Por Ramon Batista
Serra de
Nazarezinho vista a partir da casa de Chico Pereira no Jacu
Zé Pedro tinha como rotina subir a serra pelo menos duas vezes por semana ou
mais para ver umas cinco cabeças de gado que tinha por lá, e também para pegar
ervas, raspas de arvores e raízes de plantas para fazer lambedores e
cozimentos. Além de rezador forte era também curandeiro, sabia remédios pra
tudo. Certo dia decidiu subir a serra para pegar umas cascas de Jatobá, quando
chegou ao pé da serra ouviu gritos de socorro, foi na direção dos gritos e
chegando lá viu um homem deitado no chão gravemente ferido com uma das pernas
sangrando muito.
Ele perguntou
quem era o homem porque nunca o tinha visto por essas bandas e o homem
respondeu que era caçador das bandas de São Gonçalo, e tava em cima da pedreira
caçando mocó quando tinha escorregado, pediu que o ajudasse e pelo amor de Deus
não o deixasse ali. Zé Pedro falou que era homem velho já sem forças e não
podia descer com ele de cima da serra e também o homem não suportaria a
descida, mas perto dali ele conhecia uma furna e botaria o mesmo lá.
Ramon Batista
Falou para o
homem que viria rezar no mesmo todos os dias ate que ele pudesse descer a serra
iria também fazer uns cozimentos para ele passar nos ferimentos, assim foi
feito ele levou o homem para a tal furna chegando lá, ele tirou do bornal umas
bolachas deu ao homem junto com sua cabaça d'água, rezou no mesmo e foi para
casa. No outro dia assim ele fez acordou cedo, tirou o leite de duas vacas
magras que tinha e foi subir a serra, chegando à furna lavou o ferimento do
homem com cozimento de ameixa do mato, rezou no mesmo...
Ele não faz
perguntas e o homem pouco fala com ele também, tirou do bornal umas bolachas e
um pedaço de carne, encheu a cabaça d'água novamente, e voltou para casa antes
do sol esquentar. Ele fez essa rotina por quase um mês, todos os dias tinha
como obrigação subir a serra para curar o homem. No décimo sexto dia, quando
subiu a serra teve um susto ao ver que o homem não estava mais na furna.
Voltou para
casa, passando-se três dias, acordou cedo para ir ate um pé de cajueiro, para
catar umas castanhas, chegando ao pé de cajueiro foi alvejado por uma bala de
rifle vinda do homem do qual ele havia cuidado e curado durante quase um mês. O
homem tinha reparado que no bornal em que o curandeiro trazia os remédios e os
alimentos para ele havia também muitas moedas de ouro. O homem ferido era na
verdade um cangaceiro que tinha se perdido na serra após trocar tiros com uma
volante da cidade de Sousa.
Ramon Batista,
cineasta, pesquisador - Nazarezinho - Pb
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