Por José Mendes Pereira
É apenas uma brincadeirinha que escrevi com o meu personagem chamado seu Galdino. É somente como arquivo no nosso blog. Se eu deixar por aí, depois não o encontrarei. Este trabalho não tem nenhum valor para a literatura lampiônica."
Não adianta duvidar do seu Galdino. Só porque ele conversa um pouquinho a mais? E assim faz com que algumas pessoas não acreditem nele.
Lá na vazante, seu Galdino e seu Leodoro faziam um plantio de milho, feijão..., e entre uma carreira e outra, plantavam Gergelim.
Seu Leodoro não tinha ambição nenhuma pelo o plantio de gergelim. Dizia ele que era muito trabalhoso, desde o plantio até a colheita, mas não contrariava o interesse do seu compadre. E querendo saber o motivo dele tanto gostar do plantio do gergelim, fez-lhe a seguinte pergunta:
- Compadre Galdino, desde que nasceram as nossas amizades vejo seu interesse pelo o plantio de gergelim. Por que o senhor sempre gostou de plantar gergelim?
- O meu interesse pelo plantio de gergelim compadre Leodoro, é porque, certa vez, consultei um médico ortomolecular que trabalhava com envelhecimento saudável, bem-estar e estética. Ele me reforçou que se deve comer bastante gergelim, porque oferece uma série de benefícios, como por exemplos: Importante para a saúde intestinal; controla bem o colesterol; faz diminuir peso; tem vitaminas que é importante para a saúde dos nossos ossos, olhos e fígado; faz diminuir o açúcar no sangue, e além disso, o médico me garantiu que é uma excelente fonte de proteínas. O gergelim compadre Leodoro, segundo o médico, combinado a uma alimentação saudável, é um grande aliado para quem quer manter a forma com refeições saborosas e que realmente saciam.
- Sim senhor, compadre! – Fez seu Leodoro Gusmão. Muito obrigado pela sua explicação sobre o valor medicinal que tem o gergelim. É por isso que o senhor tem desejo do plantio deste legume. E eu acho que no próximo ano também estarei fazendo plantio de gergelim.
Já eram mais de 9:00 do dia, e no gigantesco infinito, o sol começava liberar fios solares mais quentes. E de pressa, os dois resolveram fazer lanches sob uma antiga quixabeira, e ali, enquanto comiam, falaram sobre o que estava acontecendo sobre possível envolvimento de pessoas fugidas de outros Estados, alojaram-se aqui, e usavam desonestidades nas fazendas e em pequenos municípios.
- O que está acontecendo aqui em Mossoró compadre Galdino, até nos faz lembrar os velhos tempos de Virgolino Ferreira da Silva o bandoleiro Lampião.
E assim que seu Leodoro usou o nome “Lampião”, seu Galdino de um pinote só, levantou-se do lugar em que estava sentado, e resolveu falar sobre a tentativa de ataque de Lampião e seu bando na maior cidade do Rio Grande do Norte - Mossoró, na tarde do dia 13 de junho de 1927. Iniciou dizendo:
- Compadre Leodoro, eu até hoje sinto desgosto por ter sido excluído da história que organizaram sobre a tentativa de assalto à Mossoró, feita pelo capitão Lampião e seu honrado grupo.
- Oxente, compadre Galdino! Tenho lhe acompanhado de muitos anos, mas eu não sabia que o senhor entende um pouco da história de Mossoró sobre o falado capitão Lampião.
- E eu não te contei ainda não, compadre Leodoro?
- Não senhor! Até hoje não ouvi nada sobre Lampião contada pelo compadre.
- Eu não só entendo, como também fui o responsável pela fugida de Lampião com o seu bando daqui...
- Verdade, compadre Galdino? – Fez seu Leodoro em tom de admiração.
- Coompaadree Leeoodooro, quantas vezes o senhor já me viu contando mentiras?!
- Nunca, compadre! Nunca! – Confirmou seu Leodoro, mesmo contra a sua vontade. Mas até hoje o senhor nunca me falou nada sobre Lampião. Sobre onças já me falou muitas vezes, mas a fugida do capitão Lampião de Mossoró...
- Pois bem compadre - atalhou seu Galdino - eu vou contar ao senhor minunciosamente. Quando o coronel Rodolfo Fernandes soube que Lampião estava caminhando em direção à cidade de Mossoró, ele que era prefeito, iniciou uma espécie de alistamento para quem quisesse combater o cangaceiro e seu grupo. Eu que sempre fui corajoso, nunca temi a nada, isto o senhor sabe muito bem...
- Verdade, compadre! Isto eu sei bastante, que o senhor é homem corajoso mesmo! Homem que tem coragem de lutar com onça compadre, imagino...!
- E então, eu ainda era muito jovem, mas com um bom porte físico. Fui tentar entrar nessa lista para combater o cangaceiro com os seus comandados. Mas ao chegar à casa do prefeito, bem lá na Avenida Alberto Maranhão, no centro da cidade de Mossoró, um dos seus empregados me encaminhou até à sua presença, que naquele momento, ele se encontrava em reunião com um amigo lá nos fundos da sua casa. Mas tive o desprazer de ouvir dele a palavra, não. Perguntei o motivo de não me aceitar na lista da empreitada. Ele me falou que eu era ainda muito jovem, adolescente sem experiência na vida para enfrentar bandoleiros...
- E o prefeito disse isso na sua cara, compadre Galdino?
- Sim senhor! Disse. Mas eu não insisti mais. Fiquei calado, e de lá, saí meio triste. E quando foi no dia 13 de junho de 1927, Lampião entrou na cidade com gosto de gás, e desejo de levar tudo que ele achava que tinha direito. Nesse tempo, eu morava sob os olhares dos meus pais. Já bem próxima da sua entrada na cidade, eu me arrumei e fui tentar ver se conseguia falar com ele.
- Ele quem, compadre Galdino? - Interrogou seu Leodoro.
- Falar com o capitão Lampião, compadre Leodoro! Parece que o senhor não está acompanhando o meu raciocínio?
- Estou, compadre Galdino! – Disse seu Leodoro tentando não o contrariar.
- Mais ou menos 4;00 horas da tarde, o tiroteio começou. Os resistentes atiravam e os bandidos respondiam. Haviam homens instalados por todos os lugares. Nas torres das 3 maiores igrejas: Matriz de Santa Luzia, Na Coração de Jesus e na Igreja de São Vicente. Também tinham defensores no Mercado Central, na Empresa Companhia de Luz, No Ginásio Diocesano, na sede dos Correios e Telégrafos, na Estação ferroviária, no Grande Hotel, na casa do prefeito Rodolfo Fernandes e outros locais.
- Mossoró estava muito bem preparada concorda comigo, compadre Galdino?
- E como concordo, compadre! Pois bem, Lampião tinha ajuda de alguns bandidos que conheciam muito bem a região do nosso Estado. Um destes bandidos era um tal de Cecílio Batista o Trovão, que em anos remotos havia morado em Assu, no Rio Grande do Norte, e fora preso por malandragens e desordens. O José Cesário o Coqueiro, mais um outro bandido de nome Júlio Porto. Estes dois últimos, haviam trabalhado em Mossoró como motorista da empresa Algodoeira Alfredo Fernandes, e outros mais. Esta empresa, era uma que muito fez Mossoró crescer, dando empregos aos mossoroenses. No início do tiroteio, as balas voavam pelas ruas da cidade. Tanto saíam das armas dos cangaceiros como das armas dos combatentes. A cidade estava em pânico, mas quase sem ninguém, porque a maior parte da população tinha sido advertida para deixar a cidade o quanto antes possível. Nesse tempo, meus pais e eu, morávamos nos alagadiços, hoje bairro Pereiros, não tão distante do combate. E eu saí devagarinho de casa sem comunicar aos meus pais, que o meu intuito era ver se conseguia falar com o capitão Lampião, e pedir a ele para desistir da empreitada. E assim fiz. Fui me aproximando, sempre me escondendo, e lá mais adiante, fui me defendendo dos estilhaços de balas, tentando me contactar com ele. Ao longe, em uma rua bem no centro, por trás da igreja do São Vicente, perto do cemitério São Sebastião, avistei um homem magro, alto, que usava óculos..., e percebi que só poderia ser ele, porque eu já havia visto a sua foto no jornal "O Mossoroense". Eu levava aquele meu facão que é do seu conhecimento compadre Leodoro, até hoje ainda o uso quando caço onças nos tabuleiros...
Olhando ao meu lado direito, vi uma moita muito bonita, bem enramadinha e arredondada. Cortei-a, coloquei-a sobre mim, isto é, me escondi dentro dela, e fui andando bem abaixadinho. E fui me aproximando do suposto Lampião, suposto, porque eu não tinha certeza que era ele. E na verdade, era ele.
- O senhor estava dentro da moita, compadre Galdino?
- Sim senhor..., e bem escondidinho. Eu pensei sair logo de dentro dela, mas esperei uma oportunidade...
- Tinha cangaceiros por perto?
- Vi alguns deles com armas em punhos e atirando...
- E o senhor ficou com medo quando os viu?
- De forma alguma, compadre! Eu não sou homem de ter medo de nada..., e quando eu estava bem pertinho dele, de dentro da moita eu disse: Capitão Lampião!!! Aí Ele teve medo tão danado, que em gritos, exclamou fortemente, dizendo:
- "Valha-me meu Padim Padim Ciço, servo de Deus!!" Nunca tinha visto uma moita falar!
- E lá, ficou rodeando a moita com o seu mosquetão em punho e o dedo no gatilho. E eu fui saindo. E ao me ver, quis logo me sangrar com um punhal. Mas eu disse-lhe que estava ali à sua presença, somente para dizer a ele que desistisse do ataque, porque a cidade estava muito bem preparada, com mais de 800 combatentes. Eu aumentei o total de combatentes compadre Leodoro, só para ele desistir e não mexer com a minha cidade.
- E ele, o que fez, meu compadre Galdino?
- O que o capitão Lampião fez, foi ir embora. Colocou um apito na boca, e fortemente, ficou chamando os seus cangaceiros para se mandarem de Mossoró. Com pouco tempo, o local em que nós estávamos, ficou coalhado de facínoras. Exceto o Colchete que ficara em frente à casa do prefeito estirado ao chão, já pronto para se fazer o enterro.
Um de nome Jararaca que saiu baleado, porque quando foi desequipar o seu companheiro morto, a bala o atingiu. Um dos combatentes acertou bem de cheio o seu peito, e ele se mandou, tendo sido capturado no dia seguinte, e dias depois, foi executado.
- Já vi, compadre Galdino que o senhor tem coragem até para enfrentar dragão..., teve coragem de enfrentar até o capitão Lampião que não temia ninguém...
- E eu brinco, compadre! Eu não nasci de 7 meses, não senhor...!
E assim que terminaram este grande bate papo, cada um foi para sua casa. Seu Leodoro nem imaginava acreditar nesta conversa contada pelo seu compadre. Mas o que era de fazer?
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