Por: Bosco André
Pesquisador Bosco André, notável contador de histórias e grande memorialista do cariri cearense
Missão Velha ainda não possui comarca; era o início do século passado; respondiam pelo município, Juízes da Comarca de Crato e Barbalha. Dentre esses, destacaremos o Dr. Antonio Olímpio da Rocha, que em sua judicatura, ocorreu um fato pitoresco, envolvendo o magistrado e o famoso Cel. Santana, da Serra do Mato; então ex-Intendente de Missão Velha (1903 até 1913 e de 1914 a 1917).
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Houve um homicídio em que foi vítima o infeliz Cangaceiro Cobra Preta, esse, afilhado de batismo e cangaceiro do Cel. Santana. Na época não existia cercas divisórias entre as propriedades e o gado era pastoreado solto em cima da Serra do Araripe. Começaram a roubar gado em cima da Serra e o Cel. Santana, desconfiava que o autor dos roubos, tratava-se de um seu desafeto, Delegado de Porteiras, Horácio Cavalcante, mais conhecido por Horácio Novais. O Cel. Santana na época já havia perdido o poderio político, entretanto mantinha ainda grande força na região e aguardava Horácio Novais, "pisar novamente na Gameleira!!!"
Foi aí que o Cel. Santana, mandou que Cobra Preta, se infiltrasse no Grupo de Novais, afim de matá-lo. Como por ironia do destino, sob o novo comando, o cangaceiro foi melhor aquinhoado talvez, recebendo melhor tratamento e lá ficou. Novais, como desafio ao Cel. Santana, começou a visitar a feira da Gameleira (o pé de Gameleira, ainda hoje existente) a mesma se realizava debaixo da grande árvore, onde os feirantes comercializavam os seus produtos, inclusive improvisando os caixões para acondicionamento das suas mercadorias nas raízes expostas da árvore.
Gameleira; testemunha secular dos tempos do cel. Santana da Serra do Mato
O Cel. Santana comentava em rodas de sua convivência: "nesses dias, Horácio Novais, vem bater aqui na Serra do Mato!!! " (local da sua moradia). Decorridos alguns meses, o Cel. Santana, mandou seduzir Cobra Preta, para voltar para o seu grupo, conseguido o intento, poucos dias depois, Cobra Preta, foi morto no sitio Talhado, altas horas da noite, quando foi invadida sua própria casa. Instalado o Inquérito Policial e ao chegar a Justiça, foi intimado a depor o Cel. Santana, perante a autoridade Judiciária. Tendo a incumbência de ouví-lo, a pessoa do Dr. Antonio Olímpio da Rocha, então Juiz de Direito do Crato.
O magistrado ao chegar ao Cartório do Tabelião José Jácome, ali já se encontrava o Cel. Santana, em atendimento à sua intimação. Em Termo de Assentada, para tomada do depoimento de Santana, o Juiz, após as advertências do estilo, perguntou ao Cel. Santana, se "a sua pessoa tratava-se de Antonio Joaquim de Santana?", tendo o Cel. Santana, respondido "tratar-se do Cel. Antonio Joaquim de Santana", ao que Juiz, o interpelou por três ou quatro vezes, se a pessoa ali presente, tratava-se de Antonio Joaquim de Santana, tendo o Cel. Santana, repetido por todas as vezes, de que se tratava do Cel. Antonio Joaquim de Santana. Tendo o Juiz, dito em tom de ameaça, que podia mandar prendê-lo, ao que o Cel. Santana, respondeu: "Sei Doutor, mais se o Senhor fizer isso: “Vai cavar o chão com as costas!". Neste momento o Juiz, retirou-se da Sala das Audiências e imediatamente ausentou-se da Vila.
O Processo só teve seu término no ano de 1926, entretanto a condenação veio para o famoso Horácio Novais e seus cangaceiros: Pedro Dedão e Zé Sanção; funcionaram como componentes do Corpo de Sentença deste Julgamento, dentre outros, os Srs. José Gonçalves de Lucena, Crispim de Oliveira Rocha, Pedro Silva Lima e José André Gomes (Zeca André); pai do autor destas notas e pesquisa.
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