sedentos vultos
Samaritana alguma estende a sua mão!

Mal nasce o sol de novo, aqueles desgraçados
Rotos, sujos, famintos, fracos, fatigados
Recomeçam seu lento e incerto caminhar,
Tendo apenas de seu a consciência medonha
Da humilhação estrema e última vergonha
De andarem como uns cães, de porta em porta, a uivar!

Ai, meu Deus, quanto horror! Que coisa ultradantesca!
Será que pode haver tragédia mais grotesca,
Gente mais desgraçada e em condições mais vil?
Não pode haver, meu Deus, porque essa caravana
Atingiu os extremos da miséria humana
E esbarrou na maior vergonha do Brasil!

Casado com a senhora Maria José Ramos Cavalcanti, Rogaciano faleceu de enfarte do miocárdio no Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, a 7 de outubro de 1969. Seu corpo, transladado para Fortaleza-CE, foi sepultado no cemitério São João Batista, daquela capital.
Patrono da cadeira nº 33, da Academia Serra-talhadense de Letras, Rogaciano Leite foi também bancário e jornalista. Diplomado em Direito e em Letras, publicou no Rio de Janeiro, em 1950, o livro ‘Carne e Alma’, prefaciado pelo folclorista e historiador norte-riograndense Luís da Câmara Cascudo, com quem, ainda jovem travou conhecimento, quando de sua passagem por Natal.

Segunda Visita de Lampião a Dores

Por: José Lima Santana
Nossa Senhora da Dores, em destaque vermelho.


De Capela, o bando de Lampião seguiu para Aquidabã. Em Dores fez uma boa “arrecadação”. Fala-se que a extorsão rendera uma considerável quantia, que, segundo os mais diversos depoimentos, varia entre 3:000$000 (três contos de réis) e 25:000$000 (vinte e cinco contos de réis), como já foi dito. São dizeres dos populares, sem comprovação.
José Anderson Nascimento, por exemplo, que muito conversou com um dorense, Rivadávia Brito Bonfim (08.02.1920-18.09.1991), que, à época, era uma criança de 9 anos de idade e, como outras crianças, estivera no cenário da “visita” de Lampião, e, mais ainda, era filho do Intendente Manoel Leônidas, diz que a “coleta” rendera “dois contos, cento e oitenta e hum mil réis” (1996, p. 205). Vera Ferreira, neta legítima de Lampião, e Antônio Amaury afirmam, sem, contudo, citarem fontes, que a extorsão em Dores rendera “quatro contos e quinhentos mil réis, num procedimento que alguém chamou de ‘saque elegante’” (1999, p. 174). Como visto, há quem fale em dois, três, quatro, cinco, dez contos de réis e por aí à fora. Os valores citados são os mais díspares possíveis. Quem irá saber?
No depoimento anteriormente referido, Afonso Rodrigues Vieira, que fora, durante muitas décadas, um dos mais prósperos e probos comerciantes dorenses, no ramo de tecidos, e, em 1929, contava com 26 anos de idade, prestou, ao autor deste artigo, o seguinte depoimento: “Cada um dos cinco homens chamados por Lampião teve de dar-lhe três contos de réis, enquanto o Padre Marinho e o Intendente, de posse de uma lista, arrecadaram outros dez contos de réis”. A coleta foi confirmada por Pedro Vieira Teles, que, contudo, não mencionou quantias. Tomando a versão de Afonso, teriam sido coletados, então, vinte e cinco contos de réis. Parece uma quantia por demais vultuosa para ser extorquida numa cidade como Dores, naquela época, embora fosse uma cidade próspera, com muitas usinas de beneficiar algodão, além de ser um dos municípios que produziam o melhor algodão de Sergipe, como atestam os mais diversos escritos, em livros e jornais, desde o fim do século XIX até a década de 1940, quando o algodão definharia para dar lugar ao gado bovino, que voltaria a ser a base da economia dorense, até os dias de hoje. Acima de tudo, era dia de feira e estava-se no meio da tarde, o que teria facilitado a extorsão.
Entretanto, o que deve ser analisado, de antemão, é o seguinte: considerando que Lampião surrupiou três contos de réis, como disse o Cel. Figueiredo, sendo esta a menor quantia de que ainda hoje se fala em Dores (ressalvada a citada por NASCIMENTO), ele roubou do povo dorense, no mínimo, o equivalente a quase 10% (dez por cento) da receita orçamentária da Intendência Municipal de Nossa Senhora das Dores daquele ano, estimada em pouco mais de 30:000$000 (trinta contos de réis). Era, de qualquer forma, muito dinheiro, até mesmo para uma cidade que possuía uma dezena de usinas de beneficiar algodão. E era famosa pelo algodão de boa qualidade que plantava e colhia.
Em Capela, segundo Ranulfo Prata (Ob. cit. p. 87) Lampião, ao fazer um pagamento, deixara à mostra “várias notas de 500$000 (quinhentos mil réis), gabando-se que com ele levava três coisas: coragem, dinheiro e bala. Mas também na “Princesa dos Tabuleiros” o bandoleiro exigira a sua “bolsa”, inicialmente estipulada em 20 contos de réis, mas “contentando-se depois com o que foi conseguido, 5 contos e pouco” (PRATA, Ob. cit., p. 86). Fala-se também em seis contos de réis.
Um dos crimes recorrentes de Lampião era exatamente o saque. Ranulfo Prata afirma que o bandoleiro costumava carregar o produto dos saques numa mochila “papo de ema”, onde só guardava “dinheiro em cédulas de números graúdos, bem acamadas, cabedal que atinge, nos tempos de boas colheitas, 70 a 80 contos” (s/d, p. 29). Passada a “visita” de Lampião, a Intendência Municipal de Nossa Senhora das Dores (Prefeitura, de hoje) contratou homens armados para fazerem a defesa da cidade, que se postavam nas principais entradas. Eram as “trincheiras”, assim chamadas. Uma delas ficava na esquina da Rua Edézio Vieira de Melo com a Rua Benjamin Constant, comandada por um tal Batista. E o chefe de outra delas era José Raimundo, pai de Elpídio sobre quem se falará adiante.

Matriz de Nossa Senhora das Dores - SE


Há, inclusive, registros de folhas de pagamento de algumas dessas pessoas, embora datadas de 1932, quando já era Intendente Municipal Raul Silveira. Numa dessas folhas (de 8 de agosto daquele ano) constam os nomes de Enock Menezes Campos, Pedro Francisco Dantas, Antônio Pedro Santos, Brasilino Vieira, Ludugero, João Andrade e Arnaldo Gomes, como “pessoal no serviço de defesa da cidade, em repressão ao banditismo nesta semana finda”. Cada um ganhava diária de 1$500 (mil e quinhentos réis), exceto Ludugero, que recebia diária de 3$000 (três mil réis), devendo ser, à época, o chefe. Noutra folha, de 14 de novembro de 1932, consta apenas o nome de Zeca de Bem Dona, como “pessoal da patrulha em auxílio à força aqui aquartelada nesta semana finda”. Pelo teor do escrito na folha, é de supor que havia outros nomes, pois se faz menção “ao pessoal da patrulha”. Claro, não seria apenas uma pessoa a formar a patrulha aludida. Outras folhas de pagamento não foram encontradas, lamentavelmente. Todavia, registra-se, em 10 de agosto de 1932, a autorização de pagamento da quantia de 188$000 (cento e oitenta e oito mil réis), referente a “passagens desta cidade a de Capela para a Força Pública do Estado e para o 28 BC”. Estariam essas forças militares dando caça aos cangaceiros? Nessa época, entrementes, não se tem notícia de Lampião por estas bandas.

Voltemos, agora, a 1930, ou seja, à segunda passagem de Lampião por Dores, quando ele matou José Elpídio dos Santos, daí resultando o único processo criminal aberto contra Lampião em Sergipe.

Era 15 de outubro. Desta feita, Lampião fizera o caminho inverso: Aquidabã, Capela e Dores. A segunda passagem do bando de facínoras não foi mais pacífica. Batido por populares em Capela, após várias atrocidades cometidas em terras de Aquidabã e propriedades encontradas pelo caminho, incluindo-se alguns assassinatos, como relata Ranulfo Prata (Ob. cit., p. 94-95), Lampião tomara o rumo de Dores, onde as trincheiras o aguardavam. Precisa deve ter sido a mensagem do telégrafo enviada por Capela, relatando os sucessos daquele dia. Disso ele sabia muito bem, pois tinha uma eficiente rede de informações. E tanto assim era que, chegando ao subúrbio Cruzeiro das Moças, por volta das oito horas da noite, e temendo reação idêntica à de Capela, dirigiu-se à casa de Elpídio, perguntando-lhe: “Você não é Elpídio, filho de José Raimundo das trincheiras? Vamos já, me mostre onde ele está e quanta gente tem nas trincheiras”. É de notar que Lampião fora direto para a casa do filho de um dos chefes dos guardiões da cidade, José Raimundo, também conhecido por “Zé Fateiro”, pois vendia fato de boi fresco na feira da cidade, conforme depoimento de Pedro Vieira Teles.

Como Lampião soubera que ali residia quem lhe interessava? Por isso foi dito que a rede de informações de que ele dispunha era eficiente. A conversa de Lampião acima transcrita consta do depoimento prestado pela viúva de Elpídio, Maria da Conceição, também conhecida por Clemência, nos autos do processo mencionado. Pelo que consta do citado processo, o bando de Lampião, desta vez, dobrara, em relação ao que estivera em Dores no ano anterior: eram 18 cangaceiros. A partir daquele momento, os fatos que se seguiriam foram, em resumo, os seguintes:
1. Sequestrou Elpídio, amarrando-o em um dos cavalos que serviam de montaria ao bando.
2 Adiante, rumando pelas cercanias da cidade, seqüestrou Antônio da Silva Leite, que encontraram no caminho, temendo, claro, que ele delatasse o bando. Antônio escapou das garras dos bandidos na bodega de Santo.
3 Saqueou a bodega de Manoel Martins Xavier (Santo Bodegueiro), que não se encontrava em casa, e seqüestrou sua mulher, Sergina Maria de Jesus, também conhecida por Constância, deixando os seus filhos pequenos sozinhos, sem os cuidados maternos.
4 Seqüestrou Pompílio da Silva, que se dirigia à cidade para comprar querosene, mas que conseguiu fugir, na fazenda Candeal, enquanto o bando ali dormia.
5 Dormiu com a mulher de Santo (o braço dela amarrado na perna dele). Lampião e Sergina dormiram no mandiocal, enquanto os cabras dormiram na beira da estrada, segundo depoimento dela, nos autos do processo.
6 Na madrugada de 16 de outubro, matou Elpídio e mandou Sergina voltar para casa. No laudo de corpo cadavérico, consta que o corpo da vítima estava perfurado a balas, e havia, ainda, um “rendilhado” de punhal. Os dedos das mãos, sob as unhas, estavam perfurados e a barba estava queimada. Ou seja, Lampião e seu bando torturaram Elpídio, antes de matá-lo, com requintes da maior crueldade e covardia. A vítima morreu, mas não delatou seu pai e os que se encontravam com ele, na defesa da cidade. Um homem de coragem.

Coragem que Lampião não demonstrou, pois não teve tutano para entrar na cidade, preferindo, assim, assassinar o pobre Elpídio, num ato típico dos covardes.

Aliás, no depoimento prestado por Pompílio da Silva, nos autos do processo, foi dito que “a vítima deste processo ia na frente do grupo sinistro, sendo que a vítima ia amarrada pelo pescoço do cavalo em que ia montado um dos cabras” e que “ia calado, nu da cintura para cima, com a cabeça descoberta, parecendo com um mártir”.
7 Seqüestrou o vaqueiro Jason Teixeira de Vasconcelos, na fazenda Candeal, para mostrar ao bando a casa de um tal Janjão, no caminho para o povoado Taboca. Jason foi solto logo depois, a pedido. E Janjão conduziu o bando ao povoado.
8 Saqueou, na Taboca, as bodegas de José Gomes e da viúva do finado Cezário, espancando-a, pois esta não tinha dinheiro para lhe dar.
9 Matou um pobre rapaz, que era alienado mental, na saída da Taboca. Dito rapaz teria mexido com o cavalo de Lampião, segundo dizem. No processo, há menção a essa morte, mas não se abriu inquérito por conta desse outro bárbaro assassinato. Por que? Por tratar-se de um pobre alienado mental, morador de um pequeno povoado?
10 Castrou Pedro José dos Santos, vulgo Pedro Batatinha, que vinha da Malhada dos Negros, a fim de arrancar um dente, em Dores, que não lhe deixava trabalhar há dias. Chegando no povoado Tabocas, Batatinha ouvira dois disparos. Era o assassinato do alienado mental.
Ranulfo Prata relata o ocorrido, segundo depoimento que lhe prestara o próprio Pedro Batatinha: Prosseguindo, encontrou o bando de Lampião cercando o cadáver de um homem que acabava de ser assassinado naquela horinha. Foi logo cercado e revistado, tomando-lhe a quantia de 20$000, único dinheiro que trazia. Obrigaram-no, em seguida, a voltar com eles, e ao chegarem ao povoado “Cachoeira do Tambory” [na verdade, Lagoa dos Tamboris], apearam-se todos dispersando-se pelas casas da povoação e ficando ele, Batatinha, preso entre dois do bando, no terreiro da casa de Sinhosinho, casado com uma sua prima, onde fora Lampião sentar-se em um tamborete, na saleta da frente, à espera de um café que mandara fazer. Os dois bandidos começaram, então a surrá-lo a chicote de três pernas, ambos ao mesmo tempo, sem motivo, sem quê nem pr’a quê. Empolgou-se de tamanho terror que não sentiu dores.

Virgínio ou Moderno, cunhado de Lampião; o mais famoso castrador do bando.


Após a sova, eis que chega um terceiro, de apelido “Cordão de Ouro”. Ordena-lhe que descesse as calças e, segurando-lhe os dois testículos, cortou-os de um só golpe, atirando-os fora, debaixo das gargalhadas e chacotas dos companheiros. Disse-lhe o facínora:
- Quem lhe fez isto foi “Cordão de Ouro”, é a lei que manda e tenho feito em muitos.
Lampião, calado, assistiu à cena, perguntando, depois, ao castrador:
- Corto tudo?
Não, respondeu-lhe este. Deixei o resto porque o rapaz é novo (Ob. cit., p. 97-98). Encurtando a história, que é longa, os bandidos ainda deram pontapés e pranchadas de punhal em Batatinha. Lampião ao montar, aproximou-se dele, sacou do punhal e cortou-lhe um pedaço da orelha esquerda, acrescentando:
- É um garoto que precisa sê marcado, p’ra eu conhecê quando encontrá.
E voltando-se para as pessoas presentes, preveniu-lhes:
- Vocês trate do rapais senão quando eu passá aqui arrazo cum vocêis todo (PRATA, Ob. cit., p. 98). Batatinha, enfim, fora socorrido pelo Dr. Belmiro Leite, em Aracaju. Escapou e, segundo informações colhidas, morreu, na década de 1990, em São Paulo. Além de Ranulfo Prata, alguns autores que escreveram sobre Lampião registraram o fato da capação de Batatinha. O autor fecha o episódio narrado em seu livro da seguinte maneira; Ao lado de todas estas tragédias, a nota burlesca: Depois de ouvirmos o pobre Pedro e fotografá-lo, conversamos também com um dos seus irmãos, que nos informou na sua linguagem pitoresca de tabaréu malicioso:
- Pedro casou, ta gordinho que nem “bicho de dicuri”, e sem bigode. Penso que ele não dá conta do matrimonho; regula duas muié numa cama... (Ob. cit., p. 98).

Foi apenas isso que Lampião praticou em Dores, entre 15 e 16 de outubro de 1930. Ou seja, pouquinha coisa... Quase nada... Pensando bem: “nadica de nada!”. Sujeito bom, Lampião. De finíssimo trato!


Com relação ao processo, o mesmo foi resultado do inquérito policial instaurado pela Portaria de 16 de outubro de 1930, pelo Delegado Antônio Paes de Araújo Costa. Funcionou como escrivão Petronilho Menezes Cotias (pai de Paulo Bonfim e avô de Jorge Américo); como Promotor Adjunto, atuou Artur Dias de Andrade, genitor de José Barreto de Andrade, antigo e conceituado comerciante em Aracaju, tendo aquele apresentado a respectiva Denúncia em 19 de dezembro de 1931; como Juiz Municipal do Termo de Nossa Senhora das Dores, funcionou Nicanor Oliveira Leal, que seria, tempos depois, Desembargador, e que tinha larga parentela em Dores, sendo primo, por exemplo, de Maria Lídia de Afonso. Mais tarde, funcionaria no processo, como Promotor Público, o Dr. Joel Macieira Aguiar, que também se tornaria Desembargador, e que às fls. 37 dos autos deixou esta mensagem: “Seja-me, pois, permitido, como Promotor Público da 6ª Comarca, com sede em Capela, deixar nestes autos os meus aplausos à justiça do termo de Dores por ter instaurado processo contra o grande bandido Virgulino Ferreira”. Não será custoso lembrar que, pela organização judiciária de Sergipe, na década de 1930 Dores estava ligada à Comarca de Capela. Formidável, sem dúvida, é a certidão passada pelo Oficial de Justiça Januário Bispo de Menezes, pai da saudosa funcionária pública municipal, Maria Nicolina de Menezes, a popular Nicola, em 26 de dezembro de 1931, que diz:
Certifico que, em cumprimento do mandado retro, fui ao Sítio Assenço, deste termo e, nesta cidade, intimei todas as testemunhas constantes do mesmo mandado. Ficaram todas bem cientes, deixando de intimar o denunciado de folhas, Virgulino Ferreira, conhecido por Lampião, por não ter, graças a Deus, visitado esta cidade aquela indesejável fera. O referido é verdade, do que dou fé.
Enquanto, em Nossa Senhora das Dores, a população amanhecia estarrecida com a morte brutal de Elpídio, na manhã daquele dia 16 de outubro de 1930, a situação política fervia em Aracaju. Ariosvaldo Figueiredo relata: “Às 6 horas da manhã de 16/10/1930 avião sobrevoa Aracaju, deixa cair Manifesto de Juarez Távora, intitulado ‘Aos briosos camaradas do 28 BC e ao heróico povo da nobre terra de Tobias Barreto’” (Ob. cit., p. 205).
Ibarê Dantas registra: “Depois que um avião, na manhã do dia 16.10.30, distribuiu em Aracaju manifestos dando conta do avanço das forças revolucionárias, provenientes do Norte, em direção à capital, o Presidente do Estado fugiu e o capitão Aristides Prado, de acordo com Juarez Távora, empossava o tenente-médico Eronides de Carvalho como Governador Provisório do Estado de Sergipe” (1983, p. 46).
Nossa Senhora das Dores perderia a oportunidade de ter um dos seus filhos, Chico Porto, governando os destinos de Sergipe. E ficaria, naquele fatídico 16 de outubro, de enterrar outros dois dos seus filhos, José Elpídio dos Santos e o rapaz da Taboca, cujo nome não se registra, barbaramente assassinados pelo “Capitão” Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o decantado “Rei do Cangaço”, e seu bando sinistro. Mas, capitão ou rei, cangaceiro é cangaceiro, bandido é sempre bandido. É uma pena que não se tenha dado a uma rua do, hoje, bairro Cruzeiro das Moças, o nome de Elpídio, que morreu sem trair a sua cidade. Há pessoa mais digna do que ele para ser lembrado para sempre pelos dorenses? Mas, é bem verdade que Elpídio não era doutor, nem um homem ilustrado ou rico. Não era da Praça da Matriz, nem do Calçadão da Getúlio Vargas, etc. Alguém o conhecia? Era apenas um homem simples do povo. E um homem simples do povo, na visão caolha das chamadas “elites dominantes” (?), não deve merecer ter o seu nome gravado numa rua. A hipocrisia das pessoas é uma estupidez sem tamanho! Espero que, agora, algum dos nossos vereadores possa lembrar de José Elpídio dos Santos. Ele foi, sem nenhum favor, um ilustre filho de Nossa Senhora das Dores, que, diante do tenebroso Lampião, não se acovardou, não traiu a sua cidade e os seus. Quantos mais fariam isso? Assim, viva Elpídio!
José Lima Santana

Lampião e seu bando de cangaceiros

Da esquerda para a direita:Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado, Quinta-Feira. Esta foto mostra o encontro de Benjamin Abrahão com o bando de Virgulino - o  Lampião em 1936. Esta foto foi tirada pelo cangaceiro Juriti.


Em Juazeiro do Norte, Abrahão havia presenciado o único encontro entre Lampião e Padre Cícero em 1926, ano em que a Coluna Prestes, liderada pelo militar e político Luis Carlos Prestes (1898-1990), percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Na intenção de combater as tropas de Prestes, que seguiam se embrenhando pelos confins do sertão, Padre Cícero e outros líderes regionais convocaram a ajuda das forças de Lampião e seu bando, com a promessa de que em troca todos receberiam anistia por seus crimes e o líder do grupo teria uma patente de capitão.




A versão mais conhecida da história aponta que o bando de Virgulino deixou Juazeiro do Norte sem nunca ter enfrentado a Coluna Prestes. O mascate, na época secretário de Padre Cícero, fez uma única foto do religioso ao lado do chefe dos cangaceiros e, desde então, passou a acalentar os planos da ambição de filmar e fotografar Lampião e seu bando para, de posse das imagens, fazer fama e fortuna.
Comerciante de tecidos, perfumes, bugigangas e miudezas, Abrahão nasceu no Líbano, território na época dominado pelo Império Otomano, em 1890, e havia aportado no Brasil em 1915. Sem dinheiro e sem rumo, primeiro decidiu tentar a sorte em Recife, depois seguiu para Juazeiro, atraído pela oportunidade de ganhar a vida no comércio resultante da frequência dos romeiros que buscavam Padre Cícero.

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Anderson Silva: A Lenda Brasileira das Artes Marciais derrota americano falastrão

 Anderson Silva provou ser o maior lutador de vale tudo do mundo quando mais uma vez defendeu o cinturão de campeão de vale tudo derrotando americano que falou demais:


O brasileiro Anderson Silva nocauteou o americano Chael Sonnen na madrugada deste sábado (7), em Las Vegas, nos Estados Unidos, e assim manteve o cinturão dos pesos-médios do UFC
O primeiro round foi complicado para o brasileiro. Logo no início, Sonnen conseguiu colocar a luta para baixo e não deixou Anderson sair debaixo dele, levando a melhor durante os cinco primeiros minutos

No segundo round, com essa joelhada, Anderson desmontou o rival e conseguiu a reviravolta no combate
Depois do golpe no peito do americano, Anderson Silva só teve o trabalho de cair por cima de Sonnen e desferir golpes até que o juiz interrompesse a luta. Vitória do brasileiro por nocaute técnico
Foi a décima defesa de título dos médios do Spider, que se mantém invicto no UFC e não perde uma luta de MMA desde 2006

pós muita provocação e até desrespeito por ambas as partes, os lutadores se cumprimentaram no ringue, mas Anderson cutucou e, ironicamente, convidou: 'Chael, se quiser, vamos comer um churrasco lá em casa. A minha mulher cozinha'

Na coletiva de imprensa após a luta, os dois lutadores baixaram o tom das provocações e até trocaram algumas palavras depois do fim da entrevista
Dana White comemorou aquele que ele chamou de 'o maior UFC da história'. Só de bilheteria, o evento faturou nada mais nada menos do que R$ 14 milhões

Com cara de poucos amigos, Sonnen não quis provocar Anderson na coletiva. O americano estava visivelmente abatido depois de mais uma derrota para o brasileiro
Depois de cumprir sua agenda de compromissos do UFC,em Las Vegas ao lado de muitos amigos
Um dos amigos presentes na noitada foi o peso-pesado Minotauro. A lenda do MMA rasgou elogios a Anderson e garantiu: 'Você nasceu para brilhar'














Biografia
Nascido na cidade de São Paulo, mudou-se ainda pequeno para Curitiba, onde começou a treinar Taekwondo com 7 anos de idade, esporte no qual tornou-se faixa preta aos 18 anos de idade. No Muay Thai, Anderson foi o segundo faixa preta formado pelo Mestre Fábio Noguchi em Curitiba. Ele também é faixa preta em jiu-jitsu dos irmãos Nogueira (Minotauro e Minotouro). A origem de seu apelido, Aranha, vem de um anuncio que citou o aranha por causa de uma camisa que usava no dia de um evento, minutos antes dele entrar no ringue e até hoje esse apelido perdura. Antes do Muay Thai, tentou ser jogador de futebol tendo feito um teste para o Corinthians.
Anderson Silva declara-se em sua biografia, escrita pelo jornalista Eduardo Ohata, Anderson Spider Silva, um homem um tanto afeminado pelo fato de tratar-se com cremes para a pele.
Carreira no MMA
A rigor, Anderson estreou em um torneio em forma de GP, no qual teria de lutar uma semifinal antes da final. Anderson foi o campeão desse GP, vencendo duas lutas. Depois fez várias lutas no Mecca, evento bem famoso naquela época. Suas boas exibições no Brasil lhe renderam uma chance de fazer lutas internacionais.
Shooto
Sua estreia no Shooto foi contra o japonês "Tetsuji Kato". Anderson venceu a luta por decisão unânime. Depois voltou para o Brasil e venceu mais uma luta no Mecca. Com seguidas vitórias no cartel, Anderson teve a primeira grande oportunidade de disputar um cinturão de um torneio de grande reconhecimento na época, o Shooto. Anderson lutou pelo cinturão dos pesos médios do evento, em 2001, contra o japonês Hayato Sakurai e venceu a luta por decisão unânime dos juízes. Anderson enfim conquistava o seu primeiro cinturão em um grande evento de MMA.
Pride e outros eventos
Em 2002, Silva passou a lutar no Pride. Em sua primeira luta, no dia 23 de junho de 2002, venceu o americano Alex Steibling por nocaute técnico no primeiro round. Nas suas próximas duas lutas, Anderson permaneceu invencível, vencendo por decisão unânime o japonês Alexander Otsuka e o canadense Carlos Newton, ex-campeão do UFC. Nessa luta, Silva ganhou com uma joelhada fenomenal, depois de Newton tentar golpeá-lo no primeiro round.
No Pride 27, Silva enfrentou o japonês Daiju Takase, que, considerando seu cartel até então de quatro vitórias e sete derrotas, credenciava a Anderson um certo favoritismo, pois vinha de nove vitórias seguidas. Porém, o japonês conseguiu uma queda logo no início na luta, e conseguiu manter no chão até finalizar o brasileiro com um triângulo, finalizando-o aos oito minutos.
Após a derrota para Takase, Anderson Silva lutou em outros eventos. No Conquista Fight 1, venceu o brasileiro Waldir dos Anjos por nocaute técnico. Em 2004, lutou no Gladiator FC: Day 2, onde enfrentou o lutador Jeremy Horn (ex-desafiante de cinturão do UFC). Anderson obteve uma vitória por decisão unânime.
Em 2004, após ter conquistado o cinturão do Cage Rage em cima do inglês Lee Murray, Silva retornou ao Pride para enfrentar Ryo Chonan. Apesar de levar enorme vantagem na luta, Anderson foi surpreendido com uma finalização sensacional do japonês. Chonan conseguiu finalizar Anderson Silva no terceiro assalto após sofrer vários golpes durante a luta.
Cage Rage e derrota para Okami no Rumble on the Rock
Após a derrota, Anderson continuou a lutar no Cage Rage, e em outros eventos. Silva fez sua estreia no Cage Rage em Londres, na Inglaterra, onde logo lutou pelo cinturão do evento. Em 11 de setembro de 2004, no Cage Rage 8, Anderson lutou e derrotou Lee Murray na disputa por decisão unânime dos jurados e conquistou o segundo cinturão de expressão da sua carreira, o cinturão de pesos-médios do Cage Rage.
Depois de defender com sucesso duas vezes seu título no Cage Rage, respectivamente contra Jorge Rivera e Curtis Stout (ambos por decisão unânime), Anderson Silva lutou no Rumble on the Rock 8 contra Yushin Okami na primeira fase do torneio dos médios, no dia 20 de janeiro de 2006. Nesta luta, Anderson chutou o rosto de Okami em posição de guarda, que, pelas regras do evento, era proibido. O japonês poderia voltar à luta, mas prefiriu não continuar, o que resultou na desqualificação de Anderson Silva e na última derrota do brasileiro.[10]
Após essa luta, Anderson lutou mais uma vez no Cage Rage, dessa vez contra o americano Tony Frykfund. Anderson logo dominou a luta e ganhou por nocaute (cotovelada) aos dois minutos do primeiro round. A luta foi pelo Cage Rage 16, no dia 22 de abril de 2006. Após essa luta, Anderson começou sua carreira ainda hoje invencível no UFC.
Carreira no UFC
Em 2006, Silva passou a combater no Ultimate Fighting Championship no evento Ultimate Fight Night 5 nos Estados Unidos. No dia 28 de junho de 2006, sua estreia, saiu vitorioso sobre Chris Leben, até então invencível. Anderson nocauteou-o aos 49 segundos do primeiro round, a luta mais rápida de sua carreira e uma das únicas que o lutador teve 100% de acuracidade. Nota-se que Anderson era um lutador até então relativamente pouco conhecido nos Estados Unidos, e que Leben previu que o mesmo ia nocautear Silva numa entrevista antes da luta.
Campeão dos pesos-médios
Depois da luta contra Leben, uma enquete no site do UFC foi feita para escolher quem seria o próximo oponente de Anderson. A maioria dos votos foi para o até então campeão dos pesos médios, Rich Franklin. Ao dia 14 de outubro de 2006, no UFC 64, Anderson Silva teve a oportunidade de disputar o cinturão da categoria de pesos médios no UFC, onde venceu no primeiro round de forma arrasadora. Essa luta é considerada como uma das melhores de sua carreira, pois Anderson mostrou fantásticos movimentos e golpes como joelhadas e chutes. Aos três minutos do primeiro round, Franklin esquivou-se de um dos socos de Anderson antes de cair no chão e decretar a vitória do brasileiro.[11] Ele foi o segundo oponente que derrotou Franklin, depois de Lyoto Machida.
Defesas do Cinturão
Anderson Silva é considerado por muitas pessoas o melhor lutador de todos os tempos. Ele possui recordes mais knockdowns na história do UFC (quinze) e mais acuracidade no ringue (cerca de 68,5%). Ele se encontra invicto no UFC e possui quatorze vitórias seguidas no campeonato, incluindo dez vitórias de título e onze defesas de cinturão.
UFC 67
Em 3 de fevereiro de 2007, no UFC 67, Anderson estava programado para lutar contra o vencedor do reality show "The Ultimate Fighter 4" Travis Lutter. Essa seria sua primeira luta depois da sua defesa de cinturão contra Rich Franklin, em outubro de 2006. Contudo, o adversário se apresentou acima do limite do peso da categoria dos pesos médios (84 quilos) e a luta então não foi considerada como a principal. Nessa luta, muitas pessoas acreditavam que a melhor maneira de Lutter ganhar era mandando Anderson para o chão, mostrando suas habilidades de faixa-preta de jiu-jítsu. Anderson Silva, entretanto, venceu o adversário com uma combinação de triângulo e de cotoveladas no segundo assalto.
UFC 73
Na luta seguinte, no UFC 73, em 7 de julho de 2007, Anderson defendeu com sucesso seu título contra Nate Marquardt, vencendo por nocaute técnico em 4:50 do primeiro assalto. Anderson até então já tinha ganhado uma certa popularidade nos Estados Unidos, mas Nate possuía um certo favoritismo, principalmente por causa de sua habilidade de ganhar lutas no chão e por ter ganhado seis lutas seguidas. Essa foi a primeira derrota dele depois de lutar contra Ricardo Almeida (lutador).
UFC 77
Três meses depois, no dia 20 de outubro de 2007 no UFC 77, Anderson lutou uma revanche de defesa do título contra o americano Rich Franklin, lutador que havia perdido o título, em sua cidade natal, Cincinnati. Anderson defendeu seu cinturão ao derrotar Franklin por nocaute técnico no segundo round, onde surpreendeu todos ao mostrar suas habilidades de trocar e se esquivar com as mãos abaixadas. Essa foi considerada uma das suas melhoras lutas de todos os tempos e ganhou um bônus de nocaute da noite.
UFC 82
No dia 1 de março de 2008, no UFC 82, Silva lutou contra o campeão dos pesos médios do Pride Fighting Championships, Dan Henderson, em uma disputa de unificação de título (títulos do UFC e Pride). Novamente, muitas pessoas pensaram que Henderson poderia ganhar e teria uma certa vantagem no chão, mas Anderson defendeu o seu título ao derrotar Henderson com um mata-leão no segundo assalto.[12] Essa foi uma surpresa porque Henderson havia completado as olimpíadas de 1992 e 1996 no estilo da luta greco-romana.
UFC Fight Night: Silva vs Irvin
Cerca de quatro meses depois, no "UFC Fight Night 4" em 19 de julho de 2008, Silva fez sua estreia nos meio-pesados contra James Irvin. Anderson venceu por nocaute no primeiro do primeiro round, mostrando leveza, rapidez e agressividade, mesmo lutando com um peso novo de noventa e três quilos. Anderson pegou a perna esquerda de Irvin com a sua mão esquerda e devolveu um soco direto que fez com que Irvin caísse no chão. Anderson finalizou a luta dando mais alguns socos em Irvin, que estava inconsciente.[13]
UFC 90
Após a unificação dos títulos, em 25 de outubro de 2008 no UFC 90 em Chicago, Anderson Silva voltou a defender seu título dos médios, desta vez contra Patrick Côté. No terceiro assalto, Côté sentiu dores no joelho após desferir um chute. O árbitro Herb Dean declarou a luta encerrada pois Patrick Côté não poderia continuar a luta, e declarou vitória de Anderson Silva por nocaute técnico. [14]
Após a luta, Anderson foi criticado por parecer estar desviando contato de Côté.[15] O próprio presidente do UFC, Dana White, censurou a atitude de Anderson, falando "Eu não entendi as táticas de Silva... Esse não foi o Anderson Silva que eu estou acostumado a ver nos últimos dois anos."
UFC 97
No dia 18 de abril de 2009, no UFC 97, Anderson lutou e venceu Thales Leites por decisão unânime, defendendo seu cinturão e obtendo sua nona vitória consecutiva no UFC, recorde do evento. Thales Leites foi o único homem até então na história do UFC a lutar com Anderson Silva nos cinco rounds seguidos até a decisão dos juízes. A multidão vaiou várias vezes o desempenho sem brilho de Anderson, sua expressão entediada e suas tentativas frustradas de incitar o seu adversário na luta. No quarto e quinto assalto, Anderson chegou a dançar e baixar a guarda, golpeando o adversário sem que houvesse retaliação.[16] Após a luta, Dana White afirmou que estava "envergonhado" pela performance de Anderson, mas que ainda acreditava que ele era o melhor lutador de pound-for-pound do mundo.
UFC 101
No UFC 101, Silva mais uma vez lutou nos meio-pesados, desta vez contra o ex-campeão da categoria Forrest Griffin. Griffin foi derrubado três vezes no primeiro assalto. Após o terceiro knockdown, Forrest sinalizou que ele estava acabado, e Silva foi declarado vencedor por nocaute. Essa é considerada uma das melhores lutas de sua carreira,[17] e ganhou o prêmio de "Beatdown of the Year" pela Sherdog.
Depois de derrotar Griffin, uma repórter do Yahoo! Sports alegou que o técnico de Anderson, Ed Soares, tinha confirmado que Anderson iria abandonar a categoria de pesos médios para passar para a de meio-pesado. Entretanto, o próprio Soares e um trabalhador do UFC negaram essa conversação: Anderson não iria abandonar seu título somente para lutar exclusivamente na categoria de meio-pesado.
UFC 112
Anderson era esperado para lutar contra Vitor Belfort no dia 2 de janeiro de 2010, no UFC 108. Porém, Ed Soares anunciou que a luta não iria ser realizada até Silva recuperar-se completamente da cirurgia. A luta então foi adiada para o dia 6 de fevereiro de 2010, no UFC 109. A luta, entretanto, estava dependente da saúde de Anderson, que, segundo o mesmo, "não estava bem como planejada". A luta foi cancelada devido à lenta recuperação de Anderson. Os dois iriam lutar novamente no dia 10 de abril de 2010 no UFC 112, mas foi cancelada novamente devido a um ferimento, agora com Belfort. Demian Maia foi selecionado para completar a vaga e lutar contra Anderson pelo cinturão.
Em Abu Dhabi, no UFC 112, Anderson ganhou do brasileiro Demian Maia por decisão unânime dos juízes. A luta foi criticada mundialmente pelo desleixo de Anderson durante a luta e pelo fato de não ter nocauteado o adversário.[18] Anderson chegou a ser advertido pelo juiz por sua conduta, e no quinto round a plateia começou a apoiar Demian Maia, que parecia ser o único lutador que estava com vontade de partir para cima. O presidente do UFC Dana White disse que se sentia envergonhado e decepcionado com a apresentação de Anderson, após casar essa luta em um dos maiores evento de UFC da história, economicamente falando e principalmente por ter sido o evento de estréia em Abu Dhabi, onde se esperava um show e não uma luta daquela como evento principal.[19]
Imediatamente depois da luta, Anderson desculpou-se e viu que ele não era o mesmo e que teria que correr atrás para reavaliar a humildade que tinha levado ele a onde ele estava agora. Depois de um certo tempo, Anderson fez várias referências do fato de como Maia o insultou antes da luta.
UFC 117: Silva vs Sonnen
Depois dessa luta, Anderson era esperado para lutar contra o americano Chael Sonnen para o cinturão dos pesos médios no UFC 117, no dia 7 de agosto de 2010. No primeiro round, Sonnen aturdiu Anderson com um soco depois de levá-lo para baixo e dominar na posição, dando vários golpes. Nos três rounds seguiram-se em um estilo similar, com Anderson indo para o chão cedo e Sonnen dominando dentro da guarda dele. No quinto round, Anderson caiu depois de ser marcado pelo gancho de esquerda de Sonnen, e o mesmo levou vantagem e novamente foi para cima, dando golpes a Anderson. Com cerca de dois minutos restantes, Anderson conseguiu um armlock após aplicar um triângulo de perna, forcando Sonnen a submeter-se aos três minutos e dez segundos do round 5. [20]
Anderson foi golpeado mais nessa luta do que em sua carreira inteira. De acordo com um banco de dados do CompuStrike, em todas suas lutas no UFC, Anderson foi golpeado 208 vezes. Somente nessa luta, Sonnen golpeou-o um total de 289 vezes.[21] Depois da luta, foi revelado que Sonnen teria ganho numa decisão de juízes. Todos os três juízes marcaram Sonnen como o ganhador de todos os quatro rounds.
Nesta luta, Anderson afirmou ter lutado com a costela trincada, contra as recomendações de seu médico. Durante o primeiro round, Sonnen quebrou a costela e Anderson ficou fora dos ringues até 2011 por causa dessa injúria. Após a luta foi confirmado que Sonnen testou positivo para substâncias dopantes. Testes de doping revelaram que Sonnen tinha uma proporção elevada de testosterona no seu corpo na luta com Anderson (um resultado que é consistente com um terapia de relocação de testosterona), ou seja, ele foi "pego" no exame antidopping. Entretanto, a mesma companhia depois confirmou que os níveis de testosterona de Sonnen estavam condizentes. Dana White anunciou que Sonnen teria uma revanche com Anderson quando o mesmo retornasse. Esse fato foi revocado depois do problema dessas substâncias, mas White anunciou que Sonnen teria sua revanche depois de ganhar duas vitórias seguidas, que só aconteceria em 2012.
UFC 126
Sendo assim, Silva defendeu e manteve o cinturão dos médios no UFC 126, que aconteceu no dia 6 de fevereiro de 2011, em Las Vegas, onde ele lutou contra o compatriota Vítor Belfort. A luta durou pouco menos de quatro minutos. Nos dois primeiros minutos, Vitor e Anderson estavam preparando-se, e após isso eles começaram a trocação direta. Aos três minutos e vinte e cinco segundos, Belfort foi nocauteado por um forte chute frontal no rosto disparado por Silva, antes de alguns socos.[22] Com a vitória, Anderson foi o primeiro lutador da história a ganhar de um nocaute de Vitor em vinte e oito lutas do mesmo.
UFC 134
Na cidade do Rio de Janeiro, no UFC 134, dia 27 de agosto de 2011, Anderson Silva mais uma vez defendeu seu título, desta vez contra Yushin Okami. Essa foi uma revanche entre os dois lutadores, uma vez que Okami foi o último lutador a vencer Anderson Silva. No segundo round, Anderson derrubou Okami duas vezes. Na segunda vez, Anderson golpeou o adversário e o nocauteou aos dois minutos e quatro segundos, defendendo assim seu título pela nona vez e vencendo sua décima quarta luta no UFC.[23] Essa luta foi considerada uma das melhores de sua carreira, mostrando certa semelhança com a vitória dele sobre Forrest Griffin.
UFC 148: Silva vs Sonnen 2
Anderson Silva enfrentará novamente seu principal desafeto, o americano Chael Sonnen, numa revanche que acontecerá no UFC 148, dia 7 de julho, em Las Vegas. O "Spider" vem sendo considerado o grande favorito para vencer essa luta, principalmente pelo fato de na última luta entre eles, Anderson ter lutado com uma lesão na costela e mesmo assim ter vencido, por finalização, o falastrão lutador americano, que na ocasião também caiu no exame anti-dopping e perdeu a moral de lutador que quase venceu Anderson Silva.[24]
O clima pré-luta é tenso. Após Anderson ter aceitado todas as críticas de Sonnen desde a última vez que eles confrontaram no ano de 2010, o lutador desabafou, xingando e provocando Sonnen[25][26] em uma entrevista coletiva. Algumas de suas frases são:
"Eu vou bater nele, vou bater nele, ele vai tentar me agarrar, vou continuar batendo nele até ele desistir. Acho que a luta acaba no primeiro round. Não tem jogo nenhum. Acabou a brincadeira, ele pode ficar falando bobagem, mas acabou. Sábado, muita coisa vai mudar. Para ele me bater em pé tem que ser mágico, impossível me bater. Vocês não tão entendendo o que vai acontecer. O Chael (Sonnen), em outras palavras, está ferrado."
Nesse dia, Chael Sonnen permaneceu quieto, parecendo chocado com a reação repentina de Anderson (juntamente com todos da sala de imprensa, inclusive os dirigentes do UFC), mas depois de alguns dias o desafiante americano não ignorou a mágoa e não ficou desanimado e também provocou o brasileiro, falando que será o "seu funeral".[27] O próprio presidente do UFC Dana White falou que está muito ansioso para o confronto,[28] que vem sendo considerado por muitos a luta do século e a maior rivalidade da história do UFC.[29]
Nesta luta, Anderson mostrou mais uma vez porque é considerado por muitos o maior artista marcial de todos os tempos. No primeiro round, apesar do domínio de Sonnen que levou a luta pro chão e permaneceu montado até o final do round, desferindo varios golpes, socos e cotoveladas, Anderson demonstrou calma e serenidade, amarrando a luta até o final do round. No segundo round, Anderson utilizou de duas perfeitas esquivas desequilibrando Sonnen que caiu quando sua cotovelada giratória passou no vazio. No chão, sem saber o que fazer, Sonnen recebeu uma joelhada certeira no peito e, na sequência, varios socos de Anderson, que culminaram no nocaute técnico de Sonnen.[30]
Ao final da luta, Anderson surpreendeu, reverenciando o adversário e pedindo aos brasileiros presentes no MGM Grand Arena para aplaudir Chael.[31] Depois convidou-o para um churrasco na sua casa, no qual o rival aceitou com um tom cômico. Chael rendeu-se ao campeão e aos brasileiros, tomando uma atitude respeitosa, bastante diferente daquela que era habituado a tomar.[32] Na entrevista após a luta, Anderson ainda queria fazer mais história no UFC. "Tenho muita motivação. O fato de estar aqui podendo fazer o que gosto. Todo mundo teve o privilégio de ver o que foi a pesagem. A gente nunca teve isso na história do UFC. E poder estar do lado desses caras que fazem história. Antes de eu pensar em lutar, Tito já estava aqui fazendo história".[33]
Filme
Em 2011, foi lançado um documentário chamado "Como Água", que contando toda a preparação do lutador para ganhar o cinturão do UFC. O filme foi premiado no Tribeca Film Festival como Melhor Direção.[34]
Patrocínios
A gestão da carreira de Anderson é mantida pela empresa 9ine, do ex-jogador Ronaldo Luís Nazário de Lima. Desde 1º de agosto de 2011, Anderson é lutador contratado do Corinthians, o qual é torcedor.[35] Também é patrocinado pela rede de lanches Burger King e pela rede de calçados e roupas Nike.É patrocinado também pela cerveja americana Budweiser [36]
Títulos e recordes
Brazilian Freestyle Circuit
  • Campeão de um GP do torneio.
  • Invicto no evento.
  • Campeão Peso-Médio do Shooto.
  • Invicto no evento.
  • Campeão Meio-Médio do Cage Rage.
  • Recordista de defesas de cinturão na divisão dos médios (3 vezes).
  • Maior recordista de defesas de cinturão da história do Cage Rage (3 vezes).
  • Só fez lutas por disputa de cinturão, vencendo todas.
  • Campeão do cinturão dos Médios do UFC.
  • Vencedor da Luta da Noite (três vezes).
  • Vencedor da Finalização da Noite (duas vezes).
  • Vencedor do Nocaute da Noite (três vezes).
  • Unificou os cinturões Peso-Médio do UFC e Peso Meio-Médio do Pride.
  • Recorde de maior número de vitórias consecutivas no UFC (15).[37]
  • Recorde de maior número de vitórias consecutivas em defesa de título no UFC (10).[38]
World MMA Awards
  • Luta do Ano (2010): Anderson Silva vs Chael Sonnen no UFC 117.
  • Nocaute do Ano (2011): Anderson Silva vs Vitor Belfort no UFC 126
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